Desvio de Conduta escrita por ich kawairashii


Capítulo 1
Capítulo único




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Sentado no sofá, a camisa desabotoada em cima, cara de safado. Como eu odeio esse filho-da mãe! Concentre-se no seu trabalho, Hwoarang! Você ainda tem que fazer um relatório enorme para amanhã. O olhar penetrante, lábios grossos perigosamente sensuais, o peitoral definido, barriga de tanquinho que adivinho por baixo da camisa e descendo um pouco mais... prefiro nem imaginar! Ele coloca a mão sobre a coxa direita, as pernas um pouco afastadas uma da outra. Tento desesperadamente desviar a atenção do volume entre as suas pernas. Ele sorri de um jeito estranho, tem plena consciência de seu poder sobre mim e se diverte com o meu constrangimento. Ele percebe a direção do meu olhar e abaixa a cabeça, olhando também. Jin sorri descarado para mim, escorregando no sofá até ficar quase deitado e abre um pouco mais as pernas. Maldito! Viro imediatamente para outro lado.

   -O que foi? - pergunta ele, transpirando inocência

   -N-nada, oras! - eu, gaguejando.

   Finjo um interesse exgerado em algo na tela do computador, esperando que ele não fale mais nada. Mas ele insiste:

   -O que você tem?

   Eu o ignoro, achando que assim ele ficaria sem graça.

   -Não vai responder não? - fala suavemente, se levantando do sofá e andando na minha direção.

   Minha garganta parece mais seca que o habitual e, com raiva, percebo que as minhas mãos tremem um pouco. Ele para bem atras de mim e apóia os braços no encosto da minha cadeira, ficando com o rosto bem na altura do meu, sem no entando me tocar.

   -Tá fazendo o quê? - sinto seu hálito na minha nuca e um arrepio percorrendo a espinha.

   Levanto da cadeira num pulo e o empurro, irritado. Ele sorri triunfante, conseguiu me tirar do sério.

   -Escuta aqui: quem tem que fazer perguntas sou eu! O que você quer? - quase grito.

   -Ah, finalmente a pergunta que eu esperava desde o início! - ele ri.

   -Como assim?

   -Bem, imaginei que você, como atendente desse consultório, atenderia o paciente (no caso, eu) assim que entrasse nessa sala. Reparou que você atendeu todo mundo e me ignorou completamente, até ficarmos só os dois? Isso não é muito ético, não acha? O pior é que você me olhava o tempo todo - Jin ri malicioso - mas nem perguntou o que eu queria?

   Abaixo os olhos, muito sem graça, sem saber se pela minha atitude ou pelo último comentário dele. Mas logo que volto a olhá-lo, percebo que ele não falava sério. Quase caí no papo furado dele!

   -Ha ha, muito engraçado - falo, não achando tão engraçado assim. - Oras! O que faz aqui, então?

   -Vim te ver.

   -Dá pra responder direito? Eu tô trabalhando, se é que você ainda não percebeu. Não tenho o dia todo e muito menos vontade de continuar com esse joguinho idiota.

   -Nossa, também não precisa estressar...

   -Fala logo!

   -Você tinha que ver a sua cara enquanto olhava pra mim ali. - aponta para o sofá, sorrindo desaforadamente.

   Sinto que o sangue abandona o meu rosto. Começo a gaguejar uma explicação mas ele me interrompe:

   -Você fica tão fofo nervosinho assim... - ele olha no fundo dos meus olhos. Pela primeira vez o tom de voz dele não é de zombaria. Isso me incomoda, o que ele pretende agindo desse jeito? Esse não parece ser o velho Kazama...

   -Por que está falando assim? - pergunto bruscamente

   -Porque eu acho que você esconde muita coisa *se aproximando* . Mas eu queria mesmo era confirmar o que eu já tenho quase certeza.

  Seu rosto muito próximo do meu, tento afastá-lo mas Jin segura o meu braço. Isso me irrita ainda mais e eu estou a ponto de mandá-lo embora, mesmo que tivesse de ser à força. Então ele me beija. Os lábio macios cumprem a promessa que faziam e sua língua explora toda a extensão da minha boca. Ele me beija lentamente. como se me pedisse em silêncio para correspondê-lo. E é o que eu acabo fazendo. Só me dou conta de onde estou quando ouço um barulho da maçaneta de alguma porta e imediatamente nos afastamos. Eu, ofegante. Ele com um sorriso lindo de criança travessa. Uma paciente sai de uma sala, parando em frente ao balcão.

  -Retorno? - pergunto a ela. Passados uns minutos ela vai embora e eu constato aliviado que ela não persenciou a cena.

   -Você está louco?!- murmuro para Jin, sem saber se estou bravo, feliz ou simplesmente assustado com os acontecimentos. -Aqui é o meu local de trabalho, não é lugar para essas coisas

   -Eu sabia que era o único lugar em que você teria de me aturar de qualquer jeito e não poderia simplesmente me dar as costas e me deixar alando sozinho... - fala ele inocentemente.

   -E se alguém visse? Eu perderia o emprego!

   -Ah, não se preocupe. Ninguém viu.

   -Então foi para isso que você veio?

   -Exatamente. Aliás, você ultrapassou as minhas expectativas... - insinua ele. - Eu estava certo. - fala mais para si mesmo.

   -Certo sobre o quê?... - pergunto, hesitante.

   -Adivinha! Te vejo depois. - desconversa ele, me dando um selinho de repente e indo embora logo em seguida.

   O resto da tarde passou lentamente e eu não pude mais me concentrar no relatório.

 

ooOoo

 

   Saí do trabalho às 18:30h, puto da vida. O meu pior inimigo acabou de tirar uma com a minha cara e eu simplesmente não fiz nada! Não era meu feitio aceitar tão fácil as coisas, mas na hora que o japonês me agarrou eu me perdi por completo. Esperava tudo dele, xingamentos, gestos feios, ou um soco na boca do estômago, menos um beijo. Eu devo ter ficado com cara de idiota e aposto que ele se deliciou com isso.

   Eu ma repreendia mentalmente, enquanto procurava a chave da minha moto nos bolsos. Comecei a praguejar, eu não a encontrava de jeito nenhum, então voltei lá para dentro, talvez eu tivesse deixado na minha mesa ou algo assim. Revirei as gavetas, embora eu soubesse que nunca a guardaria ali. Olhei no meio da papelada que ocupava a mesa inteira, eu não tinha muito jeito para organização. Fiquei preocupado, mesmo bagunceiro eu sempre encontrava as minhas coisas. Agachei no chão e perscrutei os quatro cantos daquela sala, mais parecendo um cachorro farejando. De novo me sentia um otário. Levantei e refiz o caminho da saída, só poderia ter caído enquanto eu andava. Para variar, não achei absolutamente nada parecido com o que eu procurava. “Ok, Hwoarang, olhe pelo lado bom: você tem uma chave reserva. A parte ruim é que a maldita está na sua cassa, onde você só poderá entrar com o molho de chaves que você acabou de perder”, dizia para mim mesmo. Sim, era desesperador.

   Fui andando em direção à minha moto, que eu tinha estacionado bem distante por falta de vaga, sem ter uma ideia exata do que fazer. Ao longe percebi alguém parado perto da moto. Achei estranho, mas imaginei que fosse o dono do carro da vaga ao lado. Eu via apenas os contornos da pessoa, já estava um pouco escuro e eu era provavelmente um bocado míope. Fui chegando perto, tentando parecer intimidador, não daria chance se fosse ladrão. Primeiro concluí que era um homem, depois concluí que eu ia vomitar. Jin Kazama todo folgado, recostado na minha máquina (até parece...). Era o que faltava para fechar o meu dia com chave de ouro. Ironicamente eu ainda preferia a chave da minha casa.

   - Oi, Hwo. – cumprimentou ele, irritante com sempre. – Puxa... – olhou o relógio- quase 19:00h! que demora... já estava quase indo embora.

   - Pois devia ter ido. – murmurei mal-humorado. Não era o momento ideal para me provocarem.

   -Aconteceu alguma coisa? Quero dizer, você atrasou uma meia hora... O chefe estava ralhando? – ele riu da própria piada. Isso me fez lembra do beijo, por pouco alguém não nos flagrava e eu ia pro olho da rua. Bufei, minhas mãos se torcendo numa ânsia de estrangular aquele babaca ali na minha frente.

   - Dá para desencostar...? – eu fazia um esforço sobre-humano para manter a voz no mesmo tom.

   - Ah, claro. – disse ele, se afastando um pouco da minha moto. – Desculpe... – “falso”, pensei e rangi os dentes.

   - Qual é o prblema? Você parece preocupado, Hwoarang.

   - Nada que te interesse. – respondi infantilmente. – Fica na sua.

   - Está bem. – assentiu e se calou, para meu alívio. As ironias dele já me davam nos nervos. Minha paz durou pouco, um minuto depois ele voltou a falar.

   - Perdeu alguma coisa? – perguntou ele de repente e eu ma peguei fitando os quadris dele, talvez por ser a coisa mais interessante no meio do estacionamento deserto. Ok, eu confesso: aqueles quadris atrairiam a minha atenção em qualquer outro lugar. E foi por isso que eu corei até a raiz dos cabelos quando ele me surpreendeu.

   - Ahn, como... assim – minha língua travou de vez. Décima manota do dia...

   - Não estou me referindo a isso. – ele riu, achando muito divertido o meu rosto todo vermelho. – Estou me referindo à sua chave.

   -Ah ta, a minha cha... – parei no meio da frase. Como ele sabia??? A resposta pulou aos meus olhos e eu senti que ia matar aquele japonês. Foi você que pegou, seu *****!

  - Uhn, você é bem lentinho não? – provocou, rodando o meu chaveiro no dedo, saído de não sei onde. – Se eu quisesse uma moto “nova”, eu já estava rodando com ela pro aí. Ou melhor, se eu quisesse uma moto nova, na ia pegar justo a sua, né? – ele se contorcia de tanto rir. Já eu me perguntava o motivo da graça, com os braços cruzados e o olhar fulminante. – Impressionante como é fácil te distrair, bastou um beijinho para você se derreter todo, nem sentiu quando eu peguei o chaveiro do bolso da sua calça. – zombava ele.

   - Agora que me humilhou o suficiente, será que pode me entregar as chaves? – pedi, com a mão estendida.

   - Aaaahhh... acha mesmo que eu fiz tudo isso só para te irritar? – ele arqueou as sobrancelhas. – Você não me conhece...

   - Eu quero as chaves, Kazama! – exigi, engrossando a voz.

   - Isso tem um preço... – falou, enigmático.

   - PREÇO?! – explodi. – Como assim? As chaves são minhas e...

   - Não me interrompa, ruivo. – disse autoritário, ignorando os meus argumentos.

   - Epa, não te dei liberdade de me chamar assim!

   - Se quiser isso... – balançou as chaves no meu nariz. - ... vai ter que ser um bom menino e fazer direitinho tudo o que eu mandar.

   Eu não tinha escolha...

 

ooOoo

 

   Meu corpo doía terrivelmente. Eu estava deitado no sofá em frente à TV, mudando de canal o tempo todo e sem assistir a nada no final das contas. Meus pulsos ardiam por causa dos meus esforços para me soltar das algemas, mas tinha sido pior montar na moto para voltar para casa. Eu mal conseguia sentar e nem o meu demorado banho ajudou muito. Quando me olhei no espelho, vi uma bela marca no meu pescoço, idêntica às outras espalhadas por todo o meu corpo. Apesar da irritação, eu estava cansado demais para fazer qualquer coisa contra o japonês sádico, que veio comigo para a minha casa sem o meu convite.

   Depois de me ter transformado no seu escravo sexual, ele ficou cheio de cuidados, não restando dúvida de que aquele louco tinha dupla personalidade. Eu poderia me fingir de vítima e etc., mas na verdade não pude ficar impassível às carícias dele por muito tempo. Ah, sem essa... Você também não resistiria!!! Afinal, ele é Jin Kazama, o cara mais gato do Tekken (depois de mim, é claro) com aquele corpo musculoso e ... *se dando conta da boiolice*. Melhor mudar de assunto, isso ta ficando gay demais pra mim.

   Logo que saí do banheiro Jin se aproximou e me mandou ir para a sala, enquanto ele preparava algo para a gente comer. Fiquei olhando atônito para ele, com medo de que ele fizesse alguma coisa terrível como abrir o gás, sair pela janela da cozinha e explodir a casa comigo dentro. Eu estava ficando meio paranóico, mas as mudanças súbitas de comportamento dele certamente me motivavam. Mesmo assim, fiz o que ele pediu (daquele jeito mandão dele, mais parecendo uma ordem). Deitei e me encolhi todo no sofá, porque o frio estava me incomodando mais que a dor. Não importava a posição, de era desconfortável de qualquer jeito. Eu estava pegando no sono quando senti a mão dele tocar de leve a minha testa e abri os olhos. Tomei o chocolate quente que ele fez (que ficou muito bom), mas não quis comer nada. Meus olhos estavam pesados e minha cabeça às vezes pendia e eu acorda assustado. Então Jin me enlaçou e me puxou para mais perto. Encostei a cabeça no ombro dele e adormeci no mesmo instante.

 

ooOoo

 

   Bem, e foiu mais ou menos assim que deixamos de ser rivais. No dia seguinte ele me acordou com beijo e café na cama, o que hoje em dia ele tem que fazer com muita freqüência por me mimar demais. Eu mal sei como fui parar no quarto, apaguei completamente e nem senti ele me carregando. Ele é mais forte do que eu imaginava (hei, não sou gordo não!). No final da tarde já tínhamos levado quase todas as coisas dele lá para casa.

   Namoramos há dois anos e meio e nesse tempo eu descobri que ele é ainda mais chato do que eu pensava quando éramos rivais. E a cada dia eu descubro que amo mais esse chato. É inevitável.

   Quanto aos brinquedinhos sadomasoquistas... não tive mais notícias deles (ainda bem!). Jin deu um jeito de sumir com eles antes que eu tivesse a ideia de devolver na mesma moeda.

   Ah, eu não acredito! Aquele japonês está a meia hora gritando o meu nome do banheiro, pedindo para eu pegar a toalha que ele esqueceu no quarto de novo. Não sabe fazer nada sozinho, depois o mimado sou eu *sai resmungando*.

 


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Notas finais do capítulo

REVIEWS?=D



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