Até que eu o vi, sentado em um dos bancos, tocando um violão e olhando para o horizonte, parecendo pensativo.  Assim que me aproximei um pouco mais, Drew me viu e acenou para mim alegremente. Ele colocou seu violão de lado e fez um sinal para eu em aproximar.

Fui até ele, e me sentei ao seu lado. Drew me abraçou demoradamente. Senti o cheiro doce da sua pele, suas mãos quentes em volta da minha cintura... E então ele se afastou, sorrindo:
- Você veio! – Ele disse, feliz.
-  Não iria te deixar esperando – Respondi, sentindo minhas bochechas corarem – E como você está?
- Estou bem – Drew suspirou, passando a mão pelas cordas do seu violão – E você? Por que foi embora da festa tão cedo?
Seus olhos caramelados olhavam os meus com intensidade. Era impossível mentir para ele. Mas era preciso.
- Logan teve alguns problemas – Eu disse, sem graça – E precisávamos ir para casa, eu estava com um pouco de sono...
- Me disseram que Logan “voou” – Drew comentou com um tom de “eles estão loucos por falarem isso”, e eu senti um gelo em meu estômago – O pessoal estava bêbado para falar isso.
- É, Logan não voa – Dei uma risada nervosa – É que ele pratica muito esportes, e corre rápido e etc; você sabe como esses atletas são, parece que estão voando!
- É... – Drew concordou com a cabeça, dando um risinho e olhando dentro dos meus olhos – Eu fiz uma música, eu costumo a cantar e tocar por diversão... Você quer ouvir?
- Claro! – Eu respondi, sorrindo. Então ele cantava também?! Sua voz devia ser tão bonita...
Drew pegou seu violão, ajeitou as cordas delicadamente. Pude notar que ele era canhoto. Igual eu, pensei. Por alguns momentos ele ficou deslizando seus dedos sobre a corda, e depois parou, as ajeitando novamente. E então, finalmente, ele ergueu seus belos olhos e começou a cantar, me olhando intensamente.
“You've got that smile that only heaven can make, I pray to God every day that you keep that smile...”
A voz de Drew era tão linda! Era rouca, gostosa de se ouvir... Poderia ficar a eternidade inteira vendo o meu menino cantar... Seus dedos deslizavam delicadamente pelo violão e sua voz parecia ser a mais bela de todas as vozes que eu já havia ouvido na minha vida. Drew cantava olhando só para mim, não desviava o olhar de mim em nenhum segundo.
“You've got that smile that only heaven can make, I pray to God every day to keep you forever, ooooooooh”
ele parou de cantar e de tocar, e então ficou em silêncio, sorrindo para mim. Meu Deus, ele cantava tão bem! Tão perfeitamente! Não pude deixar de aplaudi-lo.
- Você canta tão bem! – Disse, maravilhada – Você que compôs essa música?
- Eu e um amigo meu... –  respondeu, colocando seu violão de lado e sorrindo – A gente fez essa semana...
- Essa música é linda! – Exclamei – Já pensou em ser cantor? Aposto que você faria muito sucesso!
Drew fez uma cara de pensativo, que me fez rir. E então ele riu também, e se aproximou de mim. Pude ver que seus olhos brilhavam.
- Essa semana eu tenho escrito mais músicas... – Ele falou numa voz baixa, com seus olhos penetrantes olhando os meus – Eu achei inspiração para escrevê-las.
- Quantas músicas você já fez essa semana? – Perguntei, um pouco nervosa de vê-lo perto demais de mim novamente. Meu coração estava acelerando.
- Fiz 4 – Ele respondeu -  Nunca mostrei elas pra ninguém, nem mesmo para a minha mãe. Se você quiser, eu posso cantar para você.
- Eu adoraria.
Drew se inclinou para pegar seu violão, e então eu vi algo dentro da sua blusa xadrez, em seu bolso. Parecia uma pluma grande, branca, um pouco dourada nas pontas. Gelei completamente. Era uma pena das minhas asas. ele notou que eu estava olhando para a pena e a tirou do bolso, me olhando, assustado.
-  você está bem? – Ele perguntou, aflito – Você está branca.
- Estou bem... – Balbuciei, ainda olhando para a pena – A onde você achou isso?
- Eu já ia te contar – Ele disse, ainda com um tom de preocupação na voz – Eu achei essa pena na minha sacada ontem, tão linda, nunca tinha visto essa pena em toda minha vida, parece ser de algum pássaro raro... Mas por que você está me perguntando isso?

- Por nada. – Respirei fundo, olhando a pena que estava nas mãos de Drew. Ele a acariciava delicadamente. Me senti mole, de repente. Queria senti-lo acariciar as minhas asas.
- Ela é tão macia, parece veludo –  sussurrou, ainda acariciando a pena – É linda. Não sei por quê, mas me lembra você. – E ele olhou para mim, com seus olhos brilhantes e seu sorriso perfeito.
Me arrepiei com aquelas palavras, me arrepiei vendo suas mãos passarem pela minha pena tão suavemente... Podia quase senti-lo, queria fechar os olhos e sentir aquela sensação tão maravilhosa que em mim estava surgindo...
- Está com frio? –  perguntou, vendo que eu havia me arrepiado, e me abraçou na hora – Espero que isso ajude você. Quer dizer, não sou uma fogueira para transmitir calor instantâneo – Ele deu um risinho – Mas acho que isso pode servir um pouco.