A noite anterior tinha sido um pouco perturbada. Carmen falando algumas coisas para mim e eu acabei a beijando. Fui tomar meu banho depois da minha atitude inesperada, mas que precisava fazer pois ela não iria silenciar tão cedo. Quando sai do banho, ela estava deitada na cama e dormindo, para não acorda-la, dormi no sofá. Fiquei pensando no que tinha feito e se isso mudaria alguma coisa quando o dia amanhecesse. Quando ela quer, ela se faz de difícil ate não aguentar mais. Fui acordada na madrugada com ela me cutucando.

— Shane, acorde. – Ela falou baixinho.

— Hm.

— Shane, tem alguma coisa ou alguém do lado de fora.

— Carmen, volte a dormir. – Resmunguei.

— Shane levanta agora desse sofá. – Ela me deu um tapa, era mais um soco.

— Caramba Carmen, isso doeu. – Abri a porta do nosso quarto e não vi ninguém. Estava deserto.

— Não tem nada lá fora. Você deve ter tido um sonho ruim. – Falei.

— Dorme comigo? – Ela pediu. Usava uma camisola e eu o meu pijama. Fiquei pensando se deveria.

— Tudo bem. – Ela se deitou, depois foi a minha vez.

Acordei na manhã seguinte e fiquei observando Carmen dormir tranquilamente. Acariciei seu rosto de leve, sua pele macia. De repente ela acorda e encara o meu olhar.

— Você não fez nada comigo de noite, fez? – Ela perguntou em tom de animação.

— Não. Tive um sono pesado. – Respondi.

— Que bom. Poderíamos ter aquela conversa hoje, mas longe daqui, o que acha?

— Melhor mesmo. Podemos ir caminhar na praia ou fazer um piquenique num lugar que vi por lá outro dia.

— Ótimo. – Ela respondeu. – Que horas?

— Ao entardecer. Lá pelas 17h. – Respondi.

— E o que vamos falar para nossas amigas? – Ela perguntou.

— Hm... – Rolei os olhos pensativa. – Eu vou dar um sumiço do nada daqui e você fala para elas que vai caminhar na praia.

— Tudo bem. – Ela respondeu sorridente. Tinha me esquecido que ainda estávamos na cama. Olhei o relógio em meu punho.

— Acho bom a gente se levantar. – Comentei. – Sentei na beira da cama ficando de costa para ela.

— Quer ir primeiro? – Ela perguntou.

— Não, pode ir primeiro. – Respondi. Ela estava se referindo ao banho.

Arrumei a cama e abri um pouco as cortinas deixando a janela um pouco aberta. Tinha estranhado que nenhuma das meninas tivessem vindo nos perturbar mais cedo. Carmen saiu do banheiro e ficou me encarando.

— Que foi Shane? – Ela perguntou ao me ver pensativa.

— Não acha estranho nossas amigas não terem vindo nos perturbar? – Questionei.

— Verdade. Será que elas saíram ontem a noite e chegaram tarde?

— Não sei, isso está cheirando a ressaca.

— Ressaca ou não, é melhor deixar elas quietas.

— Verdade. Quer ir tomar café da manhã comigo?

— Claro. Espera eu me arrumar? – Perguntou indicando o banheiro.

— Claro.

Fiquei sentada na cama cerca de meia hora até Carmen aparecer. Saímos do nosso quarto e fomos até a lanchonete da colônia. Ela usava uma baby look salmão e um short. Eu estava de calça jeans e uma regata preta. Pedi um cappuccino para ela e um café para mim. Tomávamos nosso café da manha, Carmen bebeu um pouco e fez um gesto para que eu olhasse para trás. Virei-me e vi nossas amigas vindo em nossa direção.

— Olha só quem acordou cedo. – Alice começou.

— Pelo jeito a noite de vocês foi ótima. – Comecei.

— Ah como você soube? – Alice entrou na brincadeira sentando do meu lado.

— Alice, cala a boca. – Helena falou irritada.

— O que houve com vocês ontem a noite? – Carmen perguntou.

— Fomos andar no centro, ai a doida da Alice quis entrar numa boate e nos arrastou para dentro. Então ficamos por lá um tempo, bebendo. – Tina começou.

— Sei. – Comentei.

— Shane, se não acredita em mim, espera só ate saber o final.

— Deixa eu terminar de contar Tina? – Helena perguntou.

— Claro. Vou pedir um café, alguém quer?

— Pede um chá para mim Tina? – Bette perguntou.

— Sim.

— Então acrescenta mais um na lista. – Alice falou.

— Qual o final da historia? – Perguntei olhando discretamente para Carmen.

— Enfim... – começou Helena. -...a Alice bebeu demais e fomos expulsas da danceteria. Do lado de fora ela começou a discutir com um policial e por pouco não fomos presas.

— Vocês exageram na historia. – Alice comentou.

— Alice, de tão bêbeda que você estava, falou que ia virar hetero! – Helena falou um pouco alto.

— Essa pessoa não era eu.

— A nossa sorte de não sermos presas é que algumas pessoas tem o bom senso e não beberam.

— E o que vocês fizeram depois? – Carmen perguntou antes de beber seu café.

— Viemos embora porque a Alice estava numa situação deplorável.

— O centro é legal? – Carmen perguntou.

— Tem bastante coisa legal por lá. Você deveria ir lá Carmen. – Bette comentou.

— Estou pensando em ir hoje. – Ela bebeu um pouco de café depois do seu comentário.

— E o que vamos fazer no almoço? – Perguntei.

— Não sei. Acho que vou dormir e me recuperar da noite de ontem. – Alice comentou.

— Você deveria mesmo né Alice, nos fez passar uma vergonha. – Dana comentou.

— A Alice só fez o que já sabíamos o que ela era. – Comentei.

— E o que é Shane? – Jenny perguntou.

— Uma palhaça. – Dei um riso no canto dos lábios e as meninas riram.

— Muito engraçado Shane. Não sabia que você também tinha esse lado.

— Eu não tenho nenhum lado Alice, você que faz coisas erradas por ai e depois quer contar vantagem.

— Que vantagem? – Ela perguntou.

— Não sou eu que estava bêbada. Agora vou dar uma volta pela colônia, coisa que ainda não fiz. Com licença meninas. – Retirei-me da mesa e dei uma volta pela colônia, fiquei na sala de jogos um pouco pensando em alguma coisa. Do parapeito da sala de jogos fiz um sinal para Carmen. Voltei para meu quarto e peguei minha carteira. Caminhei ate a portaria e sai da colônia.

Caminhei por algumas ruas e comprei algumas coisas para Carmen e eu fazermos nosso piquenique. Comprei umas maçãs, uns doces, alguma coisa salgada e bebida. Caminhei até a praia e fiquei esperando por ela, ou melhor, meu celular tocar.

Enquanto isso na colônia...

Carmen estava na mesa com o resto das meninas conversando e percebeu que estava na hora de colocar o plano em pratica.

— Meninas, o papo está muito bom, mais vou dar um volta no centro e ver se encontro alguma coisa interessante por lá. Até mais.

— Se divirta. – Elas falaram.

Carmen caminhou ate o quarto, pegou uma blusa e sua carteira e então passou pela portaria.

...

Fiquei sentada na areia observando o horizonte. Meu celular começou a tocar.

— Onde você esta Carmen? – Perguntei.

— Devo estar perto da onde você falou que estaria. Acho que estou te vendo. – Desligou o celular.

Fiquei de pé e ela acenou para mim. Veio ao meu encontro e então nos sentamos na areia. Ofereci algumas das coisas que tinha comprado e ela aceitou uma maçã.

— Essas ondas sempre vão e voltam para o seu lugar de origem. – Comentei para romper o silêncio.

— Shane, como tem sido para você depois do nosso quase casamento? – Ela perguntou.

— Muito difícil. Eu fiz uma coisa da qual me arrependi de ter feito e ainda magoei a pessoa que mais se importava comigo. E como tem sido para você?

— Foi doloroso, mas depois eu percebi que você não teria feito a escolha sozinha. Alguém deve ter falado alguma coisa para você. No começo eu sofri bastante. – Ela terminou de comer a maçã e pegou uma cerveja. Fiz o mesmo.

— Desculpe por ter feito você sofrer, eu sofri junto e até pior por ter desfeito parte do seu sonho. – Dei um gole na minha cerveja e olhei para o horizonte.

— Entendo. E alguma coisa mudou? – Ela perguntou.

— Nada mudou, meus sentimentos por você continuam os mesmos. Você é a única que me fez sentir isso, que me fez fazer promessas e até te pedir em casamento. O que está aqui dentro de mim não vai mudar. – Dei um gole e sorri timidamente.

— Vou ser bem sincera. Depois que toda a minha mágoa por você passou, os meus sentimentos por você continuaram os mesmos. Acha que daria certo dessa vez? – Ela perguntou.

— Porque não daria? Nossos sentimentos não mudaram, eu te amo e você ainda me ama. – Ela sentou-se bem mais próxima de mim, apoiou sua cabeça em meu ombro.

— Eu percebi que você mudou quando te vi lá no quarto quando cheguei. O que mais você comprou pra gente?

— Uns doces. Sei que você gosta.

— Corrigindo: eu adoro. – Ela me empurrou na areia e ficamos deitadas observando o céu e comendo chocolate. Demos risadas de algumas coisas e então ficamos vendo o céu estrelado que surgia.

— Carmen...?

— Que foi Shane? – Ela deitou de lado e ficou olhando para mim e eu olhando para ela.

— Quer namorar comigo de novo? – Fiquei encarando seus olhos.

— Quero. – Ela respondeu. Aproximei meus lábios dos seus e a beijei. Foi bom sentir o gosto do seu beijo de novo.

— Prometo que dessa vez vai ser bem diferente. – Parei de beija-la por um instante e a beijei novamente. Eu podia ver a felicidade em seu olhar novamente. Nos sentamos e nos abraçamos.

— E nossas amigas, vão saber disso? – Carmen perguntou.

— Melhor não. Elas armaram para a gente, deu certo, mas elas não vão saber tão cedo que voltamos.

— Não conhecia esse seu lado vingativa.

— Não é vingança Carmen. Elas enganaram nos duas e nada mais justo do que enganar elas um pouco. Quando voltarmos para Los Angeles, você vem comigo?

— Claro. Só vou ter que ligar para minha mãe e explicar algumas coisas.

— E como ela está? – Perguntei.

— Não mudou nada desde a ultima vez. Shane, vamos caminhar no centro, quero ver se tem alguma coisa interessante por lá?

— Vamos. – Ajeitei a pouca coisa que tínhamos em mão em uma sacola e fomos caminhando até o centro que não ficava muito longe dali.

Andamos por algumas ruas e paramos em uma loja onde vendia bijuterias e entre outras coisas. Vi que ela tinha gostado de um brinco e quando foi pagar não achou o dinheiro.

— Deixa que eu pago para você. – Falei sorrindo para ela.

— Obrigada.

Paguei ao dono da loja e voltamos a caminhar mais um pouco na praia. Ficamos curtindo um momento só nosso com beijos cheios de amor e abraços.

— Acho que está na hora de voltarmos. – Comentei.

— Precisamos mesmo voltar? – Ela perguntou.

— Também não queria, mas temos. Já devem estar suspeitando de alguma coisa. Marcamos alguma coisa com nossas amigas hoje?

— Marcamos de comer uma pizza lá mesmo no restaurante da colônia.

— Então é bom a gente voltar e se arrumar. São quase sete horas da noite.

Fomos caminhando de volta e deixei-a entrar primeiro para não parecer suspeito. Esperei alguns minutos e fui para o nosso quarto. Encontrei Carmen conversando com Helena.

— Olá Shane.

— Oi Helena. Aconteceu alguma coisa? – Olhei discretamente para Carmen depois de perguntar.

— A Alice pediu para que eu viesse aqui e perguntasse se vocês vão na nossa noite da pizza?

— Vamos. – Respondi.

— Tá bom então, nos vemos lá. – Abri a porta para Helena sair. Fechei a porta e vi Carmen com um ar de desconfiança.

— O que foi tudo isso Shane? – Ela perguntou.

— Talvez ela tenha vindo só perguntar, mas achei estranho ver ela aqui com você. Acho que isso prova que elas ainda acham que não nos entendemos.

— Pode até ser, mas é bom tomarmos cuidado. Isso deve ser algum plano maluco da Alice.

— Não duvido nada disso. Na hora de irmos você sai na frente e vou um pouco depois. – Comentei. - Agora vamos descansar um pouco.

Estava no sofá e Carmen deitada na cama. Fiquei pensando em algumas coisas.

— Carmen, temos mais quantos dias aqui?

— Acho que dois. Por que?

— Por nada. Você já contou para sua mãe sobre a gente?

— Vou ligar para ela amanhã cedo. Você vai tomar banho agora?

— Não, pode ir. – Falei. Fiquei vendo televisão. Já era pouco mais da sete da noite. Carmen saiu do banheiro enrolada em sua toalha. Fechei a porta do quarto. Ele ficou de costas para mim e se vestiu.

— Não vejo porque você ficar de costas para mim. – Comentei.

— É para não começarmos algo que não vai dar tempo de terminar.

— Entendi. – Entrei no jogo dela.

— Você não vai tomar banho? – Ela perguntou.

— Vou. – Aproximei-me dela envolvendo-a pela cintura deixando seu corpo bem perto do meu. Dei um beijo nela.

— Shane, temos que tomar cuidado!

— A porta está trancada. – Falei.

— Te encontro lá? – Ela perguntou depois do beijo.

— Claro. – Dei um beijo nela. Esperei ela sair para ir tomar meu banho. Ela estava fascinante naquela calça jeans com uma baby look. Ajeitei-me e sai do quarto indo ao encontro de nossas amigas e da minha amada. Entrei no restaurante e vi Carmen conversando com Bette. Alice estava conversando com a Tina e com a Dana. Jenny conversava com a Helena. Aproximei-me e sentei do lado delas. Olhei para Carmen discretamente e entrei na conversa da Helena.

— Demorou porque Shane? – Alice perguntou.

— Tava tomando banho.

— Olá Shane, como tem passado? – Jenny perguntou.

— Na mesma. Já pediram?

— Já. Pedimos de mussarela, frango com catupiry e calabresa.

— Vou pedir alguma coisa para beber, alguém quer alguma coisa?

— Shane, pede um refrigerante de dois litros. – Helena falou.

— Pra mim você pode pedir um suco de laranja. – Carmen falou.

— Alguém quer mais alguma coisa? – Perguntei antes de me levantar. Ninguém se pronunciou. Fui até o caixa, pedi o suco de Carmen e um refrigerante para o resto de nós. Fiquei esperando por lá e vi Helena saindo do banheiro e vindo em minha direção. Sentou no banco ao lado do meu no balcão.

— E como que vai as coisas com Carmen?

— Ainda nem conversamos. Ela está se fazendo de difícil. – Menti.

— A gente está torcendo para que de tudo certo entre vocês. – Helena comentou.

— Obrigada pelo apoio. – Comentei. Não demorou muito e o suco de Carmen ficou pronto. Helena ficou ali e levou os copos para a mesa e eu levei o suco e o refrigerante. Entreguei o suco para Carmen, que agradeceu, e coloquei o refrigerante na mesa. Sentei no meu lugar e me servi com um pouco de refrigerante. Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios. Nossa pizza chegou. Comemos, bebi mais um pouco de refrigerante, fiquei ali por mais um tempo.

— Meninas, vou me retirar. Estou um pouco cansada. Foi ótimo esse momento com vocês. Boa noite.

Caminhei ate o quarto, entrei e deitei um pouco na cama. Resolvi tomar um banho rápido, voltei para a cama e fiquei vendo televisão. Ouvi alguém mexer na porta, vi Carmen entrando e sentou do meu lado na cama.

— Te interrogaram muito? – Perguntei.

— Você não faz ideia. Vou tomar um banho rápido e já te conto.

— Tudo bem. – Dei um sorriso no canto dos lábios.

Levantei e fechei a porta com as chaves. Sentei na cama, encostando na cabeceira e vi um pouco de televisão. Carmen saiu do banho enrolada na toalha. Tive que segurar meus desejos um pouco. Mais meu pensamento estava a mil vendo suas coxas.

— Shane.

— O que foi?

— Limpa a baba que está escorrendo ai. – Apontou.

— Impossível não babar.

— É bom se controlar. – Ela falou sorridente.

— Vou tentar. E o que as meninas te perguntaram? – Bati de leve na cama para ela se sentar do meu lado. Ela se sentou ainda com a toalha enrolada no corpo.

— As mesma coisas de sempre. Perguntaram das suas tentativas de reatar comigo, como está sendo a minha reação vendo você se esforçar, até falaram que estou sendo cruel demais com você.

— E o que você disse para elas?

— Neguei algumas perguntas, outras elogiei você para elas sobre o seu esforço.

— Acho que elas têm razão.

— Sobre o que?

— Sobre você ser cruel comigo.

Ela olhou para mim e se movimentou na cama. Colocou uma perna de cada lado do meu corpo e foi inclinando bem devagar até nossos rostos ficarem prontos. Ela retirou a toalha, deixando seu corpo nu à mostra para mim.

— Shane, me diz uma coisa. Estou sendo cruel com você agora? – Perguntou em tom malicioso.

— Não. – Respondi tocando seu corpo nu.

Aproximou seus lábios dos meus e me beijou calorosamente. Quando separamos nossos lábios olhei em seus olhos.

— Estava com saudade disso. – Falei. Ela sorriu e voltei a beija-la com mais intensidade do que antes.