Eu tentava inutilmente engolir o choro, minhas pequenas mãos pressionavam meus olhos com força impedindo que as gotas salgadas escorressem por minhas bochechas. Meu vestido azul-marinho estava agora manchado com o sangue de meu pai, eu estava parada ao lado de seu corpo já sem vida, o medo agora me consumia. Quando ele estava vivo eu me sentia protegida, me sentia amada, mas agora eu estava vulnerável, os anjos poderiam aparecer a qualquer hora.

Um pouco relutante toquei o rosto de meu pai. O rosto coberto pelo grande capacete de ferro, observei-o com meus olhos tristes, e os soluços começaram, mordi meu lábio inferior tentando ao máximo abafá-los. Minha voz me assustava, aquela voz distorcida por conseqüência do parasita que hospedava meu corpo, desviei o olhar para a água, odiava a água, ela mostrava quem eu realmente era. Assim como os espelhos. Mas isso era irrelevante já que aquele lugar fora construído no fundo do oceano, entretanto, mais do que a água eu odiava Rapture. Odiava Ryan por a ter criado, odiava Bridgette por ter descoberto o parasita, odiava, odiava, odiava...

As lagrimas começaram a brotar de novo,mas não consegui impedi-las,não tinha forças para tal feito, os soluços distorcidos retornavam aos poucos, abracei o corpo estendido do meu pai pela última vez. Conseguia ouvir as risadas irritantes dos anjos, eles pareciam celebrar a morte do meu pai. Os passos apressados daqueles seres deformados chegavam cada vez mais perto, aquele era meu fim, fechei os olhos e me encolhi próxima ao cadáver, lembrei-me da primeira vez em que fomos apresentados, quando eu estava próxima do fim, quando os anjos me alcançaram. Uma sensação nostálgica percorreu minha mente, naquele dia eu também estava triste por algum motivo, entretanto não consigo me lembrar qual, eu estava chorando porque, porque...

O grito dos anjos,seguidos de um alto som que soava como uma broca interrompeu meus pensamentos, abri meus olhos inchados com um pouco de dificuldade, e percebi que meu pai estava parado à minha frente, com sua mão esticada, aguardando minha resposta. Um grande sorriso abriu-se no meu rosto e eu sai de perto do cadáver,enquanto meu pai me levava embora.

Observei confusa o corpo daquele que eles costumam chamar de Bouncer,apenas uma frase martelava em minha cabeça:

"Quem é ele mesmo?"