Olhos Negros escrita por Emma blue


Capítulo 26
Capítulo 26 - Curiosidade


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :3
Escrito por: Lhama Liú



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No capítulo anterior... “-Aliss Ascek... –murmurou consigo mesma- Era esse o nome da mãe dele... Talvez, talvez isso seja a prova de que Wu Wislek realmente a amava, talvez no fundo ele só quisesse tornar-se como ela, para poderem viver como semelhantes... Ele devia sentir-se diferente, assim como eu me sentia diferente em Mind Oklan, assim como Lótus sentia-se tão diferente do próprio pai... É uma história triste, realmente triste...

Angel finalmente entendeu por que estava ali.

–Certo... Hora de voltar.

Ela bateu as asas em direção ao Instituto, seja lá qual for seu destino, ela sabia, seria decidido ali.”

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Lótus não se encontrava mais no terraço quando ela voltou, em vez disso 2 Irreduts a esperavam. Pareceriam duros e inexpressivos como sempre, não fosse a surpresa quase evidente em vê-la.

–Bem vinda de volta senhora! O senhor Lótus ordenou que ficássemos aqui para avisá-lo quando os enviados voltassem com você, mas não esperávamos vê-la tão cedo... E, sozinha...

–Pois então o avisem que eu voltei! -Angel não conseguia esconder a repulsa ao dirigir-se aquelas criaturas, sabia que eram pobres vítimas de um experimento cruel, mas nada restara dos humanos que um dia foram em suas expressões insolentes ou na falta delas... Gostaria de saber se há uma cura...

–Sim senhora, acompanhe-nos.

Eles a levaram ao familiar quarto extravagante de Lótus. E lá estava ele novamente, o mesmo homem que encontrara pouco antes de assistir a tortura de seus amigos, e ao mesmo tempo tão diferente! Novamente pergunto-me, como alguém pode mudar de humor tão depressa?!

Estava sentado de pernas cruzadas, de postura ereta exibindo sua luxuosa túnica dourada, adornada com linhas prateadas formando desenhos geométricos no peito e nas mangas. Fitava a grande janela francesa com uma expressão solene, denunciando preocupação pelas sobrancelhas franzidas. Seu cabelo estava preso para trás, mostrando melhor seu rosto firme de traços fortes. Parecia quase jovem neste momento, na maioria das vezes em que ela o vira trajava sobretudos negros e usava o cabelo solto, deixando-o misterioso e mais velho do que seus trinta e poucos anos... Algo realmente mudara em Lótus.

Quando ele a viu levantou-se com um salto e foi até ela, dispensando os criados.

–Não esperava vê-la tão depressa, meus Irreduts saíram-se melhor do que eu esperava!

Uma leve sombra de seu humor antigo voltara a sua fala, mas apenas a ironia, nada se via do humor negro e sádico de antigamente, para seu alívio.

–Não foram seus criados que me trouxeram de volta, eu voltei sozinha.

Uma mistura de surpresa e admiração transformou seu semblante.

–Se me permite a ousadia, posso perguntar o motivo? Minha companhia lhe é assim tão agradável? Ou por acaso se apiedou de minha triste e trágica história?

–Terá que se esforçar muito se quiser me agradar com sua companhia Lótus... E eu voltei porque fiz uma promessa. Eu não ousaria por em risco a segurança de quem amo apenas pelo capricho de desprezá-lo.

–Você é realmente admirável minha adorada Angel! Gostaria de dizer que me esforçarei para lhe parecer menos desprezível, mas não vou. De fato, me fez uma promessa e se descumpri-la, não hesitarei em machucar a quem tanto preza. No entanto, minha doce menina, me basta que permaneça aqui e jamais machucarei você ou seus amigos pois acredite se quiser, a ultima coisa que desejo no mundo é ferir seus sentimentos!

Ele falava tudo de forma afetada, como se sua gentileza e cortesia fossem ensaiados, mas seus olhos sempre denunciavam o que seu corpo não dizia.

Os dois se encararam por um longo momento em silêncio profundo. De um lado o olhar transmitia surpresa e raiva, e um leve traço de pena. Do outro, uma tranquilidade astuta e ensaiada, que escondia um desejo intenso enterrado nos confins mais profundos da alma... Sim, ainda era possível ver as chamas ardendo naquele olhar negro.

Sua ausência deve tê-lo dado tempo para se recompor, mas a solidão ensinara Angel a ler os traços mais ocultos na expressão de uma pessoa.

Lótus ficou sério de repente e se aproximou tocando delicadamente o rosto de Angel com ambas as mãos. Olhando-o fixamente assim, ele não parecia mais o torturador sádico a quem temera, por isso não o repeliu. Uma certa calma a possuiu com a surpreendente ternura daquele toque.

–Você é realmente parecida com ela... Quer dizer, eu não me lembro. Mas acho que era como você. O que você faria Angel? Na situação em que ela estava? Também abandonaria sua criança com um obcecado fora de controle e se mataria?

Toda a dor, o ódio e a dúvida contidos naquela frase foram como o choque de um cavalo desgovernado em Angel, ele a encarava esperando uma resposta, mas ela não encontrava sua voz.

Lótus agora parecia novamente o menino de 16 anos com nome de flor que nunca conhecera a mãe. Seu olhar suplicante chegava a ser inocente! Era desconcertante. Por fim Angel encontrou sua voz, que saiu lamentavelmente embargada de emoção.

–E..Eu não sei o que eu faria Lótus. Eu realmente não sei! –Ela afastou-se, desviando de seu olhar perturbador e cobrindo o rosto com as duas mãos –Ela era realmente forte não tenha dúvidas disso! E eu não sei se aguentaria tudo o que ela aguentou... É uma honra e uma desgraça que me compare com ela...

–Rogo que me perdoe então meu anjo... Não achei que essa pergunta fosse desconcerta-la tanto. Vou chamar uma criada para levar-lhe de volta a seus aposentos.

Então se retirou do quarto. Sem seu olhar sobre ela, Angel sentia-se livre como um pássaro, e pôde se recompor.

Conhecera pelo menos 3 Lótus diferentes nos últimos dias. Não entendia como personalidades tão distintas podiam convergir em uma mesma pessoa, e suspeitava que nem mesmo ele compreendia a si mesmo.

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Seu quarto parecia estranhamente aconchegante agora, Angel sentia-se cansada com a quantidade de carga emocional que recebera hoje. Sentou-se na cama e finalmente teve coragem de olhar Mind Oklan novamente.

De alguma forma a pintura parecia diferente, ou ela estava diferente...

Angel ainda queria estar em casa é claro, mas algo a prendia a Wislek. A Lótus. Estava exatamente onde deveria estar, sabia disso.

Uma travessa cheia de frutas, queijo e pão estava posta sobre a mesa de vidro a esquerda. Devorou tudo com a mesma avidez da ultima refeição, e quando foi olhar pela janela, notou que já era noite. Enfiou-se embaixo das cobertas aconchegantes e adormeceu.

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–Ela era bonita papai?

O homem riu –Ah sim! A mais bonita! Diferente de todas as mulheres que meus olhos alguma vez contemplaram, não apenas por não ter as características de meu povo. Não sabe o quanto é agradável, Lótus, ver grandes e redondos olhos quando está acostumado a pequenas luas crescentes com as órbitas mal visíveis. Ela era branca, não branca como eu, era de uma brancura pura e intocada. Tinha o rosto pequeno, mas astuto, sua estrutura óssea era levemente quadrada, não fosse o queixo delicado que dava uma impressão de ser quase triangular. Possuía um nariz inquisidor que franzia adoravelmente toda a vez que estava curiosa, as maças do rosto eram rosadas naturalmente e adquiriam um rubor intenso quando se constrangia. Tinha lábios carnudos e rosados. Seu lábio superior era proeminente e formava um coração quando sorria, e o inferior estava sempre mais rubro por mastiga-lo como hábito. E seus olhos! Oh seus adoráveis olhos! Nunca me canso de lembrar deles. Como já lhe disse, eram grandes e redondos, com sua Iris negra como ônix característica de sua raça tornando-os tão misteriosos e reveladores quando se olhava fixamente! Seus cabelos eram longos e ondulados, escuros mas levemente avermelhados quando se batia o sol...

Ele abaixou a cabeça e pigarreou como se recuperasse de um devaneio

–Waaah! Ela realmente era bonita papai! E como você a chamava?

–Anjinho... Mas esqueça disso, lembre-se de que ela se matou e nos abandonou, sem se importar com o que aconteceria com você, seu próprio filho!

Ele levantou-se bruscamente de sua poltrona diante da lareira e me puxou de meu acento, empurrando-me para fora do quarto, batendo a porta atrás de mim.

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Angel despertou com uma criada chamando-a, levantou-se tão depressa que suas cobertas cor de rosa enrolaram-se em seus pés quase a derrubando.

–Foi só um sonho! Mas por Deus! Foi tudo tão real!

Por um momento esqueceu-se da presença da criada, que percebendo o lapso, pigarreou, chamando-a para o banho.

O mesmo processo se repetiu. Conversaram pouco, ela lhe ajudou com o banho e limpou suas asas, deu-lhe comida e foi embora. E Angel nunca mais a viu.

Angel começou a dar voltas inquietas pelo quarto. Como pode ter sido apenas um sonho? E se não foi... Eu sonhei que eu era... Lótus? Oh céus!

Por fim, cansou-se de conjecturar e sentou-se na penteadeira ao lado da janela, abriu as gavetas e descobriu pentes, joias e perfumes. Pegou-se sorrindo ao imaginar por que Lótus preocupou-se por seu bem-estar se tinha literalmente pintado seu mártir na parede à esquerda.

Pegou uma escova de conchas incrustada de rubis e pôs-se a escovar as longas e escuras ondas enquanto deixava a mente vaguear sobre seu estranho sonho.

Não... Não foi só um sonho... –De alguma forma Angel havia visto uma lembrança de Lótus.

Seu cabelo já brilhava tanto quanto os rubis da escova quando se cansou de pensar.

–Será que ele não vem? –murmurava consigo mesma insatisfeita pela demora de Lótus. Queria conversar mais com ele, queria entender o que se passava naquela mente perturbada pelo sofrimento...

Por fim, fez uma trança e a prendeu com uma fita de seda laranja um pouco mais escura que seu vestido. Surpreendeu-se ao se deparar com a porta destrancada, saiu pelo corredor até o elevador e quando as portas de aço abriram-se diante de si, apertou o botão que a levaria ao andar do quarto extravagante.

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Ele dormia. Tranquilamente, impassível e sereno. Esticado sob a cama dourada e enrolado nas cobertas floridas.

Angel andou silenciosamente até a cabeceira da cama, observando seu sono. Imaginando se ele estaria sonhando, e se estava, o que sonharia?

Sua expressão tinha uma inocência que até aquele dia ela só vira em seu olhar, estava deitado pra cima, com o braço esquerdo esticado tocando inconscientemente o cabelo solto, com longos fios negros rebeldes contrastando-se com a pele pálida de seu rosto.

Sobre a mesa de madeira da parede a direita da cama, havia um luxuoso conjunto de facas, ótimos pra quem gosta de grandes pedaços de carne.

Angel voltou seu olhar para Lótus, como estava indefeso! Seu pescoço branco a mostra pela gola do pijama de cetim azul.

Ela não pensou, apenas seguiu seu corpo e andou até a mesa, com a maior e mais brilhante faca na mão, voltou-se para a cama.

Sentada, com Lótus acomodado ao seu lado, de repente Angel não possuía mais qualquer sinal de consciência. Apenas o ódio e o remorso pelo núcleo de seus problemas e sofrimentos dominava sua mão quando esta se dirigiu com a faca até aquele pescoço aparentemente imaculado.

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–Você vai me matar?

Com uma súbita onda de choque, Angel recuperou a consciência e deu por si agindo sorrateiramente como uma assassina.

Lótus a observava em silêncio, com aqueles olhos profundos e interrogativos... Ele não desviou o rosto, não mexeu um só músculo, curiosamente dera a Angel a escolha de prosseguir penetrando sua tez ou de desistir. Ela prendeu a respiração, seu rosto e todo o seu corpo estavam quentes e mortificados pela tensão.

Ela tinha uma escolha... Uma tentadora escolha.

Não –a voz sussurrou no interior de sua mente- Isso não é algo que você faria Angel! Pare! VOCÊ NÃO É ASSIM!

Angel deu um longo suspiro de pânico, soltou a faca e um mundo de lágrimas vieram e transbordaram por seus olhos. Lótus finalmente se mexeu, ela pôde captar um mínimo e solitário sinal de alívio em seu rosto, era quase invisível, mas estava ali. Ele pegou a faca e a jogou para fora da cama.

Ela estava se levantando para correr para longe do quarto, mas braços fortes a seguraram e em segundos ele estava sobre ela. Perto... Muito perto.

Seu cabelo pendia sob o rosto de Angel, enquanto a fitava sorrindo... Essa não... Era o velho sorriso zombeteiro e desejoso do primeiro e conhecido Lótus. Sua respiração ofegante atingia-lhe o rosto em jatos quentes. Ela começou a se debater, mas ele segurava firmemente as laterais de seu corpo.

–Você é uma boa menina... Anjinho...

Ele abaixou a cabeça até seu pescoço e começou a beija-lo, mordiscando e lambendo. Provocando estalidos que deviam ser sedutores aos seus ouvidos, mas eram repulsivos aos de Angel.

Lótus subiu seu vestido até a cintura e dobrou suas pernas nuas, enfiando-se entre elas antes que pudesse fecha-las enquanto ainda abusava de seu pescoço como uma espécie de vingança por ela ter tentado cortar o dele.

Angel fechou os olhos com força e continuou debatendo-se, com o máximo de força que conseguiu reunir.

Mais força Angel, você consegue! Ele não quer fazer isso, se você for forte ele vai parar, eu prometo!

Com o apoio da voz subconsciente uma força totalmente desconhecida tomou conta de Angel, ela abriu os olhos e encravou suas unhas no rosto de Lótus, arrastando-as até seu pescoço, ele uivou de dor e fraquejou e ela pôde empurra-lo e sair em disparada.

A adrenalina e a tensão guiaram seus pés rapidamente até o elevador, olhou para o quadro de botões e quase apertou o botão que a levaria ao seu quarto –não... eu não posso voltar pra lá -Por fim pressionou o solitário botão vermelho da ponta, vendo um Lótus desesperado correndo em sua direção, esperou as portas de aço fecharem-se a sua frente, sem saber pra onde a levaria.


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Notas finais do capítulo

Era pra ter postado bem antes né mas o Nyah resolveu dar pau... Perdoem a lentidão no decorrer da história, mas é necessário que vocês conheçam um pouco mais do Lótus antes do final... Enfim, comentem bastante pra me fazer muito feliz e confiante na minha escrita ok?
Ah! Mais uma coisa, sou eu [Lhama] que respondo a maioria dos comentários, mas eu esqueço de assinar alguns hehe :v
Espero realmente que tenham gostado! [Lhama Liú]