O Mundo Secreto De Ágatha. escrita por Koda Kill


Capítulo 22
Chamadas Perdidas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente demorei muito? Tentem não ficar muito paranoicas com esse capitulo. Entendedores entenderão. Beijocas até lá embaixo.



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Acordei de supetão com uma coisa extremamente gelada escorrendo pelas minhas costas. Parecia que eu estava caindo indefesa em um lago congelado. Mas era só Cíntia com um copo de água. Eu já estava farta de ter que aturar esse tipo de coisa calada. Hoje simplesmente não era o meu dia. Mas na escola eu não podia fazer nada, por algum motivo aquilo era o reino protegido da princesinha maléfica que ria na minha frente.

– Hora de acordar pra vida sarnenta. – Informou ela se aproximando novamente da mesa. Eu tinha certeza de que meu rosto tinha uma marca enorme do espiral do meu caderno, então não estava me sentindo muito poderosa. Além disso minha mente estava meio fora de sintonia. Mais que o normal. Estava muito absorta em minhas preocupações.

– Hum ei Cíntia. – A garota arqueou uma sobrancelha pensando que eu iria desafia-la. – Dante veio hoje?

– O que? – Perguntou ela confusa.

– O novato, Dante. Ele veio hoje? – Perguntei impaciente me levantando.

– É claro que eu sei quem ele é, lesada. Só estou imaginando o que diabos você iria querer com ele. – Ela amassou o copo de plástico. Mas aquilo não estava me assustando nem um pouco hoje. Na verdade apenas fiquei incomodada com o barulho que o plástico fez.

– Ele veio ou não? – Perguntei mudando o peso do corpo de uma perna à outra. Ela apenas ignorou pensativa. Então seu rosto se acendeu de súbito, mostrando a compreensão e ao mesmo tempo a sua descrença.

– Não... Não pode ser. Você gosta dele! – Ela afirmou um pouco alto demais. Olhei para os lados nervosa, com medo que alguém escutasse, mas não havia muita gente por perto. Que tormento. Mudei o peso do corpo novamente. – Ai meu deus, a sarnenta gosta do novato. – Ela gargalhou atraindo olhares o que apenas me deixou mais desconfortável. Não neguei, nem confirmei. Apenas permaneci parada ali enquanto pensava se deveria ignora-la e ir pra sala, ou esperar uma resposta definitiva. – Você não acha mesmo que tem chance não é? – Desviei o olhar de seu rosto cínico. De que importava isso agora? Eu só queria saber se ele estava bem. Só isso.

Cíntia se aproximou amassando ainda mais o copo contra minha testa em uma batida rápida. Me afastei ainda mais incomodada. Acho que não receberia nenhuma resposta que não pudesse descobrir por mim mesma entrando na sala. Mas ela estava perto demais para ignora-la. Diria até que ultrapassando os limites do meu espaço pessoal.

– Olha sua pulguenta, é melhor ficar longe dele. Ele é meu, escutou? – Disse segurando meu queixo de maneira ameaçadora. Eu nunca tinha reparado no quanto unhas francesinhas podiam ser assustadoras, mas fui obrigada a sentir na pele enquanto ela cravava suas unhas no meu rosto. Então era isso, fim da história, final feliz. Ele e Cíntia. Porque será que eu não tinha imaginado? Ah espera, eu já sabia.

Segurei seu pulso com força e no susto ela afrouxou o aperto. Empurrei sua mão pra longe e subi os batentes que faltavam para o corredor. A porta da sala estava aberta e meus colegas socializavam alegremente na frente dela. Parei na soleira e varri os olhos pela sala.

– Ele não está aqui hoje. – Respondeu uma voz feminina desconhecida. Se fosse mais algum tipo de brincadeira da guanguezinha de sempre eu teria um surto psicótico. Mas quando olhei pro lado encontrei Mariana encostada na parede. Uma antiga colega de classe. Chegamos a começar uma amizade, mas as “brincadeiras” da cínica se intensificaram e a menina se afastou de mim como tantas outras. Não a culpava, apenas aceitei.

– Ahn... Hum eu estava procurando um lugar vago. – Justifiquei andando até o final da sala como de costume.

– Aham. – Disse a garota cética, mas sem nenhum tom irônico na voz. Me sentei e puxei o livro da vez. Uma história revoltante sobre uma garota chata. Mas eu adorava odiar a personagem principal e ver qual seria a burrada da vez. As vezes ela me surpreendia, mas eu ainda não gostava dela. – Sobre o que é esse livro? – Perguntou a menina ainda interessada em conversar, apesar de que depois de perceber que Dante não estava ali eu não estava para papo.

– Uma garota inconsequente que se acha descolada e se mete com quem não deveria. – Respondi seca. A garota me olhou magoada como se eu tivesse falado alguma grosseria. Bom, eu sei que pareceu que eu estava falando da Mariana, mas eu não estava, juro. – O nome dela é Jules, dá pra acreditar nesse nome idiota? – Falei amenizando meu tom. O nome não tinha nada de idiota, mas foi a única coisa que eu consegui pensar.

– Ah! Eu pensei que... – Ela gora parecia sem jeito por ter pensado mal de mim. Eu apenas sorri também sem jeito. – Que nome idiota. – Concordou ela sem concordar muito. Isso era possível? Não minha cabeça sim.

– Hum, pois é. – Sorri e a encarei. Depois que nos afastamos parecia que havia nascido um abismo entre nós. Na verdade eu ainda não tinha entendido muito bem porque ela estava falando comigo. Depois de anos é de se esperar algo a mais do que simplesmente: Sobre o que é esse livro? Eu disse que aceitei, mas na verdade não foi bem assim. Com o tempo talvez.

– Então, parece que você e o novato... Estão meio envolvidos.

– Ele não é má pessoa. – Falei apreensiva pensando onde ela estava querendo chegar. – Porque está interessada nele?

– Não! – Ela respondeu de imediato e sorrindo muito. – Ele é bonitinho, mas não é meu estilo. Estou só... Tentando puxar assunto.

– Porque? – Encarei-a intrigada. Sim, porque estava tentando se aproximar.

– Sei lá... – Arqueei minha sobrancelha. O professor entrou em sala e começou a copiar alguma coisa no quadro. – Hum, na verdade... Você não está nada legal Ágatha. Eu só quero tentar te ajudar

– Ajudar? Agora? Olha você se afastou de mim por um motivo. As brincadeiras de Cíntia estavam ficando cada vez mais pesadas. Eu não culpo você, mas... Tudo bem talvez culpe um pouco, mas o fato é que Cíntia não foi embora e nem desapareceu. Sinto muito pela sua amiga, mas não preciso de covardes ao meu lado. – Despejei irritada. Aquilo mexia com algo que já estava esquecido. Mexia com coisas que não deveriam ser mexidas. Não pude evitar ser grossa. Eu tentei não ser, mas eram muitas magoas, muitas marcas a serem esquecidas com uma simples conversa fiada.

– Ágatha é diferente dessa vez. Eu nunca te vi assim. Você esteve mal outras vezes eu sei, mas você é forte e eu sempre te admirei por isso. Você tentava se manter a tona, esquecer, seguir em frente de cabeça erguida. Mas agora... Você não está nem tentando. – Ela fez uma pausa e molhou os lábio vermelhos. - Eu sei que... – Ela olhou ao redor vendo os alunos tomando seus devido lugares. – Eu sei que eu te deixei na mão, que eu fui egoísta e só pensei em mim. Eu sei que eu fiz todas essas coisas e me arrependo disso. Mas eu te conheço Ágatha. Deixa eu te ajudar. – Suspirei de maneira pesada esfregando os olhos. – Ela estendeu a mão e tocou meu braço.

– É só que... Eu passei por muita coisa nesses últimos dias. Só isso. Eu vou ficar bem. – Falei recolhendo meu braço.

– Passe o recreio comigo tudo bem? – Assenti com a cabeça e ela virou-se para frente. Eu queria contar tudo pra ela e tirar esse peso dos meus ombros. Mas não podia. Eu não podia confiar em ninguém. E no final Dante havia faltado novamente. Um sentimento horrível subiu pela minha coluna, e não era água gelada. E se ele não tivesse cumprido a promessa que me fez? E se ele tivesse outra arma pela apartamento? E se ele tentou alguma coisa?

Minhas mãos começaram a suar frio. Meu coração batia a mil. Parecia que eu não podia esperar até o final das aulas ou teria uma taquicardia. Tudo se encaixaria. Os telefonemas sem resposta, as visitas ignoradas. Talvez ele simplesmente não quisesse me ver. Mas talvez... E que talvez horrível. Não. Não podia ser. Será que Dante havia... De verdade? Fiquei tonta e o ar me faltou um pouco. Agradeci por estar sentada. Não ele não podia fazer isso. Ele tinha me prometido ligar. Ele me prometeu. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sentia como se fosse explodir. Minhas pernas estavam bambas.

– Mariana... – Chamei. Tentei transparecer calma e esconder meu tremelique nervoso, mas não sei se estava funcionando. – Você poderia me emprestar o seu celular? – Ela me encarou preocupada.

– Ágatha você está bem? – Dei um sorriso forçado e fechei as mãos debaixo da mesa tentando esconder meus tremores.

– Sim, sim está tudo bem. Eu só preciso dar uma ligação. – Pedi. Ela me entregou o celular com cuidado para que o professor não vissem. Eu poderia ligar do meu, mas Dante saberia que era eu. Se eu ligasse de um numero desconhecido e ele estivesse... Vivo, ele atenderia. Me ignorar não serviria mais se ele não soubesse que era eu. Coloquei o celular no bolso e pedi para o professor ir ao banheiro alegando que eu não me senti bem. E não me sentia mesmo nada bem. Me escondi dentro de uma cabine, sentado na tampa do vaso e puxando os pés para perto do corpo.

Estava tão nervosa que errei seu número umas cinco vezes antes de ter certeza que havia digitado certo. O sinal não estava ajudando. Tive que ligar umas duas vezes para conseguir que o celular chamasse. Cada vez que o celular chamava meus nervos apitavam loucamente implorando para ouvir a voz de Dante. Qualquer coisa que fosse. Eu só queria que ele atendesse. O celular caiu na caixa postal e algumas lagrimas escorreram pelo meu rosto. Tentei novamente.

– Vai Dante, atende. Por favor. – Eu pedia com a garganta travada em um nó. Mas não importava o quanto eu ligasse ele não me atendia. Talvez ele só estivesse longe do celular. Isso, talvez fosse isso. Afinal ele tinha me prometido. Na hora da saída ou talvez no recreio eu tentasse novamente. Limpei as lagrimas e tentei me convencer de que tudo não passava de uma grande confusão e de que não era nada daquilo que eu estava pensando. Mas conforme os minutos se passavam mais falso aquilo parecia. Eu sentia que era pura enganação. Eu senti que aquilo não era verdade. Eu queria poder ter dito tantas coisas para ele. Eu devia ter ficado com ele, tê-lo feito mudar de ideia. – Eu soluçava com a cabeça escondida atrás das palmas das mãos. Tentei me recompor e voltar pra sala, mas eu não escutava nada que o professor falava e mal lembrava de ter devolvido o celular. Tudo em que eu pensava era que era culpa minha. Foi minha culpa ter deixado Dante naquele estado. Eu havia feito tantas coisas estupidas, dito tantas coisas idiotas.

Eu podia ter convencido ele de desistir daquela história maluca. Eu deveria ter ficado do seu lado, mesmo que ele me odiasse por isso. Porque eu não fiz isso? Em vez disso eu sai com outro cara. Me sentia tão culpada. Porque isso estava acontecendo? Eu só queria ter tido a oportunidade de apreciar mais coisas ao seu lado. Tudo era tão vago. Tínhamos passado por bastante coisa, mas mal nos conhecíamos. Havia tanta coisa que eu ainda queria escutar dele

Tudo parecia tão distante agora... Nossas brigas sem sentido, as palavras arremessadas... Era tudo parte de um filme antigo que rodava várias e várias vezes na minha cabeça. Meus olhos estavam excessivamente vermelhos, mas pelo menos eu não estava chorando ainda. Olhei ao redor e todos pareciam compenetrados em alguma coisa. Olhei para minha mesa letárgica. Meu livro não estava mais ali. Mas isso não me importava agora. Segurei as pontas até a aula acabar e limpei delicadamente o brilho dos olhos que tentavam escapar pelas extremidades. Se eu estivesse vendo o céu, mesmo que de dia, eu poderia apenas sentar e esperar uma estrela cadente pra pedir a ela para vê-lo mais um vez.

– Ágatha, o que está acontecendo? – Acho que talvez não fizesse mal contar um pouco. Afinal, cedo ou tarde todos saberiam.

– Eu acho que. – A garganta travou. Não conseguia dizer mais nada. Apenas encarava os olhos castanhos de Mariana à procura da minha própria voz.

– Sim, diga. – Incentivou-me

– Alguma coisa... – Disse vaga. – Alguma coisa grave. – Conclui com a visão meio embaçada. Ótimo momento para virar uma Danandra da vida.

– Com Dante? – Presumiu Mariana. Eu apenas assenti com a cabeça.

– Muito grave Mariana. – Completei. Suas sobrancelhas tentavam encostar uma na outra de tanta preocupação.

– Eu tenho certeza de que ele está bem. Deve haver alguma explicação. – Eu apenas neguei com a cabeça.

– Tentei tudo. – Informei apertando minhas mãos tão forte que os poucos resquícios de unha estavam fincados na minha própria pele. Meu maxilar estava travado. Mal conseguia proferir aquelas débeis palavras.

– Se acalme. Vai ficar tudo bem. Confie em mim. – Mas eu não podia. Eu não podia confiar em ninguém.


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Notas finais do capítulo

* Suspense*



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