Ismira escrita por Giu Sniper


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Capítulo em POV Hodric sendo postado nas primeiras horas da páscoa.
Não ficou muito bem escrito mas eu gostei bastante desse capítulo, então espero agradá-los também.



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O vento batia frio no terraço da estalagem, parecia que naquele ano o inverno havia decidido chegar mais cedo, mas ele não se importava mais, que diferença faria se morresse congelado ali? Ninguém mais se importava com ele, nem mesmo Ele, este estava apenas fingindo o tempo todo que era o seu amigo. Agora Hodric via isso, Ele ia usá-lo para matar o dragão de Ismira. Estivera a um passo de fazer isso. Que bom que finalmente acordara. Nunca se perdoaria se cometesse um dragocídio, ainda mais naqueles termos; além de tirar a vida de um dragão ainda existia a possibilidade de levar a Ismira a loucura, não se perdoaria nunca.

Que tolo havia sido por acreditar nas palavras que Ele lhe dissera. Mentiras jogadas ao vento. Não, Ele nunca lhe daria respostas se não tivesse algo a ganhar com isso, e talvez nem fossem mesmo verdade. Quem garantiria agora que Murtagh é mesmo o seu pai? E mesmo se fosse, quem garantia que ele estava a serviço do rei tirano por que almejava isso? Sua mãe teria lhe dito a verdade, agora sabia disso, ela provavelmente tivera um bom motivo para mentir, afinal, Hodric havia nascido no último ano da guerra e não sabia quais perigos poderiam ter-se mostrado naquela época.

— Você está bem certo. Agora. — falou uma voz estranha atrás de si. Era um homem. Ele estava vestido com uma imensa capa negra que lhe cobria a maior parte do corpo e o rosto. O homem misterioso sentou-se ao seu lado. — Não acha que está muito frio aqui?

— Está. — admitiu — Mas não faz diferença.

— Ora, por que? Sempre faz diferença para alguém, e mesmo que você não vá mais matar o dragão, quem impediria Ele de fazê-lo?

— Quem é você e o que quer de mim? — perguntou repentinamente após uma pausa.

— Você devia ter tido essa reação com Ele quando o encontrou na floresta depois de descobrir a verdade. Não precisa se preocupar comigo, apenas quero salvar a sua vida. Você sabe de muitas coisas, Hodric, mas parece que ninguém nunca lhe ensinou como proteger a sua mente. Como você acha que Ele sempre sabia quando você tinha-o ou não obedecido? Como você acha que Ele sempre sabia em que ponto te atingir? Não, Hodric, Ele não possui nenhum poder especial ou extraordinário, Ele apenas vê tudo na sua mente enquanto você se aproxima, e Ele só pode fazer isso por que você não sabe proteger a sua mente.

— E como você sabe disso tudo?

— Regra número um, Hodric, não faça perguntas se já sabe as respostas. — o desconhecido fez uma pausa enquanto fitava o horizonte, ao terminar levantou-se. — Vamos, eu tenho muito a lhe ensinar. Está vendo aquele navio se aproximando? Ele vem da ilha, e em seus porões há um ovo de dragão destinado a você. Seria mesmo muito bom se eu puder fazer algo para te manter vivo até você chegar à ilha, e de lá eu passo essa responsabilidade para o meu irmão.

— Seu... Quem é você afinal?

— Meu nome é Murtagh — ele abaixou o capuz, revelando o seu rosto —, mas pode me chamar de pai, se quiser.



— A gente não pode parar um pouco não? — Hodric reclamou, fazendo o possível e o impossível para continuar se movendo e saindo do caminho da trajetória do galho que Murtagh usava como espada para o treino de esgrima.

— Não, ainda não.

— Mas eu já estou cansado!

— Mas eu não. Se você estiver cansado no meio de uma batalha o seu adversário não vai parar para esperar você recuperar o fôlego. — Murtagh fez um movimento rápido com o galho, desarmando o filho — Ele vai aproveitar o seu cansaço para te matar — disse enquanto apontava o galho para o peito de Hodric.

Eles estavam em um ambiente espaçoso e fechado. As paredes de madeira eram úmidas e mofadas em alguns pontos. Hodric respirou fundo e saiu da mira do galho, e, embora não usasse a mão esquerda para a esgrima, seu pulso torcido doía. Percebendo a agonia do filho, Murtagh perguntou-lhe:

— O que houve aí?

— Nada, só estou cansado. — Hodric olhava através do vidro quebrado em uma janela que dava para a rua.

— Não, o seu pulso.

— Ah, isso? Eu não sei ao certo o que aconteceu, acho que caí em cima dele. Não sei.

— E conseguiu chegar até aqui de cavalo com o pulso torcido? Deixa-me dar um jeito nisso. — disse colocando o pulso o garoto entre as mãos e elaborando um encantamento para curá-lo. Pareceu a Hodric que ele nunca antes o havia torcido.

— Obrigado.

— Não me agradeça. — sorriu — Agora eu posso pegar mais pesado com você. — Hodric riu, mas logo seu semblante anuviou-se novamente.

— Como você pode ter tanta certeza de que é mesmo meu pai?

— Eu sei o que eu fiz no passado, Hodric. E realmente amei a sua mãe, e para protegê-la tive que me distanciar. Nós estávamos em meio a uma guerra e eu estava lutando ao lado do inimigo. Não tive escolha. — um suspiro — Sua mãe mentiu para você por que eu disse a ela para fazer isso. Mesmo depois da guerra vencida pelos Varden, havia pessoas leais ao antigo império, e eu não podia arriscar. Você é meu filho! — um longo silêncio se formou entre ambos — Agora pegue aquele galho e vamos treinar, proteja o corpo e a mente simultaneamente, e não se esqueça de nenhum dos dois.


A Lua cheia já começara a surgir quando eles finalmente terminaram de treinar. Entre proteger a sua mente e lutar esgrima Hodric com certeza se saíra melhor com a segunda opção, mesmo assim não era muito bom nisso. E agora estava sozinho novamente, esparramado na cama da estalagem e dolorido por ter feito tanto exercício em um único dia.

Hodric agora percebia que precisava aprender a usar a mente o mais rápido possível, não podia deixar que Ele descobrisse que havia encontrado o seu pai e nem que não pretendia mais lutar ao seu lado, talvez assim pudesse descobrir quem Ele realmente era.

Hodric correu as mãos pelo travesseiro e lá encontrou o anel. Um aro dourado encimado por uma pedra de ônix. Ele conhecia aquela joia, já a havia visto antes, com certeza, mas onde? E como aquele anel foi parar no mar?

— Como eu odeio perguntas! — reclamou no que era para ser um pensamento.

Ainda era cedo, mas Hodric estava tão cansado que logo adormeceu.


A manhã chegou trazendo consigo um pouco de geada, não era o clima típico daquela época do ano. Hodric se espreguiçou em sua cama, havia dormido bastante bem aquela noite, mesmo com tantas coisas lhe atormentando a mente. Por um momento pensou se tudo não havia passado de um sonho, mas então olhou seu pulso e sorriu.

O garoto repetiu a mesma coisa que fazia todas as manhãs desde que chegara à Teirm: ficar de vigia no porto. Só depois comia e então estava pronto para enfrentar mais uma lição de esgrima e defesa da mente com seu pai. Os dias se tornaram mais cansativos, mas a sua alma já não pesava tanto. Treinar já havia se tornado algo prazeroso para Hodric, e então a semana passou veloz. Até que um dia, quando acordou, o navio vindo da ilha já havia atracado no porto. Sua espera havia acabado.

Naquela manhã não precisou fazer sua vigia, afinal, o que iria aguardar? Aquilo por um lado lhe agradava, finalmente acabaria aquela aflição de ficar esperando algo que parecia nunca chegar e enfim saberia se realmente seria ou não um cavaleiro. Seu pai e Ele haviam dito que sim, porém Hodric não entendia como eles podiam ter certeza. Mas por outro lado, caso realmente se tornasse um cavaleiro, isso significaria partir de seu continente natal rumo a um lugar desconhecido e se separar do pai que acabara de conhecer. Outra coisa que lhe perturbava era sua partida de Carvahall, estava fora de casa há mais de duas semanas, e o pior foi que partira sem dizer adeus a sua mãe; Hodric sentia-se mal só de pensar no sofrimento que deveria estar causando a ela.

Assim que saiu as ruas já pôde encontrar diversos avisos marcando o horário da seleção: iniciar-se-ia às quinze e deveriam postar-se na fila, obrigatoriamente, todos os humanos que possuíssem entre 15 e 25 anos, sendo aos mais velhos a presença facultativa. Cada vez que encontrava um daqueles papéis uma espécie de nervosismo lhe percorria o corpo, nesses momentos respirava fundo e seguia o seu caminho.


Normalmente quando Hodric chegava ao prédio abandonado onde treinava esgrima com Murtagh este já se encontrava lá, mas hoje havia sido diferente, o garoto não fizera a sua vigia e por isso havia chegado mais cedo. Sentou-se no chão em um canto do cômodo enquanto esperava, com as costas apoiadas no úmido da madeira da parede. Não tinha a mente tão atolada de pensamentos desde que estava sentado na beirada do terraço da estalagem onde dormia, uma semana atrás, enquanto tentava congelar seus membros. Os acontecimentos passaram rápidos em sua cabeça naquele momento: primeiro voltou a Carvahall, para a noite em que selara um acordo com Ele, depois foi para o ponto em que descobrira que o açougueiro não era seu verdadeiro pai, então retornou ainda mais no tempo para o dia em que Ismira partiu e então para o dia em que brigaram, terminando por fim na festa de aniversário de quinze anos da garota que amava e o primeiro beijo de ambos. Uma lágrima escorreu por sua face, tudo parecia ter se passado havia tanto tempo.

— Relembrando o passado? — era seu pai, ainda era cedo para ele estar ali.

— Talvez.

— E o que pode atormentar um homem mais do que o passado?

— O futuro, talvez. — Hodric levantou-se de onde estava — Como você e Ele podem ter tanta certeza de que eu serei cavaleiro?

— Quanto ao Ele eu não sei, — Murtagh fitava os profundos olhos azuis do filho — mas eu consigo enchergar isso nos seus olhos. Você possui os mesmos olhos expressivos da sua mãe. Sabe, Hodric, eu amei sua mãe e tive que me afastar dela para mantê-la a salvo, e depois dela já ter se casado e encontrado um homem que realmente a merecesse eu conheci outra mulher, e dessa vez eu me afastei por mim, pela minha imortalidade, e de certa forma por ela também. Talvez seja por isso que o passado me incomoda mais do que o futuro. E por favor, Hodric, não se afaste dela também.

— Eu esqueci de proteger a minha mente de novo? — o garoto perguntou, já sentindo um pouco de raiva de si mesmo

— Não. — seu pai surpreendeu-o — Mas como eu disse: você possui os mesmos olhos expressivos da sua mãe. — Hodric consentiu, desviando o olhar para o vidro quebrado da janela, assim como no primeiro dia.

— Você nunca se arrependeu por não ter ficado com ela? — perguntou após longo silêncio — Nunca pensou em esquecer as diferenças entre vocês e simplesmente seguir em frente? Ou então nunca quis saber como seria sua vida se você decidisse ser mestre na ilha e ensinar a outros cavaleiros assim como a ensinou a mim?

— Todos os dias. Mas eu ainda não estou pronto para isso. Quando se lutou ao lado de Galbatorix é difícil mudar o que as pessoas pensam. Você tem sorte d’Ele não ter te pedido um juramento na língua antiga, não existe pior prisão do que aquela em que se está livre.

— Por que não falam sobre você nas histórias da guerra? Já ouvi muito sobre Torn, mas você praticamente foi esquecido.

— Faço o que posso para que isso continue acontecendo, quem sabe conseguirei um dia apagar a mim e a Torn completamente da história. Talvez então eu possa me mudar para a ilha ou ir atrás de Nasuada, se já não for tarde demais.

— Nesse caso, boa sorte, pai.

— Obrigado, meu filho. Mas temo que essa seja a última vez em que nos vemos, e você vai precisar de mais sorte do que eu. Atra gulta in ilian tauthr on un atra ono waíse sköliro fra rauthr.

— Que a sorte e a felicidade sigam-no — Hodric traduziu com um sorriso — e que você seja protegido contra o infortúnio.

E sem dizer mais nenhuma palavra Murtagh cruzou a porta da saída. Hodric ainda pôde sair à rua para observá-lo partir, com a capa negra sobre os ombos e cobrindo-lhe o rosto. Talvez nunca voltasse a ver o pai, ou não. Nunca é tempo em demasia, principalmente para quem é imortal.


As quinze horas chegaram mais rapidamente do que Hodric pôde acompanhar, e logo viu-se no fim de uma fila enorme de pessoas, que ou almajavam a aliança eterna de mentes entre dragão e cavaleiro ou encontravam-se lá por pura obrigação.

Apenas um ovo dourado viera no navio, um aventureiro solitário viajando ao encontro de seu destino. Para as pessoas que viviam em Teirm isso era algo estranho, mas Hodric só vira duas seleções em toda a sua vida: na primeira ainda não tinha idade para participar, e a segunda foi aquela na qual Ismira tornou-se cavaleira, e em ambas as ocasiões apenas um ovo foi apresentado.

O garoto esperou por horas a fio, tinha muito mais pessoas em Teirm para tocar o ovo do que havia em Carvahal, mesmo assim o garoto não desanimou. Já passava das dezessete horas quando finalmente chegou sua vez. O mesmo nervosismo que lhe atormentou durante toda a manhã instalou-se novamente em seu corpo, suas mãos tremiam e ele sentia uma espécie diferente de frio. O garoto levantou a mão trêmula para tocar a pedra dourada que o ovo parecia ser e então uma energia estranha porém quente e aconchegante vibrou pelo seu corpo.

— Parabéns! — desejou-lhe o humano que era guardião do ovo — Agora você é um cavaleiro de dragão.


O mais novo cavaleiro de dragão da Alagaësia teve que esperar apenas mais uma semana para zarpar de volta em direção à ilha, e depois levou apenas mais uma semana por mar até o navio atracasse na praia da mesma.

Seu dragão eclodiu ao fim da primeira semana e logo marcando-o com a marca prateada na mão direita, tinha as escamas tão douradas quanto ouro e os olhos eram azuis para combinar com os do seu cavaleiro.

Quando desembarcou na praia, o tio de Ismira, Eragon, veio recebê-lo pessoalmente na companhia do seu dragão. Junto a ele veio uma cavaleira, uma garota alta e loira de olhos verdes.

— Oi, eu sou a Vicky. — apresentou-se

— Meu nome é Hodric, e esse é Solus.

— Sol. É um belo nome. Eu posso te mostrar a ilha?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Ah, antes que eu me esqueça, eu escrevi um conto sobre páscoa, então se quiserem ler o link está aqui embaixo:
http://www.facebook.com/giuliafmferreira/posts/479660795422992

Bom, gente, é isso. Feliz Páscoa a todos.



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