O Amor Acontece. escrita por Mellody Holmes


Capítulo 6
Capítulo 6 - Alice no País das Maravilhas.


Notas iniciais do capítulo

* Eu sei que a história não tem tido outros núcleos se não o romance de Lara e Victor, mas a partir do próximo capítulo tentarei mudar a situação, infelizmente nesse não foi possível, porque já tinha outra coisa em mente.
Espero que gostem e boa leitura!



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      ___ Quer me contar alguma coisa, querida? Estou aqui... – tia Marly tentava oferecer algum auxílio à garota que se desmanchava em lágrimas, sentada num canto do chão do quarto e apertando com força suas pernas grudadas ao peito.

      ___ Ele é um traidor! Ah, meu Deus, como pôde? – Ela soltou, em meio a soluções, numa voz entrecortada e rouca.

      Tia Marly estava prestes a falar algo, mas, Danilo a interrompeu, dizendo:

       ___ Mamãe por que não prepara um chá e alguns bolinhos de chuva para Lara? Eu queria conversar um pouquinho com ela. – Danilo era um rapaz alto e forte, não muito bonito, mas era o irmão “conselheiro”; alguém agradável para se ter uma conversa. Quando Lara era menor costumava ver a casa cheia de amigos do primo que vinham somente para conversar com ele.

       ___ Está bem. – Disse tia Marly, não muito certa de estar fazendo o correto. Ela não fazia a mínima ideia do porquê de Lara estar chorando daquele jeito, mas, queria conversar e resolver as coisas como fazia quando sua sobrinha era só uma garotinha que chorava por ter metido a testa no armário ou por ter ralado o joelho.

     Ao ver o primo se aproximar e sentar a seu lado, Lara se lembrou de mais cedo, quando ele mostrou estar a par da situação mais do que qualquer outro ali na casa. E sentiu-se aliviada por não ter que assumir e revelar seus sentimentos para sua tia... Não que se sentisse a vontade para falar com o primo sobre isso, mas, Ele já sabia mesmo!

      ___ “Traidor”? – Foi só o que perguntou. Esperou que a garota se acalmasse o bastante para responder, quando notou que Ela não parecia cessar o choro, ofereceu seus braços e deu-lhe um abraço apertado, tirando-a do chão e a colocando na cama. ___ O que Ele fez? – completou, depois de uns minutos.

      ___ Exatamente o que disse. Ele me traiu... – Fez uma pausa. Começou a lembrar da garota que Victor tinha nos braços. Depois, instantaneamente, lembrou-se do beijo, separado da traição apenas por horas... “Ou ele já estava com essa garota antes?”, ela se perguntou de repente, e a possibilidade a fez irromper em ainda mais lágrimas.

    ___Ele nem esperou que vivêssemos algo mais! Mal passamos de “apenas amigos” para... para... E ele já me traiu? – Ela disse ainda mais nervosa, se perguntando se esse não era o objetivo do menino desde o começo.

         ___ Mais que história é essa? Aqui na fazenda não existem outras famílias; ninguém que more por aqui...

         ___ Pois Ela deve ter vindo de outro lugar mesmo. – A raiva não fez com que Ela raciocinasse o bastante para perceber que o primo estava certo; a próxima fazenda (com moradores) ficava muito, muito distante dali!

       Danilo, consciente do que dizia, apenas esperou que ela percebesse a verdade naquilo que Ele falara. As lágrimas da menina simplesmente pararam de cair, o rosto estava quase seco – a não ser pelas numerosas gotinhas de água que haviam caído anteriormente – e um sentimento de injustiça percorreu-lhe. Ela sentia quase a mesma coisa há instantes, a diferença é que dessa vez, a injustiça – segundo seu ponto de vista – Ela que cometera; não Victor.

         ___ Mas quem seria aquela menina?

         O primo, que até então assumira uma expressão de quem está imerso em pensamentos, pronunciou-se, dizendo:

     ___ Tenho um leve palpite... Ela não seria uma garota bastante clara...?

        ___ Isso mesmo! Tinha uma pele muito branca. – Ela disse, agora de pé.

          ___... Cabelos pretos?

         ___ É. Bem escuros... – Ela falava surpresa, o sentimento de injustiça crescendo cada vez mais. ___ Sabe quem ela é?

         Danilo não lhe deu resposta, estava parado defronte a Lara, olhando fixamente para a janela à frente. Parecia ter visto um fantasma. Lara acompanhou seu olhar, virando-se e vendo Victor (em sua segunda visita ao quarto da menina).

         ___ Suzana, Lara! Eu te disse o nome dela e teria dito algo mais, se você tivesse me dado alguma oportunidade. – a voz de Victor assumia um tom frio, provavelmente forçado porque seus olhos traziam apenas alívio por estar esclarecendo a situação, nenhum vestígio de raiva naqueles olhos ternos de sempre.

         ___ Victor... – tentou pedir perdão, mas, ainda não sabia o que dizer diante das atitudes de Victor; sempre mais maduro, sempre o injustiçado que, sem orgulho algum, vinha solucionar as coisas. No entanto, ainda tinha uma imensa curiosidade em saber quem era aquela garota.

         ___ Não conversamos nada sobre os acontecimentos em nossas vidas nesses últimos cinco anos, longe um do outro. – Ele começou, num tom mais doce dessa vez. E Danilo já havia saído do quarto, fechado a porta e se encarregado de manter tia Marly longe do cômodo. ___ Faz muito tempo, mas, você deve se lembrar que minha mãe estava grávida de quatro meses quando o verão acabou. Lembra? Quando ela veio me buscar e nos deu a notícia?

          ___ Lembro. – A voz de Lara mais parecia um sussurro, um pensamento lhe o correu repentinamente e ela parou para verificar a idade aparente de Suzana, com certeza tinha mais que cinco anos! Devia ter dezesseis ou dezessete; a mesma idade que os dois tinham.

          ___ Ela sofreu um acidente de carro três meses depois e perdeu o bebê. – A expressão de Victor escurecera de repente e Lara desejou nunca tê-lo feito lembrar essa história.

          ___ Sinto muito. – Ela se aproximou alguns passos dele, mas, ainda mantinha distância considerável.

          ___ O acidente não a fez perder apenas o bebê, mas também a capacidade de ter outros filhos. Ela esperava por outra criança há muito tempo e a notícia foi muito... Ruim para Ela. Só depois de meses Ela teve a ideia de adotar uma criança.

          As ideias começaram a ficar claras para Lara.

          ___ Inicialmente a intenção era adotar uma criança pequena ou um bebezinho. Mas quando minha mãe fez a visita ao orfanato, conheceu Suzana – que tinha a mesma idade que eu, na época treze anos. – e se encantou pela educação e doçura da menina desde o primeiro momento. Foi então que ela a adotou e fez de Suzana, minha irmã.

          O alívio de Victor contrastou diretamente com a vergonha de Lara.

          ___ Eu... Eu sinto muito.

          ___ Eu detesto dizer isso, Lara, mas, eu não merecia um voto de confiança? Quer dizer, tanto tempo juntos... E você continua a ficar chateada pelos menores motivos. – Desta vez, Ele não fingia estar decepcionado, a decepção era verídica.

          ___ Eu sei! É só que... Eu me senti tão mal quando vi você e aquela garota juntos; ela é tão mais bonita que eu. Se quer saber, não sou boa o bastante para você Victor! Você também sabe disso. Eu sou sempre infantil, imatura e...

          Antes que ela concluísse o discurso que repassara na mente tantas vezes, viu Victor ir até a porta. Pensou que ele estivesse indo embora, mas estava apenas a fechando. Ele sabia que tia Marly não pediria para entrar se a porta estivesse fechada. Por instantes, Lara tentou entender o que Victor procurava na pequena estante junto a parede, com tanto empenho.

          ___ Lembra desse livro? Te dei no seu aniversário – Lara assentiu, ao ver o Livro “Alice in Wonderland” nas mãos do garoto. Ele abriu o livro e começou a procurar por algo...

          ___ Aqui! Achei. – Falou parecendo feliz, e leu a seguinte citação: - “A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu.”.

          Ele encerrou a leitura, fechou e pôs o livro de volta a estante, dizendo:

           ___ Mudanças, Lara; É disso que a vida se nutre. Vamos mudar umas milhares de vezes até darmos o nosso último suspiro. - Fez uma pausa para olhar nos olhos da menina e prosseguiu:

          ___ Nós dois já percebemos o quanto mudamos com o passar dos anos. Mas, quer saber? Nem tudo se transforma; algumas coisas nunca vão mudar. Eu sei que você acha que tem sido imatura desde sempre, mas vou te dizer o que me faria te reconhecer em qualquer lugar do mundo, porque nunca vai ser alterado: Seu sorriso; Ele faz uma curva torta para a direita desde que me entendo por gente. Sua mania de enrolar as pontas do cabelo nos dedos, e sua sobrancelha sempre se arqueia quando você está com medo, o que é estranho porque sobrancelhas costumam tomar essa forma quando seus donos estão confusos, não amedrontados. –sorriu levemente – Nenhuma garota no mundo vai poder competir com isso. Nunca.

          Lara, que já havia parado de chorar havia minutos, agora tinha novas lágrimas cintilando no rosto. Sentou na cama e logo em seguida Victor estava defronte a Ela.

          ___ Você só pode ser parte de um sonho bom. – Lara disse, quase num sussurro, antes de beijá-lo.


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Notas finais do capítulo

E então gostaram?
Uma dica para o próximo capítulo: Talvez o verão acabe antes do esperado...
Voltem sempre! *.*