Veneno De Rosas escrita por Annabel Lee


Capítulo 12
Bombardeio


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é meio fofinho *-*



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Aquilo foi tão estranho. Não foi como beijar Patrick. Foi como mexer em uma tomada de alta tenção, com eletricidade percorrendo meu corpo todo. Choque. E... Eu retribui.

        Me afasto dele. E saio apressada para o banheiro. Mas que infantil você é, Camilla Clearwater.

        Mas eu não posso ter ninguém! Não agora, não com ele! Muito menos com ele! Poderia ser qualquer um, a qualquer hora. Mas ele não. Porque tenho ódio dele. Ele não, ele nunca.

        Adormeço ali mesmo, encostada na parede no banheiro.

        Sonho com o dia que Haymitch entregou a carta para minha mãe.

Acordo com o alarme, e com Gale batendo na porta preocupado.

        O alarme era estranho. Era contínuo, e não parou depois de 5 minutos.

        – CAMILLA – ele gritou – SAI DAÍ A CAPITAL ESTÁ BOMBARDEANDO O 13!

        Abri a porta, desesperada quando entendi o que acontecia. Ele agarrou minha mão e saímos correndo do Compartimento, ao som de bombas.

        – Para onde vamos?

        – Um lugar preparado para essas situações!

        Continuamos correndo. Então ouço um grito vindo do Compartimento 700 e alguma coisa.

        – Um choro – digo vagamente. Eu solto a mão de Gale e arrombo a porta.

        Uma garotinha estava lá, segurando um gato cor de laranja... Um gato muito feio, devo acrescentar.

        Ela me abraça.

        – Prim! – diz Gale assustado.

        A garota tinha lindos cabelos loiros e olhos azuis. Parecia ter pelo menos 13 anos.

        Gale a pega no colo e continuamos a correr.

        Entramos no elevador, que ia cada vez mais fundo. Chegamos no andar. A enorme porta de garagem estava se fechando. Não era a garagem de aerodeslizadores, pois a porta é muito maior.

        – Estamos chegando! – grita a garotinha chamada Prim.

        – Segurem a porta – grita Gale.

        E eles seguram. Passamos por baixo. Katniss vem e dá um abraço forte na Prim, não entendo como elas tinham relação... Aí lembro que ela é irmã dela, a que ela substituiu na Colheita da 74ª edição dos Jogos Vorazes.

        A irmãzinha de Gale também vem recebê-lo. Isso me deixa um pouco triste, pois ninguém viria me receber. Eu não tinha ninguém.

        Me retirei até um canto qualquer, passando pela massa de gente e ouvindo as bombas caírem. O canto não havia beliche mas tinha um saco de dormir bem fofinho, com um travesseiro. E havia uma folha de instruções, ignorei-as.

        Deito e me certifico de que nada aconteceu com a carta de papai. Nada. Ainda estava ali. Perfeita. Chorei de alívio ao vê-la assim. Eu a abracei e fiquei deitada um tempo, afundando em tristeza.

        Então uma mão toca meu ombro. Viro e vejo Gale.

        – Não quer companhia? – pergunta.

        – Sua família deve querer ficar com você – comento um pouco amargurada.

        – Minha mãe já me sufocou o suficiente. E acho que você anda precisando de companhia.

        Por fim deixo-o ficar. Guardo a carta. Ficamos um tempo num silêncio desconfortável.

        – Desculpe por ter te beijado ontem – ele diz enfim.

        Demoro para responder.

        – Tudo bem.

        Ele parece aliviado de certa forma.

        – A garota – digo – é a Katniss, não é? Você a ama.

        Ele balança a cabeça em concordância. Não ligo. Aquele beijo foi nada. Nem para ele, nem para mim. Portanto não vou me incomodar em fazer essas perguntas.

        – Seus pais não ficaram preocupados com sua fuga? – ele pergunta.

        Essa pergunta me deixou vazia. Uma lágrima escorre do meu olho. Respondo:

        – Provavelmente minha mãe ficou.

        – E seu pai?

        Não respondo.

        – Escuta – ele diz levantando meu rosto para olhar para ele – eu também perdi um pai. Sei como é.

        – Meu pai virou um Avox. – disparo.

        Ele fica quieto.

        – Sinto muito – diz por fim.

        Sem nem pensar, eu me atiro nos braços dele. E choro em seus ombros. Ele me abraça, e afaga meus cabelos.

        Eu não devia ter dito aquilo. Ele vai desconfiar. Mas naquela hora tudo o que eu fazia era chorar desesperadamente, e agradeci pelas bombas. Porque assim ninguém poderia me ouvir.

        Gale encosta na parede, ainda me abraçando. Então uma hora eu paro de chorar, mas continuo ali. E adormeço. E eu não sonho com nada.

Quando acordo ainda estamos lá. Com as bombas caindo. Com Gale me abraçando. Eu corei um pouco então decidi ficar envergonhada depois, porque o que eu mais precisava agora era de um abraço.

        Olho para outro canto onde maioria dos cidadãos estão reunidos, rindo, observando alguma coisa.

        Acho que Gale percebeu para onde eu olhava, ele disse:

        – Estão brincando com o gato da Prim.

        Dou um sorriso. Era bom ver pessoas rindo em meio ao barulho de bombas.

        Gale passa a mão nos meus cabelos e coloca uma mecha atrás de minha orelha. Estremeço com o toque. Porque... Porque foi bom.

        E de repente eu vejo a cena de cima. Eu, abraçada com o Hawthorne, com ele ainda mexendo nos meus cabelos, me deixando trêmula e leve.

        Como assim? Pode isso produção? Isto é a última coisa que aconteceria num Universo Alternativo, e jamais ocorreria nesse! Eu não posso! Não com ele. Mas não tive coragem de me afastar de seu abraço.

        – Porque queria chegar aqui no 13? – pergunta Gale de repente.

        Fecho os olhos.

        – Tive... Desentendimentos – menti.

        Ele pareceu aceitar a resposta... Ou entender que eu não queria falar sobre isso.

        – Eu dormi muito tempo? – pergunto.

        – Só 5 minutos.

        E as bombas continuam caindo.

        – Vou pegar alguma coisa para você comer – ele diz.

        – Não – gemo – fica.

        Ele ri.

        – Isso é golpe baixo.

        – Eu fiquei quando você estava cheio de arranhões – falei um tanto distante.

        – Então eu fico.

        E percebi que eu realmente estava distante. Distante de tudo. Do Distrito 13, da minha dor, da minha vingança. Tudo. Só existia... Aquilo. Por que estou assim?

        – Camilla eu não sei nada sobre você. – Gale comenta.

        – Precisa saber?

        – Claro. Não quero continuar dividindo o Compartimento com uma estranha.

        Justo. Respiro fundo e começo:

        – Fugi do Distrito com 16 anos. No meu aniversário. Minha mãe se chama Laura Clearwater. Eu amo ela. E amo desenhar. E também amo o cheiro de eucalipto do Distrito 7. E sinto falta de casa...

        Então as lágrimas voltam as descer, porém silenciosas.

        – Meu pai era um Pacificador. E odeio falar nele.

        Gale ficou quieto. E eu também. Rezando para ele não desconfiar de nada. E rezando para que ele não tirasse as mãos dos meus cabelos, e para que não afrouxasse o abraço. Mas ele não o fez. E por que estou rezando isso?

        – Sabe – ele fala baixinho – não me arrependo de ter te beijado.

        Aquilo me pega de surpresa. E falo a coisa mais idiota existente:

        – Mas você ainda a ama...

        Ele fica quieto. E encaro o silêncio como um “sim”. Tanto faz. Não vou estender nada com ele de qualquer forma. Porque assim que eu sair deste lugar, meu plano vai continuar e esse acontecimento será deletado.

        Então eu faço algo muito contrário ao que eu havia afirmado: eu chego mais perto dele, e aperto meu abraço. E novamente enterro meu rosto em seu peito.

        Ele também me abraça mais. E não sei... Mas eu sorria. Porque ele continuou a afagar meus cabelos.

        E bem ali, volto a dormir. Sem sonhos novamente.

       


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