Ela chegou

Ouviu meus chamados

Abraçou-me como precisava

Como sempre fez

Contei-lhe o que sentia

Mostrei o quanto me faltava forças

Expliquei-lhe meu plano da última infantilidade

Ela objetou. Ainda tinha inocentes esperanças

Cobrindo o negro que o coloria desde muito

Meu sorriso foi manchado de vermelho

Meus pulsos jorravam esse disfarce

Estimulados por minha estupidez criminosa

Minhas mãos se tornaram inúteis

Sua real utilidade apenas se confirmara

Fui aparado por braços gentis

Eles me guiaram ao chão e me reconfortaram

Sinto imensa alegria em abusar do conforto destes braços

De observar estas mãos, que ocupam a inutilidade das minhas

Que escrevem estes versos a meu pedido

As quais venero e agradeço por serem suas

Se fossem minha, transpareceriam a presença da morte

Assim como meu estomago o faz, se contorcendo em enjôos

Apenas sua presença me separa do desespero

Suas mãos afastam minhas palavras das garras do esquecimento

Ainda assim, quem sabe esquecido eu seja

Minhas vergonhas desapareceriam no nada

Meu vazio seria um desperdício a menos

Minha alma seria apenas uma mancha rubra entre os azulejos

Seu rosto se deixa banhar em lágrimas

Mas por que mostra tristeza com a morte de uma cigarra?

Sabia que elas cantam na proximidade de sua hora, não?

Cantar maldito este, que não mostra melodia, mas mediocridade

Deixo estes pensamentos ao desafortunado ao que os encontrar

Àquela que escreve, deixo apenas um último sentimento

Deixo minha gratidão e meu...

(Texto encontrado na cena do crime, em uma página aberta do diário pessoal da vítima)