Schyler escrita por Gi Carlesso


Capítulo 2
Sobrevivendo em New York


Notas iniciais do capítulo

E aqui vem o primeiro caps de verdade!! Espero que gostem!!



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Schyler...

Schyler...

Schyler…

Gritei. As vozes ecoaram por cada centímetro de meu corpo, passaram de um ouvido para o outro, me inundaram com o som de uma voz profunda, quase que sedutora. Meus olhos se abriram e eu estava em minha cama, apenas sonhando com o impossível e com as imagens do passado.

Olhei em volta a procura de qualquer coisa, qualquer sinal de que aquilo realmente não se passou de um sonho pesadelo muito perturbador e sem sentido. Não havia nada. Eu estava sozinha.

Como sempre.

Toquei de leve a pele de meu rosto, a qual queimava como se eu tivesse sido jogada nas chamas. Eu suava muito, provavelmente fruto do pesadelo estranho. Me levantei da cama indo até a cozinha, peguei um copo e o enchi até a boca com água, tomando tudo quase em um gole só.

Quem eu era? Qual meu nome? Por que estou aqui? O que eu sou? As perguntas martelavam em minha mente, mas eu sabia exatamente as respostas para cada uma delas. Meu nome era Schyler Jackson, uma menina que foi completamente abandonada pelos pais por motivos sem respostas e que agora, finalmente havia conseguido esquecer o passado e seguir em frente. O porquê de eu estar ali ainda não tinha resposta e muito menos o que eu era... O que eu sou? Uma mundana normal, sem sentido, apenas vivendo cada dia seguido do outro.

É, isso ai.

Voltei a dormir, pois ainda faltavam horas para eu ter realmente que acordar e trabalhar como garçonete em café da esquina próxima a minha casa. Não era exatamente aquele tipo de trabalho que vai dar um grande futuro, mas fora o que consegui por não ter feito faculdade, apenas ter terminado corretamente a escola. Franzi o cenho ao lembrar das pessoas nada agradáveis quem eu teria que enfrentar pela manhã. Ergh, preferi dormir e não pensar em mais nada que fosse isso.

[...]

- Schyler, a mesa 9, eu disse para você andar mais rápido, garota inútil. – disse Bob. Ele era o dono do café e mesmo com o gerente por ali 24 horas, Bob ainda achava que precisava ficar vigiando todos as pessoas que trabalhavam em seu “lindo” café.

- Estou indo, Bob. – resmunguei mostrando a ele que já tinha a bandeja em mãos. – A mesa 5 estava com problemas, porque um menininho achou que o chantili era para pintar na mesa.

Ele nem ao menos respondeu, apenas revirou os olhos e se voltou para encher Jannete, uma mulher de uns 60 anos que ainda achava que precisava trabalhar ali. Vivia tagarelando sobre a filha ser uma atriz da Broadway e que ela logo viria busca-la daquele lugar e dar o apartamento que Jannete sonhava.

Credo. Pensei.

Peguei as três xícaras de café e as coloquei na bandeja. Quando cheguei na mesa 9, senti um arrepio na espinha, estavam três garotos sentados, um deles eu conhecia como o que sempre estava ali, provavelmente hoje trouxera alguns amigos para não tomar café sozinho. Coloquei as xícaras, uma para cada um, enquanto os três não paravam com seus assuntos.

- Ela vai dar um fora você logo, cara. – disse um deles. Era moreno, com cabelos escuros e olhos cor de amêndoa.  – Troy já disse isso a você, é o único que ainda não percebeu isso.

- Cale a boca, imbecil. – dissera o outro. Esse já tinha cabelos um pouco mais claros e olhos verdes, tinha aquela aparência de gente engraçadinha, do tipo que adora fazer piadas até de si mesmo.

Era como se não tivessem percebido ainda que eu estava ali, bem ao lado deles, então aproveitei do anonimato e deixei as xícaras e ali pronta para sair de cena sem perguntas. Mas um deles, o da esquerda que permaneceu quieto a maior parte do tempo, acabou me vendo.

- Ei, garçonete. – chamou ele. Me virei lentamente em sua direção com uma expressão indiferente no rosto. – Você é a Schyler, não é? Pode trazer aqueles pães que vocês sempre servem de manhã?

Era o que sempre vinha de manhã, possuía um rosto sorridente, covinhas ao lado dos lábios e grandes olhos castanhos.  O tal Troy olhou para ele como se quisesse rir e o de olhos castanhos e rosto mais sério franziu as sobrancelhas.

- Que intimidade é essa com a garçonete, Jonny? – disse Troy segurando o riso. – Já sabe até o nome, hein.

- Não é a toa que ele sempre vem aqui. – disse o de olhos castanhos e rosto sério. – Agora já sabemos o motivo.

- Troy, Aiden, calem a boca! – pediu o tal Jonny, o rosto moreno agora possuía as maças do rosto muito vermelhas e ele tentava se esconder abaixando os olhos.

Soltei um risinho abafado.

- Vou trazer os pães. – eu disse sorrindo. Isso foi motivo para que os outros dois caíssem na risada praticamente pulando nas cadeiras.

O resto do dia foi o mesmo tédio de sempre, a rotina de trabalhar a manhã e tarde inteiras e logo depois ir para meu apartamento simples e descansar. Eu queria que tudo isso mudasse, mas então a lembrança de que tudo aquilo era culpa de meus pais que simplesmente me largaram me veio a mente e percebi que nada mudaria muito cedo.

Voltando para casa, percebi o trânsito nas ruas – essa é a grande e velha New York – e por isso me distrai um pouco. Parei bruscamente quando meus pés tocaram o começo de uma das ruas perto de minha casa. Não, eu não passaria ali jamais, nunca mesmo.

Há algumas semanas fui uma quase vítima de estupro, um bêbado idiota me pegou num beco exatamente naquela rua, me empurrou, porém... alguma coisa o impediu de fazer o que queria. Alguém, para ser mais exata.

E eu, nunca soube quem era para poder agradecer.

Ou, descobrir como a pessoa jogou um bêbado gordo no ar com as mãos sem ajuda nenhuma.

Desviei daquela rua e continuei caminhando até chegar em meu prédio – era um dos menores daquele bairro, pequeno de pintura desgastada, o portão com detalhes em tijolos e um jardim, digamos, nada atraente. Aquele prédio fora um dos únicos que encontrei, o qual eu poderia pagar por. Suspirei quando abri a porta de meu apartamento no terceiro andar e encontrei minha gata sentada a porta miando.

- Oi, Belle. – murmurei pegando-a no colo. Ela possuía um pelo preto muito escuro e olhos dourados, muitas pessoas tinham medo dela dizendo sobre aquela história de má sorte. Ergh, isso é bullyng com meu gato.

Coloquei-a no sofá e fui até meu quarto me trocar. O apartamento nem era tão pequeno – havia um hall de entrada num formato de corredor, o qual dava em uma cozinha planejada. A sala era um pequeno cubículo, o qual enchi com um sofá marrom e uma prateleira de livros com uma espécie de buraco no centro onde foi colocado a TV. Acho que herdei o dom de enfeitar casas de minha mãe. Minhas ideias simplesmente fluíam de minha mente e quando eu via, já havia planejado todo o pequeno apartamento.

Haviam dois quartos, um de visita para quando Jannete ou minha irmã – Carrie – vinha me visitar. Carrie foi a única da família que não me abandonou, tanto que fora ela quem me ajudou a pagar o apartamento e os móveis, pois eu ainda não tinha emprego. Já o meu quarto,  eu colocara uma cama de casal bem no centro, havia um guarda roupa claro e uma estante de livros – é, deu para perceber que eu amo ler – em um canto com alguns objetos.

Entretanto, para descontrair o ar sério de meu quarto, fiz questão de colocar um tapete azul do centro ao redor da cama e uma cadeira redonda vermelha.

Arranquei a roupa que usara o dia todo e fui atrás de uma roupa confortável. Coloquei um moletom do Bob esponja de mangas compridas e um shorts jeans. Belle ainda reclamava na sala, pedindo comida, então coloquei sua ração no pote prateado ao lado da geladeira e voltei a sala.

Meu celular começou a tocar impaciente em meu bolso. Atendi já sabendo muito bem quem era.

- Schyler, nem me venha dizer nada. – disse Carrie no telefone. – Estou cansada de inventar desculpas a nossa mãe sobre onde você está.

- E por que inventaria? – resmunguei. – Ela não quer saber onde estou. Se não, ela não teria me expulsado de casa sem ajuda nenhuma como se eu fosse um rato ou coisa qualquer.

- Você sabe muito bem porque ela fez isso.

- Sim, e o pior de tudo isso é saber. – Belle pulou ao meu lado no sofá se aconchegando perto de minhas pernas e o moletom do Bob esponja. – Agora, se ela perguntar mais alguma vez, diga a ela para me esquecer, pois eu já a esqueci.

- Não diga uma coisa dessas, Schyler. – murmurou de forma triste Carrie. – Mamãe pode até ser insensível e tal, mas...

- Insensível? – eu praticamente berrei no telefone, fazendo com que Belle levasse um susto. – Insensível é o marido dela que disse na minha cara que eu sou um acidente genético e que nunca deveria ter nascido! Se eles não queriam outra filha, por que têm que descontar em mim?

- Papai é louco, eu sei. – ela deveria estar mordendo os lábios, uma coisa que sempre fez quando está nervosa. – Bom, mudando de assunto, amanhã eu vou para New York ver você. Espero que tenha se livrado do gato, pois sabe de minha alergia.

- Carrie, não vou me livrar da Belle. – falei indignada. – Eu não deixo minha gata perto de você, prometo.

- Humpf, bom mesmo. – ela riu. – Então, até amanhã, Schy.

- Até.

Desliguei o telefone logo em seguida. Estava muito cansada para fazer qualquer outra coisa, então permaneci no sofá descansando depois de um dia longo de trabalho lembrando-me dos três garotos discutindo. Devo ter dormido, pois tudo que lembro eram os olhos dourados de Belle me encarando e logo o pesadelo da noite do bêbado interferindo em meu sono, como todas as noites.


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Notas finais do capítulo

Ficou meio parado o primeiro né?? Prometo que a fic vai ser cheia de romance, ação e aventura!!
Beijooos



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