Nossos olhos se encontraram por um momento.

Edward, agora não mais corado, segurava meu rosto com suas mãos.

Ele tentava falar, mas algo parecia o impedir.

Seus olhos, assim como os meus, pareciam arder, estavam vermelhos.

Finalmente, depois de uma longa conversa entre nossos olhos e lágrimas, resolvi falar alguma coisa.

- Edward... – murmurei. Dei uma pausa.

- Sim? – ele respondeu, tentando me reconfortar deslizando seus polegares sobre minhas bochechas.

- ... me promete que não vai me deixar? – eu não conseguia pronunciar as palavras corretamente. O choro, que por um momento tinha me deixado, agora estava entalado na minha garganta, apenas por pensar que Edward um dia poderia me deixar, me esquecer, não permanecer junto comigo pra sempre. Não me fazer feliz.

- Prometo. – ele beijou minha testa, e me abraçou.

O calor do seu corpo me fazia esquecer da neve, do vento. Com meus olhos fechados eu podia ouvir sua pulsação. Sua respiração.

Assim como sempre fez para me acalmar, ele agora dava beijinhos em meu pescoço, e mexia em meus cabelos.

Por um momento eu pude esquecer da situação em que estávamos. Poderíamos estar a sóis num lugar onde não há preocupação, ou medo. Poderia sentir o que nunca senti antes. Poderia me apaixonar pela primeira e última vez. Poderia voltar a ser feliz.

Mas por acaso, acabei abrindo os olhos. E todo aquele sonho desapareceu, vindo seguido por uma onda de pânico.

- Já chega. – eu disse, me desenroscando dele e me levantando.

- Ahn... – ele me olhava com uma cara de dúvida. Por um momento pensei ter visto um ponto de interrogação em sua testa.

- A gente não pode mais ficar aqui! É perigoso!

- O quanto?

- Eles sabem onde estamos. Sabem que não estamos mais presos, e nós sabemos que eles podem vir aqui a qualquer hora e nos matar. Fiquei sabendo dessas mortes aqui. Esse certamente é o pior lugar.

- Eu sei o que você passou, também passei por momentos ruins aqui, e nem por isso estou te pedindo pra ir embora!

- Você também deve saber que eles podem nos matar aqui, certo?

- Se eles quisessem nos matar mesmo, não estaríamos com uma filmadora em mãos, estaríamos mortos!

- Nós não podemos ficar aqui nem mais um segundo!

- Está nevando! Está frio! Estamos num lugar deserto, o melhor a fazer é sair quando estiver claro!

- Pare de manha, Edward. Agora vamos embora! – o puxei para se levantar, me esquecendo totalmente de seu braço. O fazendo gemer de dor. – Me desculpa Ed!

- Não foi nada... Pode... – ele me olhou com certa tristeza. - ... pode ir.

Ele se levantou, ainda gemendo, recusando minha ajuda.

Olhei para seus olhos por um último momento, antes de vê-lo dar meia volta e andar até o cômodo em que havíamos ficado por algum tempo.

Fitei-o até ele sumir de vista no corredor.

Ele me olhou pela última vez, e virou à esquerda.

Fiquei parada ali. Ainda pensando se sair de lá, sem Edward, era a escolha certa.

Nenhum de nós deveria estar ali. Nenhum de nós merecia morrer.

Mas o único que parecia não entender aquilo era ele.

Pensei em desabar. Pensei em ir correndo atrás dele.

Eu estava sendo criança? Criança demais?

Ou ele estava sendo?

Nos separamos, e eu agora estava sem rumo.

Para onde iria? Como saberia que Edward estava bem?

Se eu ao menos fosse segura de mim mesma. Não me perguntasse sempre o que fazer.

Seguisse o coração, como todos dizem.

Resolvi ir ao cômodo, e vi Edward sentado naquilo que já chamei de cama uma vez. Com as mãos tampando os olhos e os cotovelos apoiados nos joelhos.

Ele parecia estar chorando, a julgar por seus ombros que chacoalhavam.

Fiquei em pé na sua frente por um instante.

Pigarreei.

Ele me olhou surpreso, com os olhos cheios de lágrimas.

- Você veio... - ele já ia abrindo seus braços em minha direção.

- Eu vim pegar minha blusa. - tentei falar com uma voz firme, que não demonstrasse o que eu realmente estava sentindo naquele momento.

- Oh... - ele me olhou triste. - Pode pegar... - tirou a blusa e me entregou. - Ela só está um pouco manchada de...

- Obrigada. - peguei a blusa e me virei para ir embora.

Parei de andar por um instante. Me virei. E percebi que Edward ainda estava parado me olhando. Com lágrimas nos olhos.

Tentei me conter ao impulso de voltar correndo e abraçá-lo.

Mas só tentei.