O Castelo Dos Sem-Olhos. escrita por marina bogoeva


Capítulo 1
Os corredores.


Notas iniciais do capítulo

5 patinhos foram passear, além das montanhas para brincar.... ~~~~



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   "Quando o Sol voltar, irei me animar”.  Ele repetia, cavando um buraco naquele chão praticamente seco. Aquele era seu mantra. Seu remédio para um conforto psicológico completamente falso. Olhava perdidamente para os lados e para o céu, seus cansados e cadavéricos braços se erguiam quase em um último espasmo, limpando o suor que descia desde seus calvos cabelos brancos até a bochecha, fazendo um rastro que lhe arrepiava tal epiderme velha e escassa, desgastada pelo tempo que fora perdido.  Esse, como ele mesmo costumava dizer, era o único sinal de vida que ele possuía. Seu cansaço já se tornara tão comum que era tratado como um fator natural de sua vida monocromática.

  Foi em uma dessas tardes de verão –pelo menos ele achava que era verão, afinal, não tinha nenhuma noção de tempo- que lhe surgiu uma curiosa figura farejando algo para comer naquele chão marrom. Pulando a cerca de uma das casas e indo de encontro ao velho, uma raposa faceira lhe fez carinho nas pernas, roçando gentilmente seu pelo macio nas pernas finas do homem, que tinham a pele esticada revestindo os ossos. Suas veias ficavam á mostra como se estivessem saltadas. A falta de energia era tanta que suas pernas tremiam e parecia que ele poderia cair a qualquer momento. De repente, em um salto a raposa se foi. E, do mesmo modo rápido, um impulso elétrico fez com que o velho começasse a correr. Ele tombava, tremia mais ainda, cambaleava, mas nada o fez tirar da mente a ideia de que um ser divino lhe mandou a raposa como aviso e, para onde quer que ela esteja indo, é um lugar melhor do que aquele. E, novamente de modo fugaz, seu ar desapareceu por completo pelo esforço que fazia. Caiu. A apneia foi eminente e lhe rasgou os pulmões.

   Seguindo os rastros que a raposa deixara, eis que surge um belíssimo, eloquente, perverso e devastador castelo. Beirava as antiguidades. Era grande, imponente, com suas torres cinza e suas estátuas de mármore que louvavam os céus. Mesmo com tanta opulência, parecia estar abandonado a muito tempo. Todavia, que visão majestosa, deveras gratificante. A raposa, por outro lado, já não se encontrava mais no lugar e reaparecendo em sua própria história, o velho adentrava os portões da fortaleza. Notou-se rapidamente uma estaca grossa atravessando sua cabeça. O sangue jorrava e se escorria por sua nuca e costas, fazendo um caminho sinistro.  Mas ele parecia não se importar.

   Andando calmamente, observando a entrada, “abrindo a capa do livro” recebeu como “prólogo” a visão perturbadora de outros três senhores, um pouco mais velhos que ele próprio, jogados e empilhados um no outro com cordas em seus pescoços e amarras em suas mãos e pés. Suas peles em decomposição e insetos morando em buracos oportunos –como, por exemplo, o buraco dos olhos que lhe foram arrancados- e feridas abertas provaram que eles estavam ali á um bom tempo... Mas como? Por quê? Sem reação alguma o velho adentrou o castelo, coçando a cabeça desfigurada enquanto banhava-se em seu próprio sangue.

  A imagem era tétrica no interior do castelo. Salas como masmorras, porém nas paredes, exibiam homens e mulheres feridos. Eram milhões de corredores assim, algumas salas com apenas homens, outras exclusivas para as mulheres e, uma especial, em que havia diversas crianças formando uma pirâmide, todas horrível e brutalmente mortas e machucadas. O velho parecia o próprio carrasco dos tão adoráveis jovens daquele lugar, passando com as mãos para trás, pingando seu sangue por onde pisava, observando a todos sem reação. Sem emoção.

  Devo falar que me chamou a atenção uma coincidência, ou quem sabe algo em comum entre todos ali dentro, naquele teatro de carnificina: Todos eles estavam abraçados com um órgão. Sim, seus órgãos estavam para fora e eles os abraçavam de forma desesperada, mas em seus olhos a única coisa que escorria era a serenidade. A calmaria era tanta que o silêncio ensurdecia. Um homem deitado no chão, encolhido, abraçado calorosamente com seu próprio pulmão. Ou a mulher carregando o filho prematuro e seu útero juntos. E até mesmo aquela senhora cujos braços enrugados e cansados seguravam dezenas de corações ainda pulsantes. Todos. Absolutamente todos estavam agindo civilizadamente. Até o velho que apenas observava, ainda com aquela coceira em sua cabeça perfurada.

  Macabro, insuportável, arrepiador... Pode sim ser tudo isso. Mas se encontrar um castelo, não pense que ao entrar irá se deparar com uma Rapunzel clamando, almejando a ajuda de um belo rapaz. E sempre observe o que tem acima de sua cabeça. Em todos os casos, nunca siga a esperta raposa...


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Notas finais do capítulo

É isso aí minhas estrelinhas de nêutrons. Foi perturbador o sonho. Quem sabe não surge ai uma segunda parte, haha. ~



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