Ah! As estrelas... elas poderiam ser tão inspiradoras, não? Combinadas com o ar fresco da noite formavam um ambiente agradável, em que a brisa poderia atingir diretamente os corações de jovens que ainda não haviam descoberto a profundidade do amor.

Junto com o ambiente, haviam as borboletas noturnas, também chamadas mariposas. Com suas asas delicadas, pareciam querer passar toda a pureza do sentimento aos que não desejavam sentir. Aos que não podiam sentir. Aos que falhariam, se indignariam, se revoltariam se sentissem.

Isso tudo compunha o cenário que embebedava os olhos de quem quer que fosse. Humano ou não. Normal ou não. Apaixonado ou não.

Esta noite era exatamente assim. Com todas essas estrelas e borboletas, e amores ocultos. Amor de quem receava confessar.

- Mikuru-chan, o que está fazendo? Não é hora de tricotar! Venha, venha depressa! - Suzumiya Haruhi ordenava para a pequena ruiva, antes encolhida em um canto qualquer com duas agulhas e um novelo de lã.

- M-mas... e-eu precisava terminar, pois é um trabalho para a aula de semana que vem - tentava protestar, sem forças, a garota.

- Não se incomode com isso! Siga o exemplo do Koizumi-kun, que já está procurando um sinal misterioso no céu. Veja, até a Yuki achou um lugar para a busca! - alegava a empolgada chefe da Brigada SOS, apontando para os outros membros.

E ambos realmente seguiam, à risca, as ordens de Haruhi. Enquanto Mikuru e Kyon pareciam exaustos pelas atividades anteriores daquele primeiro dia de feriado, Koizumi e Nagato observavam atentamente as estrelas, com as borboletas pairando sobre o terraço. Ele, porque considerava isso como diversão; sempre gostara de ter uma visão ampla dos céus. Ela não tinha um motivo certo; lia sobre estrelas e constelações em livros, considerava-as interessantes, mas há como suspeitar de que procurava encontrar o lugar de onde viera em meio àquela imensidão negra.

Durante, aproximadamente, duas horas, todos permaneceram bem acordados, mantendo conversas sobre assuntos variados. Mas o cansaço começava a incomodar os olhos, indicando que o sono falava mais alto. E foi assim que apenas o esper e a alienígena continuaram despertos.

- Linda noite, não? Tão cheia de estrelas e de complementos interessantes... - analisava o rapaz, mantendo o sorriso já comum na face, enquanto a brisa brincava com seus cabelos castanhos - Isso lhe agrada, Nagato-san?

- Parcialmente - com uma pronúncia automática, ela respondera. Mas os olhos brilhantes indicavam que parecia se divertir.

- Quando foi criada pela Entidade de Dados, o primeiro elemento natural que adicionaram ao seu armazenamento foi o céu, não foi? Aposto que disseram que não poderia vir para cá sem saber o que era.

- Sim.

- Tem ideia da razão? Sabe por que não poderia vir sem ter esse conhecimento?

- Porque toda a porcentagem que faz parte deste planeta, tanto constituída por terra ou por água, analisada de qualquer direção, é sobreposta por este elemento denominado céu.

Koizumi riu discretamente pela explicação tão formal e já esperada.

- Não, Nagato-san. É porque o céu é o lugar onde ficam as estrelas.

A alienígena inclinou levemente a cabeça, mostrando-se desentendida. A lógica da frase parecia não ter surtido efeito em sua mente. Ele compreendera aquele gesto como um sinal de que precisava dar uma explicação.

- Estrelas... corpos celestes luminosos compostos de plasma. O brilho chama a atenção dos olhos. Os olhos são atingidos pela luz, o coração clareia. O coração clareia e então vêm as borboletas, que sobrevoam o céu. As borboletas são agradáveis, aquecem o sentimento. E é assim que alguém se apaixona; com o coração claro e o sentimento aquecido.

Yuki abaixou os olhos. Parecia estar se esforçando para conseguir atingir a compreensão. Itsuki sorria mais.

- Aposto que não sabe o porquê de eu lhe dizer algo assim. Não acha que Suzumiya-san e Kyon formam um bom casal? Um casal de futuros amantes.

- Presumo que sim - ela também tinha conhecimento do que aconteceria se Kyon e Haruhi não ficassem juntos. Talvez estivesse seguindo apenas a razão da lógica ao dar sua resposta ao esper.

- E não acha que você e eu formaríamos um bom casal? - ele não a encarava mais. Os olhos do rapaz focavam um ponto específico do céu, enquanto os dela seguiam uma borboleta.

Porém, era hora de tomar uma atitude. Vacilante, o esper andou em direção à Yuki. Sabia que ela não iria responder; provavelmente, nem ao menos entendera a razão das palavras ainda. Mas ele estava disposto a fazê-la compreender. Não queria medir esforços pra isso; aproveitaria a chance única lhe dada naquele momento.

Uma das mãos contornou a cintura da jovem, aproximando-a dele, enquanto a outra passeava pela face alva. Então, segurou o rosto dela.

As faces já estavam bem próximas, os pares de olhos brilhavam, encarando uns aos outros. Os dela, ligeiramente confusos; os dele, determinados. E foi então que uma borboleta pousou no nariz da alienígena. Uma borboleta pequena e azul, entre tantas mariposas opacas.

A situação era tão constrangedora que fez Koizumi rir; o rosto levemente avermelhado estava sendo coberto pela mão, enquanto o riso ecoava. Nagato encarou-o de lado, com o bicho ainda pousado na face. Itsuki a observava. Pensara ter visto um relance de sorriso no rosto sem expressão dela, mas isso seria impossível.

- Meu coração já está claro e os meus sentimentos aquecidos, Nagato-san - disse, sorrindo.

Aproximou-se novamente, sem hesitar. Pegou, delicadamente, a borboleta, depositando-a em uma superfície qualquer. E beijou a alienígena. Um beijo cálido, meigo. Curto, porém significativo; demonstrava os sentimentos que ele guardava há algum tempo. Ao se afastarem, a voz baixa dela pronunciou, em um murmúrio:

- Talvez...

Não dissera nada mais que essa única palavra, mas ele entendera. Ele entendera o que ela quis dizer. Talvez eles, de fato, formassem um bom casal...

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