-Será que a culpa foi minha? Tudo que eu fiz até hoje foi tentar separar a briga dos dois, mas será que foi o suficiente? No final das contas, minha mãe sempre me jogava na cara tudo o que eu não queria ouvir e meu pai nunca ligou para o que eu fazia ou deixava de fazer. No final das contas, eu era só um joguete para eles, uma razão para não terem se separado quando ela descobriu que não podia engravidar. Se bem que ela me disse uma vez que ela só queria um filho por puro modismo. Não pegava bem um casal sem filhos. Para ele, eu sempre fui só uma melhora nas aparências, afinal alguém que se sustenta lambendo os pés dos “superiores” e até fazendo o trabalho sujo deles não pode possuir as qualidades que um pai precisa. Bom... Tanto faz. Agora isso não importa mais.

Ele foi embora. Nos deixou dois sem nada e simplesmente foi embora. Deve ter ido viver com aquela secretária que ligou pra cá algumas vezes e desligou quando eu atendi antes que ele percebesse.  Eu... Eu só queria que fosse mentira. Eu só queria ter nascido em outra família ou... Eu queria ter feito alguma coisa. Ao invés disso descontei tudo no Saulo. Tomara que tenha dado tudo errado e ele esteja bem.

Depois que ele saiu, eu fiquei só... olhando a minha mãe beber. Ele bebeu e bebeu e bebeu e bebeu... Tive a impressão que ela morreria ali mesmo. Quando ela terminou, eu levei ela para uma clínica de reabilitação. Disse que era um amigo dela, que ela não tinha filhos nem parentes.

No final das contas, eu não menti.

-Cansei. De tudo. De todos. De mim mesmo.

Já decidi o que vou fazer.