Uma dor desconcertante estava indo e voltando. Ainda tudo permanecia negro e nada se podia ouvir. Até que um flash de memória fez com que Eldrwin despertasse do seu sono como se estivesse saindo de um profundo rio que apenas o tragava para as profundezas.

Ele estava em sua cama e aparentemente estava tudo bem. Olhou em volta e avistou a janela de seu quarto que estava aberta fazendo adentrar na casa um vento fresco ainda do inicio da manhã.

—Eu... Estou vivo? Declarou Eldrwin enquanto olhava assombrado para as próprias mãos.

—SIM! Você está.

Uma voz soou ao ouvido de Eldrwin. Uma voz rouca, mas que parecia penetrar nas entranhas. O jovem imaginava ser um inimigo, porém teve uma surpresa.

Ao seu lado se encontrava um senhor de barbas longas, cabelos longos cinzentos, e olhos amarelados e cansados pelo tempo. Estava sentado em uma cadeira vestindo uma túnica cinzenta e do seu lado, flutuando, se encontrava um cajado prateado envolto por um brilho azul.

—Jedah! Exclamou Eldrwin em voz alta. –Jedah me fale agora o que aconteceu comigo na noite anterior? O que eu fiz e como eu vim parar aqui? E Kairou o que aconteceu c...

—Silencio! Disse Jedah firme e calmamente ao mesmo tempo em que ia se aproximando de Eldrwin. –É preciso que você saiba de algo.

—O que é? Insistiu Eldrwin enquanto envolvia os dedos sobre o cobertor o apertando sem dó.

—Você agora... É detentor assim como eu, Kairou, e vários outros da chamada Força Mística.

Por um momento Eldrwin gelou. O coração novamente palpitou rápido e um nó foi engolido em seco.

—Eu... sou um místico? Perguntou Eldrwin com a voz tremula.

—Sim você é. É algo totalmente inesperado para mim e acredito que para você também Eldrwin, mas é a mais pura verdade. O que foi feito naquele beco durante a noite anterior, foi algo além do que eu mesmo poderia imaginar de você.

—MAS COMO EU POSSO TER ME TORNADO UM MISTICO? Protestou Eldrwin com o tom da voz elevado.

—Eldrwin você conhece muito bem a historia do nosso povo. O poder é passado de geração em geração. Alguns o desperta outros porém não conseguem este feito. Você o despertou e é um fato que não se pode reverter. Por que não está satisfeito com isso?

Eldrwin se levantou da cama indignado e caminhou até a janela. O sol já começava á espalhar seus raios pelo reino iluminando tudo. O céu estava ficando azul bem claro.

— Meu sonho. Isso pra mim seria um desrespeito. Para com... Você sabe.

— É impressionante. Ele realmente foi um grande chefe da guarda real deste reino. Inacreditável o que ele fazia e tudo isso sem a força mística. Mas não acho que ele consideraria isso como um desrespeito Eldrwin. O sonho dele desde quando descobriu que seria pai, era de ver o filho assumir a posição que ele assumiu independente de poderes ou não.

—Mas eu não passaria as dificuldades que ele passou. Seria injusto.

Eldrwin suspirou. Realmente falar do pai era algo para ele difícil de fazer. Ele olhou para a cabeceira de sua cama e viu sua espada que parecia ainda mais brilhante bela do que antes.

—Eu preciso saber mais sobre este poder Jedah. E também sobre o que aconteceu na noite anterior. O que houve com Kairou?

Jedah neste instante se levantou e pegou seu cajado prateado com a mão esquerda e ele parou de flutuar.

— Ele está bem. Está em casa e possivelmente está dormindo e se o conheço bem, continuará assim até de tarde.

Eldrwin então olhou para seu mestre com uma expressão de incompreensão estampada no rosto.

—Até de tarde? Mas e o treino de hoje?

—Não haverá treino hoje Eldrwin, por isso descanse. Respondeu Jedah fazendo Eldrwin ficar com uma expressão ainda mais intrigada do que antes. O jovem estava percebendo que algo muito errado estava acontecendo.

—Jedah o que está para ocorrer? Não é nada normal o treinamento ser cancelado dessa forma.

—Seja lá o que estiver de acontecer. Você saberá. Tenho que ir.

Jedah se dirigiu a porta do quarto para poder ir embora, porém Eldrwin o acompanhou freneticamente até a sala e antes que o velho tocasse a porta, ele ouviu algo de seu aluno que não gostaria de ouvir.

—O que os guerreiros negros que atacaram á mim e Kairou têm haver com isso Jedah? Me responda!

Um silencio pairou ali por alguns segundos.

—...Você saberá Eldrwin.

Nesse instante Jedah abriu a porta e permitiu que a luz entrasse e iluminasse a sala. Eldrwin, porém protestou mais uma vez.

—Jedah eu preciso saber o que está acontecendo!

Nesse instante a porta se fechou e por pouco não acertou o rosto de Eldrwin que ainda tentou não fechá-la. Quando á abriu ele continuou á falar aos berros se dirigindo á Jedah.

—Eu sou um guerreiro deste reino e eu preciso saber se...

Não havia mais ninguém á porta. Ele olhou para os dois lados da rua que seguia longinquamente. Jedah havia sumido e isso fez brotar uma floresta de duvidas na cabeça de Eldrwin.

—Alguma coisa está acontecendo –Disse o jovem – Eu preciso descobrir o mais rápido possível. Preciso encontrar Kairou agora!