Schyler escrita por Gi Carlesso


Capítulo 57
Menino dos olhos dourados


Notas iniciais do capítulo

Olá, minhas belas candy pies! Gostaram da nova capa da fic? Eu estou apaixonada pela foto hahahaha
Terminei de escrever esse capítulo enquanto via o filme "O grande Gatsby" e não sei porque, esse filme me deu uma vontade insana de escrever meus livros!! Não entendi, mas ok hahahah agora quero ler o livro '-'



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Estava estampado nos olhos de Miguel cada mínimo detalhe do que ele faria conosco a seguir quando tivesse sua chance. Apesar de todos os alertas e olhares culpando-me, eu não possuía medo algum daquele arcanjo. Talvez, porque sabia que éramos inocentes ou simplesmente, porque depois de tudo o que eu fizera, não sentia mais medo algum dele. Eu conseguira enfrentar Miguel uma vez, algo que nenhum anjo naquela sala fora capaz de fazer e ainda por cima, enfrentara o inferno e céu de uma vez só em nossa guerra. Portanto, não havia qualquer coisa que fosse naquele salão que poderia me meter medo.

Miguel colocou-se em sua cadeira principal sendo observado por todos, inclusive pelo outro arcanjo, Uriel, quem alternava seu olhar neutro entre nós e o príncipe dos anjos. Se eu o conhecesse bem, diria que estava tramando alguma coisa, pois eu mesma vira bem que Uriel não agia da mesma forma que Miguel. Ele parecia mais... arcanjo que o próprio príncipe.

– Quero que todos aqui presentes no Salão Negro de Deus saibam que esse julgamento nunca teve a ver com Aliha e seus crimes contra o céu. – disse ele olhando diretamente para mim, porém falava com os anjos nas bancadas de cada lado do júri. – Sempre se tratou de um crime de magnitudes muito maiores. Ambos os casais que veem a frente de vocês, são amantes. Dois são anjos e as duas jovens, Nefilins.

Pela segunda vez desde o início do julgamento, os anjos sentados se agitaram, porém, agora não pareciam apenas surpresos.

Pareciam ultrajados.

– Isso é um crime! – ouvi um no fundo gritar enfurecido. – Queimem as duas!

– Tire essas criaturas nojentas do céu, Miguel! – um que estava quase bem a minha frente apontava de uma forma nada agradável para mim e Blair, quem olhava na direção dos anjos com certo medo.

Mal pude esconder a vergonhar e o quanto havia ficado envergonhada. Parecia que todos os acontecimentos de minha infância estivessem se repetindo e eu fosse obrigada a aguentar novamente os insultos. Por um instante, parecera realmente que meu padrasto estava bem ali apontando-me o dedo e dizendo coisas horríveis sobre eu ser uma aberração.

– Basta. – ordenou Miguel. Em segundos, todos pararam de dizer sentenças sobre eu e Blair e finalmente se acalmaram. Logo, eu me lembrei de como respirava. – Sou eu quem deve sentenciar as Neflins, meus caros. Lembrem-se disso.

Miguel estivera de pé por alguns instantes para acalmar os nervos dos anjos e por isso, voltou a se sentar olhando rapidamente de rabo de olho para Uriel, pelo o que meus olhos captaram. Por um segundo, achei que algo estranho estava acontecendo ali, pois Uriel apresentou um comportamento muito diferente do seu do começo do julgamento.

– Retornando aos assuntos oficiais, - retomou o arcanjo. – nosso querido anjo caído, Gabriel, e o anjo da guarda Tristan mantêm relacionamentos com Neflins. Isso vai além de um crime. Vocês dois estão quebrando milhares de regras celestiais, mas principalmente a que diz claramente que é proibido qualquer tipo de relacionamento com humanos e filhos de anjos caídos. – o olhar severo de Miguel se voltou na direção de Tristan. – O que será daquela garotinha sem seu anjo da guarda, Tristan? Abriria mão de sua protegida por uma criatura como essa ao seu lado?!

Eu vi claramente a dúvida exposta no olhar dele. Desde que conhecera o anjo, eu sabia muito bem que Tristan continha um amor imenso pela garotinha a quem protegia. Porém, também sabia de seu amor iniciante por Blair, quem agarrava a sua mão de forma firme como se tentasse fazê-lo tomar a decisão certa, seja qual fosse.

No entanto, assim que o vi levantando o olhar na exata direção do arcanjo, eu soube que ele havia sim tomado a decisão correta.

– Eu sempre serei o protetor. – Tristan mantinha seu olhar firme, tanto que pensei ter visto uma ponta de confusão na expressão de Miguel. – Mas também, sempre serei o amor. Não escolho nem um e nem o outro, Miguel, eu sei que Deus entende minha escolha, não preciso que você me dê opções.

Ok, essa doeu até em mim.

A fúria estava estampada no rosto do arcanjo, tanto que ele fora mal sucedido ao tentar escondê-la quando colocou-se de pé apoiando-se apenas com as mãos sobre a bancada bem a sua frente.

– Não ouse me enfrentar, anjo. – mesmo que a voz estivesse baixa e quase que educada, o olhar de Miguel dizia tudo o que se passava em sua mente. – Eu sou o segundo no comando, as ordens de Deus são ditas diretamente para mim! Você deve me obedecer!

Eu achei que o arcanjo fosse explodir ou algo assim, pois no momento em que colocou-se de pé foi como se todo o salão tremesse com sua pisada pesada sobre a madeira negra. Senti quando os anjos da bancada se colocaram para trás apesar de ainda pensarem nas “atrocidades” que fizemos, mas o medo era maior. Afinal, quem não sentiria medo de um arcanjo? Mesmo que sua tarefa fosse obedecer a Deus e ser o mais bondoso possível, eles possuíam um poder que eu jamais imaginei presenciar e agora, tinha certeza absoluta sobre isso.

Mas no momento em que achei que Miguel tentaria matar alguém, um som chamou a atenção de todos no Salão, um som que vinha do exato local onde Aliha fora mandada. A porta de madeira se abriu lentamente exibindo um feixe de luz antes de uma figura de corpo humano surgir. Eu não conseguia ver muito bem de quem se tratava, apenas notara o silêncio que se instalara pelo Salão negro, como se aquela figura fosse alguém além de importante.

Logo, o corpo se colocou a andar de forma lenta revelando um garoto – ele era pequeno, aparentava a idade de 10 anos no máximo. Possuía cabelos tão negros quanto a noite, pele pálida e diversas sardas espalhadas por seu rosto. Usava roupas brancas, porém visivelmente de crianças. Ele poderia parecer muito fácil um humano comum se não fossem por seus olhos, os quais brilhavam em um dourado tão incomum quanto todas as presenças angelicais por ali. Porém, o que realmente me perturbara em relação ao garoto era seu sorriso, o qual se alargava cada vez mais à medida que caminhava em nossa direção alternando os olhos entre cada um dos rostos presentes.

– Senhor, não acho que essa seja uma boa hora...

– Ora, Miguel, você sabe muito bem que eu sempre apareço em uma boa hora. – o garoto o interrompeu de uma maneira que despertou ainda mais minha curiosidade. Além disso, por que o arcanjo se referia a ele com “senhor”? – Estive adiando esse momento desde o primeiro dia quando fui obrigado a aturar toda essa bagunça. Observei cada conversa, cada movimento e cada decisão de cada um presente nesse salão, principalmente das Nefilins, o anjo caído e claro, você, meu quase nobre arcanjo Miguel. Sempre esperei ansiosamente por esse momento.

Miguel parecia... em choque. Por um mero segundo, eu me perguntei mentalmente o que diabos estava acontecendo. O garoto não parecia humano, bom, isso estava mais que óbvio, porém ainda assim sua presença conseguia fazer com que as atenções estivessem sobre ele. E havia outro ponto, por que um arcanjo estava quase que aceitando as ordens do garoto?

Algo estava bem errado ali.

O menino tornou a caminhar em nossa direção sem que seu sorriso sumisse nem em um sequer momento de suas feições. Ele alternava o olhar entre mim e Gabriel algumas vezes e depois seguia para Bastian, Blair e Tristan, porém sem hesitar ao encarar Miguel fixamente como se tentasse tirar algo dele. Quando seus olhos se fixaram em mim, mesmo que tivessem se passado segundos, fui atingida por uma calmaria perturbadora.

– Uriel, poderia chamar Raphael? Ele precisará exercer seu mais novo cargo no céu, afinal, já estava na hora. Apenas o chame, ele saberá o que é. – ordenou o garoto para Uriel, o qual piscou algumas vezes tentando absorver as informações. Parecia tão confuso quanto nós.

– Ahn.... claro, senhor. – o arcanjo levantou-se rapidamente e desapareceu atrás de uma porta colocada próxima à bancada.

Ao ter suas ordens cumpridas, o menino voltou-se novamente para Miguel, quem encarava o ponto em que Uriel desaparecera com uma expressão um tanto assombrada em suas feições.

– E você, meu quase nobre príncipe dos anjos, está na hora de deixar seu posto. – o menino apontou apenas com a cabeça para que Miguel saísse. – Não posso mais tê-lo como meu segundo no comando.

– Mas... – Miguel piscou algumas vezes. A perplexidade em seu rosto estava se tornando ainda mais óbvia. – Senhor, eu não...

– Eu já disse, Miguel, não poderá mais ser o príncipe. Depois de tudo o que vi nos últimos meses, cheguei a uma conclusão mais que assombrosa deixando óbvio que subestimei todo o seu poder como um arcanjo. Eu me enganei, você não está apto ao comando. Todavia, espero que deixe o cargo calmamente ou posso muito bem delatar o porquê de tudo isso estar sendo feito.

– Senhor, eu não sei do que está falando.

Maldito mentiroso.

O garotinho mal pode esconder sua expressão de decepção ao suspirar. Qualquer um teria percebido que Miguel estava mentindo descaradamente, tanto que nem sequer os anjos da bancada pareceram acreditar que ele não sabia do que o garoto dizia.

Observei enquanto o menino desviava seu olhar em nossa direção, fitando Gabriel em uma intensidade que eu não conseguia distinguir. Os pensamentos dele poderiam ser diversos, porém eu não fazia a menor ideia de qual poderia ser.

– Eu também estava errado sobre você, Gabriel. Talvez minha punição em tirá-lo do céu após não ter sido exatamente um bom anjo da guarda... tenha sido o que o salvou. – o olhar de olhos dourados do garoto se voltou em minha direção. – Uma Nefilim? Quem diria, não é? Você vai fazer grandes coisas em sua vida prolongada, Schyler Jackson, talvez não como pensou que seria, mas fará.

Você é a chave para uma coisa maior, poderá mudar o mundo”

Eu possuía minhas suspeitas sobre quem aquele menino era, porém o que circulava em minha mente era o fato de que Lieene estava certa. Sua visão dizia algo sobre eu ser a chave para a salvação do mundo e que eu mudaria tudo e agora, com as palavras do menino eu tive certeza.

– Houve momentos em que não acreditou em mim. – continuou ele. Seus olhos dourados estavam fixos nos meus. – Mas eu a perdoou, pois admito que coloquei obstáculos demais em seu caminho. Eu a perdoo, Schyler, e você também, Gabriel.

Poderia dizer algo, entretanto eu estava completamente sem fala. Não apenas porque agora tinha certeza absoluta de quem era o menino, mas também porque fui interrompida por uma nova presença no Salão Negro. Da mesma porta em que Uriel saíra, ele entrava novamente e acompanhado de outro arcanjo, pois vestia uma armadura muito similar a dos outros. Possuía cabelos escuros e longos até um pouco abaixo dos ombros, uma barba rala e olhos tão azuis quanto o mar. Sua expressão parecia um pouco mais soberana comparada à de Uriel ou de Miguel, mas assim que viu o menino próximo a nós, tratou de abaixar-se para se curvar.

– O senhor queria me ver? – disse ao levantar-se.

– Sim, Raphael. – o menino caminhou novamente em direção ao balcão de juiz, fitando de baixo todos os arcanjos. – Quero que assuma o comando. Miguel voltará a ser apenas o comandante do exercito de meus anjos, porém precisará de algumas punições pelo o que aconteceu.

Raphael franziu o cenho ao desviar seu olhar na direção de Miguel, quem havia despencado sobre uma das cadeiras e deixava as asas bem abertas repelindo a tentativa de aproximação dos anjos da bancada.

– O que você fez?

– O que eu fiz? – disse Miguel ríspido. Havia sarcasmo em sua voz. – Eu segui as malditas regras e infringi algumas, como se isso fosse grande coisa! Já houve uma época que a ordem reinava nesse lugar, mas está uma bela bagunça! O que me importa se eu tentei matar essa espécie filha de renegados? O que me importa se forcei um anjo a matar uma humana? – ele apontou na direção do menino. – Você sumiu por anos, achei que eu estava no comando!

Apesar da gritaria, insultos e todos os tipos de outras coisas que Miguel soltara, eu apenas observei o garoto subir as escadas em direção a parte alta do júri e dizer algo a Raphael. Depois, em movimentos rápidos e precisos, vi Miguel ser arrastado por Uriel para a mesma porta em que desaparecera antes e desaparecer logo depois da porta ser fechada com força.

E essa, foi a última vez que vi Miguel.

Bom, não havia muito o que acontecer logo depois do desaparecimento do arcanjo e um silêncio assustador tomar conta de todo o salão. Eu me agarrei ao braço de Gabriel enquanto via todos os anjos da bancada saírem lentamente e assim como os outros, desaparecerem. Tristan, Blair e Bastian não diziam nada, olhavam para todos os lados procurando saber o que aconteceria a seguir.

De alguma maneira, eu não fazia a menor ideia do que poderia acontecer.

Eram opções diversas, poderíamos ser punidos pela guerra e por tudo o que aconteceu, Tristan poderia ser expulso pela relação com Blair e por ter se envolvido em toda a bagunça e claro, eu e Gabriel por nosso relacionamento. Porém, por mais que todas parecessem muito bem possíveis, eu não acreditava que poderiam realmente acontecer. Havia algo no olhar sincero do menino como se ele tentasse me avisar mentalmente que tudo ficaria bem.

Então, agarrei-me a aquele aviso tão fortemente quanto o jeito que eu me agarrava ao braço de Gabriel.

– Gabriel, quanto tempo que não nos vemos, não é? – ouvi a voz de Raphael chamar-nos a atenção. Ele se sentara no antigo lugar de Miguel e nos olhava com um mínimo sorriso, porém divertido nos lábios.

– Muito tempo. – Gabriel respondeu por cima de minha cabeça. Pelo o que vi, ele também sorria. – O que vocês...

– Ele receberá o tratamento merecido pelo o que fez. – interrompeu. Bom, estava claro que falavam sobre o arcanjo que desaparecera de nossa vista. – Não se preocupe com isso. Precisamos resolver o que acontecerá com vocês a partir de agora, não é?

Um sorriso residia no rosto do menino ao lado do arcanjo, um sorriso que esticava sua pele e formava duas pequenas covinhas de cada lado. Aquele simples movimento me trouxera uma calma amena, daquelas em que nem ao menos um abraço poderia conceber. Dúvidas surgiram em minha mente, dentre elas se apenas eu entendera de quem se tratava o menino ou se talvez, apenas eu o estava vendo.

Mas no mesmo instante em que as dúvidas surgiram em minha mente, algo tomou conta fazendo com que eu me esquecesse totalmente de todas as preocupações, como se os problemas não existissem mais.

Minha cara, Schyler, não se preocupe. Eu estou sempre aqui e jamais irei embora. Você pode confiar em mim e quero que saiba que agradeço por ser uma das únicas que percebera quem eu sou. Talvez não seja realmente a única, já que sua amiga tem algumas dúvidas sobre isso, mas é a única que agora passará a acreditar todos os dias de sua vida. Lembre-se de todas as coisas boas que fará em vida, estou dando a você um poder que eu não daria a ninguém. Salve as pessoas, Schyler, salve as coisas que eu criei e não consigo mais controlar. Você é minha chave e agora, precisa encontrar a porta que poderá abrir.


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Notas finais do capítulo

Alguém percebeu quem é o menino de olhos dourados? ;)
Quero comentários, hein, margaridas, vocês andam muito sumidos ultimamente!