Aleluia! Finalmente consegui sair daquele aeroporto! 

Corri para a fora, alegre como um peixe quando é solto na água novamente. Eu tinha claustrofobia então não me culpem! Eu me sentia presa ali.

Cara, Nova York é linda. Tem todas aquelas luzes brilhantes e milhões de taxis amarelos. Eu pirei quando lembrei que teria que pegar um para chegar no meu apartamento!

Fiz sinal com os braços. Me disseram que ia demorar para um deles me aceitar, mas foi bem rápido. Acho que eles devem ter achado que eu estava com pressa. Ah, eu estava mesmo! Eu estava looouca para conhecer meu apartamento!

Eu lhe dei o endereço e o cara acelerou. As luzes passavam rapidamente pela janela. Eu abri o vidro e coloquei minha cabeça para fora. Oh, que lindo. Eu me sentia como um daqueles cachorros de madame que ficavam alegres quando podiam perder a pose e meter a cabeça no vendo, jogando a língua para fora.

Estranho. Eu não paro de me comparar com animais.

Quando paramos no sinal, percebi que o táxi tinha um teto solar.

Primeiramente, não liguei, afinal, era um teto solar e era noite! Duh!

Mas então tive uma ideia m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!

Abri o teto e subi. 

Oh, como era incrível! Eu me sentia como o leão do filme Rei Leão. Sabe, quando ele está em cima daquela pedra e todos os outros animais ficam observando? Era uma sensação incrível!

Eu me sentia tão bem que dei um rugido. Fiquei muito feliz quando as pessoas da faixa nem sequer me olharam. Afinal, eu era louca. Mas ninguém precisava saber disso.

Quero dizer, eu não sou louca. Eu só gosto de aproveitar a vida! E as pessoas deviam cuidar mais de si mesmas e deixar os outros em paz. Ou será que a minha felicidade encomoda alguém?

Eu estava em Nova York! Ninguém dava a mínica ao que eu fazia ou deixava de fazer!

Eu amava cantar. Comecei a cantar aquela música, da trilha sonora do filme... " I Can't Wait To Be King."! 

Eu não cantei. Afinal, não sei cantar. Eu estava mais berrando. Mas eu estava tão feliz, e tudo parecia tão mágico sob as luzes de Nova York...

Algo úmido me atingiu na cara.

Lambi o conteúdo do meu queixo. Hum. Era sorvete de baunilha.

Me virei para o carro do lado, e o passageiro do outro táxi também tinha saído no seu teto solar. Ou teto luar. Ele me encarava furiosamente, brandindo a casquinha de sorvete que ele tinha jogado em mim.

- Cale a boca, urubu! - ele berrou, e então voltou para dentro do carro.

Fiz um biquinho e franzi as sobrancelhas. Pois é, a minha felicidade estava sim atrapalhando alguém...

Voltei para dentro do carro, lambendo meu queixo e minhas mãos. O motorista me ofereceu um guardanapo, como se soubesse que aqui ia acontecer, e eu aceitei.

Não deixei minha felicidade se abalar.

Eu não podia.

Eu não iria.

Afinal, eu estava em Nova York.

E todos são loucos em Nova York.