Assim como havia prometido, Sophie conseguiu para Ron uma reunião com um estúdio cinematográfico de Londres. Ron ficou agradecido, mas não tinha certeza se deveria aceitar, Hermione ainda não havia acordado e ele não queria sair de perto dela.

–Ansioso para amanhã? Sophie perguntou ao passar no quarto para trocar os remédios de Hermione.

–Não sei se devo ir. Quer dizer, eu fiquei muito feliz por você ter conseguido esta reunião, mas... Ele respondeu procurando um modo de dizer que não fosse magoa-la.

–Mas?

–Mas não posso deixar Hermione sozinha. A última vez que a deixei, ela quase morreu e está há oito dias em coma.

–Hermione não ficará sozinha, pessoas é o que menos falta neste hospital. Esse filme é o seu sonho e nós nunca devemos desistir dos nossos sonhos, mesmo que encontremos barreiras no caminho. E o mais importante, quando Hermione acordar e descobrir que você não foi a essa reunião, ela irá ficar tão brava e aí sim terá um verdadeiro motivo para não se casar com você!

–Você pareceu muito a Hermione agora. Ron disse sorrindo ao lembrar-se do jeito mandão dela. –Você promete que se Hermione acordar irá me ligar imediatamente? Mesmo que eu esteja na reunião?

–Sim, só se você prometer que irá passar a noite em casa e descansar...

–Isso é uma negociação? Ele riu. –Vou dormir aqui e amanhã passo em casa e tento ficar com uma aparecia mais apresentável, tudo bem assim?

–Aceitável! Sophie sorriu. –Boa noite e se não nos vermos amanhã, boa sorte!

Ron dormiu na sua poltrona ao lado da cama de Hermione. As primeiras noites foram complicadas, acordava todos os dias com dores, principalmente nas costas. Após oito noites, até achava confortável dormir praticamente sentado.

Na manhã seguinte, Ron acordou cedo com a visita do médico fazendo os exames de rotina. Neville disse que Hermione e o bebê estavam bem e que era apenas questão de tempo para ela acordar.

–Eu preciso sair, mas de tarde estarei de volta e trarei as crianças. Ron se despediu de Hermione. –É egoísta da minha parte pedir que você não acorde enquanto eu estiver fora? É tem razão, é muito egoísta. Sabe, seria legal voltar e encontrar você acordada, poderíamos conversar... Eu tenho uma reunião importante hoje, então se você puder me desejar sorte seria muito bom. Ele acariciou a barriga dela. –Amo vocês.

Rose e Ben estavam morando com os avós nesses últimos dias. Ron pelo menos uma vez ao dia ia até a casa dos pais ficar um pouco com os filhos, também aproveitava para tomar banho e trocar de roupa. Molly estava preocupada com o filho, ele não se alimentava e dormia direito, daqui a pouco ele acabaria ficando doente.

–Bom dia! Ron chegou e encontrou todos tomando café.

–Hermione já acordou? E o bebê está bem? Rose perguntou aflita.

–Ainda não acordou. Ele pegou a filha no colo. –O bebê está bem.

–Nós vamos visitar Hermione hoje? Ben perguntou de boca cheia. –E podemos levar o Hugo junto?

–Sim, eu busco vocês na escola e depois vamos visita-la. Agora terminem de tomar café que hoje eu irei levar vocês para a escola!

As crianças ficaram felizes, afinal nos últimos dias ficavam pouco tempo com o pai. Ron foi rapidamente tomar banho e fazer a barba. Molly separou um dos melhores ternos do filho, passou uma camisa branca e escolheu uma gravata que combinava.

–Obrigado, mãe. Ele agradeceu ao encontrar a roupa separada e cuidada em cima da sua cama. –E obrigado por cuidar das crianças esses dias por mim. Estou tentando consertar as coisas com Hermione e acabo deixando Rose e Ben de lado...

–Ter alguém ajudando não quer dizer que falhou ou é incapaz, apenas significa que não está sozinho. Ben e Rose estão bem.

–Obrigado pela ajuda. Você e o papai estão me ajudando muito! Ron abraçou a mãe.

Em frente à escola encontraram Hugo com os avós, hoje o garoto retornava as aulas após o acidente. Ron ainda tinha um tempo antes de ir para reunião e ficou conversando com John e Catherine. Era bom eles poderem conversar e se encontrar fora do ambiente do hospital.

–Como Hugo está se sentindo em relação à morte do pai? Ron perguntou preocupado.

–Não sei, ele não conversa muito. Ainda é recente, mas acho que Hugo ficará bem. John sorriu ao ver o neto brincando normalmente com os colegas.

–Mas ele realmente está muito animado em relação ao bebê. Imagino que Rose e Ben também estão. Catherine comentou contente. –Todos nós estamos.

–Rose está muito animada, diz que irá até trocar fraudas. Já Ben fica mais na dele, acho que ele ainda está se adaptando. Ele respondeu sem esconder a própria felicidade. –Eu irei levar as crianças depois da escola para visitar Hermione posso levar Hugo também.

–Seria ótimo, estamos tentando colocar a confeitaria em ordem e falta tempo para ir até o hospital. Depois passamos lá e buscamos as crianças, tudo bem?

–Certo, agora tenho que ir ou irei me atrasar! Ron se despediu. –Até mais!

–Boa sorte! Catherine e John o desejaram sorte.

Faltavam dez minutos para as dez horas, o trânsito estava mais tranquilo e Ron chegou com tempo de folga para a reunião. Ficou aguardando até que o chamassem.

–Senhor Ronald Weasley! Um homem não muito mais velho que ele o cumprimentou. –Prazer, Robert Miller.

–Prazer, senhor Miller. Ron retribuiu o cumprimento um pouco nervoso. –Pode me chamar de Ron.

–Certo, vamos deixar as formalidades de lado, pois ao final desta reunião podemos trabalhar juntos. Pode me chamar de Rob.

Robert o encaminhou para uma sala onde outros executivos já os aguardavam. Pediram para que Ron contasse um pouco de si, no que já havia trabalhado e sobre o projeto. Ron ficou um pouco nervoso no inicio, mas depois relaxou, sempre que falava sobre o seu projeto era como se falasse dos filhos ou de alguém que amava muito. Os executivos ficaram realmente impressionados com a ideia dele, mesmo tendo pouca experiência com cinema e grandes produções era ambicioso e queria fazer o melhor.

–Nós realmente gostamos da narrativa da história, dos seus planos e principalmente, da sua coragem em querer fazer isso dar certo. Rob começou a falar após conversar rapidamente com os outros presentes na sala. –E nós acreditamos em você, por isso iremos comprar o seu projeto. Parabéns, Ron! Começaremos a procurar a equipe técnica e os atores em um mês e se der tudo certo, as gravações começaram em seis meses.

–É serio? Ron estava estático na cadeira, sentia que se levantasse suas pernas não iriam aguentar. –Vocês tem certeza?

–Sim, a Dona Sophie tinha razão. Minha mãe disse que valeria a pena escutar você.

–Sophie é sua mãe? Ron tentava absorver tudo o que acontecia. –Ela tem me ajudado muito...

–Eu sei, minha mãe me contou. Espero que sua noiva se recupere logo.

Robert disse que manteriam contato e nós próximos dias assinariam o contrato. Ron saiu do prédio ainda não acreditando, parecia até que Londres o parabenizava deixando que um belo sol aparecesse no lugar do cinzento céu. Harry ligou para saber como foi a reunião e chamou o amigo para almoçar.

–Eu realmente estou feliz por você! Harry o parabenizou. –Viu, você não precisava ter ido até os Estados Unidos para realizar o seu sonho!

–Eu sei e Hermione e Hugo não teriam sofrido esse acidente... Ron ainda não conseguia comemorar, só ficaria com a felicidade completa quando Hermione e o bebê não corressem mais risco algum.

–Não pense assim. Você também não teria conhecido Sophie! O amigo o interrompeu. –Pense que isso é uma segunda chance para começar tudo novo de novo!

–Um jeito bem dramático, não acha? Ele sorriu. –Eu e Hermione precisamos ficar dez anos separados, ter relacionamentos com outras pessoas para descobrir que deveríamos ter ficado juntos desde a primeira vez?

–Bom, vocês pediram por isso! Harry riu. –Vocês são as pessoas mais teimosas que eu conheço! Talvez fosse para ser assim.

Ainda era cedo para buscarem as crianças, Harry estava de folga e convidou o amigo para ajudá-lo com a reforma que faziam na casa. Gina e Harry moravam no mesmo bairro que Ron morava poucos meses atrás. No caminho uma casa que estava à venda chamou a atenção de Ron, ficava mais perto da escola das crianças e da casa dos Granger do que sua antiga casa.

–Será que podemos entrar só para ver? Ron perguntou ao amigo. –Tenho que achar uma casa, não posso morar com meus pais para sempre.

Era uma bela casa de três andares sendo que o andar inferior deveria ter sido um porão, mas agora era um lugar claro pela claridade que vinha da porta de vidro que com alguns degraus dava acesso ao jardim, perfeito para uma sala de televisão e reunir a família, tinha até uma parte da parede pintada com uma tinta especial que imitava um quadro negro, as crianças iriam poder desenhar com giz sem estragar a parede. No primeiro andar ao entrar era recebido por uma acolhedora sala de estar e uma lareira que seria muito útil no inverno, ao lado um pequeno banheiro e uma sala reservada que tinha a função de escritório ou biblioteca. No fundo uma cozinha bem equipada com vários balcões e uma ilha no centro que ligava-se a sala de jantar e também uma saída para o jardim, todo o ambiente era conectado o que dava a sensação de intimidade e aconchego. No segundo e último andar ficavam os quatro quartos sendo uma suíte que Ron planejava ser o seu quarto com Hermione. Os outros três quartos tinham quase o mesmo tamanho e ainda dois banheiros para esses quartos.

–É bem maior do que a sua antiga casa, tem um quintal grande para essa região. Harry disse após conhecerem o imóvel. –É a casa perfeita para uma família como a sua, você sabe, com três crianças e um bebê a caminho!

–Também achei... Estou pensando em comprar, o que acha? Ron parecia decidido.

O corretor responsável pela venda do imóvel o deixou aberto para visitas durante o dia e já havia recebido algumas ofertas. Ron não tinha experiência nenhuma em comprar imóveis, quando morou nos Estados Unidos sempre alugou e o mesmo em Londres. Harry tinha um pouco mais de experiência, ele e Gina compraram a casa que moram, mas isso foi há anos atrás, o mercado havia mudado muito. Ron decidiu fazer uma oferta e o corretor disse que entregaria todas aos donos e que depois ligaria dando a resposta.

Harry e Ron foram buscar as crianças na escola. James e Albus também quiseram ir ao hospital visitar Hermione, mas Harry prometeu leva-los no fim de semana junto com Gina.

–Ei, sem correr! Ron pediu sem resultado as crianças. –E batam na porta antes de entrar!

–Sophie está com a mamãe! Hugo disse ao entrar no quarto e ver a senhora arrumando a cama que estava vazia. –Cadê a minha mãe?

Hermione saia lentamente do banheiro e caminhava de volta para a cama. Hugo correu abraça-la com cuidado, logo Ben e Rose entraram no quarto e Hermione os chamou para o abraço.

–Eu disse que era para não correr... Ron parou de falar ao ver Hermione cercada pelas crianças. –Hermione?

–Oi, Ron... Ela respondeu abraçada as crianças. –Tudo bem?

–Claro, você acordou! Ele ainda não conseguia acreditar e olhou seriamente para Sophie. –O nosso acordo era você me ligar se ela acordasse!

–Eu sei, mas Hermione pediu que não ligasse, ela não queria atrapalhar a sua reunião que soube ter sido um sucesso! Sophie respondeu alegre.

–É, seu filho gostou do meu projeto e resolveu compra-lo. Começaremos em um mês!

–Parabéns, Ron! Hermione ficou tão feliz que não se conteve e o abraçou. –Estou feliz por você.

–Obrigado. Ele retribuiu o abraço, já havia esquecido como era macia a pele dela, se pudesse não a soltaria mais. –Estou mais feliz por ter encontrado você acordada.

–Eu volto mais tarde. Sophie ajudou Hermione a voltar para cama. –Nada de bagunça, você ainda precisa ficar em repouso.

–Então, meu irmãozinho ou irmãzinha vai chegar logo? Rose perguntou curiosa.

Hermione levou um susto, como Rose já sabia da sua gravidez? Ela olhou para Ron atrás de ajuda, ele apenas sinalizou para que ela falasse a verdade.

–Bem, acho que ele ou ela deve chegar em seis meses.

Se as crianças continuassem fazendo perguntas sobre esse assunto Hermione e Ron não saberiam o que responder, ainda não tiveram uma chance de conversar. Para a sorte deles, de repente o quarto ficou lotado, John, Catherine, Molly, Arthur, Harry, Gina e os meninos vieram fazer uma visita.

Quando Hermione acordou Sophie já havia contado sobre o que tinha acontecido, ela sabia que Comarco morreu no acidente e que já haviam contado para Hugo e ele parecia estar bem com tudo isso.

–Nós ficamos muito preocupados. Arthur disse durante a conversa. –Até hoje não sei como nós conseguimos sair de Nova York e chegar aqui em tão pouco tempo.

–Vocês estavam em Nova York? Achei que fosse apenas Ron que estava lá... Hermione não entendeu.

–Ron estava em uma reunião em Los Angeles quando Sophie ligou avisando sobre o acidente. Catherine contou. –Ele foi até Nova York buscar suas coisas e as crianças também quiseram vir junto. Arthur os encontrou no aeroporto por acaso, e conseguiu com que voltassem no primeiro voo.

–E desde aquele dia, Ron não saiu mais daqui. Gina comentou. –Passou todas as noites dormindo nessa poltrona do seu lado e ia apenas para casa tomar banho, ver as crianças e voltava para cá.

–Obrigado, Ron. Hermione disse emocionada com os atos dele.

–Não foi nada. Ele respondeu um pouco corado, não esperava que eles fossem tocar neste assunto.

O médico passou para ver como Hermione estava se sentindo. Neville acreditava que apenas mais três dias e ela teria alta. As visitas se despediram prometendo voltar no dia seguinte.

–Você vai ficar, Ron? Hermione perguntou quando todos estavam se despedindo.

–Você quer que eu fique? Ele esperou o que ela diria.

–Sim. Ela respondeu sorrindo.

–Então eu fico. Ron retribuiu o sorriso.

Depois que todos foram embora, pela primeira vez os dois ficaram sozinhos desde que ela acordou. Ron tinha vontade de contar tudo o que aconteceu se desculpar por ter ido embora daquele jeito e principalmente dizer que a amava. Hermione sabia que várias coisas passavam pela cabeça dele e que ele talvez ainda não tivesse dito nada apenas por ela ter acabado de acordar.

–Desculpe não ter te contado nada sobre aquele encontro com Comarco, eu apenas não queria que você se chateasse por algo que não precisava. Ela disse de repente. –E por ter demorado para contar sobre o bebê.

–Não precisa se desculpar. Ele sentou na cama e segurou a mão dela. –Não vamos falar sobre isso agora, você precisa descansar. O importante é que você e o bebê estão bem.

–Mas eu quero falar sobre isso! Ron, eu poderia ter morrido! E só o que eu conseguia pensar era que se eu morresse... Ela começou a chorar. –A nossa última lembrança seria uma briga onde dizemos coisas horríveis um para o outro e eu assistindo você entrar no avião.

–Você foi até o aeroporto aquele dia? Ron perguntou confuso.

–Eu fui atrás de você para explicar, mas cheguei tarde demais. Só vi vocês embarcando.

Ron estava confuso, não sabia o que dizer. Hermione tinha ido atrás dele. Se ele tivesse acreditado quando Ben disse que viu Hermione, talvez tivesse sido tudo diferente. Hugo ainda teria o pai e Hermione não teria quase morrido. Um sentimento de culpa e remorso o invadiu, começou a chorar incontrolavelmente. Hermione ficou assustada e o abraçou forte.

–Eu disse alguma coisa errada? Ela perguntou depois que ele se acalmou.

–Desculpe chorar deste jeito na sua frente. Ele limpou as lágrimas. –Ben falou que te viu no aeroporto e eu não liguei, preferi ignorar e fugir. Se eu tivesse escutado poderia ter sido tudo diferente e nós não estaríamos aqui nesse hospital...

–“Poderia ter sido”... Hermione repetiu as palavras dele. –Talvez nós tivéssemos que passar por tudo isso para finalmente ver que devemos ficar juntos.

–Eu e você fomos feitos para ficar juntos. Sempre foi assim. Eu não quero passar o resto da minha vida pensando em você e sonhando com o que poderia ter sido. Ron respondeu sinceramente.

Não havia mais o que dizer ou explicar. Eles se amavam e o melhor a fazer era deixar o passado no passado, viver o presente e planejar o futuro. Finalmente se beijaram, um beijo carregado de saudade e amor.

–Desculpe, eu preciso atender. Ron interrompeu o beijo, pois seu celular estava tocando. –Alô? Sim, sou eu. Fico muito feliz em saber, é claro que aceito! Certo, amanhã nos encontramos. Até mais.

–Com quem vai se encontrar? Ela perguntou curiosa. –Acho que perdi alguma coisa enquanto fiquei desacordada.

–Não precisa ficar com ciúmes. Ele sorriu. –Só estou cuidando do nosso futuro.

Uma preocupação a menos, Ron e a família já tinham onde morar. O corretor ligou avisando que os donos aceitaram a sua proposta, só precisava assinar os papeis e teria uma casa.