Eu não sei onde estou. É um ambiente bem diferente da sala. Acho que é meu quarto.

Sentei-me na cama e olhei em volta. Eu realmente estou no meu quarto. Mas como vim parar aqui? Levantei-me e esbarrei em alguma coisa no chão. Era o Dex, ele estava dormindo em um colchonete do lado da minha cama, com a mesma roupa que estava antes; calça jeans, blusa de manga curta azul-marinho, seu all star de cano alto preto e seu casaco de couro, que estava jogado no chão do lado do colchonete.

Olhei-me no espelho e eu também estava com a mesma roupa de antes. Minha calça de lycra soltinha cinza escura, minha blusa de manga comprida de paris e minhas pantufas de panda. Eu estava confortável para dormir, mas o Dexter com certeza não.

Resolvi ir sorrateiramente ao quarto dos meus pais e pegar um pijama pro Dexter. Peguei um de calça comprida de moletom e uma blusa branca fresca.

Voltei ao meu quarto e agora tinha uma missão impossível: acordar o Dex.

– Dex, acorda! Coloca esse pijama aqui, assim você pode dormir melhor. – Disse mexendo na perna dele fazendo seu corpo balançar. Mas nada, ele não acordou.

– É sério Dex! Acorda! – Disse mexendo mais forte e ele começou a resmungar.

– Alie, para. Quer me fazer dormir melhor, então vem dormir comigo! – Disse ele me agarrando e me deitando do lado dele, com os braços enrolados na minha barriga, o que não me permitia nem me mexer.

– Dexter! Coloca a porra do pijama, por favor.

– Tá, eu coloco sua chata. –Ele levantou, pegou o pijama que estava na beirada da minha cama e começou a se trocar na minha frente.

– Eu não sou obrigada a ver homem de cueca, vai para o banheiro.

– Não tá gostando do que está vendo, fecha os olhos então. Tá muito frio e o corredor é de piso, o chão deve estar congelando, não vou ao banheiro não.

– Puta merda! – falei deitando no colchonete com as mãos no rosto.

Do nada percebo algo pesado no colchão. E tiro as mãos do rosto. Era o Dexter que tinha sentado perto dos meus pés. Ele ficou olhando pra mim sem dizer nada e eu corei. Sorte que está tudo escuro acho que ele não percebeu.

– Onde você arrumou esse pijama? – ele passou a mão no pé. E ficou fazendo carinho ali.

– É do meu pai. Eu achei que você deveria estar super desconfortável dormindo de calça jeans, então fui ao quarto dele e peguei. Ele não vai se importar.

– Obrigado. – E veio pro meu lado. Deitou-se. E ficamos assim, deitados um do lado do outro olhando pro teto.

Passaram uns dez minutos e ele nem se mexeu. Achei que ele já estivesse dormindo e fui me levantando pra ir pra minha cama. Mas ele agarrou o meu pé.

– Dorme aqui comigo hoje?

– Por quê? Dá muito bem pra você dormir aí no colchonete e eu aqui na minha cama.

– Eu sei. Mas está muito frio e eu estou sem edredom, lembra-se disso?

– Tudo bem. Mas se vamos dormir juntos, dorme aqui na minha cama. Ela é de casal, dá muito bem pra dormir os dois aqui e é mais confortável.

– Obrigado mais uma vez. Você é perfeita sabia? O cara que te tiver como namorada vai ser um sortudo! O Jason é um burro, isso sim. – Ele já estava levantando o edredom para se deitar na cama.

– O que?

– Desculpa, eu prometo não falar mais do Jason. Não vou mais pronunciar o nome dele.

– Não é isso, não me importo de você falar dele. É sobre o que você falou antes...

– Que você é perfeita e que o cara que te tiver como namorada vai ser um sortudo? É isso?

– Era isso sim. Mas eu não sou perfeita. E bem, eu não sei se vou namorar nem tão cedo. – Disse me deitando. Ele já estava deitado e foi bem estranho pra mim, deitar na mesma cama que o meu melhor amigo. Principalmente depois que começaram a surgir esses pensamentos estranhos em minha cabeça.

– E se esse cara te amar muito? E for como um anjo pra você? E te conquistar? – Depois de terminar de falar ele se virou pra mim, me abraçou de lado, passando os braços pela minha barriga como tinha feito antes e me deu um beijo na bochecha.

– Aí eu já não sei. Mas ainda estou muito confusa, toda essa história do Jason e tudo mais. Ainda não estou pronta pra nada como um namoro, pelo menos não agora. Quem sabe ano que vem eu venha pensar nesse assunto... – coloquei a minha mão em cima da dele, que estava na minha barriga. Ele entrelaçou nossos dedos.

Agora eu com certeza estou mais confusa do que nunca. O Dexter já dormiu outras vezes aqui em casa, mas nunca na mesma cama que eu. Tudo bem está realmente muito frio e eu sei que ele não vai levar isso aqui na maldade. Mas mesmo assim. É estranho pra mim.

Se já não bastasse esses meus pensamentos para com o Dexter. Ele ainda tem que começar a dizer coisas bonitas pra mim. E eu na verdade ainda não sei o que ele quis dizer com “E se esse cara te amar muito? E for como um anjo pra você? E te conquistar?”. Será que foi uma indireta pra mim? Ou será que foi só uma hipótese que ele pensou do nada? Acho melhor eu ir dormir, isso sim.

– Vamos dormir Dex. É o melhor que a gente faz. – Disse me virando e ficando de costas pra ele.

– Boa noite, Alie.

– Boa noite, Dex.

E eu dormir.

Acordei com as cortinas já abertas e com uma claridade infernal entrando no meu quarto, vindo direto nos meus olhos.

– Acorda Alícia! Já são quase onze horas da manhã! – Gritou a minha mãe do andar de baixo, acho que ela está na cozinha.

Tomei coragem e me levantei. Olhei para o lado e o Dexter não estava mais lá. Estranho, onde será que ele se meteu? Levantei-me e vi que o pijama do meu pai que eu havia pegado pra ele na noite anterior, estava dobrado na beirada da minha cama. E tinha um bilhete em cima.

“Acordei cedo e fiquei com muita pena de te acordar. Troquei de roupa e deixei o pijama aqui. Não se esqueça de agradecer o seu pai por ter me emprestado. Eu falei com a sua mãe e ela me fez companhia no café da manhã. Espero que não acorde muito tarde e não se esqueça de me dar noticias de você. Liga pra mim e vê se passa lá em casa. Amo-te.

Dexter. “

Dexter acordando cedo? Que milagre! Peguei uma roupa e fui ao banheiro. Fiz minha higiene matinal e troquei de roupa. Desci e fui à cozinha.

– Bom dia, mãe.

– Bom dia nada. Já é quase boa tarde!

– É eu dormi demais hoje, nem vi o Dexter ir embora.

– Eu vi, ele tomou café comigo. Ele disse que você dormiu no sofá vendo filme com ele, e ele levou-te pro quarto e acabou dormindo lá contigo.

– É. Foi isso mesmo, ele disse alguma coisa? Aonde ia?

– Ele disse que ia pra casa e que era pra você ligar pra ele. Foi até bom você comentar. Se não ia esquecer.

– Ok, ligo pra ele depois. – Disse isso e dei um beijo na minha mãe, que estava fazendo o almoço. E fui saindo.

– Aonde você vai menina?

– Vou à casa da Jasmine, mãe. Pode ficar calma, eu volto logo.

E saí de casa. Ainda neva e está mais frio que antes. A Jasmine mora a um quarteirão da minha casa. Não é muito longe. Preciso conversar com ela, entender isso tudo que esta acontecendo. Esses meus pensamentos sobre o Dexter, preciso conversar com uma das minhas amigas.

Toquei a campainha e ela me atendeu.

– Que saudade, Alie!

– Quanto tempo não te vejo, Jass!

– É! Depois que deu aqueles problemas lá no St. Augutine ficou muito difícil da gente se encontrar. Ainda bem que você veio aqui em casa. A Anne está lá no meu quarto, entra.

– Obrigada.

A gente subiu e fomos pro quarto da Jass.

– Anne! Que saudade!

– Alie! Meu Deus, quanto tempo eu não te vejo! Como você está? Melhor doa mente e do coração? – Disse me abraçando.

– Estou bem, e você? – Disse me sentando na cama de Jass.

– Bem também. Eu e Jass já resolvemos tudo lá no St. Augutine e vamos semana que vem com os nossos pais em Londres fazer a matrícula no Lady Labouski. Mas e o coração, hein?

– Que bom! Ha... É sobre isso que eu quero conversar com vocês.

– Pode falar tudo. – Disse a Jass.

– Sabe, eu tenho tido uns pensamentos muito estranhos em relação a uma pessoa e tenho me assustado com isso. Eu sinceramente tenho achado isso errado. Ele é meu amigo, não acho certo querer beijá-lo.

– Sabia que isso ia acontecer. Estamos falando do Dexter, certo? – Falou Anne.

– Como você sabe? – Falei assustada.

– Alie, ele não é só sei amigo, é meu também. E desde sempre eu percebo que ele não te trata como trata a gente. Ele te trata com mais ternura, carinho, mais compaixão, sabe? Eu sempre soube que um dia você ia começar a gostar dele.

– Eu nunca reparei isso não, Anne. Pra mim ele sempre me tratou como trata todo mundo.

– Alie. Para de ser boba, ele sempre te tratou diferente sim. – Disse Jass.

– Tudo bem, ele pode me tratar diferente e tudo mais. Mas eu continuo não achando certo isso tudo que tem acontecido. Ele tem ido todo dia lá em casa, nós vemos filmes, conversamos e comemos aquelas porcarias. Só que ontem, ficamos até tarde assistindo filme e eu acabei pegando no sono. Ele me levou pro meu quarto e dormiu em um colchonete do lado da minha cama. Ele dormiu de calça jeans e blusa. Eu acordei no meio da noite e achei que estivesse sendo ruim pra ele dormir com aquela roupa e peguei um pijama do meu pai pra ele e o acordei. Ele trocou de roupa na minha frente! Mas eu tampei os olhos. Depois veio com uma história de que queria dormir comigo e eu deixei. Ele se deitou na minha cama comigo. Disse que eu era perfeita e que o cara que fosse me namorar ia ser um sortudo e que o Jason era um burro de ter me traído. Eu disse que não era bem assim, que eu ainda não estava pronta pra namorar de novo. E ele perguntou se eu pensaria assim se o cara me amasse muito, se fosse um anjo comigo e me conquistasse. Eu não respondi e mandei-o dormir. Mas eu estou muito confusa. Eu tenho tido vontade de beijá-lo, tenho pensado em coisas estranhas com ele, como por exemplo, como seria se a gente namorasse. Coisas desse tipo, tenho me sentido uma vaca por causa disso.

– Alie você está louca? Você não tem que se sentir uma vaca por causa disso. O Dex te trata super bem, é seu melhor amigo e, além disso, é como se fosse um anjo pra você. Não há nada de errado em gostar dele. Isso tudo que ele fez na sua casa, foi uma maneira que ele arrumou pra te mostrar que quer alguma coisa além da amizade com você. Ou você acha mesmo que ele falaria alguma coisa assim atoa? Claro que não! E você é uma menina desimpedida, solteira e bem resolvida, qual o problema de gostar dele?

– Gostar dele? Você está louca Jass?

– Não estou louca não. Quanto tempo você vai demorar pra admitir a si mesma que está apaixonada pelo Dexter?

– Eu? Apaixonada?