O Mundo Secreto De Ágatha. escrita por Koda Kill


Capítulo 5
Uma galinha incomoda muita gente


Notas iniciais do capítulo

Tive que ditar esse capitulo todo por telefone, então gostem dele e comentem.



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Ao anoitecer eu já não aguentava de ansiedade. Algo me dizia que iria acontecer alguma coisa importante essa noite. Tomei um banho demorado e comecei a me arrumar. Coloquei meu vestido vermelho, que possuía um longo decote nas costas e um trançado de fita, renda pela frente, um forro de cetim e um fino e transparente pano desnivelado ao redor. Expondo minhas pernas brancas. Duas horas e dois quilos de maquiagem depois, finalmente pronta, pedi um táxi até a casa de Cíntia.

No caminho um frio incontrolável tomou conta do meu estomago e coisas horríveis começaram a passar na minha cabeça. E se não houvesse festa nenhuma? Tá parei. Se não tivesse festa eu nem descia do carro. Para o meu alivio a festa estava lotada e rolando solta. Desci do carro e confesso que atrai alguns olhares maliciosos, que eu creio que foram direcionados a mim. Ou a mim ou ao taxista indiano que ficou gritando pelo dinheiro. Ou pelo menos eu acho que era isso que aquele doido queria. Digamos que naquele momento eu estava feliz por não entender indiano.

Aproveitei para dançar um pouco em meio a multidão e foi até divertido. Dançar louca e desastradamente sem que ninguém desse a mínima. Depois de um tempo me afastei do cento da multidão e me distrai pelo jardim onde eu poderia respirar melhor e rir abertamente dos bêbados. Confesso que às vezes as pessoas mais próximas de mim me olhavam estranho quando eu começava a rir do nada. (Lapsos, lapsos).

− Oi. – Falou uma voz masculina no meu ouvido. Me assustei e dei um grito que eu esperava que eu esperava que tivesse sido engolido pela musica. Dante estava parado ao meu lado com uma blusa que... Exaltava os seus pontos positivos. Quer dizer, foco Ágatha.

− Oi. – Respondi.

− Eu acho que isso é seu. – Falou ele me entregando um livro. O mesmo livro que eu lia pela manhã. Só que ao folheá-lo percebi que não estava rasgado.

− Não é meu. O meu está faltando algumas paginas esqueceu? – Perguntei devolvendo o livro. Mas ele não o aceitou, balançando a cabeça negativamente.

− Agora é seu. – Insistiu ele. Dei de ombros.

− Obrigada. – Agradeci. Ele me olhou com uma falsa surpresa.

− E não é que ela é educada! – Falou ele risonho. Revirei os olhos. – Aproveitando a festa? – Nesse momento um bêbado caiu aos meus pés falando coisas incompreensíveis. Olhei para o bêbado e novamente para Dante.

− Digamos que sim. – O bêbado levantou e olhou ao redor, como se para ter certeza de que ninguém o vira cair. Então ao olhar pra mim ele começou a rir e a cambalear. Passou dois minutos sorrindo e cambaleando na minha frente. Olhei para Dane que parecia se divertir com a situação. Pensei que o bêbado ia cair novamente, mas ele se agarrou aos meus ombros exalando um cheiro forte de bebida.

− Vozê é muito... – Ele parecia ter esquecido o que ia falar. Algum tempo depois continuou. − Goxtosa. – Eu até consideraria o elogio, porém devido ao grau de embriaguez desse indivíduo não achei sua opinião tão relevante. Olhei para Dante pedindo socorro e percebi que ele me encarava muito sério. O bêbado continuou. – Vâmo ali... – Novamente ele pareceu esquecer o que ia dizer. Em seguida continuou. – Num canto ali acolá.

− Não, obrigado. Eu não quero ir ali num canto ali acolá. – O bêbado pareceu não me escutar e começou a me puxar pelo gramado. Nesse momento Dante empurrou o ombro do bêbado, fazendo-o cair no novamente chão.

− Ela disse que não queria ir. – Falou ele firme. Os amigos do bêbado chegaram para socorrê-lo. Levantaram-no do chão e começaram a levá-lo para longe enquanto ele afirmava que “tava só conversando”. Um dos amigos dele voltou para falar com Dante.

− Desculpe por incomodar você e sua namorada.

− Ele não é... – Comecei a explicar que Dante não era meu namorado, mas os dois voltaram a atenção para mim me deixando sem graça e calando minha boca.

− Sem problema. – Respondeu Dante. O rapaz foi embora e ficamos a sós novamente. – Quer ir para um lugar mais reservado? – Perguntou-me ele. Olhei-o interrogativamente, mas ele apenas me encarou inexpressivo. Como se ele ganhasse crédito por ter comprado um livro novo pra mim. Ok, talvez um pouco.

− Tudo bem. – Concordei.

Dante me guiou através da multidão em direção à casa. Lá dentro ele me guiou por um corredor até o segundo andar onde entramos numa espécie de depósito empoeirado com uma escada. Subimos lentamente até o telhado.

− Nossa, parece que você conhece bem a casa. – A música continuava audível abaixo de nós, no entanto já não precisávamos gritar.

− Antes de você chegar eu estava me aventurando pelos cômodos.

− Deve ter sido bem... Educativo. – Comentei. Ele me encarou inexpressível. Ah qualé, eu não estava exatamente animada pra saber onde ele estava colocando a língua. E eu duvido que fosse nos cômodos.

− A noite está bem bonita não acha? – Perguntou ele deitando. Revirei os olhos com a cantada, mas valeu o esforço. A noite estava mesmo bonita. Parecia um pouco com o céu do meu mundo. Só que o do meu mundo não é azul. Coloquei os dois cotovelos no chão, olhei para o lado e percebi que ele me encarava. Então lembrei que ele tinha feito uma pergunta.

− Ah sim, está bonita. – Respondi. Por que ele tinha que ficar totalmente sem expressão enquanto me encarava? Não dava para saber o que ele estava pensando. E eu estava começando a ficar irritada. Ele poderia estar pensando que eu tenho um chifre no meio da testa ou que a conversa esta tediosa, que a cara de paisagem seria a mesma. − O que está pensando? – Perguntei sem me conter.

– Que você até que é bonitinha. – Respondeu ele rindo, e referindo-se à nossa briga do colégio.

− Vai me contar o que estava escrito naquele bilhete? – Ele me encarou pensativo.

− Acho que não. Quem sabe assim da próxima vez você não joga fora.

− Parece justo. – Ele sentou chegando mais perto de mim.

− Eu falei sério. – Disse me encarando. Eu ri sem jeito.

− Do que está falando?

− Você está mesmo muito linda hoje. – Então uma coisa estranha aconteceu. Enquanto eu ria sem graça que nem uma idiota ele colocou a mão no meu pescoço e começou a se aproximar.

− O que você pensa que esta fazendo? – Perguntei me afastando.

− Tentando te beijar. – Falou ele sem rodeios.

− O que ?! – Perguntei exasperada e empurrando-o com força. – Que tipo de garota você acha que eu sou? Acha que é só comprar um livro e sair me beijando? Além do mais eu não sou como as outras... – Disse irritada me levantando.

− Você é melhor que elas por acaso? – Perguntou ele presunçoso, mas com a cara de paisagem do Grand Canyon.

− Não. – Respondi elevando a voz. – Eu sou humilhada. Todos os dias da minha vida miserável. – Falei pontuando as palavras com convicção. – E ninguém nunca me estende a mão. Eu não posso nem beijar um cara sem pensar qual é a armação da vez ou o que vai acontecer agora para me humilhar, Dan... – Eu ia completar a frase, mas alguma coisa atingiu a porta do telhado e escorreu em uma gosma transparente e amarela então outro ovo me acertou nas costas. Olhei para ele magoada e senti meus olhos se encherem de lágrimas. Eu sabia que isso ia acontecer, mas ainda assim... Dante se levantou nervoso enquanto outro ovo se espatifa contra a casa, errando minha cabeça por pouco. Fechei os olhos deixando as lágrimas escorrerem.

− Ágatha, eu não... – Falou ele se aproximando.

− Fica longe de mim! – Falei transtornada descendo as escadas e tentando tirar a gosma das minhas costas.

− Ágatha, eu juro eu não sabia de nada! Ágatha espera! – Voltei-me para ele fazendo-o quase esbarrar em mim e dei um tapa no seu rosto ele me encarou surpreso enquanto eu limpava minhas lágrimas. Esperei que ele dissesse mais alguma coisa, qualquer coisa. Mas ele não disse nada.

− Mentiroso imbecil. – Cuspi as palavras nele e marchei até a porta. Todos abriam caminho para mim e aqueles que não queriam abrir caminho, bom... digamos que minhas mãos os convenciam do contrário. Andei até onde o grupinho de Cíntia se encontrava, parei decidida e rindo sarcasticamente. – Gente, gente... Parem por favor. – Pedi . – Isso não é nada legal com a pobre Cíntia, sabia? – Falei rodeando ela. Todos me olharam como se eu estivesse louca. Bom e eu estava mesmo. Dante parou próximo ao grande circulo que se formava ao meu redor. – É muito feio ficar quebrando os ovos que a Cíntia teve tanto trabalho de chocar. – Falei pegando dois ovos. As pessoas riram e me encararam espantadas. Cíntia respirou fundo para responder, mas eu a cortei. − Cala a boca! – Gritei. – Então vou repetir mais uma vez para todo mundo entender. Não façam isso ok? – Perguntei quebrando os ovos nos peitos de Cíntia e limpando minhas mãos na parte limpa de seu vestido. – Ah e mais uma coisa. – Falei me voltando para a multidão e de novo para Cíntia. Eu lhe apliquei um tapa tão estalado que minha mão ficou formigando. – Aproveitem a festa! – Gritei e sai andando pelo jardim onde finalmente sucumbi as lágrimas, deixando-as escorrerem livremente enquanto eu tentava chamar um taxi.

− Ágatha... – Falou Dante atrás de mim.

− Fique longe de mim.

− Por favor... Me deixa pelo menos te deixar em casa?

− Pra que? Pra me humilhar lá também? Não obrigada.

− Por favor. – Repetiu ele.

− Hoje não. – Falei encarando-o com o olhar dolorido. O táxi finalmente apareceu, porém quando eu abri a porta Dante a fechou. – Me deixe ir embora.

− Não. – Respondeu ele convicto.

− Solta a porta. – Mandei.

− Não! – Respondeu ele.

− O que você quer de mim? – Perguntei voltando a chorar. – Por que esta fazendo isso comigo.

− Deixa eu te levar pra casa. Eu prometo que não vou te machucar ou te humilhar.

− E por que eu deveria confiar em você?

− O que você tem a perder? – Perguntou ele me estendendo a mão. Não respondi. Andei para longe do taxi, tudo que eu queria era ir pra casa.

− Qual o seu carro? – Perguntei sem encará-lo.

− Aquele preto ali. – Falou ele apontando um próximo a mim. Dante destravou o carro e ao entrar estendeu seu casaco para mim. Vesti rapidamente, coloquei os pés no banco e apoiei minha cabeça no joelho. − Ponha o cinto.

− Cala a boca e dirige.

Levei um susto quando ele se inclinou sobre mim. Me afastei, colando minhas costas no banco. Ele puxou o cinto e o prendeu, olhou para mim e deu um sorriso presunçoso. Agora assim tão de perto, fiquei em duvida se seus olhos eram verdes ou azuis. Deve ter sido por causa do perfume dele que empesteava o carro todo e estava me deixando meio drogada. Expliquei como chegar na minha casa rapidamente e desviei o olhar me distraindo com o caminho.

O carro parou rente com a calçada em frente ao prédio. Dante desceu do carro e abriu a porta pra mim no entanto não saiu da minha frente.

− Dante, por favor, eu te imploro. Me deixa em paz. Eu só quero ir pra casa.

− Eu só preciso te dizer que... Eu acho que eles estão certos. Eles estão certos. – Falou ele me encarando.

− Era só isso? Posso ir agora? – Perguntei tentando parecer forte, mas eu me sentia mais frágil que nunca. Dante me puxou e me abraçou. Tentei me desvencilhar desferindo golpes a esmo e acertando seu rosto e corpo algumas vezes. Mas ele não me largava e de repente eu explodi em lágrimas e cai sem forças, sendo segurada apenas pelos seus braços.

− Vamos, eu vou te levar até a sua casa. – Entramos pela portaria ainda abraçados e ele chamou o elevador, como se morasse ali. Eu apenas escondi meu rosto na camisa dele. Disse qual era meu andar e quando as portas se abriram apontei qual era o meu apartamento. Meu pai deve ter esquecido de trancar a porta de novo, pois estava aberta. Dante me levou até o meu quarto e me deixou na cama, colocando o livro na cabeceira e sentando-se ao meu lado.

− Ágatha, olha pra mim. – Pediu ele segurando o meu queixo. – Eu juro que eu não tive nada a ver com aquilo. Eu nunca quis te humilhar.

− Tudo bem, tá tudo bem. – Menti desviando o olhar.

− Não, não tá tudo bem. Isso não está certo. Mas acho que você não vai acreditar se eu disser que vou te ajudar, estou errado? – Perguntou ele desanimado. Eu o encarei balançando a cabeça negativamente.

− Desculpe. Eu queria acreditar, mas não acredito. – Confessei.

− Tá tudo bem. – Falou ele rindo e beijando minha testa. – Te vejo amanhã?

− Não posso.

− Por que não? – Perguntou confuso.

− Tenho uma reunião com a editora amanha às 8. Eles querem assinar o contrato comigo. – Ele se levantou feliz.

− Isso é ótimo. Te vejo amanha então. – Falou ele indo embora. Será que ele não tinha escutado o que eu acabei de dizer?

Coloquei o meu pijama mais velho (o de vaquinhas), tirei toda aquela maquiagem, entrei debaixo das cobertas e puxei meu caderno.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Será que Dante mereceu mesmo aquele tapa?