Argonautas I escrita por Argonautas


Capítulo 27
Déborah David




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Quando ouvi uma interjeição de dor na voz fraca do meu pai, soube que já não poderia resgatá-lo. Nem mesmo ele, geólogo conceituado, especializado em climatologia, pôde prever a violenta tempestade que agora nos ameaça.

E ,realmente, qualquer análise superficial apontará para um equívoco por parte dele.Talvez não um grande equívoco, apenas uma negligência. O clima antártico é - e sempre foi - caracteristicamente imprevisível. Então, se após todas essas colocações, você concorda que a ventania agressiva, por mais fatal que seja, é relativamente normal, espero que corrigir seu engano não faça parte das minhas ações derradeiras.

Brevemente: estamos enfrentando uma fúria divina, ou monstruosa, não sei bem.

Enfim, neste momento estou correndo freneticamente para não ser engolfada pelo gelo - quero dizer, estou indo em direção a um abismo, impulsionada pelo vento, é o máximo que posso exigir dos meus músculos rígidos pelo frio e pelo esforço demasiado. Meu pai ficou para trás, contudo não solitário e muito menos morto.

Contemplo melhor o penhasco a minha frente. Ele é quase tão assombroso quanto o que sopra ás minhas costas. Os ínfimos metros a minha frente parecem terrenos imensos inundados de medo e hesitações contidas. Os meus pés pressionam o gelo com muita força, parecem afundar. Para contribuir, estou me desequilibrando muito. Droga. Grande droga. Logo agora? Persisto. Eu preciso sobreviver. Vagamente, sei que não é uma questão somente de mérito próprio. Algo além de eu mesma precisa de tal sobrevivência. Os sonhos, eles sempre deixam esse pensamento pairando em minha mente... e desde cedo meu pai me avisou para não ignorá-los. O gelo já começou a crepitar em meus pés firmados quase no extremo do abismo. Para alcançar o oceano é necessário saltar por uma pequena extensão, para não colidir com algumas formações pontudas próximas ás águas. Sinto o cabo do punhal em minhas mãos. Para me reconfortar, penso na sorte de estar tão próxima do mar e de ser guiada até ele , ironicamente, pela ventania assassina. . Com os pulmões exaustos, no limite de sua capacidade e com o corpo semi-dormente , atingido pela hipotermia, dou o impulso enquanto o vento me derruba. Na minha última visão, vislumbrei afiados picos de gelo vindo em minha direção. Esperavam meu abraço. Não lembro direito o que aconteceu, mas lembro-me de está fora da água com um garoto e ele conversava com alguém. - Quíron, senhor, a semideusa ainda está desacordada. - E os ferimentos? - O néctar e a ambrosia felizmente foram suficientes. Já retirei todas as ataduras e ela já não está tão pálida. Restou apenas uma cicatriz, pouco abaixo do olho, mas acho que não é nada tão comprometedor. - Você está se saindo muito bem, Guliver. Parece até que Apolo está te guiando - o ser emitiu um riso grave - Espero que continue assim, você está sendo um sátiro muito corajoso e sábio. É importante que você traga-a em segurança até o acampamento, ela está envolvida em algo muito importante. Vocês vão desembarcar em Long Island. É um pequeno percurso, mas não duvide da nocividade dele.

Ela já tem 14 anos, conseguiu permanecer muito tempo desprotegida, mas também é cobiçada e indubitavelmente exala um odor bem forte para os monstros, já que sabe tanto sobre todos nós. - Não precisa se preocupar, senhor, estou ciente da minha responsabilidade. E obrigado – ele pontuou a frase com um balido. - Que os deuses estejam com você. Até breve. Um balido, céus. Isso foi engraçado. Não imaginei características tão evidentes de um bode nos sátiros. Acampamento. Acampamento meio sangue... As viagens do meu pai, ininterruptas, não me permitiram ir para lá... O que terá de tão importante para mim? Minha cabeça, por Deuses, como dói!

Olhei para o sátiro e falei: _ Então esse é o famoso Acampamento Meio Sangue?

_ É sim! Seja bem vinda, Déborah David, filha de Atena!


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