P.O.V Serena Woods

Naquela manhã nada havia de diferente. Eu ainda não queria levantar e encarar o mundo. O celular já estava na terceira soneca, se chegasse a quinta eu já estaria atrasada. Ótimo, tomara que chegue na sexta. Cobri o rosto com o travesseiro.

Every night you cry yourself to sleep ,thinking: "Why does this happen to me?. (Toda noite você chora até dormir, pensando: "Por que isso acontece comigo?)

Quinta soneca…

Batidas na porta. Su não vai me deixar faltar. Apertei o travesseiro ainda mais contra a cabeça.

– Querida, você vai deixar o neto do John ir sozinho no seu primeiro dia?

– Acredite mãe, será melhor assim.

– Não acho que ele vá concordar com isso. Mas você é quem sabe.

Então ela saiu e me deixou com peso na consciência. Ótimo, vamos lá...

– A gente vai do que na escola?

A minha vontade era de dar uma resposta irônica, mas me controlei, ele não merecia meu mau-humor pré-escola.

– Eu costumo ir a pé. Se você quiser pode ir de metrô ou até de ônibus. Mas vou logo avisando: Não vale a pena.

Ele olhou para mim claramente intrigado. Esperei pela pergunta, mas o que ele respondeu me surpreendeu.

– Vou com você. Não gosto de ficar sozinho muito tempo.

– Ok.

Zack foi andando por um lado, até que eu comecei a rir e ele então se virou.

–Onde você acha que vai por esse lado?

– Não é por aqui?

Balancei a cabeça fazendo o cabelo voar no meu rosto.

– Não!

Continuei rindo enquanto ele voltava e parava na minha frente.

– Ainda bem que eu divirto você, não é?

Opa.

–Desculpe Zack, mas eu geralmente não tenho muito do que rir, ou de alguém que me faça rir.

Ele me encarou por mais alguns segundos, como se procurando alguma verdade escondida, então assentiu para si mesmo e olhou para o outro lado.

– Por onde então?

– Direita.

– Porque não vale à pena?

– Não vale a pena me ver vomitar o café da manhã inteiro no metrô.

Nossa como eu sou sexy. Caminhamos em silêncio até uma esquina antes de chegar ao colégio. Então me lembrei de uma coisa.

–Zack, eu acho melhor nós não andarmos juntos aqui.

Ele me encarou por tempo demais, não aguentei e baixei o olhar pros meus sapatos. Que merda de uniforme... Saia plissada, camisa branca, casaco e uma linda (sarcasmo) gravata vermelha.

–Eu pensei que você fosse diferente.

Voltei a fitá-lo.

– O que?

– Você tem todo esse jeito de que não liga pra nada do que pensam de você. Mas me enganei, você só é mais uma dessas menininhas metidas que não querem ser vista com pessoas como eu.

Eu não tinha reação nenhuma, só fiquei olhando na cara dele. Felizmente consegui dizer algo antes dele se virar e sair andando.

–Eu... Eu não sou assim, Zack. Eu não sou mais assim. Na minha parte não tem problema você andar comigo. O problema é que eles vão te trucidar, vão acabar com você, e tudo por minha causa, Zack.

Ele estava de cabeça baixa até então, de repente ele voltou a me olhar.

–Eu não tenho medo de ser trucidado.

Então sorriu.

– Zack, não. É serio. Aqui é dividido em grupos. Tem os que você quer ou não andar; os que você deve andar; e os fracassados, que é melhor você se afastar.

–E você? Em que grupo você se encaixa?

Suspirei. Eu já fiz parte dos populares, dos conhecidos e agora não passo de uma fracassada.

– Faço parte dos que “é melhor você se afastar”. Tipo, uma fracassada.

– Então serei um fracassado igual a você!

Não disse nada, mas deixei ele me seguir pela escola... Porque esse tipo de coisa só acontece comigo?