Enquanto o Grande Mestre não descobrir escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel, Secret Gemini


Capítulo 9
IX. Get Up And Boogie


Notas iniciais do capítulo

A cada dia que passa, Saga vai conquistando mais a confiança de Shion e o amor de Fedra. A vida fora do Santuário o seduz cada vez mais. Paralelo a isso, Marie começa a treinar com Kanon e, ao visitar Violeta/Athena, descobre um pouco mais sobre a vida de seus pais no Santuário.



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#POV Marie#

Ao retornarmos para a casa de Gêmeos, presenciei meu tio Kanon atirando um de seus sapatos no irmão. Sabia que tio Saga era capaz de evitar a agressão, mas a recebeu sem pestanejar, afinal, ele havia abusado de um raro momento de bondade do palerma do meu mestre. Enquanto os dois discutiam, uma serva entrou na Terceira Morada:

–Senhor Kanon? – ela disse baixo, curvando o corpo um pouco e estendendo um embrulho - Vim a mando do senhor Arles.

–Ah! – falou despreocupado, pegando o pacote – Este deve ser o uniforme da Marie.

–Exatamente. O Senhor Arles ordenou que ela o vista imediatamente.

–Fazer o quê? – resmunguei, pegado o embrulho das mãos do tio K – Espero que comecemos a treinar amanhã.

Me dirigi ao meu aposento sem ver o final da conversa. Rasguei o papel branco e me deparei com o tal uniforme: uma calça de Lycra azul celeste, um collant preto, bustiê de couro com protetores metálicos nos seios, ombreiras e joelheiras de aço, um lenço branco - que eu não sabia a utilidade - e uma máscara prateada ornamentada com uma estrela azul abaixo da marca do olho direito. Sorri a vê-la, pois sabia que minha mãe usava uma assim quando era amazona.

Quatro dias depois, uma serva levou meu desjejum no quarto. Essa agora era a minha rotina, pois nem meus tios eram autorizados a ver meu rosto:

–PFT... Se eu soubesse dessas frescuras, jamais tinha pressionado a minha mãe para ser Amazona!

–Por isso muitas jovens abandonam os treinos e se dedicam a servir o Santuário de outra forma - ela falou, olhando para os próprios pés.

–Entendo - após tomar o ultimo gole do meu copo de suco, recoloquei a máscara e completei - Será que já tem alguém acordado no Salão do Grande Mestre?

–Pressuponho que sim... Nós, as servas, acordamos muito cedo, com o intuito de deixar tudo preparado para quando nossos mestres despertarem.

–Ótimo! Eu vou fazer uma visita a uma amiga...

–Antes da senhorita sair... – ela me segurou pela mão e apontou para o lenço branco, amarrado em meu pescoço – Isso vai amarrado na cintura. Posso? – perguntou, colocando a mão no adorno.

–Claro – consenti – Não acredito! Quatro dias treinando com isso no lugar errado e ninguém falou nada? – bradei, indignada, enquanto a serva arrumava-o em minha cintura – É por isso que tinham alguns pirralhos debochando de mim.

Com o lenço arrumado, migrei para o Salão do Grande Mestre utilizando o caminho alternativo que tio Saga havia me mostrado dias atrás. Ele havia dito para eu nunca utilizá-lo, mas eu não estava pouco me importando, queria chegar o mais rápido possível. No local, cruzei a primeira porta e me preparava para entrar pela porta lateral, que dava acesso direto aos aposentos, mas fui barrada por uma serva. No meio da confusão, acabei perdendo minha máscara:

–Você não pode entrar sem ser anunciada.

–Mas quem disse que quero ser anunciada? Já falei que é uma visita surpresa, SUR-PRE-SA a minha amiga Violeta.

–Mas não tem nenhuma Violeta aqui! O Sol quente deve estar fundindo sua cuca, garota!

–Veja lá como fala comigo!

–Mas que algazarra é essa?! – ecoou uma autoritária voz masculina.

A serva parou de falar e se atirou ao chão, em uma desesperada reverência. Sem entender, virei meu rosto desmascarado e visualizei o dono daquela voz: um homem de cabelos esverdeados, mas com alguns fios brancos aparentes, um rosto que, apresar de algumas rugas, era belo e deveras angelical e dois sinais na testa, ao invés de sobrancelhas. As vestes consistiam de uma toga branca com vermelhos nas extremidades, uma estola azul com detalhes dourados e alguns rosários no pescoço. Em suas mãos, trazia um elmo dourado e, após observar esse objeto, entendi quem era esse homem:

–Gra-Grande Mestre – disse, me ajoelhando depressa – Perdoe-me por essa bagunça.

–Eu posso saber quem é você e o porquê de tamanho escândalo?

–Bom, é que...

–Que barulho é es-... MARIE! – Era Violeta, que surgiu no corredor ainda usando uma camisola branca. A pequena, com os pés descalços, correu e me abraçou – Achei que você não viria mais me ver.

–É... Conhece esta jovem, senhorita? – O Grande Mestre perguntou, apoiando o joelho com dificuldade no chão, a fim de ficar na mesma altura da criança.

–Sim. É minha amiga Marie, a sobrinha do Saga, Shion.

–Sobrinha... De Saga? – ele me olhou e eu aproveitei para recolocar minha máscara.

–Sim, sou Marie Georgiopoulos, filha de Salomé, antiga Amazona de Prata da Constelação de Pavão. Vim aqui para visitar minha pequena amiga Violeta.

–Mas quem é Violeta?

–Sou eu. – respondeu a criança divina – Marie me deu esse nome e eu gosto dele. – sorriu – Hey, Shion... A Marie pode fazer o desjejum conosco?

–Ela não pode, senhorita.

–E por que não?

–Por causa desta máscara – respondi, mostrando desânimo na voz, apontando para o ornamento – eu estava sem ela por causa de um acidente, mas agora que recoloquei, só posso tirá-la em meu quarto. Não devo mais mostrar meu rosto agora que sou aspirante a Amazona.

–Só que o Shion também usa máscara e você viu ele sem ela... E ele também viu você sem sua máscara... Então acho que não tem problema. – Ela pegou na minha mão – Vem, vamos desjejuar.

O Grande Mestre, que agora eu tinha certeza que se chamava Shion, apenas riu, colocou o elmo na cabeça, se levantou com a ajuda de uma serva e foi atrás de nós, rumo ao local destinado as refeições.

Durante o desjejum, conversamos e rimos bastante. Shion revelou que conheceu minha mãe, referindo-se a ela como uma guerreira excepcional. Mencionou também meu pai, Heron de Lince, revelando que foi ele quem escolheu meu nome:

–Na verdade, ele queria que você se chamasse Marie Ange, mas sua mão achou exagerado.

–E é mesmo! – ri, após uma colherada do meu iogurte com mel. Eu já havia desjejuado, mas o Grande Mestre me ofereceu tanta coisa gostosa, que foi impossível recusar – Já sofria demais no Brasil com esse nome, imagina Marie Ange?

Apesar de aparentar ser muito mais velho do que eu, cada vez que fitava os olhos de Shion, sentia meu rosto esquentar. Também pude perceber um leve rubor que tomava sua face quando isso ocorria.

Terminada a refeição, uma serva levou Violeta de volta à clausura, deixando Shion e eu sozinhos:

–Obrigada pela refeição e desculpe-me mais uma vez pela papagaiada que causei mais cedo, Grande Mestre – disse, colocando novamente a máscara.

–Eu entendo que criou afeição pela criança Athena, mas deveria ter me pedido permissão para vê-la – ele respondeu, imitando meu gesto – Por favor, venha comigo, Marie.

–Vai me punir?

–Não... Jamais puniria a filha de amigos tão queridos... Eu vou lhe dar uma carta de convocação, que você deve entregar a seu tio Saga e uma autorização de acesso ao Templo com horários específicos. Assim você pode vir sempre que tiver uma folga no treinamento.

–Sério?! – perguntei empolgada.

–Claro. Ela pode ser a reencarnação de uma deusa, mas não deixa de ser uma criança. É bom que tenha alguém para brincar com ela.

Supimpa! Valeu, Shion! – Não bastava à frase totalmente informal, acabei por me empolgar e dar o maior abraço no Grande Mestre, como se fosse um chapa meu. Quando me toquei disso, soltei-o e me atirei ao chão de joelhos – MIL... PERDÕES... GRANDE MESTRE.

O silêncio pairou e minha vida começava a passar diante dos meus olhos quando o ouvi gargalhar. Uma gargalhada debochada, abafada pela máscara e deliciosa de se ouvir:

–Agora sei por que Athena gostou de você. Você é incrível, Marie...

Ergui o olhar e vi sua mão estendida para me ajudar a levantar. Mais uma vez senti meu rosto quente, mas não poderia saber a reação dele, pois o elmo e a máscara acinzentada já lhe ocultavam a face. Deram-me as duas cartas e, munida delas, regressei a Gêmeos, aonde, mais uma vez, meus tios discutiam e se agrediam com sandálias voadoras, o que já era rotina na terceira morada Zodiacal.

#POV SAGA#

Qualé o pó agora, quadrados? – perguntou Marie, com os braços cruzados.

–Tá vendo, seu goiaba?! – indaguei a meu irmão, apontando para nossa sobrinha – Eu disse que ela não tinha fugido.

–Eu era o motivo dessa vez?

–Sim... Você e o fato do boboca do seu mestre ter ido te procurar na cozinha completamente nu! Logo mais, as servas vão se afugentar daqui... Aí que quero ver o tremendo aí ir para a cozinha fazer alguma coisa!

Tá! Tá! Tá! – resmungou Kanon, bagunçando os cabelos – E você, moçoila? Posso saber onde foi?

–Visitar a Violeta...

–Ah tá... É... Vamos treinar?

Olhei para Marie e reparei que ela trazia dois envelopes nas mãos, mas sem as fitas de identificação:

–E essas cartas?

–Ah, já ia esquecendo! Uma é uma autorização com horários para que eu possa visitar a Violeta e outra é uma convocação para você, Tio Saga.

–Convocação? – falei, tomando a carta imediatamente das mãos dela – Por acaso você não aprontou nada, né?

–Claro que não! Fui apenas visitar a Violeta, mas isso eu já resolvi com a chefia.

Ainda em dúvida das palavras dela, li a carta e respirei aliviado quando vi que era apenas um convite para almoçar:

Ih, irmãozinho... – Kanon falou, ajustando as sandálias nos pés – Eis aí mais um indício de que você é o próximo Grande Mestre. Ele nunca chamou ninguém para almoçar... Nem mesmo o Aiolos.

Dei de ombros e fui para meus aposentos. Como ainda era muito cedo, resolvi observar o movimento do Santuário através de minha varanda. Por volta das 11hrs, me arrumei para atender o convite do Grande Mestre. Na carta, ele pedia que fosse com vestimentas normais, pois não se tratava de uma convocação especial, apenas uma conversa amigável:

–Imagina se o Kanon lê uma frase dessas? – pensei, apenas de toalha, observando meu roupeiro com as portas abertas – Já ia ficar todo empolgado com essa história de que eu serei o sucessor do Grande Mestre...

Por fim, decidi vestir o básico: calça jeans, camisa branca e sapatos pretos. Penteei os cabelos e, como pretendia visitar a Fedra mais tarde, peguei alguns trocados. Subi pela rota Zodiacal e ouvi burburinhos sobre minhas vestimentas. Em Sagitário, como sempre, Aiolos estava acompanhado de Shura, jogando buraco e bebendo “A Laranja Satânica”, drink consistido de suco de laranja, licor de cassis, vodca e gelo, criado pelo sagitariano. Fui convidado a me juntar a eles:

–Não dá... Tenho uma audiência com o Coroa. – justifiquei

–E vai vestido assim? – questionou Shura, apontando-me o indicador direito – Já perdeu o medo do perigo, Quadradão?

–Não é isso... Ele que pediu que eu fosse casual. Aí vou aproveitar para ir visitar a Fedrinha mais tarde.

–Tá aí uma boa ideia! – se empolgou Aiolos – A gente podia pegar aquela praia hoje.

–Na verdade... Eu vou ajuda-la com a questão dos Cavaleiros de Athena. Vamos revirar a biblioteca do avô dela hoje.

–Eu desacredito que tu vai fazer isso, bicho! – opinou o espanhol – Tu tá arrumando grilo pra cuca, irmãozinho. Ouça o que eu te digo...

–Tá neurando à toa, chapa... Vou mexer meus pauzinhos e vai dar tudo certo.

–Cê que sabe, bicho... Cê que sabe.

–Ah, só uma coisa... – falei, antes de deixar a nona morada – Se forem ver as meninas, é bom pedirem autorização... Ou a Chefia vai desconfiar que eu estou agindo mocozado com vocês.

–Falou e disse, Quadradão.

A verdade é que citei a autorização por mero capricho. Sabia que o Grande Mestre jamais desconfiaria que eu estava agindo como agente duplo. Na verdade, nem os dois hipongas sabiam, mas não queria que os dois se ferrassem. Nem que o velho desconfiasse que eu iria ver uma garota, ao invés de trabalhar no Carlo.

Chegando ao salão, fui recepcionado por uma das servas do local, que me guiou até a área externa, onde uma mesa farta e o Grande Mestre me aguardavam:

–Que bom que veio, Saga – saudou-me com um sorriso. Eu já estava mais do que acostumado a vê-lo sem máscara.

–Eu fiquei lisonjeado pelo convite, excelência. – respondi, prestando breve reverência – Seria grosseria de minha parte recusá-lo.

–Você fez por merecê-lo. – disse, sentando-se a mesa e fazendo sinal para que eu repetisse o gesto – Convidei-o para esse almoço para agradecê-lo e parabenizá-lo pelo período que ficou encarregado do Santuário. Fiz uma vistoria e entrevistei algumas servas e soldados e todos rasgaram elogios a você. Athena até queria que eu mandasse o Arles embora e colocasse você aqui. – riu – Ela não vai muito com a cara dele...

–Mas por quê?

–Sei lá... Achei que era medo da máscara, mas ele tira toda vez que vai falar com ela... Enfim... – uma serva entrou no local e encheu nossas taças de vinho. Quando ela deixou o local, ele continuou falando. – Também quero dizer que sua missão está indo muito bem. Não sei o que você fez ou disse, mas Shura e Aiolos agora controlam suas saídas e até chegam a pedir autorização para tal.

–Ah, eu conversei com eles... Claro, sem revelar que estava a seu mando, excelência. Fiz eles entenderem que dá para, perdoe-me o termo informal, cair na curtição sem exagerar na bebida.

–E isso é um sinal que eles te escutam. – Outra serva entrou, dessa vez servindo-nos de um belo assado de cordeiro, tão suculento que o Grande Mestre até pediu licença para comer. Fiz o mesmo e comprovei o que já suspeitava: estava delicioso. Depois de mastigar e tomar um gole de vinho, continuou – Enquanto comia pensei bem e vou lhe dar outra missão.

–Qual, Grande Mestre? – perguntei assustado. Se ele me “tirasse do caso” Shura e Aiolos caindo na gandaia, iria ser complicadíssimo ver a Fedra.

–Agora você irá moderar aqueles dois. Como você tem uma autorização de saída ilimitada, pode ir sempre com eles sem se preocupar e sem que eles desconfiem que você está agindo sobre minhas ordens.

–Fico mais do que honrado pela sua confiança, Grande Mestre – sorri. Um sorriso largo e sincero.

Terminado o almoço – que foi fechado com uma bela Galaktobureko – mais uma vez desci pelas 12 casas. O objetivo disso era me certificar de que Aiolos e Shura iriam mesmo até a casa da Fedra ou se já estavam bêbados demais para isso. Ambos estavam bem e ainda pensavam se iam ou não:

–Bom, quando acabarem com a indecisão, apareçam por lá. Estou zarpando. Falou, chapas.

Tomei a rota alternativa e logo estava na saída do Santuário. Certificando-me de que nenhum soldado, aspirante ou cavaleiro estava por perto, coloquei meus óculos escuros, abri um botão da camisa, acendi um cigarro e fui caminhando tranquilamente até o centro de Athenas. Era fato que a casa de Fedra era bem longe do Santuário, mas eu não me importava... Não queria correr, mas a vontade de vê-la era tão grande, que acabei pegando um táxi. Uma corrida que não custou muito, mas levando em conta que meu “chefe” me pagava apenas as gorjetas, iria acabar durango até o fim do mês:

Mas por ela vale a pena – pensei, após apertar a campainha de sua casa. Foram alguns minutos até Agnes, ainda de muletas, abrir a porta.

QUADRADÃO! – me saudou com um abraço forte. Estava usando calças vermelhas e um top de manga longa todo florido. – A Fedrinha estava perguntando de você agora.

–Ela está invocada?

–Não... Ela tá numa nice. Só estava se perguntando se você ia demorar muito.

–E onde ela está? No escritório?

–Escritório? – riu – Quadradão querido... Num dia lindo desses, você acha que alguém ia ficar trancado em um escritório? Ela está nos jardins suspensos do vovô.

–E onde raios é isso?

–Só me seguir – piscou.

Guiado pela loira, fui levado até a parte de trás da casa, em um local que ainda não tinha visto. Havia uma escada espiral verde, emoldurada de rosas. Em meu íntimo, pensei que seria uma peça decorativa perfeita para a Casa de Peixes. A loira de Shura parou aos pés dela, virou para mim e falou:

–Bom, Quadradão... Não tem condições de eu subir essa joça. A sua Lindeza está lá em cima te esperando.

–Valeu por me guiar, Agui.

–Antes que você suba – me segurou – Sabe se o Shu vai aparecer por aqui hoje?

–O Aiolos e ele estavam meio atarefados hoje, já que o Kanon não foi para a Cantina. Então eles não deram certeza.

–Ah, entendo... – ficou borocoxô por alguns instantes, mas logo voltou a alegria de sempre – Bem, eu vou assistir Charlie’s Angels com a Sofi. Só toma cuidado pra não se assustar com a Fê.

–Me assustar com o quê?

–Logo você verá. – piscou e saiu andando com suas muletas cheias de estrelas vermelhas.

Fiquei preocupado com as palavras da loira e subi mais do que depressa, chegando a ficar tonto. O que encontrei lá não me assustou, mas me deixou maravilhado: uma espécie de estufa, mas ao invés de plantas, várias prateleiras preenchidas com livros de todos os tamanhos, um telescópio refrator – que parecia ser desnecessário, pois o céu era bem visível graças ao teto de vidro, que suponho que tenha sido projetada especialmente para isso – e, no centro de tudo, uma mesa de estudos, na qual Fedra estava sentada. Essa não era a Fedra que eu conheci. A garota de short e blusa curta, fumante e boca suja que conheci nas colinas deu lugar a uma mulher de calça jeans e camisa carmim. Ao invés dos costumeiros óculos escuros, óculos de grau ressaltando os belos olhos de Bette Davis. Não havia cerveja ou cigarro: apenas uma caneca de café, alguns livros e um caderno de anotações. A única coisa que essa mulher tinha em comum com a que conheci era o fiel labrador Anúbis a seu lado:

–Saga?! – falou, ao me ver ali. Rapidamente, retirou os óculos – Aff, nem pra me avisarem que você já tinha chegado! O que faz aí, parado com essa cara de bocó?

–Estava me apaixonando por você de novo – falei, me aproximando e lhe dando um beijo ardente, correspondido da mesma forma.

–Deixa de ser cafona! – riu, após nossos lábios se descolarem – Eu estou uma baranga. Toda desarrumada e sem lentes de contato.

–Não precisa... Você é linda de qualquer jeito. – ela sorriu e ficou vermelha. Enquanto acariciava seu rosto, continuei – Então... Esse é o “jardim suspenso do vovô Cipriatis”?

–Ah... Agora sei por que não me avisaram que você tinha chegado. A Agnes abriu o portão, não foi?

– Ela mesma. – ri – É um belo lugar para se estudar.

–Sim. Passei a minha infância sentada nessa cadeira que você está. Ele construiu essa biblioteca para relatar seus conhecimentos sobre os Cavaleiros de Athena e, obviamente, Astronomia e Astrologia.

–Isso também?

–Claro. São assuntos interligados. Parece que cada Cavaleiro é protegido por uma constelação. E que as armaduras são representações destas. – suspirou – Esses livros são de mitologia, mas boa parte deles são diários que o meu avó escreveu sobre sua pesquisa... Que ele não conseguiu concluir.

–Mas que você concluirá.

–Com a sua ajuda?

–Claro, minha linda.

Mais uma vez nos beijamos, mas foi diferente do anterior. Claro que havia desejo, volúpia, mas tinha um gosto a mais. Um gosto que eu descobri assim que nossos lábios se soltaram e nossos olhos se encontraram:

Io ti amo...

Foi um sussurro. O mais doce sussurro que eu já escutei. Pouco me importava se eu ia me expor a ajudando na pesquisa sobre os Cavaleiros de Athena. Eu não queria saber de mais nada. Apenas queria toma-la em meus braços e fazê-la minha, mas naquele instante, fui bloqueado:

–Você sabe que, quando começamos, não queremos parar. – Falou, rindo maliciosamente – Vamos tentar, ao menos, levantar alguns dados?

–Vamos – respondi rindo.

Passamos algumas horas coletando e cruzando informações dos livros de mitologia e dos diários do Vovô Cipriatis. Ele realmente havia juntado bastante coisa condizente, inclusive relatos de batalhas que eu sabia que havia acontecido. Quando começou a escurecer, Fedra me puxou e me jogou no chão. Pediu para que eu ficasse deitado lá e apreciasse o espetáculo. Foram alguns segundos até uma chuva de estrelas cadentes começar. Ela aninhou a cabeça em meu ombro e ficamos ali, observando em silêncio o espetáculo celeste, até que ela virou o corpo e me beijou. Amamos-nos ali mesmo, no chão, sem se importar com quem poderia ver ou ouvir nossa paixão:

Dio mio (Meu Deus)! – ela disse, afoita – Parece que fica cada vez melhor.

–É que eu te amo mais a cada instante.

Nos beijamos novamente, mas a paixão foi interrompida quando voz de Aiolos, apesar de distante, foi ouvida por nós:

BICHO! PICIRICO NA BIBLIOTECA É NOVA PARA MIM! TINHA QUE SER COISA DO QUADRADÃO MESMO!

Foi impossível não rir. A morena tornou a deitar ao meu lado e, aninhando a cabeça ao meu ombro, voltou a olhar o céu, mas só ficou nessa posição por alguns instantes. Depois levantou assustada, olhou bem para o céu e, completamente nua, correu para o telescópio:

Qualé o plá, Fedrinha?

–A constelação de Gêmeos está brilhando! Lembra o que lemos hoje? As constelações estão ligadas ao Cavaleiro que a protege.

–Sim, eu me lembro... Mas pode ser que o Cavaleiro de Gêmeos esteja apenas feliz.

–Bobo...

Sorriu e, mais uma vez, me beijou apaixonada. Mal sabia ela que eu estava falando a mais absoluta verdade. O Cavaleiro de Gêmeos estava mais feliz do que nunca, apesar de não saber até quando toda essa felicidade ia durar.


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Notas finais do capítulo

Vamos aquele dicionário básico de todo capítulo:

Neurando – preocupando.
Cair na curtição - aproveitar aquele momento
Galaktobureko - torta doce de creme, com massa

folhada e calda.
Durango - Sem dinheiro.
Invocada - irritada, nervosa
Numa nice - Tudo Bem.
joça - coisa que não se sabe o nome
Borocoxô - triste, sem energia
Charlie’s Angels - nome original da série "As Panteras"
Bocó - besta
Picirico - transa.
Get Up And Boogie - música da banda "The Silver Convention". Usei a música por que esgotei minha imaginação e não consegui pensar em um título para o capítulo
****
Olha só... Voltamos, uhuuu (Na verdade, tia Myu voltou e não sabe o paradeiro da Madame Chanel, enfim...)
Bom, agora prometo atualizações com menos tempo, desde que vossas excelências deixem um reviewzinho, ok?!
Dulces Besos de Chocolate



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