Bitter-sweet escrita por matthewillians


Capítulo 1
One-shot




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I.

Toris parou estático no meio da rua, sem realmente saber o que fazer. Ele se sentia sufocado, o ar inspirado no subir e descer frenético de seu peito parecendo tornar-se cada vez mais e mais ineficiente em suprir seus pulmões de oxigênio; Seu coração batia rápida e fortemente, como se lutasse desesperadamente para fugir daquele corpo, de forma a enfim poder seguir ao local que suas pernas recusavam-se terminantemente em lhe levar; Transbordava de adrenalina, sua mente já há muito intoxicada por ela; Suas mãos tremiam; Uma brisa gélida tornou ainda mais evidente o suor frio que vazava de seus poros; Sua mente girava.

Ao seu redor havia fumaça. Era impossível enxergar qualquer coisa a mais de três metros de distância. A sua frente poderia haver qualquer coisa, ou coisa alguma, mas ele sabia que a segunda opção era a correta, pois conhecia a rua. Sim, já estivera diversas vezes lá. Ele a vira ser construída e também lembrava de como era o lugar antes dela existir. Mais do que isso, porém, ele lembrava a quem ela pertencia: à figura jogada contra uma parede de tijolos, muito provavelmente tudo o que restara do que fora um prédio há não muitas horas atrás.

Foi então que a criatura, um ancião no corpo de um adolescente, voltou o rosto em sua direção, a expressão mortificada, dolorida, agonizante no rosto de feições angelicais sendo deixadas de lado por alguns meros segundos a fim de oferecer-lhe um pequeno sorriso que iluminou as duas gemas esmeraldinas que eram seus olhos. Toris sentiu-se nauseado.

Aquilo estava errado. Estava tudo errado. O sorriso era para ser maior e mais confiante, e não relativamente torto, nem devia parecer que apenas ostentá-lo necessitava uma quantidade ridiculamente grande de esforço. A pele deveria ser branca como o marfim, ao invés de acinzentada, os cabelos louros cair graciosamente até seus ombros ao invés de apresentarem aquele aspecto sujo - opaco e sem vida.

Ainda assim, apenas ver aquela pessoa e ser fitado de volta fez o ar faltar-lhe definitivamente e seu coração parar por um instante, assim como tudo ao seu redor. De repente ele não ouvia mais o som das bombas jogadas em Varsóvia, tão determinadas a não deixar pedra sobre pedra na capital. Não havia mais tiros, gritos, choros. Havia apenas Feliks, jogado no chão, sorrindo para ele.


II.

Trôpego, Polônia rondava as ruas de Varsóvia à procura de algum lugar seguro – não que exista lugar seguro quando as ruas estão sendo bombardeadas, mas ao menos dos soldados terrestres ele estaria livre. Além disso, estava agora no começo dos subúrbios, era menos provável que voltassem a bombardear aquela parte da cidade.

Ele vinha praguejando, algo que não era de seu feitio, embora ninguém pudesse lhe repreender por fazê-lo, dada a situação. Ele havia avisado, mais de uma vez inclusive, tanto Inglaterra quanto França de que era imprescindível a tomada de providências a fim de impedir a óbvia política expansionista de Alemanha, principalmente depois dele anexar a Áustria e os sudetos, região da Tchecoslováquia.

Eles o ouviram, no entanto? Não, claro que não! Afinal, o que sabia Polônia – que apenas já havia sido ele mesmo um império - sobre guerras, não é mesmo? Só que enquanto eles continuavam com aquela ridícula e claramente ineficaz política de apaziguamento, na ilusão de estar evitando uma segunda guerra, ele sentia-se cada vez mais encurralado entre um Alemanha nazista – extremamente militarizado – e a URSS, liderada por aquele louco psicopata do Ivan.

Assim, quando um ataque surpresa foi lançado sobre si, Feliks sentiu-se muito pouco surpreendido, já que para ele havia sido uma questão de tempo. Contavam agora duas semanas que ele resistia aos ataques, mas o polonês sentia que seus homens não suportariam muito mais – uns quatro, cinco dias, uma semana e meia na melhor das hipóteses e sendo muito positivo. Bem, pelo menos ele havia dado algum trabalho, o que, tudo considerado, já era uma grande coisa. E três semanas eram quase um mês. É, ele podia viver com isso.

Cansado, Feliks revolveu que já estava longe o suficiente, escorando-se na primeira parede que viu pela frente e permitindo-se escorrer até o chão, fazendo uma careta de dor. Droga, tudo o que ele não precisava naquele momento eram costelas quebradas.

Ele ficou ali, parado, olhando para o nada e sentindo tudo por sabe-se lá quanto tempo. A brisa, sempre acompanhada de fumaça, era bem vinda, embora intoxicasse os pulmões, e apesar do choro compulsório de uma criança que havia perdido a mãe, em algum lugar alguém tocava piano – Chopin, Polônia reconheceu com um sorrisinho – provavelmente pela última vez. Se fechasse os olhos e se concentrasse bastante, até que dava para sentir uma certa paz de espírito, ponderou o loiro. O que seria bastante irônico.

Foi mais ou menos quando esse pensamento lhe ocorreu que Feliks viu uma pedrinha rolar até si. Após fitá-la por alguns poucos segundos, como se processando seu significado, voltou o rosto para os pés que a haviam chutado e então para o rosto da pessoa em questão, finalmente percebendo que não estava sozinho.

E qual não foi sua feliz surpresa ao perceber que se tratava de ninguém menos do que Lituânia! Jamais passara por sua mente que o moreno acompanharia Rússia na invasão, ainda mais considerando os termos em que haviam partido em seu último encontro. Teria sido Toris obrigado pela nação eslava a acompanhá-lo? Ou será que ele viera por livre e espontânea vontade – desejando vingança talvez?

De uma forma ou de outra, o polonês reuniu o que lhe restava de forças e sorriu para o outro, tanto por alívio de não ser um soldado inimigo, quanto por estar sinceramente feliz em revê-lo. Ele não tinha a menor intenção de esclarecer os maus entendidos que pairavam entre eles naquele momento, sua coragem estava esgotada e o orgulho mais xenófobo do que nunca. Além disso, convenhamos, não se tratava exatamente de um momento propício, mas isso também não significa que ele não desejasse se reconciliar com o lituano antes de partir.


III.

- Hey Liet. – cumprimentou o jovem. Se fechasse os olhos, Toris poderia jurar que não estava no meio do inferno na terra, mas em um dos seus campos de trigo junto daquela pessoa. Há! Como ele daria tudo nesse momento para regressar aquela época de glória onde eles dois haviam construído um império e viviam em relativa paz!

Mas assim como o momento veio, ele se foi, e Felix, que ainda aguardava uma resposta, começou a tossir como se pretendesse vomitar todos os seus órgãos internos, mas conseguindo apenas uma grande poça rubra no asfalto destruído. Toris correu para socorrê-lo, mesmo sabendo que não havia muito que pudesse fazer. Acabou ajoelhado ao lado do polonês, segurando seus ombros por trás enquanto gritava-lhe o nome em desespero.

- Shh... Liet, faça menos barulho. – pediu o loiro em um tom que era ao mesmo tempo autoritário e brincalhão, fitando-o reprovatóriamente com o canto dos olhos, ainda com a coluna arqueada para frente e com um fio de sangue escorrendo de sua boca. Lituânia compreendeu instantaneamente o que o outro queria dizer, calando-se.

- Desculpe. – pediu, suspirando em seguida. Polônia limitou-se em balançar a cabeça.

- Venha, me ajude aqui.

E foi com um pequeno, mas sincero sorriso que Lituânia ajudou-o a se sentar em uma posição mais confortável, vide - não sem alguma insistência do polonês e resistência da sua parte - com a cabeça escorada em seu ombro e praticamente no seu colo. E era tão estranho... Ele sequer lembrava-se quando havia sorrido pela última vez de livre e espontânea vontade e, no entanto, lá estava ele, sorrindo feito um idiota para alguém que ele guardava grande ressentimento, como se nada do que houvesse se passado importasse, enquanto a sua volta a cidade caía lentamente, já reduzida a destroços.

Longos minutos de silêncio se seguiram ao pequeno diálogo. Havia um sentimento de aflição latente entre os dois, reflexo das batalhas interiores de cada um. Lituânia desejava desesperadamente dizer alguma coisa – inclusive invejando por um breve instante a lógica infinitamente mais simplista de Feliks -, mas foi Polônia quem engoliu seu orgulho primeiro, não era como se ele ainda tivesse muito a perder, afinal.

- Fiquei, tipo, muito feliz que você veio me ver... – Toris prendeu a respiração durante todo o tempo em as belas feições do jovem em seu colo contorceram-se de dor, esperando pacientemente que ele retomasse o fôlego. – Achei que você não viria.

O moreno não respondeu, então o outro continuou.

- Pena que eu esteja, tipo, totalmente arrasado. Eu não... Não queria que fosse assim. – Polônia fechou os olhos, expirando fortemente em seguida, como se apenas mantê-los aberto lhe exigisse grande quantidade de esforço.

Por um lado, a nação báltica desejou ser capaz de gritar com o loiro em seu colo e reprimi-lo por sua futilidade em um momento como aquele, porém um pensamento impediu que qualquer som escapasse de sua boca ao abri-la: estaria Feliks triste em parecer tão deplorável na frente dele em particular? A ideia soava bastante ridícula para Toris, na verdade, mas ele ficou feliz por não ter gritado com o outro.

- O que você estava pensando ao enfrentar os tanques com uma cavalaria Polônia?! Eu quase não acreditei quando o vi na armadura! – disse o moreno, optando por mudar de assunto.

- Ah, mas eu precisava pelo menos cair com algum estilo, não acha? E os tanques tinham acabado... Não tinha mais muito que eu pudesse fazer. Mas, tipo, pelo menos vou ficar para a história, néh? – respondeu o loiro, a voz praticamente reduzida a um murmúrio, rindo fracamente em seguida. – Mas sabe, em comparação a encarar a dupla Prússia & Rússia, aquilo foi, tipo, brincadeira de criança.

Levou alguns segundos até que o outro compreendesse as entrelinhas da palavra encarar no contexto da frase proferida, embora ele devesse ter imaginado que tais nações procederiam desta forma. Ainda assim, a ideia de Polônia – não, Feliks, seu Feliks. Feliz e leviano Feliks – ter sido estuprado por Gilbert e Ivan era não apenas aterradora, mas também capaz da proeza de fazê-lo sentir o sangue borbulhar de raiva em suas veias, sensação a muito esquecida por Toris. Mais do que tudo, no entanto, ele sentiu-se frustrado por não haver nada que pudesse fazer e uma grande dose de simpatia, afinal, não era como se ele desconhecesse a sensação de ser "um com Rússia", muito pelo contrário.

Foi apenas ao sentir o toque surpreendentemente macio dos longos dedos de Feliks em seu rosto que Lituânia percebeu que tremia, e um olhar de relance para o rosto do polonês provou-lhe que também chorava, uma vez que meia dúzia de gotas escorriam de pontos aleatórios no rosto angelical, levando consigo o pó cinza que a encobria.

- Desculpe Liet. – pediu o loiro, erguendo o próprio corpo a fim de afundar o rosto no peito do outro. - Desculpe por não ter conseguido impedir aquele psicopata de levar você.

Toris limitou-se a balançar a cabeça.

- Não. Me desculpe você por não ter sido um cavaleiro capaz de o proteger.

Os dois pares de olhos verdes se encontraram, Feliks agora com os seus também prestes a transbordar. Dali para as pálpebras se fecharem quase que simultaneamente e os jovens tomarem um ao outro em um beijo desesperado foi um passo. E, ah! Como eles haviam sentido falta daquela boca, daquele toque, daqueles cabelos! Tudo era como lembravam, e ao mesmo tempo diferente, como uma pincelada acrescentada a uma pintura já perfeita, mas que, de alguma forma, a torna ainda mais bela. Mesmo o gosto metálico de sangue misturado ao pó de concreto não era novidade nem para Lituânia, nem para Polônia quando se tratava do parceiro de longa data. Ainda assim, conforme o salgado das lágrimas misturava-se ao beijo naquela confusão de línguas, dentes e lábios, ambos sentiam que havia um quarto gosto ali, mais amargo que o normal. Era o da despedida.

Sim, pois não importava o quão forte o polonês procurasse abraçar Toris, puxasse seus cabelos ou arranhasse suas costas por cima da farda verde musgo, ele podia sentir suas forças esvaindo-se lentamente, drenando seu corpo de qualquer poder sobre si mesmo, e nenhuma de suas ações desesperadas mudaria esse fato. Eventualmente, o loiro foi obrigado a permitir que o lituano o sustentasse.

- Eu te amo. – disse Feliks, suas palavras sussurradas no ouvido báltico, sentindo o corpo abaixo de si instantaneamente tornar-se tenso.

- Feliks, eu... Você sabe que...

- Tudo bem. Só queria que você soubesse.

- Você vai voltar, não... – mas a frase jamais foi terminada. Em um último esforço, Feliks tomou o rosto do outro e uniu seus lábios novamente, desta vez em um selinho breve, roçar de lábios.

- Eu sempre volto Toris. Você sabe que eu sempre volto. – E com essas últimas palavras o polonês sorriu tão radiante que Toris sentiu-se na obrigação de acompanhá-lo e sorrir também.

Ao ver aquele sorriso tímido, Feliks decidiu que, apesar de tudo, ele havia ganhado o dia e, portanto, este seria um bom momento para fechar os olhos e permitir-se relaxar, nem que por apenas alguns segundos. Sim, pois Liet estava ao seu lado e o protegeria de todos os males, não havia no mundo lugar mais seguro que os braços do moreno.

Assim, bem lentamente, o loiro fechou os olhos e aconchegou-se no abraço da nação báltica, permitindo que este sustentasse sua cabeça com um dos braços na altura de seu peito e foi perdendo aos pouquinhos a consciência, um sentido de cada vez, até que restassem apenas as carícias de Lituânia na sua face. E então nada.


IV.

Toris permaneceu ali por meia hora ainda depois de Polônia ter perdido a consciência. Ele esperou, esperou e esperou, por infindáveis minutos, mas a nação loira continuava a respirar, sua pulsação, embora fraca permanecia presente. Seu corpo nem frio estava.

Então, de súbito, a verdade lhe atingiu: Feliks não ia desaparecer, ao menos não ainda. Seus homens, seu povo ainda lutava contra a invasão e o mesmo fazia seu corpo que, apesar de destruído, estava longe de render-se à morte, embora já não possuísse pleno controle sobre si mesmo. Não, ele permaneceria em coma, vai saber por quanto tempo. Tratando-se de Polônia, quem sabe até o último ser humano a se considerar polonês vivo.

Bem, se era assim, não havia mais nada para ele fazer ali. Não havia "ficar junto do amado até o último momento". Por um instante, Toris quase desejou que o outro desaparecesse de fato, sem deixar vestígios – seria menos doloroso do que velo daquele jeito, nem vivo, nem morto. Só que aquele era um pensamento horrível e ele logo se repreendeu por isso, enquanto se levantava com Polônia em seu colo no estilo princesa. O que ele sentia naquele momento era muito orgulho e respeito pelo outro por este não se entregar facilmente, isso sim, embora ele devesse ter imaginado que seria assim em se tratando do loiro.

Com um último suspiro, Lituânia dirigiu-se então ao acampamento dos soldados soviéticos. Rússia já devia ter dado por sua falta, era melhor ele não se demorar ainda mais.


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Notas finais do capítulo

Oláa!! Quanto tempo, hein pessoas? xD *levatiro*
Gente, desculpa pelo sumisso, mas como alguns de vocês devem estar sabendo eu estive ocupada estudando para o vestibular e tals... MAS, hoje, dia da publicação dessa one, eu prestei a última prova e, portanto, vou finalmente poder voltar a ativa! Ou pelo menos até que a faculdade passe a me atrapalhar, no lugar do colégio /cry
Bem, é a vida...
Mas enfim, espero que tenham gostado da one -q Tive a ideia depois de ler uma fic com o Polska que quebrou meu coração 3 -qq Talvez eu poste uma continuação um dia... Sei lá xD Só o tempo dirá~
Kisses da Lolies o/