Aoi Tori escrita por SatineHarmony


Capítulo 5
Infância




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"Volto à minha infância. Eu gostaria de ficar até o amanhecer

Agora, sequer tenho tempo para dormir"

TSUJI SHION, Sky Chord

Momo deu um suspiro de cansaço ao ver a pilha de papelada que a esperava em cima da escrivaninha do seu escritório. Passou a mão pelo cabelo preso, não gostando da sensação. Definitivamente, aquela era a última vez que ela priorizaria os seus estudos na Academia Shinigami, em vez dos seus trabalhos como tenente.

Ela passara a tarde inteira com diversos oficiais do seu esquadrão, treinando Zanjutsu no pátio. À parte Hinamori se frustrou com alguns dos homens, por eles reprimirem-se por ela ser a sua tenente. Enquanto lutava, ela tentou manter em mente o pensamento de que aquela era a forma deles de mostrarem respeito por ela.

A garota foi derrubada uma porção de vezes, geralmente quando aparecia um shinigami com bom senso que não se dava ao trabalho de pegar leve com ela, mas a morena sentia que não aprimorara em nada as suas habilidades com a espada.

Inspirando fundo e tentando não render-se ao desânimo, Momo pegou o primeiro papel da pilha, fazendo uma careta ao ver que eram as despesas da divisão. Ela pegou o seu pincel, começando a assinar o seu nome na linha pontilhada.

— Hinamori-chan! — escutou uma voz entusiasmada falar por trás de suas costas. Sua mão tremeu, borrando o que estava escrevendo. Por pouco o pote de tinta não virou. Ela acariciou a ponte do nariz num movimento tranquilizador enquanto virava-se para a visitante.

— Rangiku-san. — respondeu num tom apático, controlando a vontade de resmungar. — Você me assustou, por favor, não faça isso. pediu numa voz educada.

— Não é culpa minha. — disse, convencida. — É você que insiste em sentar de costas para a porta. — levantou os olhos, observando a posição na qual Hinamori estava sentava. Franziu a testa em compreensão ao ver a cadeira do capitão vazia. Mesmo depois de todo esse tempo...?, pensou a loira. — Enfim, deixe esses papéis de lado — avançou pelo escritório, colocando a pilha no canto mais afastado da mesa, deixando-a fora do alcance da mais nova. —, e vamos ao bar beber saquê com o pessoal! — seu tom de voz dava a impressão de ela não ter escolha alguma.

— Rangiku-san... — a garota resmungou — Eu realmente tenho que verificar toda aquela papelada. Diferente de você, eu não tenho um capitão feito Shiro-chan. — murmurou, a voz em seguida morrendo. Shiro-chan... Há quanto tempo eu não o chamo assim?, perguntou-se.

— Kira e Hisagi também estão cheios de trabalho, mas isso não os impediu de aceitar o meu convite. — a loira fez biquinho, e Hinamori reprimiu uma risada. — Quer saber de uma coisa? — ela pareceu ter uma ideia. — A sua opinião não importa, vamos. — decidiu, segurando Momo pelo braço de uma forma delicada mais rápida, seguindo pelo corredor até as escadas.

* * *

— Ei, Hinamori! — Abarai a cumprimentou quando ela e Matsumoto entraram no bar. — Pensei que você não viria. — comentou. Sentados ao lado do tenente da sexta divisão estavam Kira e Hisagi.

— Então vamos começar! — declarou Rangiku, roubando o copo que estava nas mãos de Shuuhei, e tomou todo o seu conteúdo com um só gole.

Logo todos estavam desinibidos devido ao saquê. Inicialmente Momo evitara bebê-lo, mas depois de muita insistência da parte de Matsumoto, ela decidiu ceder.

— Hmm, eu esqueci de fazer alguns relatórios. — murmurou Renji.

— Mas Kuchiki-taichou não vai ficar irritado? — questionou Rangiku.

— Geralmente ele dá aquele olhar — o ruivo ergueu a sobrancelha direita, tentando lançar para todos na mesa um olhar fatal e apático, falhando completamente, o que resultou em várias risadas. —, quando alguém faz algo errado.

— Imagine se fosse assim no décimo esquadrão. — riu a loira. — Hitsugaya-taichou começa a gritar comigo, mas vale a pena ver o rostinho dele cheio de raiva. — Rangiku sorriu.

Hinamori franziu o cenho diante disso. Será que o capitão dela era o único que nunca ficara irritado quando ela fazia algo de errado? Ela não tinha lembranças de Aizen-taichou levantando a voz para ela. Momo nunca o vira exasperado. Suspirou, baixando a cabeça em direção ao seu copo, que já estava vazio pela sétima ou oitava vez.

— Rangiku-san, acho melhor você parar de beber. — comentou Hinamori, hesitante.

— Eu não sou criança, Momo! Eu sei quando parar. — assegurou-lhe a loira.

— Sei. — murmurou Hinamori em resposta.

— Bom, eu tenho que ir. — suspirou Abarai, levantando-se. — Nem quero imaginar o que Kuchiki-taichou fará comigo amanhã.

— Acho melhor eu ir também. — comentou Kira, dando um último gole no seu copo. — Já passam de uma e meia da manhã, e eu marquei um treino em grupo para hoje mais tarde. — colocou a mão na testa, massageando-a — Droga, como eu pude me esquecer disso? — fez uma careta, falando num tom desanimado.

Despedidas à parte, Renji e Kira foram embora. Hisagi suspirou, abaixando o seu copo.

— Acho melhor eu ir embora antes que eu desmaie de sono. — bocejou ele.

— Ah, deixe-me ir com você, Shuu-chan. — miou Matsumoto, deixando Hisagi completamente alerto.

— Cla-claro — gaguejou, ficando vermelho. Com isso, mais dois saíram da mesa. Momo suspirou, vendo-se ali, sozinha. Levantou-se da sua cadeira, seguindo em direção à quinta divisão.

A intenção de Hinamori era adentrar nos seus aposentos e descansar o máximo que pudesse pelas próximas cinco horas, mas hesitou em fazê-lo ao passar pela porta do quarto do seu antigo capitão. Desde quando ele fora preso, Momo entrara no seu quarto todos os dias para "conversar com ele". Já era algo enraizado em sua rotina, tão natural quanto escovar os dentes, ou ir trabalhar.

Inspirou fundo enquanto os seus pés trêmulos levava-a até o cômodo abandonado. Ela levantou o olho do chão para a sacada, e parou, atônita, ao ver ele em pé ali.

As sobrancelhas estavam franzidas, mas não por causa da sua frustração e impaciência usual, e sim pela melancolia e agonia estampadas no seu rosto. O mar turquesa estava tomado de dor, e os seus cabelos brancos brilhavam com a luz prateada da Lua.

—Shi-Shiro-chan... — gaguejou, caindo de joelhos em meio a soluços e lágrimas quentes.

Usando o shunpo, Hitsugaya envolveu Hinamori em seus braços, abraçando-a mais forte possível.

— É-é engraçado como vo-você me segura como se eu fosse a coisa mais importante do mundo. — comentou, engolindo um soluço, lutando para falar.

— Shh, Momo-chan. — ele levou uma de suas mãos até os seus cabelos negros, afagando-os.

Aquilo era simplesmente indescritível para Hinamori a tristeza profunda, a sensação dos toques calmantes de Hitsugaya.

Os nós tensos de suas costas cederam sob os dedos delicados que os acariciavam. Momo abaixou sua cabeça, a testa pousando no ombro de Toushiro. Seu nariz percorreu a curva do pescoço, que não era coberto pelo kosode ou pelo haori. Inspirou fundo o perfume que somente este shinigami de cabelos prateados tinha. Podia ser coisa de sua mente, mas para ela até mesmo o cheiro de Hitsugaya era gélido.

Uma de suas mãos encontrou apoio nas costas do garoto, e a outra enterrou-se nos seus cabelos macios. Suas lágrimas ainda não tinham parado de fluir livremente de seus olhos vermelhos e inchados.

Sentiu um toque frio num dos seus pulsos, Toushiro tirando a mão que estava em suas costas para beijar-lhe a palma.

Calafrios percorreram pela espinha de Hinamori, e ela ajeitou-se mais confortavelmente entre as pernas do capitão, suspirando ao sentir os braços de Hitsugaya envolverem a sua cintura. Fungou, seu choro cessando as poucos. Tirou sua cabeça do ombro dele, afastando-se minimamente para poder vê-lo.

Os olhos que antes estavam recheados de pena, agora mostravam puro alívio. Suas mãos foram para a parte de trás do pescoço dela, fazendo massagem em movimentos circulares.

— Vo-você está falando sério? — gaguejou devido à emoção que sentia. Seus olhos estavam arregalados, cética com a notícia que recebera.

— Sim. — Aizen sorriu solenemente com a repentina informalidade da garota. — Eu quero que você seja a tenente do quinto esquadrão. — ele saiu de onde estava, em pé ao lado da janela, para postar-se atrás da cadeira na qual Hinamori estava sentada. Sousuke curvou-se sobre ela para falar ao pé do seu ouvido: — Eu desejo que você seja o meu braço-direito. — sussurrou, seus lábios roçando levemente no lóbulo da sua orelha.

— Shiro-chan — começou, a voz falhando — Eu prometo que...

— Não. — Hitsugaya a interrompeu, sendo o mais delicado possível. — Sem promessas. Promessas transformam-se em fantasmas que nos amaldiçoam quando não as cumprimos.

— Tem razão. — assentiu a garota. — E as pessoas só fazem promessas quando precisam de estímulo, e este não é o meu caso. — disse, pausadamente. — Porque o seu sorriso é o suficiente para mim. — pausa. — Eu não vou mais chorar porque isso machuca nós dois, e eu nunca me perdoaria por deixá-lo triste. — ela engoliu em seco, nervosa — Eu amo você. Muito. E quero ser a razão pela qual você sorri.

— A-ah, bom, eu... — fechou fortemente os olhos, perdendo o fio da meada. Mordeu o lábio inferior, tentando pensar claramente. Inspirou fundo, e percebeu que inconscientemente a sua cabeça inclinara-se contra o ombro do capitão.

— O quê houve, Momo-chan? — perguntou, um sorriso aparecendo em seus lábios enquanto ele afastava-se até o outro lado da escrivaninha, sentando-se na sua cadeira — Eu tenho permissão para chama-la assim?

Aquele "eu amo você" podia ser interpretado de diversas formas, mas não era preciso mais do que essas três palavras para que a mensagem fosse entendida entre eles dois.

Sem responder nada, Toushiro levou suas mãos da cintura para o cabelo de Momo, tirando o pedaço de tecido que protegia o seu coque, desfazendo o mesmo. Hitsugaya sorriu minimamente ao observar os cabelos de Hinamori caírem feito cortinas emoldurando o seu rosto.

Momo fechou os olhos com a sensação do seu cabelo tocando confortavelmente no seu pescoço, de uma forma quase que protetora. Sentiu a respiração de Toushiro aproximar-se quente no seu rosto.

Tremendo de expectativa, ela diminuiu a distância entre eles. Hinamori queria que Hitsugaya desse a iniciativa, e um sorriso formou-se em seus lábios quando enfim o garoto beijou-lhe.

— Cla-claro, Aizen-taichou. — assentiu rapidamente, piscando algumas vezes. Aquilo era atormentador a forma como ele a manipulara instantes antes, de forma tão brusca e repentina.

— "Claro" de eu posso chamá-la de Momo-chan ou "claro", você aceitou o cargo de tenente? — o sorriso brincalhão alargou-se em seus lábios.

— Claro para ambos. — sorriu também. — Espero dar conta de todo o trabalho... — pensou em voz alta.

— Você conseguirá, Momo-chan. — assegurou-lhe, levantando da cadeira. Hinamori ergueu uma sobrancelha enquanto observava o capitão pegar algo dentro de uma das gavetas da escrivaninha, logo em seguida parando em frente à garota.

Frio. Esta única palavra definia tudo o que Momo sentia. Então tornou-se algo mais conflitante ao sentir as mãos de Toushiro irem novamente até sua cintura, pressionando o seu corpo contra o dela. A tenente envolveu fortemente os seus braços no pescoço dele, feliz por aumentar o contato entre eles dois.

Ela suspirou de satisfação ao sentir os cabelos sedosos e prateados entre os seus dedos, e Hitsugaya aproveitou esse momento para tocar o lábio superior dela com a sua língua. Pedindo permissão, pensou Hinamori. Sempre um cavalheiro.

Sua boca fechou-se na ponta da língua do garoto, provocando-o. Em seguida o deixou beijar-lhe devidamente. Era estranho o pensamento de ser "a experiente" no momento. Pelo menos era o que ela supunha Toushiro não lhe contara nada sobre beijar garotas , sendo que ela já beijara alguns garotos quando ainda estava em Rukongai.

Afastaram-se, Momo arquejando por falta de ar. Um sorriso desenhou-se em seus lábios ao ver o capitão da décima divisão com as maçãs do rosto coradas. Logo Toushiro surpreendeu-a, quando ele a virou de forma que suas costas encaixassem no peito dele.

Ele ajoelhou-se no chão, mostrando o que estava em suas mãos: um pedaço de tecido de um tom claro de verde, e uma fita da mesma cor. Aparentava ser um pouco infantil, mas Momo não reclamou.

— Vire-se. — pediu Aizen, sorrindo, e assim Hinamori o fez, hesitante quanto às intenções do capitão. Ela sentiu seus cabelos serem presos, atados provavelmente pela fita vira, também sendo cobertos pelo pedaço maior de tecido. Sousuke afastou-se, fazendo com que Momo pudesse ver o seu reflexo no vidro da janela do escritório.

Ainda sentada sobre o seu colo, ela preferiu aproveitar a posição confortável na qual se encontrava. Fechou os olhos novamente, apoiando sua cabeça no ombro de Hitsugaya, inspirando fundo enquanto tinha aquela sensação de calma que sentira falta nos últimos meses.

Uma das mãos de Toushiro saiu de sua cintura, subindo num ritmo vagaroso. Os pelos de Hinamori enriçavam no local onde ele a tocava, enviando calafrios pelo seu corpo inteiro. Ele passou a mão por cima do seu umbigo, subindo lentamente até o centro do seu peito. Ele sentiu o relevo da cicatriz do ferimento que ele causara, e percebeu como Momo nem abrira os olhos com o movimento.

— Então afinal você me perdoou. — disse, sua voz soando profunda.

— Acho que eu nunca de fato culpei-o por algo. — respondeu, ainda de olhos fechados. — Talvez eu simplesmente tenha me livrado dessa prisão na qual Sousuke me prendera. — refletiu, ajeitando-se de forma mais confortável no colo dele, e ela não pôde ver o meio-sorriso orgulhoso que apareceu no rosto de Hitsugaya. Agora ele é Sousuke, hm?, riu dentro de sua mente. — Agora silêncio porque eu quero dormir. — resmungou feito uma criança mimada, e o garoto teve problemas para reprimir a risada que ameaçava irromper. — Sua tenente me arrastou para o bar e agora estou com ressaca.

— Eu sei. — Hinamori escutou um sorriso em sua voz. — Eu senti o gosto de saquê na sua boca. — o seu tom agora era envergonhado.

— Então espero que isso tenha deixado as coisas mais interessantes. — murmurou, sua voz arrastando-se enquanto caía no sono.

— U-uau... — ela não sabia ao certo o que dizer. O seu rosto, que antes era constantemente coberto pelo seu cabelo negro, agora estava totalmente a vista. Os seus cabelos sedosos estavam presos num coque, com o tecido verde protegendo-os. — Obrigada, Aizen-taichou. — sorriu. — Não pense que eu não gostei, mas... Mas por que tudo isso? — virou-se para ele, curiosa.

— Porque eu gosto de mulheres que usam coque. — deu um sorriso misterioso, antes de virar-se para a janela, dando as costas para a menina, num claro sinal de que ela estava dispensada.


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