Raquel chegou na segunda aula e fez questão de sentar perto da Mari, ficando obviamente perto de mim também, o que me irritou um pouco.

– Mari, Demi, David, Sofia, tudo bem com vocês?? Faz tanto tempo que agente não se fala!

Fiquei muito irritada com o cinismo da garota em chegar assim como se nada houvesse acontecido antes e fiz que ela nem estava lá. Mari, percebendo que não havia clima para conversarmos, falou por todos:

– Oi Raquel...

– Posso sentar aqui? – disse apontando para uma carteira vazia que havia do lado dela e bem atrás de mim.

– Eh... Estou guardando lugar, desculpa!

– Pra quem? Toda a turma está aqui. Inclusive o David e a Demi... O que estão fazendo aqui?

– Não tá vendo não? Agente veio estudar, ao contrário de você né!

– Já chega! Raquel, senta ali... – disse olhando para um lugar vago algumas carteiras à frente – Pra evitar confusão.

Eu fiquei com um ponto de interrogação na cabeça: o que aconteceu para todos tratarem a Raquel assim? Quem havia motivos para ter raiva dela era somente eu... A não ser que tivesse acontecido alguma coisa e eu não sabia...

Durante o dia todo a garota ficou nos afrontando com olhares e sorrisos sarcásticos. Minha vontade era de falar poucas e boas para ela, mas me contive como era o primeiro dia de aula, se eu desse barraco quem sairia mal falada com certeza não iria ser ela.

David fez questão de me acompanhar até em casa, sentamos em um banquinho que tinha em frente da garagem, de baixo de uma sombra deliciosa, e ficamos conversando.

– Você estava querendo me matar quando apareceu naquela porta não é? – disse rindo.

– Só se fosse de felicidade!

– Mas uma coisa me deixou confusa...

– O que amor?

– Por que você foi tão agressivo com a Raquel? Antes das férias vocês estavam se dando tão bem! E quem tem motivo para ficar com raiva dela com o que houve na casa de campo sou eu!

– Não é nada...

– Fala David!

– Tá bom... Antes de você chegar eu e ela éramos melhores amigos, ai nós fomos nos distanciando. A Raquel ficou com muita raiva de você porque ela já não tinha tanta atenção de todo mundo como antes, mas para não se excluir do grupo nunca demostrou nada...

– Aquela falsa ficou um ano fingindo que gostava de mim?! Mas espera... O problema dela é comigo, por que você tá bravo com ela?

– Eu ia chegar nessa parte, enfim... Na casa do campo eu já estava gostando de você – no fundo eu já sabia disso- e quando ela viu que foi eu quem foi te consolar depois de tudo o que aconteceu, falou um monte de coisa sobre você. Eu não pude aguentar calado e também falei umas coisas que estavam entaladas na minha garganta a muito tempo! Foi muito ruim ouvir a Raquel, que era minha melhor amiga, falar assim de você amor... – disse abaixando a cabeça.

– Mais o que ela falou exatamente...? – fiquei com dó do David, mas meu sangue começou a ferver por causa daquela garota.

– Disse coisas horríveis,  que você era uma assanhada... Não vale nem apena repetir, mas eu sei que é tudo mentira, fica tranquila Sofia!

– Tudo bem.

– Bom, eu vou pra casa...

– Não! – o puxei um pouco pela mão- Fica mais um pouquinho...

– Não posso. Tchau... – me deu um beijo na testa e saiu.

Eu almocei e logo liguei para a Mari, com certeza não deixaria tudo o que o David me disse passar batido!

– Oi Sofia!

– Oi, Mari, você sabe onde a Raquel mora?

– Sei sim... Mas por quê? Não tá pensando em fazer nenhuma besteira não né?!

– Só me passa o endereço...

– Sofia Sofia... Olha lá o que você vai fazer hein! – e me passou.

Quando eu cheguei no portão da casa dela meu sangue fervia e meu coração acelerava. Toquei a campainha e foi a própria quem me atendeu:

– Sofia... O que faz aqui? –disse com um sorriso que convenceria a qualquer um.

– Pode parar de fingir Raquel, o David me contou tudo! Então quer dizer que você vivia falando mal de mim pelas costas por causa de ciúmes? – disse sendo o mais sarcástica possível.

– Não sei do que você está falando... – me mandou um olhar desafiador.

– Eu sei que vocês eram melhores amigos, mas não deixaram de ser por minha causa, foi por sua!

– Olha aqui, se você não tivesse entrado nas nossas vidas tudo continuaria perfeito como estava, só veio para atrapalhar! Você roubou meu melhor amigo!

– E você meu namorado. Quem você pensa que é pra falar assim de mim sua vadia?

– Você me chamou de que? – naquele momento percebi que nós iríamos sair no tapa.

Cheguei mais perto e quase que esfreguei na cara dela:

– V-A-D-I-A!

Ela me deu um tapa tão forte que me derrubou no chão. Meio tonta, eu levantei e dei um mais forte ainda na cara dela.

– Biscate!!!

– Cala a boca vagabunda! – puxão de cabelo.

– Vem calar vadia recalcada!!! – puxão de cabelo, soco, etc...

Quando caímos no chão, entre chutes tapas e muitos palavrões, acabamos rolando quase a calçada inteira por a rua ser uma descida, só paramos quando Demi, Gabriel e Mari chegaram nos separando.

– Me larga que essa vadia não apanhou o que merece ainda! –eu gritava enfurecida enquanto Gabriel me segurava pelos braços.

– Quem tem que apanhar é você, chegou na minha casa e já veio pra cima de mim. Onde já se viu??- gritava ela do outro lado sendo segurada por Demi e Mari.

E por ai foi: batemos boca, tentávamos nos soltar... Enfim, demoramos muito tempo mesmo para nos acalmar, se é que conseguimos ficar realmente calmas em algum minuto depois daquilo, a única coisa que as duas pensavam era de como deixar mais hematomas na outra.