Epílogo 1 – O Convite

Sam Evans não estava atrasado, na verdade, ele estava de folga. Seu novo sócio estava cuidando da academia e sua nova secretária era excelente. Georgia, a antiga secretária, havia pedido demissão depois de assumir seus sentimentos pelo chefe e Sam havia aceitado seu pedido ao perceber que sentia a mesma coisa por ela. A princípio ele se amaldiçoou por ter inventado a proibição de relacionamentos entre funcionários, mas no final tudo ficou bem. Georgia arrumou um emprego na concorrência e fazia quase um mês que eles moravam juntos. Ela era mais velha, mas ele gostava de ter alguém mais experiente por perto e o corpo dela definitivamente não refletia sua idade graças a rigorosa rotina de exercícios que ela fazia diariamente.

Sam saiu do banho e vestiu roupas confortáveis, era final de maio e o verão se aproximava. Sua namorada já havia saído para o trabalho, mas um prato com seu café da manhã o esperava dentro do microondas e a correspondência repousava sobre a bancada. Ele tirou a vitamina de frutas de dentro da geladeira e sentou em um dos bancos altos, começando a separar as contas dos anúncios chatos e do jornal quando um envelope rosa delicado entrou em seu campo de visão.

O papel pesou em suas mãos e ele viu seu nome escrito em dourado na parte de trás do envelope. Na parte da frente, mantendo o convite selado, duas estrelas douradas. O loiro não precisava abrir para saber do que se tratava, mas o fez mesmo assim, sorrindo ao encontrar uma foto com rostos familiares e mais da caligrafia dourada indicando data e local.

Ele alcançou o telefone e discou o mesmo numero que havia discado a 3 anos atrás, dessa vez recebendo resposta.

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"Vamos lá Katie, olha o aviãozinho..." Finn movia a colher em direção a boca de sua filha sem muito sucesso. "Abre o portãozinho querida, se não o avião vai ficar com frio..." Tentou ele de novo. Katie sorriu, mas manteve os lábios selados.

"Aaahhhh," Fez Emily, abrindo a boca bem grande. Finn riu de sua outra filha e levou um aviãozinho para a boca dela.

"Muito bem Ems!" A menininha lhe ofereceu um sorriso banguela e Finn se voltou para Kate.

"Viu só Katie? Sua irmã está comendo direitinho, desse jeito ela vai ficar mais forte que você..." Kate abriu uma mãozinha e bateu na beira do prato, fazendo o mingau voar por todos os lados, principalmente nos cabelos de seu pai. As gêmeas começaram a rir e Finn não pode fazer nada se não rir junto com elas. "Muito engraçado meninas, agora o papai vai ter que trocar de roupa de novo..."

"Papa!" Disse Kate batendo palmas e Emily abriu a boca fazendo 'Aaahhh' novamente.

Finn sorriu e usou o dedo para limpar a ponta do nariz de Emily, que estava coberta de comida. Fazia uma semana que Katie havia começado a falar, Emily apenas balbuciava, mas não falhava em demonstrar o que queria. "Eu vou ter que preparar mais papinha Ems, a Katie fez bagunça..." Explicou ele, levantando e levando o prato até a pia.

"Bom dia meus amores!" Lindsay entrou na cozinha e deu um beijo estralado na testa de suas filhas. Finn sorriu para a morena de olhos cinzentos e se inclinou para beijá-la nos lábios. "Sam no telefone do quarto para você. Pode deixar que eu termino de cuidar das meninas..." Murmurou ela, tirando um pedaço gosmento de mingau do cabelo dele. "Conseguiu fazer a Katie comer alguma coisa?"

Ele fez que não com a cabeça. "Ela está teimosa hoje..."

Lindsay ficou na ponta dos pés e o beijou de novo. "Vai lá... E troca de roupa."

Ele assentiu e saiu da cozinha. Finn era um ótimo pai apesar de as meninas não serem dele e Lindsay sentia-se verdadeiramente feliz em tê-lo como companheiro.

...

"Alô?"

"Finn!"

"Quem é?"

"Sam!"

"Ah, oi... Aconteceu alguma coisa?"

"Você não recebeu o convite ainda?"

"Que convite?"

"Do casamento das..."

"Ah, sim, recebi hoje de manhã!" Finn olhou para o convite fora do envelope em cima da cama. Ele não sabia se está feliz ou não, as circunstancias do casamento eram estranhas, especialmente para ele, mas o passado já fora superado e agora ele tinha uma família.

"E você vai?"

"Acho que sim... Vai ser no meio das férias e faz tempo que Linds diz que quer levar as meninas para algum lugar... Elas já tem quase um ano!"

"Um ano... Como passou rápido, não é mesmo? Como estão elas?"

"Bem..." Ele sorriu, sentindo-se abobado ao pensar em suas meninas. "Elas estão lindas! Ems é muito esperta e Katie já está falando um monte de coisas!"

"Eu vou passar ai um dia desses para dar uma olhada nelas..."

"Ok... Você vai para o casamento?"

"Claro, eu não poderia perder!"

"Você acha que elas realmente me querem lá?" Ele passou a mão pelos cabelos melecados. "Depois de tudo o que aconteceu no Ensino Médio? E eu não contei pra Linds que elas foram minhas namoradas, será que ela vai ficar brava comigo?"

"Cara, se elas não quisessem você, elas não teriam mandado um convite. E a Linds vai entender, ela também tem ex namorados, não é mesmo?"

"É, acho que sim..." Ele suspira, ouvindo as risadas que vinham da cozinha. "Eu posso te ligar depois? Tenho que terminar de dar comida pras gêmeas, a Katie não quer comer..."

"Sim, claro, até depois cara."

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"Me desculpa, me desculpa, me desculpa! Eu não vou conseguir estar ai para os preparativos, estamos prestes a assinar um contrato muito importante com um filme que promete ser totalmente fabuloso, pode me render uma indicação ao Oscar!" Exclamou Mercedes ao telefone, sentindo-se realmente culpada, ela estava a caminho dos estúdios e seu ex ex marido dirigia habilmente pela cidade. "Tem certeza que está tudo bem Quinn? Eu realmente queria estar ai com vocês, mas ao mesmo tempo, essa é a oportunidade da minha vida..."

Anthony, o ex ex marido, observa sua, er... bem, eles não pretendiam casar novamente, não depois do desgaste que havia sido o divorcio, mas o casal estava junto mais uma vez, depois de um encontro aleatório durante a festa de lançamento de um filme que ele havia ajudado a produzir. Enfim, ele observava enquanto sua namorada se desculpava, ele conhecia Quinn e sinceramente não se dava muito bem com ela, mas nada é perfeito, não é mesmo?

"Obrigada Q, mande um beijo pra Rachel e diga para Kurt parar de me xingar, eu consigo ouvir tudo o que ele está dizendo."

Os figurinos de Mercedes ganharam uma credibilidade enorme e ela havia sido convidada para trabalhar em uma superprodução, o ultimo filme de James Cameron. Ela estava indo encontrar com os produtores para pegar o roteiro e começar um esboço de idéias antes de assinar os contratos definitivos.

"Eu também amo vocês, Anthony está dizendo oi..."

Anthony arqueou as sobrancelhas e ela revirou os olhos. "Tá, ele não disse oi, mas eu quis ser educada." Ela riu e ele teve que rir também. "Até o casamento, Q!"

"Que dia que vai ser o casamento mesmo?" Perguntou o homem quando ela desligou.

"Agosto, 12 de agosto."

"E eu tenho que ir junto?"

Ela deu uma cotovelada nele em resposta.

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"Como estão indo as coisas do seu lado da cidade?" Kurt sentava em um sofazinho desconfortável em uma loja de noivas super badalada em Manhattan enquanto aguardava que os ajustes no vestido de Rachel fossem feitos, era a penultima prova e tudo tinha que estar perfeito.

"Lentas. Não lembro de ter demorado assim no nosso casamento..." Respondeu Dave, correndo os dedos pelos cabelos e olhando para a cortina que o separava de Quinn, atento a qualquer movimento. Eles se encontravam em um pequeno ateliê menos conhecido do outro lado da ilha.

"Você insistiu em se casar usando o terno do seu pai. Não tinha muito que pudesse ser feito para incrementá-lo, querido..." O jornalista respondeu, olhando para suas unhas distraidamente. "E você está com a Quinn. Rachel é incrivelmente obcecada com mínimos detalhes. Nós dois sabemos que a parte mais difícil ficou pra mim."

"Não sei não... Quinn está completamente surtada desde a semana passada."

"Eu estou atrás de uma cortina, Dave, não do outro lado da cidade." A voz da loira chegou aos seus ouvidos e ele fez uma careta.

"Eu só estou falando a verdade. Em anos trabalhando juntos, eu nunca te vi tão estressada assim." Ele respondeu, vendo a sombra de sua amiga se mover por trás do tecido translúcido. "Já está pronta?"

"Quase... Se eu soubesse que você seria tão impaciente, teria chamado a Santana para ser minha madrinha..." A voz veio novamente.

"Ah, você sabe que seria pior. Ela estaria reclamando sobre tudo sem parar o tempo inteiro."

Dave a ouviu suspirar. "Você provavelmente tem razão..."

Ele sorriu consigo mesmo e voltou a sua atenção para o telefone novamente quando a costureira saiu de trás da cortina. "Acho que agora está pronto." Ela falou com um sorriso, puxando o tecido para o lado e revelando uma Quinn de olhos arregalados em ansiedade.

"Kurt, eu tenho que desligar." Ele encerrou a chamada sem esperar por uma resposta, sua boca se abrindo involuntariamente quando seus olhos caíram sobre sua amiga.

"Você estava falando com Dave?"

Kurt fez que sim com a cabeça, mexendo distraidamente no celular. "E eu tenho quase certeza que ele acabou de desligar na minha cara..."

"E ele falou alguma coisa sobre Quinn?"

"Não, só que..." Ele finalmente levantou o rosto para descobrir que Rachel havia saído do provador e o encarava com os braços cruzados sobre o tecido branco de seu vestido. A expressão do jornalista imitou a que seu marido fazia na loja do outro lado da cidade. "Wow, Rachel..."

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"E o tio Gonzaio?" Valerie já estava com um ano e meio e depois que havia aprendido suas primeiras palavras, nunca mais havia parado de falar. Ela tagarelava incessantemente, repetindo a mesma coisas diversas vezes e testando a paciência de suas mães.

"Ta na casa dele..." Respondeu Brittany, escovando os cabelos negros recém secos de sua filha.

"E a vovó?"

"Na casa dela..." Ela murmurou pacientemente, prendendo os fios escuros para longe da testa de Valerie com um prendedor vermelho.

"E a ota vovó?"

"Na casa dela também..."

"E a mamãe?"

A loira colocou a menininha no chão e sentou ao seu lado.

"No trabalho."

"No tabaio." Repetiu Valerie, pegando seu unicórnio de pelúcia pelo chifre e o apertando antes de sorrir para sua mãe. "Onde ta mamãe?" Ela pediu de novo.

"No trabalho, minha lindinha..."

"Lidinha!" Ela repetiu com uma risada.

"Quem é a lindinha da mãe?" Brittany perguntou, apertando os pezinhos descalços da menininha.

"Nenê!" Ela exclamou, apontando para si mesma.

"Isso ai.." Riu a dançarina.

"Cadê mamãe?"

"Mamãe já está chegando."

"E a tia Quinn?"

"A tia Quinn está com a tia Rachel na casa delas..."

"E a tia Iachel?"

"Tia Rachel está com a tia Quinn..."

"E o Mimi?"

"O Senhor Branca de Neve está..." A loira fez uma pausa, olhando em volta. "É uma boa pergunta.." Ela começou a chamar pelo gato que apareceu na porta da cozinha antes de se esfregar em suas pernas. "Aqui está o Mimi..."

A menininha riu e puxou o rabo branco e macio, fazendo Sr. Branca de Neves emitir um som ameaçador.

"Não pode fazer assim, Val. Você machuca ele..."

"Machuca?"

"É, faz dodói..."

"Dodói..." Ela fez um carinho desajeitado na cabeça do gato como se pedisse desculpas. "Cadê mamãe?"

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12 de Agosto – Connecticut

"Vovó, não seria melhor a senhora se sentar até a hora..."

"Não, não, Olívia. Eu estou bem!" A mulher de 93 anos abanou sua bengala para sua neta.

"Eu sei, mas você não deveria ficar parada no meio do corredor..." Olívia murmurou, resistindo a vontade de rir da atitude teimosa de sua avó.

"Eu estou esperando pela sua irmã."

"E você não pode esperar sentada num dos sofás que eu sei, existem ali dentro?" Ela questionou, apontando para a porta fechada aonde Quinn terminava de se vestir.

"Ela pediu um momento sozinha. Você sabe muito bem que toda a noiva precisa de um desses." Mary argumentou, apoiando todo o peso do corpo em sua bengala.

"Rachel não." Olívia apontou, indicando a porta do outro lado do corredor, aonde a morena se encontrava.

Como um passe de mágica, naquele exato momento, a porta se abriu e três homens saíram por ela.

"A nossa estrelinha está tão linda..." Choramingou um deles, tirando um lenço da lapela do outro e usando-o para enxugar suas lágrimas.

O homem mais baixo concordou com a cabeça, sorrindo suavemente e empurrando a ponte de seus óculos para cima no nariz.

"Quinn vai ter um ataque cardíaco quando vir Rachel nesse vestido." O mais novo, Kurt, comentou com uma risada.

"Oh, eu realmente espero que não..." Mary entrou na conversa.

"Eu aposto 10 dólares que vai ser o contrário." Dave apareceu atrás de Olívia com um sorriso torto nos lábios. "Vocês ainda não viram a Quinn..."

"Olha mãe, que bonitinha!" Evelyn exclamou, surgindo do nada e parando ao lado de sua mãe.

Olívia seguiu o olhar de sua filha e viu uma menininha de cabelos muito negros que não devia ter dois anos e brincava com a bainha do próprio vestido. Ela logo reconheceu a latina parada ao seu lado e a cumprimentou com um gesto de cabeça.

"Posso ir brincar com ela?"

"Pode, mas se comporte."

A menina loira de cinco anos fez que sim e correu para Valerie, se apresentando entusiasticamente.

"Oi, eu sou a Evelyn. Você quer brincar comigo?"

Valerie olhou para suas mães antes de fazer que não com a cabeça. "Não da pa faze bagunça hoje." Ela respondeu, se voltando para a fitinha que adornava a bainha do seu vestido, puxando-a para cima e revelando sua fralda e calcinhas.

Santana imediatamente ficou de cócoras e puxou o vestido de sua filha para baixo. "Não pode levantar assim, filha..."

"Num pode..." Ela arregalou os olhos, fazendo que não com a cabeça e segurando seu vestido dourado.

A latina sentiu uma mãozinha cutucar seu ombro e se virou para Evelyn.

"Moça? Eu posso brincar com ela?"

Seus olhos escuros encararam sua filha por um momento e ela suspirou. "Pode. Só não corram."

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Porta da Esquerda - Rachel

A morena se olhava no espelho e alisava rugas invisíveis no tecido impecável de seu vestido. Ela estava nervosa. Seu coração batia em um ritmo enlouquecido desde que acordara naquela manha e não havia nada que fizesse sua frequência cardíaca baixar. Seu nervosismo não tinha nada a ver com o casamento em si, ou com a ideia de passar o resto de sua vida com Quinn. Quanto a isso, ela não podia ter mais certeza.

Ela não sabia exatamente de onde estava vindo sua ansiedade. Era algo inexplicável. Mas provavelmente todas as noivas se sentissem assim nas horas que antecediam o casamento. Será que Quinn também estava tendo problemas para lembrar como se fazia para respirar?

Elas não haviam se visto naquele dia e a saudade que sentia de sua quase esposa estava atingindo um grau quase insuportável. Talvez fosse esse o problema. Talvez ela precisasse ver Quinn.

Como que ouvindo seus pensamentos, o celular em cima da penteadeira começou a vibrar e uma foto de sua noiva piscou na tela. Ela sorriu amplamente ao atender.

"Oi... Eu estava pensando sobre você agora..."

"Eu não parei de pensar em você o dia inteiro." Quinn respondeu e Rachel podia ouvir o sorriso em sua voz. Era tão bom ouvir a melodia da voz de sua noiva...

Elas ficaram em silencio. Rachel ouvia a respiração ritmada de Quinn do outro lado da linha e aquilo já era mais do que o suficiente.

"Você está linda..."

Rachel riu. "Você não tem como saber isso. Estamos em quartos separados, você não pode me ver..."

"Eu não preciso." O coração da morena falhou uma batida. "Você está sempre linda pra mim, Rach..." Ela mordeu o lábio. Quinn sempre sabia a coisa certa a dizer...

"Eu tenho certeza que você está ainda mais linda, Quinn..."

"Humm.. Eu queria tanto poder te ver agora."

"Eu também... Mas só temos que esperar mais quinze minutos."

"Quinze minutos.." Ecoou a loira. "Rachel?"

"Hum?"

"Eu queria falar com você... Enquanto ainda sou eu mesma..."

Rachel sorriu. "Por que? Você não vai ser você mesma daqui a quinze minutos?"

"Não..." Quinn respondeu suavemente. "Quero dizer, vou, mas daqui a pouco, tudo vai ficar diferente..."

"Como assim?" A cantora perguntou, um pouco confusa.

"Você não consegue sentir?"

Rachel franziu a testa e se olhou no espelho mais uma vez. "Não sei. Sentir o que, exatamente?"

"A antecipação que sempre antecede momentos vividos fora do corpo..."

A morena não respondeu, tentando entender o que ela queria dizer. Ela pode ouvir Quinn umedecendo os lábios do outro lado da linha e suspirar antes de continuar a falar.

"Eu sei que quando sair desse quarto, vou enxergar tudo diferente, como se fosse uma espectadora, como se minha alma saísse de dentro de mim para assistir tudo acontecer do lado de fora..." Ela fez uma pausa. "Vai ser como se eu não fosse eu... Na verdade, já estou começando a me sentir assim. Você não?"

Rachel parou para pensar e realmente entendeu o que Quinn queria dizer. Era como se todo aquele dia tivesse acontecido com outra pessoa. Se ela não tivesse um grande espelho em seu quarto que comprovava que o vestido, a maquiagem e o momento eram reais, seria difícil acreditar que estava realmente acontecendo.

"Pensando bem, sim... Eu não tinha realmente parado para pensar nisso." Ela mordeu o lábio e apertou o telefone contra a orelha. "Você acha que é uma coisa ruim?"

"Não... Acho que se nossas almas realmente saírem de nós, elas vão estar assistindo toda a cerimônia juntas..." A loira respondeu com uma pequena risada que fez a morena sorrir.

"Isso parece meio bizarro e surreal, não é mesmo?" Perguntou Rachel, apoiando uma mão na penteadeira.

"Um pouco..." Quinn respirou. "Na verdade não. Quero dizer, não é isso que um casamento representa?" Ela perguntou, mas não esperou que a diva respondesse. "Quando duas pessoas se casam, elas se tornam uma... Nossas almas precisam nos deixar por um momento para poderem se tornar uma só..."

Mais uma vez Rachel sentiu seu coração falhar e bater em sua garganta. Aquelas palavras fizeram com que ela se apaixonasse ainda mais por sua noiva.

"Quinn..." Ela fungou, tentando não chorar. "Você vai me fazer chorar antes da hora..."

"Nãão!" Exclamou a loira. "Iria arruinar toda a maquiagem!" Ela falou em tom de brincadeira, fazendo a morena rir.

"Eu te amo, sabia?"

"Humm, eu tinha minhas suspeitas quanto a isso..." Rachel riu mais uma vez e a voz de Quinn se suavizou quando ela falou novamente. "Eu também te amo, meu amor."

...

Porta da Direita – Quinn

"Oh! Você está tão linda, Quinn..." Mary levou um lencinho amarelo rendado para os olhos e secou algumas lagrimas que ameaçavam transbordar, com todo o cuidado para não estragar sua maquiagem.

"Você também está linda vó..." A loira sorriu e se deixou abraçar pela senhora de idade que iria entrega-la a Rachel.

"Está nervosa?" Perguntou a Sra. Collins.

"Não." Quinn respondeu sinceramente. Ela não poderia estar se sentindo mais tranquila. Especialmente depois de ter falado com Rachel pelo telefone. "Eu estou feliz..."

"Eu posso dizer... Seus olhos estão brilhando!" Riu Mary, apertando a mão de sua neta.

O som da marcha nupcial invadiu o aposento e as duas mulheres se endireitaram.

"Está na hora. Você está pronta?" A senhora Collins colocou um fio loiro fugitivo de volta atrás da presilha que mantinha o cabelo de sua neta para o lado.

Quinn fez que sim com a cabeça e permitiu que sua avó abrisse a porta.

...

Do outro lado do corredor, Rachel já a esperava, parada entre seus pais, parecendo impossivelmente linda e radiante. A morena sorriu abobadamente quando seus olhos caíram sobre a loira e ela piscou um olho para sua noiva, fazendo Quinn corar delicadamente.

Naquele momento, a sensação de estar fora de si a dominou por inteiro. Seus passos e movimentos eram mecânicos e ela não tinha consciência das pessoas a seu redor ou da música ou do juiz de paz que esperava para realizar a cerimonia. Tudo desapareceu e ela se sentiu flutuar em direção ao amor de sua vida.

Seus olhos permaneceram fixos nos castanhos o tempo inteiro. Ela queria examinar sua noiva e o vestido que ela usava, mas as orbitas escuras a mantinham cativa. Rachel estava linda, ela tinha certeza. Mas o amor em seus olhos pesava mais que qualquer outra coisa.

Quando ela voltou a si, percebeu que já estava em cima do altar. Ela não lembrava de ter caminhado até ele e não fazia a menor ideia do que o Juiz de Paz dizia. Ela ouvia a voz do homem, mas era como se ele falasse em outra língua.

A consciência de seu próprio corpo foi a primeira coisa que voltou, suas bochechas doíam, congeladas em um sorriso que poderia muito bem ser permanente. Suas mãos estavam mornas e envolvidas pelas de Rachel. O vento fazia com que seu vestido batesse em suas pernas e com que seus cabelos se desordenassem um pouco. Ela não quisera fazer nada de muito elaborado com eles, apenas deixa-los soltos, com uma presilha que afastava a franja de seus olhos.

Sua audição, lentamente, também voltou a funcionar e ela começou a entender o que o juiz dizia.

"... e solene, onde se assume perante a outra o compromisso de enfrentar as circunstancias que lhes forem apresentadas, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e compartilhem tudo o que a vida dá e tudo o que ela também tira, mantendo-se fieis, como esposa e esposa, até que a morte as separe..."

Seu coração parou de bater. Aquilo estava realmente acontecendo, elas estavam se casando... Em alguns minutos ela poderia chamar Rachel de sua esposa... Seus olhos se encheram de agua e seu peito pareceu transbordar com o amor que sentia.

"Quinn Fabray, você promete, diante das testemunhas aqui presentes, receber, Rachel Barbara Berry, como sua legítima esposa? Promete amá-la, honrá-la, consolá-la, e protege-la na enfermidade e na saúde, na prosperidade e na adversidade, e manter-se fiel a ela enquanto viver?"

"Sim, eu prometo." Ela respondeu, sorrindo tremulamente para Rachel e deslizando a aliança em seu dedo. Ela levou a mão da morena aos lábios e depositou um beijinho na tira dourada.

"Rachel Barbara Berry, você promete, diante das testemunhas aqui presentes, receber, Quinn Fabray, como sua legítima esposa? Promete amá-la, honrá-la, consolá-la, e protege-la na enfermidade e na saúde, na prosperidade e na adversidade, e manter-se fiel a ela enquanto viver?" Repetiu o juiz.

Rachel fez que sim com a cabeça, sem conseguir formular palavras. Uma lágrima escorreu de seu olho direito quando ela finalmente conseguiu falar. "Sim, sim, eu prometo."

"Que essas alianças sejam o símbolo puro e imutável do amor que existe entre vocês." A voz dele era solene e grave. "A partir deste momento vocês pertencem uma a outra. Eu vos declaro legitimamente casadas." Ele fez uma pausa. "Pode beijar a noiva."

Quinn não sabia a quem ele se dirigia quando falou a ultima frase, mas deu um passo a frente, acariciando o rosto de sua esposa com o polegar. Rachel levantou a face e sorriu graciosamente antes de unir os seus lábios. Elas trocaram uma série de pequenos beijinhos enquanto os convidados davam vivas e batiam palmas, mas elas não ouviram nada, absorvidas demais uma na outra para notar qualquer coisa que estivesse acontecendo ao seu redor.

...

Os convidados foram encaminhados para um outro espaço aonde aconteceria a recepção e as duas mulheres tiraram algumas fotos antes de seguirem para lá também. Elas cumprimentaram a todos os seus amigos e familiares e o jantar passou quase sem que elas percebessem. Homenagens passaram em um telão e logo já era hora da primeira dança do casal.

A música começou a tocar, uma valsa relativamente simples. Elas dançaram como haviam ensaiado tantas vezes na sala de seu apartamento até que os acordes ritmados se transformaram em outra coisa e os braços de Rachel envolveram o pescoço de Quinn quando a musica delas substituiu a que estava tocando.

The dawn is breaking... A light shining through…

Elas se moviam lentamente, abraçadas. Rachel cantarolava contra o ouvido de sua esposa e Quinn só conseguia sorrir.

Even the best fall down sometimes... Even the wrong words seem to rhyme…

Out of the doubt that fills my mind.. I somehow find,

You and I, Collide…

...

A festa estava chegando ao fim e era hora de cortar o bolo. Elas se encaminharam para a grande mesa de vidro aonde o lindo bolo branco, todo trabalhado, descansava. Rachel pegou a espátula na mão e a ergueu no ar, parando no meio do movimento de alcança-la para Quinn.

"Antes de fazer isso, tem uma coisa que eu queria dizer..." Ela falou em voz alta, fazendo os convidados ficarem em silencio.

"Discurso!" Kurt gritou de algum lugar e seus amigos concordaram, batendo palmas em aprovação.

Rachel riu. "Na verdade, não é um discurso, eu não tinha nada preparado, é só que... Tem algo que o juiz falou que está me incomodando a noite inteira..."

Quinn franziu a testa quando os olhos de chocolate encontraram os seus. A morena largou a espátula e pegou sua mão nas suas, acariciando a aliança dourada com o polegar.

"Ele disse: 'A partir desse momento, vocês pertencem uma a outra.'. Eu não concordo com isso." Ela mordeu o lábio. "Quinn e eu conversamos antes da cerimonia. Ela me ligou quinze minutos antes de começar e as coisas que ela me disse me fizeram pensar... E, bem, o que eu quero dizer, é que não acho que seja correto dizer que pertencemos uma a outra." Ela fez uma pausa e olhou em volta, vendo a confusão e expectativa estampadas nos rostos de seus convidados e esposa. "Eu não pertenço a Quinn e ela também não me pertence. Não pertencemos uma a outra, mas sim pertencemos juntas. Existe uma diferença."

Nesse momento Quinn sorriu e Rachel soube que ela tinha entendido. "Quinn não pode me pertencer por que ela já é parte de mim... E eu sou parte dela..." Ela levou uma mão ao rosto da loira e a puxou para um breve beijo antes de abraça-la enquanto seus amigos digeriam o que ela havia acabado de dizer. Ela não esperava que eles entendessem o que ela sentia, mas precisava compartilhar aquele pensamento de qualquer forma...

"Eu te amo…" Os lábios da loira faziam cocegas em seu pescoço. "Meu amor, minha esposa..."

Rachel sorriu e a beijou docemente. "Esposa..."

...