A Teimosia De Yatogami Kuroh escrita por Nekoclair


Capítulo 5
5. Tristeza


Notas iniciais do capítulo

Olá! Deixarei desta vez os meus comentários para as notas finais. ^^
Boa leitura!



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– Eu não sei de nada. – digo, por fim, sério e aparentemente em meu normal estado de tranquilidade.

Porém, apesar do que minha postura e feições mostram, meu interior contorce-se com a nova descoberta, enquanto as palavras do Rei Azul ressoam em meus ouvidos de forma pertinente e incômoda.

“Ele tem se metido em uns assuntos que não são de meu agrado.”

Eu realmente queria saber o significado daquelas palavras. O que Shiro estava a fazer? Mas, apesar de minha latente curiosidade, eu não perguntaria ao Rei diante de mim; não mesmo. Eu perguntaria ao meu próprio, quando eu o visse novamente, e arrancaria as respostas caso necessário.

Eu realmente não devia confiar tanto no meu Rei... Onde eu estava com a cabeça, quando simplesmente o deixei partir sem sequer dar uma breve explicação de tudo o que tinha e tem acontecido?

Acabo tendo que conter um suspiro, que por muito pouco não me escapou por entre os lábios. Eu não poderia permitir que meus pensamentos fossem evidentes, afinal eu não sabia dizer as consequências que isso traria num futuro talvez não muito distante. Eu nem mesmo sei se Munakata Reisi é ou não nosso aliado...

O azulado ainda me encara, atentamente, a espera de alguma expressão denunciante por minha parte, e apenas depois de considerável tempo é que ele enfim acaba por desistir e abandonar seu silêncio.

– Oh... Entendo. Uma pena, certamente. – ele diz, desviando os olhos de mim por um momento. Eu sou incapaz de ler o brilho de seu olhar, o que me anseia de certa forma. Suas intenções continuam me sendo um total mistério.

Ao ver os segundos passarem silenciosos, decido por me pronunciar uma vez mais, mesmo que eu estivesse somente a atirar no escuro, sem saber a que rumo minhas palavras me levariam.

– Mas se me permitir perguntar algo... – começo, cauteloso – O que te dá tanta certeza de que o que acontece é culpa de meu mestre?

Ele observa-me, quieto e atento, além de com as feições inexpressivas. Seu olhar me deixa nervoso, cada vez mais nervoso. Perante seu silêncio, decido por continuar:

– Você até o viu morrer, não é? Na sua frente. Por que culpa um falecido Rei, ainda mais o Rei Prata que sempre se isolou de todos e nunca causou problemas a ninguém? Você não acha que...

Meu pronunciamento é, sem mais nem menos, interrompido, enquanto minha face empalidece sem meu prévio consentimento. Não foram palavras ou gestos que me interromperam, nem mesmo os olhos que há alguns minutos já me intimidavam, mas sim um leve e presunçoso sorriso que tomou posse dos lábios do Quarto Rei.

– Quem você acha que o ajudou a fugir naquele dia? Quem você acha que o escondeu até que ele se recuperasse totalmente das feridas fatais, as mesmas que tiraram a vida do Rei Incolor que dividia o corpo com o Primeiro?

Ele encara-me, de cima, com o olhar imponente e prepotente, eu ainda incapaz de pronunciar-me de forma alguma.

– Você realmente achou que eu não sabia de nada? – ele observa minhas feições chocadas por um momento – Heh.

Ele leva os dedos aos óculos, levantando-os e os posicionando no local que os era devido. Seu breve riso apenas me fez concluir que ele entendia muito bem o que acontecia e que ele sabia que eu mentira. Isso fez com que poucos tremores percorressem meu corpo por poucos segundos. Eu não o poderia dizer a verdade, o pouco que me era conhecido... Levarei essas informações ao túmulo se necessário. Levo uma de minhas mãos ao cabo de Kotowari, precavendo-me, e meu sutil movimento não passa despercebido aos olhos atentos do azulado.

– Você quer lutar? Eu vim em paz, você sabe...

– Não direi nada sobre meu mestre. – digo, prontamente, em resposta.

Ele suspira, de maneira cansada.

– Você é realmente um cão teimoso. O que custa colaborar conosco? Por que permanece ao lado de um Rei que abandonou o próprio clã?

– Ele não nos abandonou!... – interrompo-o, enquanto sinto meus dentes trincarem, ao cuspirem tais palavras, que ainda assim são totalmente ignoradas pelo outro homem.

– Você e sua companheira serão sempre bem vindos ao Scepter 4, afinal ambos tem habilidades excepcionais. Por que não abandonam esta sujeita e voltam a viver em um lugar mais decente? – ele diz, e sua seriedade intimidava-me mais que tudo.

– Já temos o nosso Rei e o esperaremos o quanto for necessário. – digo, sentindo meus olhos caírem ao chão – Ele me prometeu que voltaria...  – o murmuro me escapa, enquanto as memórias da última luta contra o Rei Incolor assolam-me a mente e me fazem ser preenchido por certa melancolia.

O silêncio forma-se entre nós, e a noite que permanece escura já não mais me atrapalha. Os olhos azuis de Munakata Reisi fitam-me com um tanto de impaciência, enquanto os meus, que o encaram de volta, carregam bravura e determinação.

– É uma pena, Kuroh... – ele diz, puxando a espada para fora da bainha lentamente – Você poderia ter se unido a nós.

– E eu agradeço pelo convite. – replico, educadamente – E não pense que sou o mesmo de há três anos. Não me subestime.

– Não seria você quem está me subestimando? Desafiando um Rei... – ele diz, enquanto leva a lâmina da espada aos dedos, passando levemente sobre eles, mas sem se cortar.

– Estou apenas seguindo ordem de meu rei. Ele me disse para proteger a mim mesmo e a Neko, e acabei por te ver como uma ameaça em potencial. – dou uma curta pausa – Não me leve a mal, mas ordens são sempre absolutas. – digo, abrindo um leve e confiante sorriso.

Ele encara-me por um momento e também sorri, aparentemente mais do que satisfeito. O vento bate frio em meu pescoço e agita os fios negros e compridos de meu cabelo. Eu estava atento ao meu recém-adquirido adversário, mas eu não faria o primeiro movimento. Eu sei que o atacar seria nada mais do que me sacrificar - já sabia mesmo há três anos -, e exatamente por isso a minha estratégia era outra.

O silêncio é pesado entre nós e a nossa fervorosa troca de olhares não colabora para amenizar a situação.

– Certo, Kuroh, aceitarei seu desafio. E Awashima-kun, não se envolva de forma alguma. Isso é uma ordem. – ele disse a jovem loira às suas costas, mas sem tirar os olhos da minha pessoa por sequer um segundo – Essa luta é minha.

Ele dá uma risada seca, e que durou apenas por um mísero instante, e então enfim lança um golpe com sua espada. Um rajo azul surge de sua espada e voa pelo ar em uma velocidade surpreendente.

Pulo para dentro das sombras, fugindo do poder que devastara o pobre solo do terreno onde, até poucos segundos, meus pés se encontravam repousados. O Rei permanece estático, sorrindo a me ver pousar suave no chão, junto às distorções e falhas agora existentes no chão graças a si.

Sem perder um segundo mais, usei de meu poder para, aproveitando do terreno agora desregular, atirar-lhe pedras e terra, causando uma cortina ainda mais escura que a escuridão já comum da noite. Ele leva o braço aos olhos, pego de surpresa pelo meu golpe que não tinha realmente jeito de ofensivo. Entretanto, eu não fiquei a desperdiçar meu tempo encarando-o, pois me virei rapidamente nos calcanhares e me pus a correr rapidamente em direção à barraca.

Quando ele enfim deu-se conta do que acontecia, eu já estava novamente a sair do local, com a garota segura em um nos braços - a qual ainda não se encontrava totalmente acordada mesmo depois de arrancada brutalmente da cama - e o guarda-chuva na outra mão..

Ao que seus olhos caíram novamente sobre a minha pessoa, ele lançou mais uma vez seu poder destrutível em minha direção, e desta vez sem conter sua força. Ele tinha os olhos irados e impacientes. Segurando firme a strain em meus braços, flexionei meus joelhos e saltei o mais alto que me era permitindo, mas ainda assim sentindo o poder do meu oponente passar-me perto aos pés. Abro o guarda-chuva e, usando do poder de meu próprio clã, deixo que um forte e distinto brilho platino tome conta de meu corpo e do de Neko, fazendo-nos subir rapidamente no céu e escapar de mais um dos golpes do Rei Azul.

– Desculpe por sair desta maneira, Quarto Rei. – digo, já perto das nuvens e ainda subindo. A garota encarava confusa o seu redor e ao notar que voava agarrou-se mais ao meu pescoço, soltanto um assustado chiado.

Fiquei a encarar Munakata Reisi até que ele sumisse de minha vista e, por um momento, pouco antes dele desaparecer por causa do nevoado, jurei ter ouvido um “Maldito” escapar por entre seus lábios incomodados.

Suspiro, aliviado ao ver que havíamos realmente conseguido fugir a salvo, e sem qualquer arranhão. Neko encarava-me por todo esse tempo, confusa e em silêncio, apenas observando minhas feições.

– Kuroh... O que aconteceu? Aquele era o Quarto Rei, não era?

Viro-me em direção à garota, vendo-a me observar com os olhos grandes e radiantes, atiçados por uma curiosidade crescente.

– Sim, Neko. Era ele mesmo.

– E por que estamos fugindo? O que aconteceu? Não foi o Kuro que disse que tínhamos que tratar bem todos os reis? Então por que estamos fugindo?

– Ele... Ele é diferente. – respondo, minhas feições adquirindo um ar mais sério. – Acabou que ele é um inimigo do nosso rei, e portanto nosso inimigo.

– Nosso inimigo? – pergunta ela, confusa.

– Sim. Devemos tomar muito cuidado com ele. E acho melhor não voltarmos ao terreno também. Vamos ter de nos mudar.

– Mas... Nos mudar? E como podemos não voltar? E a aeronave?!

Suas palavras me fazem então relembrar de algo importante que eu estava a abandonar, e que só então percebia.

Fico a pensar por poucos instantes e ela tinha razão. O que faríamos em relação ao Himmelreich? Todo o meu trabalho duro seria simplesmente jogado fora? Meu trabalho dos últimos três anos... Teria sido totalmente em vão?

Não daria para simplesmente mover a aeronave, daria? Bem, mesmo que movêssemos, seria entregar nossa localização e isso não podemos permitir... Afinal arrumamos o pior inimigo possível.

O que devemos fazer?

O que Shiro deseja que façamos?

Eu pensava sobre as palavras proferidas por Neko quando uma explosão ocorreu abaixo de nossos pés. Nossos olhos caíram juntos ao solo, vendo o já um tanto distante terreno baldio onde, ao centro, uma alta torre vermelha cintilava ardente. O fogo iluminava a noite sombria e dava calor aos seus arredores.

E entre as labaredas, a aeronave ardia.

Meus olhos fixaram-se à cena, enquanto uma dor pertinente tomava meu peito. Meus lábios contraíram-se ao que eu me esforçava para conter o grito que eu tanto desejava dar. Engoli a saliva que havia se acumulado em minha boca, sentindo-a arranhar enquanto descia por minha garganta. O ar começou a me faltar nos pulmões, deixando-me agitado. Procurei os olhos de Neko, imaginando o que ela estaria sentindo, e o que vi a segui surpreendeu-me e me feriu ainda mais.

Ela tinha as feições impassíveis e olhava em direção ao terreno com uma expressão vazia. Não tinha tristeza, sofrimento ou qualquer outra emoção em seus olhos, apenas lágrimas; lágrimas que ela só notou quando se viu observada por um preocupado eu.

– Ah?... Eu... – ela levou as costas de uma das mãos ao ohos, limpando-as. Suas feições permaneciam perdidas.

– Neko... Você está bem?

– S-Sim! Na-Não se preocupe. É só que... – ela deu uma curta pausa, ao que o falso sorriso que tinha tentado erguer nos lábios despencou – Eu não sei o que fazer, Kuro... A aeronave do Shiro... Ela... – a garota começou a soluçar, perdida em meio às lágrimas.

– Neko... – seu estado entristece-me. Era raro vê-la chorar de maneira tão desesperada.

Puxei-a para mais perto de mim, em algo que se poderia chamar de abraço. Ela de forma alguma reagiu, apenas deixou-se estar em meio à segurança que meus braços prometiam.

– Não se preocupe. – eu digo, numa foz calma – Acredite, ele vai nos perdoar pelo preço de nossa sobrevivência. Não precisa ficar assim. – eu digo, ferindo-me mais e mais a cada palavra que abandonava meus próprios lábios.

Se eu fosse mais forte... Talvez as coisas fossem diferentes. Se eu tivesse força para lutar com um rei de igual para igual...

– Kuro... – a voz baixa e entristecida da garota livra-me de meus devaneios indesejados; pois agora o que eu menos precisava era de um complexo de inferioridade e de arrependimentos – E agora, o que vamos fazer? Para onde vamos?

– Eu...

Silenciei-me, pondo-me a pensar. A strain pareceu notar que eu procurava as respostas às suas assim não tão simples perguntas, pois também se calou e ficou simplesmente a esperar pelo meu pronunciamento, sem me apressar.

– Eu acho que sei um bom lugar para ficarmos, ou ao menos enquanto não arrumamos um lugar melhor.  - digo, por fim.

Rodei o guarda-chuva que permanecia aberto, fazendo-nos flutuar suavemente por entre as nuvens negras, e a altitude que nos separava do solo passou a diminuir. Poucos segundos depois já tínhamos os pés no chão e nos encontrávamos em meio à ruínas de prédios velhos, que nos cercavam por todos os lados.

– É melhor irmos por baixo, e rápido. Não sabemos se eles estão nos procurando. – eu disse a garota, enquanto começava meu deslocamento com passos apresados.

Neko fez um gesto positivo com a cabeça e passou a seguir-me, caminhando ao meu lado. Passamos por várias ruelas e estreitos e, depois de meia hora de caminhada em meia à noite que sequer tinha o iluminar da Lua, alcançamos uma faxada a mim conhecida.

Tentei abrir a porta e, como da última vez que eu visitara o local, estava aberta. Virei-me à Neko, ainda com a mão na maçaneta.

– Espere um pouco.

Ela anuiu e eu adentrei, primeiramente apenas a cabeça e depois por inteiro. Estava lá tão escuro quando no exterior, e por isso não tive dificuldades em enxergar os arredores. Chamei por Neko e ela juntou-se a mim no mesmo instante, fechando a porta que dava para a rua.

Ficamos a encarar os interiores do salão não muito amplo, atentamente. As escadas ao fundo, os vidros quebrados, os entulhos, o carpete carmesim.. Tudo permanecia da mesma forma. Ninguém devia ter ido ali desde que eu saíra e ninguém devia estar ali agora...

Minhas mãos, que estão caídas ao lado de meu corpo, fecham-se. Não que eu esperasse o ver aqui novamente, mas... Este lugar me traz lembranças e a certeza de que eu verei meu mestre de novo, e isso me alegra e me deixa ansioso. É apenas uma uma reação involuntária. Não é como se eu estivesse angustiado ou qualquer coisa assim pela ausência dele neste momento.

Suspiro, decidindo por interromper aquela minha linha de raciocínio enquanto ainda era possível.

– Vamos dormir por hoje. – viro-me a garota, que sorri cansada.

Ela boceja, pronuncia uma baixo “Boa noite.” e prontamente caminha à parece, na qual se recosta e logo cai no sono.

Fico a observá-la, percebendo então o quão exausta ela estava. Sorrio levemente e me aproximo de si, cobrindo-a com meu casaco preto a fim de a proteger do forte frio que fazia.

Depois de fitá-la por breves segundos e constatar que ela realmente dormia, dou-a as costas e vou em direção à escada, sentando em uma de suas pontas, no primeiro degrau. Apoio a cabeça em uma das mãos e suspiro, cansado.

Tantas coisas me perturbam a mente. São tantos problemas que nem sei em qual me concentrar primeiro...

Lanço, por um momento, um olhar á strain, vendo-a dormir calmamente.

Não, eu sei sim qual deve ser meu próximo e primeiro passo. Ao menos esse eu tenho certeza. Afinal eu não posso continuar a esconder as coisas da Neko; não na situação complicada em que agora estamos.

Sim, porque, mesmo que eu temesse sua reação ás palavras que certamente a agitarão, ela não merece ficar no escuro dessa forma. E não é como se ela fosse uma incapaz, inútil de ajudar de qualquer forma. Ela é forte e minha única companheira.

Apesar de tudo, eu realmente tenho orgulho de dizer ser ela a estar ao meu lado.

Ela pode ser um pouco impulsiva e egoísta, mas também é, muitas vezes, mais forte do que todos, mais forte do que eu. Ela é bondosa e insistente, e quando decide algo vai chegar até o fim apesar das dificuldades.

E os seus defeitos não realmente me incomodam ou atrapalham, e o mesmo deve valer a ela quanto aos meus; afinal defeitos todos temos. Bem... Tudo o que sei é que, caso ela decida por fazer alguma idiotice, eu estarei sempre ao seu lado para a impedir, pois é esse meu dever como seu amigo e companheiro de clã.

E juntos traremos logo nosso mestre de volta.

Afinal, talvez seja não eu, mas ela quem detenha o poder de o trazer até nós.

Bem, acho que desde que o objetivo seja cumprido, não importa quem o faça. Certo?


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Notas finais do capítulo

Bom dia aos que ainda não me abandonaram! Eu espero não estar sendo odiada por ninguém, e espero também não ter sido abandonada por todos. ^^'
Eu acho que vão me matar por causa deste capítulo. xD Sim, eu fiz do Munakata o antagonista. Bem, tudo fará sentido no final, então não decidam por me matar antes de eu acabar a fanfic -ok? Depois vocês decidem o que vão fazer, mas por enquanto continuem me aguentando -pls? :3
E eu tenho o direito de pedir reviews? Acho que não; não depois dessa demora toda -ne. =< Mas as almas bondosas que deixarem seus comentários sobre o que acharam, o que não gostaram, o que podia melhorar... Bem, enfim, me farão muito feliz. ^^
E o que vocês acham que está acontecendo? Alguém tem algum palpite? *o*
Espero que continuem acompanhando! :3
BJJS~