Acabei de acordar. Não sei exatamente quando tempo eu dormi. Algumas cenas do acidente ainda estão passando em minha mente. Foi tudo tão rápido. Não consigo entender como aquilo aconteceu. Parece loucura minha dizer que há muitos segredos escondidos ainda. Meus pais não querem me contar o que aconteceu naquela noite, eles mesmos não sabem as respostas. Queria que pelo menos uma vez alguém me dissesse o que aconteceu, mas a única coisa que ele me dizem é "Fique de repouso querida.". Eu não quero dormir. Eu quero sair daqui. Desse hospital.

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 -Mãe eu já estou indo! - eu gritei.

 -Lucas fique de olho na sua irmã, e não voltem tarde.

 Foi a última vez que vi minha mãe naquela noite, e foi a última vez que ela viu meu irmão com vida.

 -Vamos maninha,não quero perder nada.

 -Hahaha você demorou mais do que eu para se arrumar.

  Eu estava indo para uma festa de uma amiga do colégio, meu pai estava trabalhando até tarde naquele dia então meu irmão mais velho, Lucas, iria me levar. Só que quando ele soube que ia ter muitas garotas lá ele decidiu ir junto comigo. Não que eu não gostasse da companhia dele, mas é chato ser vista com a babá do seu irmão no seu pé.

 Eu me lembro pouco da festa, lembro que tinha muitas bebidas, mas meu irmão não bebia.

 Tudo começou mesmo quando entramos no carro. Eu já estava com dor de cabeça, não sou muito baladeira. Meu irmão estava bem, mas quando entrou no carro se contorceu de dor. Fiquei assustada, estava ligando para o papai quando ele tomou o celular da minha mão:

 -Não precisa ligar para o papai.

 -Mas você não está bem Lucas, não consegue nem sentar direito quanto mais dirigir.

 -Consigo sim, aquilo foi só um mau estar passageiro. Já estou melhor, pode confiar em mim Elizabeth.

 Fazia tanto tempo que ele não me chamava de Elizabeth, era sempre maninha, Eliza. Lembro que quando era pequena e ele precisa chamar a minha atenção ele me chamava assim. Sempre que ele me chamava assim era como se nada fosse acontecer. Como eu fui tola em acreditar nele.

 Em uma curva voltando para casa o carro capotou. Não sei dizer como aquilo aconteceu. Não tem lógica ter sido uma pane no carro, ele era novo. Meu irmão sabia dirigir e não estava bêbado. Não sei também como sobrevivi. Alguns dizem que foi um milagre, outro que foi sorte.

 Lembro que quando o carro estava girando meu irmão apenas fechou os olhos e começou a murmurar, pensei que ele estivesse rezando, mas não era isso que ele estava fazendo. Quando o carro parou estávamos de cabeça para baixo, lembro que ele me olhou nos olhos e dize:

-Elizabeth te deixo a minha herança.

 E fechou os olhos. Depois disso vi algumas luzes e vozes e depois apaguei.

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 Acabei de acordar nesse quarto branco. A primeira coisa que vi foi minha mãe deitada em uma poltrona com os olhos cheios da água. Assim que ela viu que eu havia acordado veio correndo em minha direção gritando:

 -Ela acordou! Venham aqui, ela acordou!

 Uma enfermeira entrou no quarto e me examinou. Depois de passar por uma bateria de exames pude voltar para o quarto. Minha mãe não parava de perguntar se eu estava bem e meu pai estava telefonando para as pessoas mais próximas avisando que eu tinha acordado. Assim que minha mãe se acalmou e meu pai voltou para o quarto tomei coragem e perguntei:

 -O que aconteceu?

 -Ah minha filhinha, você não teve culpa - Disse minha mãe que já tinha voltado a chorar.

 -Minha filha, o seu irmão bebeu demais e perdeu o controle do carro. Ele não sobreviveu.

 Era tudo o que eu precisava ouvir. Ele havia morrido. Não conseguia acreditar naquelas palavras. Eu tinha visto ele fechar os olhos como se estivesse tentando dormir, tão lúcido. Não tive forças para perguntar sobre o que ele me dize. "Elizabeth te deixo a minha herança.".

 Fazia algum tempo que ele andava misterioso. Lembro uma vez de ter perguntado o porque dele andar tão afastado e ele apena me disse:

 -Quando chegar a sua hora você vai entender.

 Não dei importância para aquelas palavras naquela hora, mas agora é como se uma frase fizesse parte da outra, com em um quebra-cabeça, só que com muitos espaços vazios . Espaços que eu terei que preencher sozinha.

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 Talvez eu consiga entender algo depois da visita de hoje.