Um Jeito De Amar escrita por Mary


Capítulo 38
Sem mentiras


Notas iniciais do capítulo

Ér, as coisas vão ficar um pouco melhores a partir daqui (dependendo do seu ponto de vista)



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Por Zachary Richter         

O sonho continuava voltando á minha mente. Eu simplesmente não conseguia me livrar daquelas imagens. Ela caindo e desaparecendo lá embaixo. O que isso significava? Que eu a estava perdendo? Que existia uma distância entre nós que eu não enxergava antes? Ou que eu nunca a tive realmente? Acho que essas são perguntas muito complexas para alguém da minha idade. Merda.

            Eu estava louco para vê-la, mas estava um pouco assustado também. Como será que ela vai reagir quando me ver? Meu cérebro latejava, tentei parar de pensar naquele sonho concentrando minha mente no piano, na minha música. Talvez esteja na hora de tocar as minhas músicas, mostrá-las às pessoas, mostrá-las à Serena.

            Estava tão absorto em pensamentos insanos que nem vi a enfermeira entrar no quarto.

            - Olá!

Ela sorriu. Sorri automaticamente. – Oi.

            - Como está se sentindo?

            - Bem, só que está meio desconfortável ficar nessa posição.

            - Ah, claro que esta. Só um minuto.

A enfermeira veio até a cabeceira da cama e pegou um controle. Apertou um botão, e como um barulho tenso a cama começou a se levantar. Em poucos segundos eu estava sentado... Encostado?

            - Hora de comer!

Consegui dar um sorriso verdadeiro. Decidi que eu gostava dela. – Enfermeira?

            - Sim?

            - Como é o seu nome?

A enfermeira, que agora eu sabia que se chamava Beth, estava me contando sobre a sua vida de recém casada e como era frustrante quando seu marido largava a roupa jogada na sala. Eu estava me divertindo com as histórias de família dela quando alguém bateu na porta. Será que era ela?

            - Entre!

Beth disse com uma voz suave enquanto a maçaneta girava. Então ela abriu a porta e entrou no quarto mancando com uma muleta de um lado. E uma haste de soro do outro.

            -Oi?

Ela disse meio apreensiva, Beth respondeu sorrindo e saiu do quarto para podermos conversar. Senny não tinha me olhado ainda, estava encarando os pés. Aquilo me irritou tanto que se eu tivesse forças para gritar eu já teria feito.

            - Oi Zack.

            - Não faz isso, por favor.

Ela não conseguir me olhar doeu profundamente. Machucou tanto meu coração, que parecia que alguém estava apertando-o com as próprias mãos, como se quisesse que ele estourasse.

            - Fazer o que?

            - Não me olhar!

De repente ela ergueu a cabeça e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela tinha emagrecido muito e estava com olheiras. Senti-me mal de ter falado daquele jeito com ela.

            - Desculpa.

Senny sussurrou, a sua voz estava carregada de tristeza. As mesmas mãos apertaram meu coração de novo. Então eu vi. O braço que segurava a haste estava enfaixado. Os dois braços estavam.

            - Tudo bem... Mas o que foi que aconteceu com você?!

Eu não tinha reação. Ela se arrastou até onde eu estava e parou ao lado da cama. Meu coração disparou. Batendo freneticamente. Ouvi bips ao lado.

            - Não me peça para explicar o que eu não entendo, por favor.

- O que...? Mas, por que você...?! Senny!

Senny levou a mão ao peito e encolheu o corpo, como se alguém tivesse batido nela. Eu estava paralisado, não conseguia acreditar no que via. Senti-me fraco novamente.

            - Pedi para não perguntar Zack. Por favor.

            Ela estava sofrendo por minha causa. Eu sei disso. Dói. Muito. Levantei o braço bom e puxei sua camisola. Serena deu alguns passos e se deitou na cama comigo, o braço pendurado pelo soro. Inacreditável, há algumas semanas estávamos deitados da mesma maneira, só que nossos braços estavam segurando-nos e não pendurados daquela forma estranha.

            -Se eu pudesse te abraçar já teria feito

            - Não se esforce, por favor.

Já estamos nessa posição há alguns minutos. Então Senny ergueu um lado do corpo e me beijou. O contato do seu corpo fez arder as minhas costelas quebradas, mas a dor não durou muito. Foi tudo substituído pela felicidade de tê-la comigo.  

- Desculpa. Eu não consigo entender o motivo certo por eu ter feito isso, porque são muitas repostas. Mas estou bem, nós estamos.

Então ela colocou a cabeça no meu peito – com mais cuidado do que era necessário – e começou a chorar.

- Porque esta chorando?

            - Nada, só estou feliz.

Pensei por um momento e conclui que ela não mentia.

            - Eu te amo.

            - Eu também te amo, Zack.

Nenhum de nós disse nada, estávamos ocupados ouvindo um a respiração do outro. Só então me lembrei de perguntar o que havia acontecido depois do acidente.

            - Senny, o que você fez no tempo em que eu estava aqui?

Senti seu corpo ficar tenso, isso não era nada bom.        

-Terapia. Mas fui uma vez só.

Uma onda de choque percorreu meu corpo... Senti um calafrio estranho subindo pela espinha. Soube então, realmente, que aquilo era por minha causa. Idiota!

            -Por quê?

Ela respirou fundo, se movimentou para deitar na cama ao meu lado novamente, mas não olhou para mim em nenhum instante.

            -Não sei dizer exatamente, Zack. Mas é como se eu estivesse enlouquecendo... Tudo era ruim, tudo era motivo pra sofrimento. Não foi só pelo acidente, mas ele serviu pra explodir tudo que estava guardado. Toda a magoa explodiu, e minha válvula de escape foram meus pulsos.

Ela ergueu o braço para que eu pudesse ver seus pulsos enfaixados. Naquele momento eu senti uma dor tão forte que mais costelas quebradas não fariam diferença alguma. Ela trouxe o pulso até a outra mão e começou a desenrolá-lo, quando a faixa finalmente acabou eu pude ver: no meio daquele monte de cortes tinha um que ia contra os outros, estava na vertical.

            - Você tentou se matar?

Eu disse e foi pior ouvir na minha voz do que nos meus pensamentos.

            - Sim.

            - Por quê?

Tinha um zumbido estranho no meu ouvido, o bipe do aparelho ligado ao meu coração estava descontrolado de novo. Senny finalmente olhou para mim e seu rosto mostrava desespero.

            - Se acalma, por favor! Não quero pensar em te perder de novo Zack! Por favor!

O zumbido foi desaparecendo, o bipe se acalmou, respirei uma, duas, três vezes e só quando ela passou a mão pelo meu rosto percebi que estava chorando.

            - A gente nunca foi tão sensível não é?

            -Verdade... Por que a gente não pôde ser um casal normal, com brigas normais?

            - Porque seria uma farsa...

Serena disse e ficou de joelhos na cama me encarando. O braço pendurado de forma estranha. Olhei-o e vi que a agulha do soro estava em falso. Ela acompanhou meu olhar e arrancou o tubo da veia.

Ri. Ela também. Voltou a me encarar, com um sorrisinho bobo na cara. Fechei os olhos e sorri.

            - Pára com isso!

            - Isso o que?

            - Me encarar!

Senny gargalhou e a senti mudar de posição na cama. Prendi a respiração. Será que ela já estava indo embora? Eu não queria que ela fosse. Então ela me beijou, surpreso, abri os olhos. Ela parecia tão calma, tão... Ela mesma. Voltei a fechar os olhos, era o melhor que eu podia fazer. Senti que as coisas melhorariam.


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Notas finais do capítulo

Pronto! Vou fazer mais looks lá no Polyvore!
Comentem, por favorzinho?



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