Everybody Hurts escrita por Midnight


Capítulo 1
Único - Todos sofrem.


Notas iniciais do capítulo

Cara, eu estava ouvindo uma música da Avril Lavigne hoje cedo e de repente me deu vontade de tentar escrever uma oneshot... Sei que não tenho experiência, mas acho que não temos como aprender sem tentar, certo?
Não chega a ser uma songfic porque não consegui separar os trechos nas partes da fanfic, mas seria bom se lessem ouvindo... Talvez consigam captar melhor a sensação que tentei passar. rs
Boa leitura, espero que gostem.
Ps: A música é da Avril mesmo, mas decidi colocar a versão masculina porque achei que combinava mais pela história falar de um garoto... (Além de eu achar essa versão mais bonita).



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Avril Lavigne - Everybody Hurts (Male Version)

Onze e meia da manhã.

O garoto andava desanimadamente por uma das poucas ruas abandonadas após a chuva torrencial da noite anterior. O capuz do velho moletom surrado escondia boa parte de seus curtos cabelos loiros e o protegia do frio, apesar de naquele momento ele não ligar para nada disso. Keith Willians – ou Kei – era conhecido por ser um garoto extremamente gentil, inteligente e, acima de tudo, animado. Os poucos mais próximos alegavam que era impossível ficar triste perto dele. No entanto, naquele dia o sorriso não havia aparecido por um minuto sequer; na verdade sua expressão era tão abatida que o tornava praticamente irreconhecível.

Algumas poucas pessoas sabiam da paixão de Keith por sua melhor amiga, Irina, uma russa que conhecera por acaso em uma das festas organizadas na escola onde estudavam. Foi tudo tão de repente... Um esbarrão no meio do tumulto, um pedido de desculpas; uma rápida troca de olhares... Porém, foi o suficiente para que o loirinho sentisse um calor estranho no peito, uma atração por aquela misteriosa desconhecida.

Pouco tempo depois, encontraram-se de novo – novamente por acaso. A garota se apresentara como Irina, disse que tinha acabado de se mudar para aquele bairro e não conhecia ninguém, o que Keith logo tomou como uma oportunidade. E o pior é que as coisas conspiravam a seu favor: Tinham os mesmos gostos, praticamente, as conversas sempre eram leves e agradáveis e, em pouco tempo, ambos eram praticamente melhores amigos. Aonde Irina ia, Keith estava junto; ou vice versa. Os outros os viam como um casal inseparável.

Até a noite de ontem.

Caminhando sem rumo, o garoto levou o braço à frente dos olhos para enxugar algumas lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto, mas para ele parecia impossível não chorar, pois tudo lhe lembrava ela: As pessoas, as paredes, os letreiros... Era como se o maldito bairro zombasse dele; dele e seu maldito amor não correspondido.

Ainda se lembrava da conversa:

– Irina, eu queria te falar uma coisa... – Keith parecia apreensivo, parado na porta da casa da amiga com ambas as mãos nos bolsos do casaco – Eu... Eu gosto de você. Desde o primeiro dia em que te vi, eu gostei de você.

– Keith... – A morena arregalou os olhos, surpresa – Eu...

– Não! Não diga nada por agora. – Ele fez um gesto com a mão espalmada, pedindo para que esperasse; então tirou uma pequena caixinha do bolso e a abriu, revelando um pequeno anel de prata – Aceita namorar comigo?

Por um momento, ninguém disse nada. Os olhos azuis de Keith fitavam a russa com certa timidez, e quanto à ela... Bem...

– Keith, eu... – Irina levou a mão aos lábios finos – Eu não posso... Não posso aceitar...

– Por que não, Irina? – O garoto perguntou, agora chocado – Não foi você que me disse que eu era a pessoa mais especial pra você? Que você nunca gostaria de me deixar?

– Sim, Keith! Eu disse, mas foi... Você é meu melhor amigo! Céus! – A russa recuou alguns passos.

– Mas e aquele dia, quando fomos ao parque e nos beijamos na roda gigante? Isso não significou nada pra você?

– Keith, eu tinha acabado de romper um namoro! Eu estava carente, e você estava me consolando, me abraçando daquele jeito e... – Irina abaixou a cabeça; os fios de cabelo caindo sobre seus olhos – Te beijar foi um erro, Kei. Somente um erro... Desculpa por ter te iludido.

Infelizmente essas palavras foram ditas tarde demais, pois quando a garota ergueu a cabeça, Keith havia desaparecido completamente.

“Te beijar foi um erro, Kei. Somente um erro...”

Essas palavras ainda ecoavam na mente do rapaz quando finalmente chegou ao seu destino: Uma praia, completamente deserta por conta do tempo frio, e, acima de tudo; extremamente conhecida por suas ondas traiçoeiras durante as épocas de chuva. O lugar perfeito para o grand finale.

Keith sorriu vagamente olhando para o lugar. Tinha dezesseis anos ainda, mas sua família não era muito bem estruturada e para melhorar a situação, praticamente não tinha amigos. Era tido como uma das pessoas mais “fechadas” da escola e por causa disso pouca gente se aproximava dele – e ainda por cima, a maioria apenas por interesse. Certamente poderia dizer que Irina fora sua única amiga de verdade por todos esses anos.

– Ei... Você está bem?

Uma voz feminina se fez ouvir a uma distância relativamente curta, fazendo o garoto se virar assustado. Um pouco atrás dele, uma menina de longos cabelos loiros e olhos verdes o observava preocupadamente. Usava um vestido de alças branco e brilhante que ia até os joelhos e sapatilhas da mesma cor; um visual curioso para o inverno. Mas o pior de tudo é que suas roupas ainda estavam molhadas, como se ela tivesse acabado de sair da água.

O que está fazendo aqui? – O tom na voz de Keith foi mais ríspido do que ele realmente pretendia.

Vim para te impedir de fazer uma loucura. ­– A menina sorriu fracamente, e o loiro pôde reparar que ela parecia somente um ano mais nova, apesar de seu rosto pálido e triste.

E quem disse que eu ia fazer uma loucura? – Perguntou.

Ninguém vem a essa praia nessa época do ano... Pelo menos não sem pretender alguma besteira. – Os cabelos esvoaçaram levemente conforme ela avançou na direção do rapaz, parando ao lado dele – Qual é o seu nome?

–... Keith. Keith Willians. – Normalmente o garoto não diria seu nome a qualquer um, mas ela parecia induzi-lo a isso.

Bonito nome. Eu sou Cecille.

– Hm.

– Então, Keith... O que aconteceu para você querer dar um fim à sua vida?

Na mesma hora um choque atingiu o jovem. Como ela sabia de suas intenções?

E... Eu não...

– Eu consigo ver em seus olhos, Keith. Uma dor terrível o atingiu e você acha que não é capaz de superá-la. Por isso veio aqui. Você pularia no mar agitado e todos os seus problemas sumiriam. – Ela disse com um sorriso tranqüilo, e Keith foi tomado por uma raiva repentina.

E quem é você pra falar o que eu devo ou não fazer? Você não sabe o que aconteceu!

– Ah, mas sei como se sente. Sei como é a dor de um coração partido. – Cecille o olhou docemente – Porque eu já sofri, assim como você, porém... – Olhou para o mar – Infelizmente não consegui superar. E não quero que você cometa a mesma besteira que eu, naquela época...

– Naquela época?

– Sim, em 2008.

– 2008? Há cinco anos? E... Então isso significa que você é... É... – A raiva abandonara a voz do rapaz e agora o medo tomava conta de seu ser.

Um espírito, sim... Mas, por favor, não vá embora! – Ela praticamente implorou, deixando novamente o rapaz desconfortável. Estava com medo sim, mas ela não parecia querer o seu mal – Deixe-me contar o que aconteceu...

–... Tudo bem...

– Era o meu aniversário de quinze anos. – Cecille começou; a voz tão cheia de dor que por um momento Keith teve vontade de abraçá-la, o que infelizmente era impossível – Meus pais tinham organizado uma festa em casa e mandaram que eu convidasse todos os meus amigos. Nessa época, eu estava namorando Scott Jones, um dos garotos mais populares da escola... Ele era bonito, inteligente, ótimo em esportes... Tudo o que uma garota poderia querer. – E sorriu, como se estivesse lembrando-se de coisas boas – Acima de tudo era carinhoso, e eu tinha esperança de que nosso namoro evoluísse para que pudéssemos construir uma família.

– Mas aconteceu algo, não é?

– Sim. – E nessa hora, a tristeza retornou ao tom de voz da pequena – Eu estava indo ao quarto para deixar uns presentes, quando abri a porta e vi... Scott estava se agarrando com a minha irmã mais velha, os dois estavam se beijando e eu podia jurar que em breve poderiam fazer até coisas piores... Imagina como eu me senti? Meu namorado e minha irmã! Ambos me traíram...

– Sinto muito. – O loiro murmurou.

– Então, eu corri... Saí da festa desesperadamente, às lágrimas, esperando que ele viesse atrás de mim. – Ela o olhou – Mas ele não veio. Então, eu corri descontroladamente até chegar à praia... Sabia que era loucura, mas mesmo assim fechei os olhos e pulei na água com todas as minhas forças. Sabia que muitas pessoas sentiriam minha falta, mas a dor em meu coração era tão grande que no momento isso pouco me importava. Foi o meu pior erro.

– E... Eu... Desculpe, eu não sei o que dizer.

– Não precisa dizer nada, Keith. – O sorriso voltou ao rosto pálido – Eu só não quero que você acabe como eu. Vejo em seu coração que você é uma pessoa cheia de vida, que ainda tem muito pela frente...

– Muito pela frente... Eu tenho muitos problemas, isso sim...

– Todo mundo tem problemas, Keith. Todo mundo sofre, mas são poucas as pessoas capazes de erguer a cabeça e seguir em frente. E eu sinto que você é uma dessas pessoas. – A loira estendeu a mão tocando o ombro do rapaz mais alto, mas tudo o que ele pôde sentir foi uma confortável sensação de calor – Apenas não achou seu potencial ainda.

– Você acha mesmo, Cecille?

– Acho... E, tenho certeza de que logo vai encontrar alguém que lhe dê o devido valor. É só você esperar que a dor vá embora... Eu não consegui superar, mas você...

– Eu entendi o recado... E, pensando bem... Talvez você tenha razão. Talvez eu simplesmente deva esquecer tudo o que aconteceu antes e tocar minha vida.

– É o melhor que você vai fazer... – A pequena sorriu – Ah, e tem mais uma coisa... Logo, logo você terá uma surpresa... Alguém muito especial irá surgir na sua vida, e dessa vez, você será feliz. Eu posso ver que sim.

E então, antes que Keith pudesse falar mais alguma coisa, o corpo de Cecille foi envolvido por um brilho leve que a fez desaparecer aos poucos; até que não restasse nada além do loiro e do mar. As ondas ainda faziam um grande estrondo em contato com as pedras, mas agora a visão não parecia mais tão agradável aos olhos azuis de Keith, porque agora ele sabia... Sabia que tinha um futuro, e que nunca mais sofreria daquela maneira.

Porque Cecille, aquele anjo de roupas brancas lhe ensinara uma lição.

Todos se machucam em algum momento, mas isso faz parte de ser humano.

Tudo o que ele podia fazer era erguer a cabeça e seguir em frente.

E era exatamente isso o que faria.

“Obrigado, Cecille.”, pensou carinhosamente, virando as costas e tomando o rumo de volta para casa. Agora, acima de tudo tinha certeza de que conseguiria superar suas dores; e não deixaria mais nada estragar sua felicidade.

Afinal, tinha certeza de que, apesar de todos os seus problemas, uma hora ou outra ela chegaria.



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Notas finais do capítulo

Bem... Espero que tenham gostado. É minha primeira oneshot, então...
Editei agora, colocando as imagens dos personagens... Bem, as roupas não condizem e a imagem do Kei está em preto e branco, então imaginem!