Quinta-feira, céu sem nuvens. Estávamos arrumando tudo para passar uma semana na casa de campo que o pai da Demi havia nos emprestado.

Chegando lá, arrumamos as malas e fomos fazer uma trilha, que durou até a noite.

Demi ia à frente para mostrar o caminho, enquanto Raquel e Alex andavam por último, muito distraídos.

– Onde estão o Alex e a Raquel? Eles estavam bem atrás de nós!- perguntei desesperada.

A verdade é que eles se distraíram e acabaram se perdendo na trilha.

– Olha, adorava andar naqueles pneus quando era pequena! No Rio você já viu isso Alex?

– Não, que graça tem?

– Agente tenta andar em cima sem desequilibrar. Assim... – e subiu, tentando se equilibrar. Num único momento de distração, caiu. Alex correu para segurá-la, mas os dois acabaram caídos no chão. Riram, se olharam por alguns instantes e, com certa magia no ar, se beijaram.

– Isso é errado...

– Por quê?

– Alex, você é namorado da Sofia! Veio até aqui por causa dela...

– E acabei conhecendo você... Relaxa e curte um pouco. Só tem nós dois aqui!

– Eles devem estar nos procurando. Vamos fazer assim: quando todos já estiverem dormindo, vá para a varanda! Lá não terá perigo de alguém nos ver.

– Gosto desse seu lado!- disse ele, dando uma piscada.

Ao ouvirem nossos gritos, levantaram mais do que depressa.

– Ainda bem que achamos vocês!

– O que estavam fazendo? Estão com a roupa toda suja... - comentou Gabriel com um toque de safadeza.

Voltamos para casa e comemos alguma coisa. Após horas conversando na sala, fomos para os quartos.

No meio da noite, por azar, algo não me deixava dormir, então resolvi andar um pouco para conhecer aquela casa enorme onde ficaríamos durante a semana.

Cheguei perto da cozinha, percebi uma pequena fresta de luz, ouvi vozes sussurrando e fui ver. Espiando de uma maneira quase imperceptível, não pude acreditar no que via e ouvia, Alex e Raquel aos beijos.

Voltei para o quarto. As lágrimas minavam dos meus olhos. Como aquilo foi acontecer? Eu achando que ela tinha se tornado minha amiga e que ele ainda me amava... Que tola!

No outo dia, assim que o sol nasceu, peguei uma xícara de cappuccino e fui sentar ao ar livre para colocar a cabeça em ordem.

– Bom dia! O que está fazendo aqui uma hora dessas?- ouvi uma voz calma vinda por trás de mim.

– Ah, oi David! Só estou pensando na vida... E você? O que está fazendo aqui?

– Sempre gostei de, quando acordo cedo, sentir a brisa da manhã. Você andou chorando?- perguntou.

– É tão notável assim?

– Não tanto... Mas o que tirou aquele sorriso tão lindo do seu rosto?

– Você realmente quer saber, ou só está sendo gentil?

– Se puder ajudar... Quando se está triste, falar com alguém alivia um pouco!

– De madrugada eu perdi o sono e fui andar pela casa. Foi aí que eu vi o Alex e a Raquel agarrados lá na varanda. Eu não sei o que fazer... Minha vida virou de cabeça pra baixo! – disse com os olhos cheios de lágrimas.

– Quer que eu fale com ele?

– Não, eu mesma vou acertar tudo hoje a tarde. Faz um favor pra mim?

– Claro!

– Se alguém perguntar por nós, quando vocês estiverem no rio, fala que não é para se preocupar... Ok?

–Tá! Você vai ficar melhor?- perguntou com um olhar doce.

– Tomara que sim!

Quando todos desceram para o rio, o chamei de lado e conduzi até a varanda.

– Não tem nada para me contar?- perguntei com ironia.

– Do que está falando Sofia?

E para me irritar mais ainda, minha “suposta amiga” chegou:

– O que está acontecendo gente?

– Vocês dois são muito sínicos mesmo! Eu vi vocês de madrugada. Acharam que eu sou idiota?

– Sofia... – tentaram se explicar.

– Não quero mais ouvir nenhuma palavra...

– Agente não teve culpa, simplesmente aconteceu! Eu já estava pensando em terminar, ai quando eu fiquei sozinho com a Raquel tive certeza que não te queria mais...

– Então eu sou como um objeto, que quando você enjoa logo troca por outro?

– Não é bem assim...

– Cala a boca seu cretino!

Saí correndo para um pomar que havia atrás da casa, encostei-me a uma árvore e sem perceber fui escorregando.

Sentada no chão, longe de todos, falava em voz baixa:

– Como isso pôde acontecer? Não quero ver a cara desse safado nunca mais! Que ele volte para o Rio e não apareça por aqui! Vou esperar um pouco, depois vou falar com a Júlia. Com certeza ela me ajudará! Mas por que está acontecendo isso comigo? Por quê?- lamentava em meio a soluços.

Só quando ouvi a voz de todos voltando, me dei conta que já estava quase escurecendo.

Levantei. Não podia ficar daquele jeito! Eu era muito mais forte! Ergui a cabeça e prometi para mim mesma que Alex nunca me veria chorar, não daria esse gostinho a ele!

Ao me ver, David correu ao meu encontro.

– E ai Sofia? Como foi? Fiquei preocupado de não te ver até agora!

– Ah, foi horrível! Como eu já imaginava...

– O que ele falou?

– Que já estava querendo terminar comigo e se apaixonou pela Raquel...

– Puts, que barra! Mas não fica assim não! Se ele foi tão burro a ponto de trocar uma garota tão linda e meiga, como você, ele não te merecia!

– Ai David, obrigada por estar me dando uma força! Você está sendo um amigão!- depois de muitas horas, algo havia me feito sorrir um pouco.

– Fico muito feliz por ver que consigo arrancar um sorrisinho seu!- acariciou-me a bochecha, me fazendo ficar rosada.

Subi as escadas, a procura de Júlia. O seu quarto ficava bem no fundo de um corredor cheio de quadros.

– Jú, preciso falar com você!

– Pode falar!- respondeu sem prestar muita atenção.

– Eu vi ontem o Alex e a Raquel se agarrando na varanda! Como eles puderam fazer isso comigo?

– Mas os dois estão realmente se gostando!

– Você já sabia e não me contou? Até você Júlia?

– Ah, para de se fazer de vítima Sofia! Boba você não é. Você realmente achou que ele não te traia lá no Rio? A Raquel tá mais é certa, o Alex estava de saco cheio desse seu jeito meigo e certinho de mais! E eu também! A Raquel é decidida, tem personalidade forte...

Uau! Nunca poderia imaginar Júlia falando essas coisas! As coisas estavam piorando a cada dia que passava.