Jacqueline Storm

Acordo com minhas irmãs me chamando. Abro os olhos e vejo Lilly e Carlie ali, sorrindo.

- Bom dia! - Lilly e Carlie dizem juntas, em coro. Sorrio e abraço as duas. Depois de soltá-las, elas correm escada abaixo. Desço e lá está meu pai. Ele me dá bom dia e sai para trabalhar.

Essa era a primeira colheita de meu irmão Charles. Lilly e Carlie, as gêmeas, tem nove anos e Nancy tem sete. Sou a mais velha de cinco filhos. Minha mãe morreu a dois anos por causa de uma doença. Meu pai trabalha o dia todo e eu que tenho que cuidar das crianças.

Minha casa não é lá grande coisa, mas não somos pobres. Temos alguma quantidade financeira. Comparados aos jovens pobres de outros distritos que tem de colocar seus nomes mais vezes na bola de vidro em troca de comida, estamos bem.

Meu pai deixou o almoço no forno. Almoçamos e depois Charles, Lilly e Carlie vão se trocar. Dou banho em Nancy e a troco, e só depois tomo banho. Coloco um vestido de botões e uma sapatilha velha. Então o sinal toca e todos nós nos encaminhamos até a praça.

Uma mulher pica meu dedo pra coletar sangue. Vou para a fileira de garotas de treze anos, enquanto meus outros irmãos vão com meu pai. Encontro Charles no meio dos garotinhos de doze anos. Ele me olha aflito. Digo que está tudo bem.

A mulher da Capital, Abby, aparece ali. O jeito extravagante das pessoas capitólias é esquisito. 

- Bons Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor! - a esquisitona diz. Como teríamos bons Jogos, sabendo que aquilo era um evento em que vinte e quatro crianças inocentes eram lançadas em uma arena para matarem umas as outras?

Então ela passa um vídeo da Capital que não presto muita atenção. Ela caminha na bola de vidro e retira o nome da azarada.

- Jacqueline Storm! - ela diz, sorridente. Era eu. Não pode ser. Vejo Charles incrédulo na fileira do lado. - Venha queridinha! Não tenha medo!

Ando devagar até o palco. Abby praticamente me puxa pra cima, e requebra até a bola de vidro contendo o nome dos garotos. Então, retira um papelzinho que está mais embaixo e caminha até o microfone.

- Charles Storm! - ela diz, com um sorriso maior ainda. Além de ter que ir pra uma arena matar outras pessoas, terei que ir com meu próprio irmão? Vejo Charles andando até o palco sem expressão. Abby o ajuda a subir.

- Aposto meu chapéu que vocês dois são irmãos! Não são? - ela diz, virando o microfone na minha direção.

- Sim. - eu digo, ainda paralisada. Ela nos faz apertarmos as mãos e nos leva pro prédio.

Charles Storm

- Jacqueline Storm! - Abby diz. Não posso acreditar. Minha irmã é o tributo feminino do Distrito 3 nos Jogos Vorazes. - Venha queridinha, não tenha medo! - Vejo Jacky indo sem expressão até o palco e a capitólia a puxando pra cima. Vejo então Abby indo até a bola de vidro dos garotos.

- O tributo masculino do Distrito 3 é... - Abby dá uma parada pra suspense e posso ver a maioria dos garotos perto de mim quase desmaiando.

- Charles Storm! - Não. Não, não, não, não, não! Como eu sou azarado! Sou o tributo masculino do Distrito 3! E o pior, vou com minha irmã para os Jogos! Como alguém pode ter tanto azar?

Ando segurando as lágrimas. Ao chegar perto do palco, Abby me puxa pra cima. Ela pergunta para Jacky se somos irmãos, e ela responde que sim. 

Abby nos faz apertar as mãos, e em seguida os homens vestidos de branco, chamados Pacificadores, nos empurram pra dentro do Edifício da Justiça.