Alma Despertada : Mistérios escrita por Sweet Zombie


Capítulo 9
Beijo


Notas iniciais do capítulo

bem esse cap tem um pouco mais sobre o mistério e uma leve pitada de romance.



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Havíamos acordado cedo e partido rumo a uma padaria, para tomar café da manhã.

Lívia e Eliza comiam seus sanduíches enquanto eu lia a parte imobiliária do jornal. Procurava por uma casa com três quartos e próxima a cidade.

- O que vocês acharam daquela tal Camile? – Perguntou Lívia.

- Ela pode dizer que não quer nada, mas mesmo assim é bom ficarmos de olho nela. – Falou Eliza tomando um gole de sua xícara de café.

- O que ela quis dizer como bruxa de nascença? – Perguntei.

- Que ela não vendeu sua alma para ser uma bruxa. Ela nasceu sendo uma bruxa. – Respondeu Eliza.

- Então, ela tem alma?

- Não vou responder isso, é uma coisa óbvia demais. – Falou Eliza chacoalhando a cabeça.

Terminamos de comer, pagamos a conta e saímos. O sol aparecia e desaparecia entre as nuvens, o vento soprava forte e anunciava a chuva.

- O que vamos fazer agora? – Perguntou Lívia.

- Bem, eu estou querendo ver uma casa. – Mostrei o jornal.

- Então vamos. – Falou Lívia sorrindo.

- Pode ir você dois, eu vou voltar para hospedaria e descansar. – Falou Eliza.

- Tem certeza? – Perguntei.

- Ainda não recuperei da viagem por completo. – Ela sorriu levemente.

- Nos falamos depois. – Disse Lívia.

Eliza atravessou a rua e voltou para a hospedaria. Olhei para Lívia que também olhava a sua amiga sumir entre as portas.

- Onde é a nossa casa nova? – Perguntou ela animada.

- Segundo está aqui no jornal, é ao oeste da praça dos encontros. – Falei.

- Ok. Mas, qual é a praça dos encontros?

- É uma ótima pergunta. – Falei rindo.

Lívia olhou ao redor e se aproximou de um homem que saía da padaria. O homem aparentava ter uns quarenta anos, cabelos acinzentados e a pele começando a expressar as marcas do tempo. Ela perguntou onde ficava a tal praça e como poderia chegar lá.

- Obrigada. – Falou Ela sorrindo.

Ela voltou para perto de mim e começou a explicar o trajeto.

- Temos que seguir aquela rua ali, até a terceira esquerda e depois pegar a quinta esquerda da outra rua para chegar lá. – Ela mostrava com as mãos como seria o trajeto.

Depois de um tempo chegamos à praça dos encontros. Era menor que a praça que estive, mas ainda sim era extremamente bela. A lembrança da dona da pensão surgiu em minha mente.

- É difícil não se encantar com paisagens como essa. – Sorria enquanto analisava a praça.

Havia uma grande variedade de árvores, como de flores também. As trilhas eram como na outra, feitas de pequenas pedras brancas. Tinha um pequeno parquinho,  com escorregadores e balanças e no centro um lago de água cristalina que permitia ver os peixes que ali nadavam.

- Concordo com você. – Disse Lívia.

Caminhamos um pouco pela praça admirando a beleza do local.

- Onde é oeste? – Perguntou Lívia apontando da direita para a esquerda.

Olhei para o sol, era quase onze horas. Ele vinha do centro da cidade, então o oeste seria perto das pequenas colinas.

- Por aqui. – Falei.

Olhei mais uma vez no jornal. A foto da casa mostrava um chalé de dois andares, feito de madeira e com varanda no segundo andar, o telhado era pontudo e quase tocava no chão.

Na descrição da casa dizia: três quartos, dois banheiros, uma sala de estar e outra de jantar que era ligada com a cozinha. Mais embaixo vinha uma observação que os donos vendiam a casa mobiliada, o que seria uma vantagem para mim.

Andávamos em silêncio e parecia que teríamos um longo caminho até as colinas.

- Lívia? – Cortei o silêncio. – Como você conheceu a Eliza?

Primeiro ela pensou. Deveria estar escolhendo as palavras que iria usar.

- A Morte me apresentou a ela e disse que teríamos que trabalhar juntas para protegê-lo, primeiro Eliza negou minha ajuda, você sabe como é o gênio dela, depois foi aceitando, mas ainda assim percebo que ela não confia totalmente em mim.

- É... o que você sabe dela? – Perguntei.

- Não muita coisa. Ela guarda seus segredos a sete chaves ou até mais. – Falou Lívia rindo. – Mas, agora me responda. Por que quer saber sobre ela? – Ela estreitou o olhar e um sorriso malicioso brotou em seu rosto.

- Por nada é só para puxar assunto. – Evitei olhar para ela.

- Você está gostando dela? – Falou Lívia abrindo a boca.

A pergunta me fez corar na hora. Não sabia se eu realmente gostava da Eliza para querer ficar com ela, na verdade era confuso pensar nisso. Eu não sei qual é a sensação de gostar de alguém, contudo depois que eu a abracei lá estação, senti algo diferente, não sei o que eu senti era o “gostar”, mas eu apreciei da sensação que causou em mim.

- Não estou gostando dela, desse jeito que você está falando.

- Tem certeza, pois eu acho que está. – O sorriso de Lívia ficou mais largo. – Sabe vocês dois combinam, ela toda estressadinha e você todo quietinho.

- Não fale besteira Lívia.

- Meu irmãozinho de coração gosta da Eliza.

- Já disse que não gosto dela desse jeito que está falando.

Após subir um morro avistamos um pequeno grupo de chalés. Todos feitos de madeira escura.

- O número do chalé que procuramos é trinta e oito. – Conferi no jornal.

Começamos a busca, eu para um lado e Lívia para o outro.

Aproveitei o tempo para pensar. – “Será que eu gosto da Eliza?” – Tentei imaginar nos dois juntos.  – “Isso poderia dar certo?” – Eliza é muito cabeça dura, teimosa, fala o que quer e como quer. Senti como se algo me sufocasse por dentro conforme pensava em sua personalidade, em seu rosto.

Terminei de olhar as casa, mas nenhuma com o número trinta e oito. Agora tinha que espera Lívia voltar e torcer que ela tinha encontrado. Não esperei muito, logo a avistei correndo em minha direção.

- Achei! – Berrou ela e me chamando com a mão.

Fui até ela.

- É um pouco longe daqui, temos que subir mais um morro para chegar lá, mas a casa é linda. – Falou ela sorridente.

Eu a segui. Quando terminamos de subir o morro, Lívia apontou para o chalé que ficava perto de algumas árvores extremamente altas.

- É aquele ali.

- Vamos até lá. – Falei um pouco ansioso.

Duas crianças brincavam na parte da frente da casa, eram dois meninos, ambos morenos e com as roupas sujas de terra.

- Oi meninos. Seus pais estão em casa? – Perguntou Lívia com uma voz doce.

Eles confirmaram e correram para dentro de casa.

- Tinha me esquecido como vocês era sociável. – Falei em um tom sarcástico.

- Já que alguns aqui são anti-sociais, alguém tem que fazer o trabalho sujo. – Falou ela com uma expressão de tente rebater essa.

Uma mulher, de cabelo castanho saiu da casa, seguida pelos dois meninos.

- No que posso ajudar? – Perguntou ela.

- É... nós vimos o anúncio no jornal que essa casa está a venda. – Falei evitando encará-la diretamente.

- Ahhh .... entrem. – Falou a mulher.

A entrada era um corredor comprido com as escadas no final. No lado direito ficava a cozinha e a sala de jantar e no outro lado a sala de estar e o banheiro.

Fomos para a sala de estar, havia dois sofás grandes colocados na frente de uma televisão. Uma enorme estante repleta de fotos da família que ficava ao lado de uma porta de madeira que ligava o banheiro a sala.

- Vocês estão interessados em comprar a casa? – Perguntou a mulher quando nos sentamos nos sofás que tinham uma cor bege escuro.

- Sim. – Falei. – A senhora se chama?

- Desculpe a minha falta de educação, eu nem me apresentei. Eu sou Jana Filet e vocês? – Ela apontou o dedo para mim e Lívia.

- Lince Luster.

- Lívia Mitson.

- São belos nomes. – Falou Jana com um sorriso encantador. – Meu marido não está em casa agora, ele saiu para pescar faz algum tempo, não deve demorar a voltar. Caso queiram esperar sintam-se em casa.

- Perfeitamente. – Falou Lívia em um tom educado.

Eliza Biller

Abri meus olhos preguiçosamente. Espreguicei-me lentamente, sentindo cada parte do meu corpo sair da dormência. Bocejei e então levantei em um pulo.

Troquei de roupa e olhei as horas. – “Duas e meia.”

Saí da hospedaria e fui para a padaria, comprei um sanduíche e comi. O tempo estava ficando nublado. Nuvens cinzentas pareciam querer devorar o sol.

Lince e Lívia deveriam estar vendo a tal casa. – “O que eu vou fazer?” – Olhei ao redor, analisando as pessoas na rua, a maior parte eram de idosos. Essa cidade realmente era sustentada pelo turismo.

Olhei mais uma vez ao redor e nada me chamou a atenção, então tomei a decisão de ir ao único lugar que conhecia ali: a praça que estive ontem.

A praça não era muito longe do pequeno centro da cidade. Deveria ser um orgulho dos moradores, pois a praça apresentava um ótimo ambiente, repleto de vida e cor, só perdia para as paisagens do Mundo dos Sonhos.

Fui perto do rio que cortava a praça. Sentei ali na margem e comecei a brincar com a água, passando o dedo e fazendo pequenas ondas. Meus pensamentos começaram a fluir, grande maioria referente ao meu protegido: Lince.

Se realmente uma criatura como aquela está atrás dele, isso quer disser que existe um motivo especial para ele se tornar uma alma despertada. – “Qual seria o plano da Vida e da Morte em relação a ele?” – Por mais que eu tente achar um ponto de partida, eu não consigo. Aquele dia que Lince me abraçou, podia sentir uma energia calorosa vindo dele, como se seu corpo fosse à chama de uma vela. Mas, essa não é a primeira vez que tenho essa sensação, desde que ele perdeu seus pais, em seus momentos de tristeza e solidão ou até mesmo de raiva, eu podia sentir aquele calor.

- O que, a pequena protetora, está pensando? – Perguntou uma voz familiar.

Era Camile, a bruxa de nascença. Seus olhos azuis gelo estavam me encavando e um sorriso estava costurado em sua face.

- Por que deseja saber? – Perguntei desviando o olhar.

- Pois é fácil perceber que são pensamentos que te incomodam. – Falou Camile olhando a água do rio.

- Como pode ter tanta certeza? – Perguntei.

- Eu sei sobre você, protetora perdoada.

- Não fale isso novamente. – Falei irritada.

- Não se preocupe, não vou usar isso contra você. Já disse, não tenho sede de poder. – O vento começou a soprar forte, fazendo algumas folhas voarem. – O poder corrompe a alma e a torna em uma criatura sedenta e fria.

- Por que vive aqui? – Perguntei sentindo o vento tocar em minha pele. –Não quis viver no Mundo dos Sonhos?

- Já vivi lá, mas a perfeição é algo enjoativo. Então, decidi viver aqui. – Falou ela. – Eu gosto de apreciar a imperfeição.

- Entendo. – Falei.

- Como você se sente em relação ao seu protegido? – Perguntou Camile me encarando.

- Como assim? – Perguntei arregalando os olhos. Camile riu.

- Você gosta dele.

- Eu sou a protetora dele, não posso gostar dele. – Falei ficando vermelha.

Camile riu.

- Bem acho que já vou, pois a chuva está chegando. – Camile caminhou um pouco e parou. – A chuva nunca viaja sozinha, ela sempre traz algo consigo.

Depois de um tempo que Camile havia saído ouvi uma voz familiar me chamar:

- Eliza!

Lince Luster

- Eliza! – Gritei quando a avistei perto do pequeno rio.

Corri até lá.

- Como você está? – Perguntei enquanto me aproximava.

- Estou bem. – Falou ela sem olhar pra mim.

- Eliza, você pode-me falar mais sobre o que eu sou? – Perguntei.

- O que quer saber? – Perguntou ela.

- Fale o que acha que eu devo saber.

Ela respirou fundo e olhou para o céu nublado.

- Você é uma alma despertada, um tipo de ser que tem a união perfeita entre o jarro, que é o corpo, com a alma. Um despertado é um imortal perfeito, ou seja, jamais pode ser morto, nem mesmo a foice da Morte pode matá-los. Mas, no seu caso, você ainda não despertou por completo. – Falou ela com o olhar longe.

- O que isso quer dizer? – Perguntei atraindo o seu olhar.

Seus olhos negros como uma noite sem lua e estrelas. Olhando dentro deles eu via um falso vazio, pois mesmo se mostrando um vazio por de trás deles eu sabia que ela guardava seus mistérios.

- Que seu corpo e alma estão se unindo ainda. Essa união é demorada, pois a alma vive adormecida dentro dos corações dos jarros, como a sua está se despertando ela tem que sair do coração para se unir com o corpo.

Os primeiros pingos de chuva começaram a cair. O vento ia ganhando força, algumas pessoas começaram a sair da praça e procurar um refúgio da chuva.

Eliza continuava sentada, olhando a chuva cair.

- No que você está pensando? – Perguntei.

Ela não respondeu. Estava perdida em seus pensamentos, havia algo que estava a incomodado, por causa disso tomei a decisão.

Eu a abracei.

Mas, Eliza se afastou e me encarou.

- Por que fez isso? – Falou ela irritada e com o rosto vermelho.

- Para saber que eu estou aqui. – Falei.

Isso a deixou, ainda mais vermelha.

- Eu sei que você está ai, não precisa me abraçar para fazer isso. – Falou ela meio sem jeito.

- Desculpe, é.... que... eu gos...

- O que vocês dois estão fazendo na chuva?! – Gritou Lívia, que corria trazendo dois guarda chuvas. – Peguem. – Ela jogou os guarda chuvas.

- Obrigado. – Falou Eliza sorrindo.

- Vamos para a hospedaria lá é mais aconchegante e quente, pois esse vento está muito frio. – Falou Lívia.

- Também você está de bermuda. – Falei.

Eliza riu da careta que Lívia fez para mim. Eu a encarei.

Na hospedaria caminhávamos rumo aos nossos quartos para descansar.

- Lince, você já contou para ela sobre a mudança? – Perguntou Lívia.

- Ainda não. – Respondi.

- Que mudança? – Perguntou Eliza.

- O Lince comprou um chalé para morarmos, cada um terá o seu quarto. – Falou Lívia rindo. – E amanhã vira um cara aqui nos ajudar com as bagagens.

Depois disso não falamos mais nada.

Antes de entrar no meu quarto, Eliza me chamou.

- Desculpe por antes não deveria ter agido daquela forma, você só estava tentando me ajuda e...

Eu segurei o seu queixo e a beijei.

Uma sensação fez meu corpo tremer. Não era ruim, era bom, muito bom. Eliza parecia saborear a mesma sensação. Coloquei meus braços por trás dela e abracei forte.

Quando paramos. Eu olhei para ela que estava com uma expressão assustada e seu rosto estava um pouco vermelho. Olhei para Lívia que assistiu a tudo e estava de boca aberta.

Eliza saiu dos meus braços e correu para o quarto e trancou a porta.

- O que foi isso? – Perguntou Lívia que ainda estava de boca aberta.

- Eu queria sentir uma coisa. – Falei envergonhado. – Mas, acabei fazendo besteira.

- Lince, calma. – Lívia segurou o meu braço. – Ela não falou nada referente a isso, só saiu, pois deve ter sido uma surpresa e tanto.

- E o que eu vou fazer? – Perguntei.

- Eu vou falar com ela e ver como ela reagiu a esse episódio. – Falou Lívia em um tom acolhedor. – Agora descanse um pouco, pois amanhã teremos muitas coisas para fazer.

Concordei e fui para o meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Bem .... espero que tenham gostado :P
eu ainda não sei se formo um casal ou não ... até o fim da história eu descido