Primeiro dia de aula. Como sempre, Yu estava excluído em um canto da classe. Era assim desde a terceira série, já estava acostumado. Era o primeiro dia de aula do segundo colegial. Desde a terceira série, aquela menina era a primeira que estava entrando na sala dele, até então, as únicas mudanças eram de pessoas que tinham saído.

    Ela era muito pálida, muito alva, sua pele parecia não ter imperfeições. Seu cabelo era castanho claro cacheado, tinha algumas poucas mechas loiras, provavelmente naturais. Estava com uma calça jeans com lavagem preta, All Star preto com alguma coisa escrita na lateral e uma blusa preta com o nome da banda "Tokio Hotel" escrito, com o logotipo embaixo, provavelmente ainda não tinha o uniforme.

    A primeira aula era de inglês. Quando abriu o livro, pensou "Caramba, o inglês da escola não sai dessa merda de verbo 'to be'?". A professora explicou o que ele já sabia de cor e pediu para que sentassem em dupla para fazer exercícios. Para ele, sentar em dupla era a mesma coisa que ficar sozinho, havia compreendido que esse era o seu destino. Para seu espanto, a garota nova chegou do seu lado e delicadamente tocou-o no ombro, fazendo seu coração disparar. Seria de susto ou alguma coisa além? Então ela perguntou com uma voz doce, encantadora, quase musical: "Posso sentar com você?". Ele lutou para que a simples palavra "claro" saísse. Logo sua carteira estava encostada na dele.

    Quando olhou para a apostila dela, percebeu que os exercícios também estavam feitos, com uma letra perfeita, que exigiria anos de caligrafia, mas pela rapidez com que escrevia, parecia que não era isso que havia acontecido. Formulou uma pergunta que demorou um tempo maior que o normal para ser proferida: "Também já está cansada desse verbo 'to be'?", ao que ela respondeu que sim, já havia perdido as contas de quantas vezes tinha "aprendido" isso.

    Ela perguntou seu nome, e à resposta, disse que era lindo. Ele perguntou o dela, que era Ginger. Antes que pudesse proferir qualquer palavra, ela disse:

    - É, eu sei que é gengibre em inglês - com um sorriso que revelava dentes perfeitos e brilhantes - e pode me chamar de Gin.

    Os dois deram risada e continuaram o interrogatório:

    - Quantos anos você tem? - Yu perguntou.

    - 16, e você? - Ginger respondeu.

    - 16 também. Quando faz aniversário?

    - 30 de junho, e você?

    - 10 de maio. E aí, por que decidiu entrar nessa escola?

    - Ah, acabei de chegar na cidade, minha mãe me colocou nessa escola. Acho que foi uma boa escolha - Yu ficou com as bochechas rosadas.

    - Pode ter certeza que foi - disse ele, mexendo no piercing no lábio inferior esquerdo com a língua e sorrindo, revelando também um sorriso de dentes perfeitos.

    Quando perceberam, a aula tinha passado e o sinal estava tocando, saíram ambos para dar uma volta. Ele foi até a cantina e comprou algo para comer. Perguntou se ela não estava com fome, e recebeu uma resposta negativa. Saíram da cantina e sentaram no banco do corredor, conversando.

    Quem passava e via aquele menino estranho, com o cabelo totalmente repicado, pintado de preto, com mechas vermelhas e vivas, lápis no olho, roupas estranhas, piercing na sobrancelha e lábio e sempre sozinho, agora com uma menina, se espantava.

    Ele era pelo menos uns 10 cm mais alto que ela. No momento conversavam sobre música, e suas bandas favoritas eram Tokio Hotel e Cinema Bizarre, ambas alemãs. Os dois eram apaixonados pela Alemanha e gostariam de aprender alemão, mas por causa da escola e da rotina cheia, não tinham tempo.

    O resto das aulas ocorreu normalmente, os dois conversando todos os intervalos.

    De noite, Yu foi dormir muito feliz, pela primeira vez em 7 anos.

    No dia seguinte, ele perdeu hora arrumando o cabelo que insistia em não ajudar. Quando chegou, já tinha a certeza de que sentaria na primeira carteira, já que o fundo era o mais disputado. Na porta da sala, parou e correu o olha por ela, procurando um lugar. Seus olhos azuis encontraram os olhos castanhos de Gin, que instantaneamente abriu um sorriso e apontou para uma carteira reservada ao lado da dela. Ele andou rapidamente até lá, os inúmeros chaveiros da mochila fazendo barulho e chamando a atenção da classe.

    Ele se sentou na carteira e entregou o caderno que guardava a carteira, inicialmente com algum desenho feminino, mas agora com a capa cheia de fotos do Bill Kaulitz, para ela.