Deixei Carmen dormindo e fui fazer o café da manhã. Comecei a limpar a casa depois disso. Duas horas depois ela acorda e me encontra na sala.

- Amorzinho, quer ajuda?

- Não precisa. – Dei um beijo de bom dia nela. – Fiz o café da manhã.

- Vou lá comer alguma coisa. Já combinou com a Alice e com as outras?

- Já. Elas devem chegar lá pela nove da noite.

- E por falar em Alice, é ela te ligando. – Carmen me entregou o celular.

- Shane, só vi sua mensagem agora.

- Olá pra você também Alice. Pelo jeito sua noite foi boa.

- E por onde você se meteu?

- Precisava ficar sozinha, pensar um pouco na vida. Avisou o resto das meninas?

- Já, liguei para elas antes de ligar para você. O que conta de novo?

- De noite você vai saber. Até logo Alice, preciso sair para comprar algumas coisas para mais tarde. – Desliguei o telefone e olhei para Carmen.

- Precisa mesmo sair? – Ela me perguntou com um olhar triste.

- Sim. Preciso comprar algumas coisas. – Peguei a chave do carro em cima da mesa de centro. – Volto logo, se alguém chamar não saia. – Dei um beijo nela e sai.

Dirigi umas quadras e já estava no mercado. Comprei um pouco de cerveja, refrigerante e coisas para preparar alguns petiscos. Dez minutos depois estava de volta. Ela estava na cozinha preparando um café da tarde.

- Voltei. – Comentei.

- Nossa, foi rápido.

- Também achei. – Peguei as cervejas e os refrigerantes e coloquei na geladeira.

- E os aperitivos? – Carmen perguntou.

- Já comprei pronto para passar mais um tempo com você hoje.

- Que bom. – Ela fez um carinho em mim.  – Comprou copos descartáveis?

- Sim, está na sacola no sofá.

- Quer que eu ajeite para você?

- Não precisa, depois faço isso. Sem falar que você vai ter que fazer o que combinamos para tudo dar certo.

- Ok.

- Você poderia ligar o rádio e ver se tem alguma coisa nova.

- Boa ideia. – Ela falou.

Terminei de arrumar tudo para de noite. Carmen e eu deitamos no sofá e ficamos pensando em diversas coisas.  Principalmente no cara de nossas amigas. Olhei para Carmen que parecia um pouco nervosa com isso tudo, mas era o certo. Nossas amigas nos enganaram e estava na hora de dar o troco. Beijei sua cabeça e ficamos em silencio. Meu celular despertou as sete da noite. Tomei um banho e depois foi a vez de Carmen.

- Shane, me ajuda com o zíper desse vestido? – Ela me pergunto parada em frente ao espelho.

- Claro. – Consegui subir o zíper e olhei para nossos reflexos no espelho. – Você está linda nesse vestido.

- Obrigada. Você também não esta nada mal. – Falou ajeitando minha camisa social e abotoando mais um botão da camisa. – O que acha se eu passar um batom vermelho?

- Prefiro algum que seja mais claro.

- Obrigada.

- Daqui a pouco elas vão começar a chegar. – Dei um beijo nela. – E vou sentir um pouco de saudades de você. – Ela ficou de frente para mim.

- Eu sei, também vou sentir. Mesmo que seja só um pouquinho. – Dessa vez ela que me beijou. A abracei. – Boa sorte com elas lá na sala. Daqui a pouco estarei junto de você lá.

- Obrigada. Pousei um beijo em sua bochecha. – Ouvi a campainha tocar.

- Acho que agora você precisa ir.

- Se não tem outro jeito... vejo você daqui a pouco. – Sai encostando a porta do nosso quarto.

Fui ate a sala e abri a porta. Estavam quase todas ali. Só estava faltando Bette e Tina. Cumprimentei cada uma delas, Alice, Helena, Dana e Jenny.  Elas se sentaram no sofá depois de eu o oferecer para elas. Alguém quer cerveja? – Perguntei. Todas responderam. Peguei uma lata para cada uma. Sentei perto delas e a primeira a disparar uma pergunta foi a Alice que não estava mais se contendo.

- Por onde você esteve? – Alice me perguntou.

A campainha tocou e só podia ser Bette e Tina. Levantei-me e abri a porta. Cumprimentei as duas e elas se sentaram. Sentei no meu lugar.

- Respondendo a sua pergunta Alice: eu aproveitei para prolongar um pouco mais o tempo da colônia e resolvi sair por ai sem rumo.

- E chegou quando? – Jenny perguntou.

- Ontem a noite. – Respondi.

- Por isso não apareceu ontem na nossa reunião? – Helena perguntou.

- Nem tinha como, eu estava na estrada.

- Muito estranho. – Alice comentou.

- Alice, não pira. A Shane parecia o capitão caverna de tanto ficar aqui dentro e quando ela resolve sair você fica desconfiando. – Helena comentou. Todas riram.

- E sobre o que vocês comentaram ontem? – Perguntei.

- Sobre o mal humor da Alice. – Tina comentou.

- Eu nem estou de mau humor. – Alice tentou se defender.

- Você está se contorcendo ai por algum motivo. - Bette comentou antes de beber um pouco de cerveja.

- Não estou não.

- Não tente mentir para si mesma Alice. – Jenny comentou. – Você pode ficar com a fama do Pinóquio.

- Deixa ela se contorcer de raiva ou sei lá o que, daqui a pouco isso passa. – Comentei. Levantei para pegar alguns petiscos que tinha comprado e servi para elas. Já tinha passado uma hora desde a chegada delas. Olhei para o relógio na parede e desviei meu olhar para ver como a Alice estava. Ela parecia me fuzilar só de me olhar. Levantar agora seria muito suspeito. Tinha que ficar mais um pouco ali.

- E como está o seu livro Jenny? – Perguntei.

- É mesmo, eu tinha me esquecido. Já arrumou uma editora? – Dana perguntou.

- Já consegui sim e estou quase terminando.

- E sobre o que se trata? – Helena perguntou.

- É sobre um amor mal resolvido entre duas pessoas. – Jenny respondeu.

Isso me fez pensar o quanto elas estavam apreensivas e desanimadas por o plano que elas tinham não terem dado certo. Levantei e Alice me interrompeu.

- Onde você vai?

- No banheiro.

Ela me deixou ir. Entrei no quarto e vi Carmen sentada na beira da cama. Olhei para ela que entendeu o que eu queria dizer sem emitir uma palavra.  Ela balançou a cabeça. Dei um beijo rápido em seus lábios para acalmar os ânimos. Saímos do quarto de mãos dadas, nossos dedos entrelaçados. Aparecemos na sala e a cara da Alice foi a mais engraçada. Todas ficaram admiradas.

- A sua historia de amor mal resolvido seria esse Jenny? – Perguntei quando apareci na sala com Carmen ao meu lado.

- Olá meninas. Surpresa! – Carmen falou. Todas responderam com um “oi” e foram abraça-la. Voltamos a nos sentar na sala.

- Eu não estou entendendo nada. – Alice comentou olhando para mim. – A Carmen não deveria estar no México? – Todas passaram a me olhar.

Sentei na minha poltrona e Carmen sentou-se em uma das minhas pernas.

- Pelo jeito a coisa é séria. – Jenny comentou. Carmen e eu nos beijamos.

- Nem precisam responder. – Bette comentou.

O mais estranho era a Alice estar quieta. Dava para ver a felicidade delas por nos ver juntas novamente. E é ai que a Alice resolve abrir a boca.

- Fico feliz por vocês terem voltado. Quando foi isso? – Alice nos pergunta.

Carmen olhou para mim e eu comecei a rir. Ela também. Nossas amigas não entenderam nada. Depois que nos recuperamos.

- Um dia depois que eu descobri que ela estava no mesmo quarto que eu. – Respondi.

- Vocês mentiram para a gente esse tempo todo? – Alice questionou. As outras só olhavam e bebiam cerveja. Possivelmente já sabiam aonde isso ia dar.

- Vocês mentiram para a gente primeiro. Mais a gente agradece o que vocês fizeram. – Comentei. Carmen preferiu não falar nada.

- A gente nem mentiu tanto assim. – Alice comentou. Todas riram do jeito desconcertado da Alice falar.

- Ainda por cima é cínica. Só você mesmo Alice. Aposto que você foi a mente maléfica por detrás disso tudo. – Comentei.

- Tá bom, eu me rendo. Fui eu que tive a ideia. Mais todas elas são minhas cúmplices. – Falou apontando para cada uma das meninas. – Mais como foi isso tudo?

Contei desde a parte que resolvi deixar Carmen no aeroporto. Que fui para o México conversar com a mãe dela novamente e o quão foi mais difícil o que a primeira vez. Elas prestaram a atenção na minha historia.

- Ela ficou com medo de levar uns puxões de orelha da minha mãe. – Carmen comentou.

- Não exagera amor. – Falei e dei um beijo nela.

- Veio para ficar Carmen? – Dana perguntou.

- Não largo essa daqui nunca mais.

Olhei para Carmen e para nossas amigas. Eu entendi o que ela queria dizer com aquilo, mas ainda estava cedo. Precisávamos recomeçar do zero e fortalecer o nosso amor. As primeiras a irem embora foram Tina e Bette, depois foi a vez de Alice e Dana, Jenny saiu alguns minutos depois e Helena foi a ultima a se despedir da gente. Fechei a porta com as chaves.

- Você esta magnífica nesse vestido vermelho. – Fui ao encontro de Carmen e lhe beijei.

- Assim eu vou acreditar mesmo.

- Não estou falando nenhuma mentira. E o que achou?

- O mais engraçado foi a cara da Alice quando aparecemos na sala.

- Também achei.

- E o que você percebeu antes de ir me buscar?

- Sem exceção, todas estavam tão desapontadas e pensando no quão elas falharam com o plano delas.

Retirei minha gravata e juntei as latas de cervejas que estavam na sala. Carmen me ajudou a recolher o lixo que nossas amigas tinham deixado. Depois de juntar a bagunça, coloquei o saco de lixo para fora e Carmen já tinha ido tomar um banho. Assim que ela saiu, eu tomei um banho rápido e me juntei a ela em nossa cama. Liguei a televisão no nosso quarto e a abracei por debaixo do edredom.

- Feliz? – Perguntei depois de algum tempo enquanto assistíamos a um filme na televisão.

- Muito. – Ela respondeu feliz.

- Prometo te fazer muito mais feliz. – Ela olhou para mim e a beijei. Ela sussurrou um “obrigada” e sorriu. A abracei com um pouco mais de força e pressionei meu corpo um pouco mais no seu. Eu senti tanta falta desses momentos que agora tenho todos eles de volta. Inclinei um pouco para dar um beijo em sua bochecha e lhe desejar boa noite, mas ela já estava dormindo com um sorriso nos lábios. Dei o beijo e resolvi fazer o mesmo. Afinal, o mesmo motivo que ela estava sorrindo era o meu.