A Sereia De Córdoba escrita por FernandaCDZ


Capítulo 4
Determinação


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas terminei. Mais um capítulo da saga da Amélia no Santuário. Mais surpresas... Mais respostas!
Comentários são bem-vindos e apreciados *.*



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– Determinação -

Era quase noite quando Máscara da Morte encerrara o treinamento de sua discípula. Três mil voltas, dois mil e quinhentos socos, mil chutes, mil abdominais, duas mil e setecentas flexões foram o saldo final de exercícios para a garota, que estava ajoelhada no chão de pedra do campo de treinamento. Seu mestre, o Cavaleiro de Câncer, estava sentado ao seu lado.

[MdM]: E hoje, Mia? Nada? Nenhuma centelha de Cosmo?

[Amélia]: (Triste) Não. Nada, nadinha... (Suspiro) Será que eu nunca conseguirei?

[MdM]: (Põe a mão no ombro de Amélia) Coragem, Mia. (Sorriso triste) Um dia de cada vez; vamos tentar. Eu não desisti de você antes, e não desistirei agora.

[Amélia]: (Triste) Me pergunto até quando tentaremos, Máscara... [MdM]: (Levanta) Tentaremos até conseguirmos. (Oferece a mão para Amélia) Tentarei a vida inteira se for necessário. Você tem potencial, Mia. Eu não te abandonarei. (Beija a testa de Amélia)

[Amélia]: Cierto... (Se afasta um pouco) Eu vou conhecer a vila... Volto mais tarde. (Afasta-se) [MdM]: Certo... Mas não demore, sim? (Vai para a Casa de Câncer)

***

O pôr-do-sol da Vila Rodório era um espetáculo a parte; o Sol desenhava lindas sombras sob as escarpas que envolviam o vilarejo grego, criando um jogo de claro-e-escuro fascinante e único. Amélia ainda estava trajando sua roupa de treinamento, que certamente atraía muitos olhares dos jovens da região, tanto homens quanto mulheres. O sorriso da espanhola era também um chamariz eficiente, fazendo com que toda a vila parasse para observá-la.

Ela foi andando até uma lojinha de sorvete, onde decidiu parar para experimentar os sabores que lá havia. No que ela se sentou e pediu, Camus passava por lá junto a Milo, e uma inexplicável vontade de soltar a voz surgiu em Amélia, que não conteve os impulsos de seu jovem coração.

[Amélia]: (Cantando)

My name it is Amelia, a gypsy's daughter fair,

And I have left my parents and three thousand mourns a year,

My heart is pierced by Cupid, I disdain all glittering gold,

There is nothing that can console me but my jolly sailor bold.

Come all you pretty fair maids, whoever you may be

Who love a jolly sailor bold that ploughs the raging sea,

My heart is pierced by Cupid, I disdain all glittering gold,

There is nothing that can console me but my jolly sailor bold.

[Camus]: (Aponta para a sorveteria) Mas essa não é... A Amélia?

[Milo]: Quem é essa?

[Camus]: Irmã mais nova de Shura, discípula de Máscara da Morte e... (Fala devagar) Dona de uma linda voz... (É atraído pela voz da moça, caminhando em sua direção)

[Milo]: (Deboche) Isso me soa como uma declaração de amor, Camus! Você... (Nota que o amigo está se afastando) Onde você vai?! Espere por mim!

Camus continuou andando na direção de Amélia apresentando os mesmos sintomas da madrugada; a espanhola, ao perceber a presença do rapaz, cessa a cantoria, que faz o aquariano sair de seu transe.

[Camus]: (Confuso) Como vim parar aqui? (Resmunga) Ah, de novo não...

[Amélia]: (Sorriso) Camus? Que surpresa mais agradável! (Vê Milo) Milo de Escorpião? Que prazer em conhecê-lo! (Cumprimenta-o)

[Milo]: Igualmente! (beija as faces da menina) Então, você é a discípula de Máscara da Morte de quem já tanto ouvi falar?

[Amélia]: Sou eu mesma. (Sorri e oferece assento a ambos) Venham, façam-me companhia... De que tipo de sorvete gostam?

[Milo]: Sou fã de baunilha... Camus, vai querer também?

[Camus]: (Distraído) Hã? Não, não... Não vou querer nada. (Rosto enrubesce)

[Milo]: Você está muito estranho hoje, meu amigo... (Olha as mãos de Camus) Camus, o que aconteceu?!

[Camus]: Ah, isso? Foi o Máscara da Morte... (Amélia faz uma cara de espanto) Aparentemente, ele atirou cacos de vidro em mim. O que é mais estranho de tudo é que eu sequer me defendi...

[Amélia]: Ay, lo siento! É tudo culpa minha! (Triste)

[Camus]: Não, a culpa não foi sua. (põe a mão no ombro dela) É o jeito dele, querendo defender aquilo que ele considera dele por direito. Do modo como ele sempre falou de você, supus que ele teria uma pontada de ciúmes de você...

[Milo]: Mas como assim, você não se defendeu? (Surpreso)

[Camus]: Eu não sei... É como se... Como se um Cosmo tivesse se apoderado de mim... É muito estranho, pois a única pessoa perto de mim era... Amélia.

Eles olham para onde Amélia estava sentada; para a surpresa de ambos, a moça desaparecera. Milo dera de ombros e continuara a comer seu sorvete, mas Camus ficou intrigado. Extremamente intrigado.

[Milo]: Ué, para onde ela foi?

[Camus]: Não sei... (Reflexivo) Que estranho, saiu sem se despedir... Sem fazer um único som. Como se nunca estivesse estado aqui... Isso é suspeito. Muito suspeito.

[Milo]: Deixe de ser desconfiado, Camus! Vai ver ela se sentiu incomodada pelo que te ocorrera e decidiu sair, eis tudo. (Termina o sorvete) Bem, eu vou ao campo de treinamento... Ao que parece, minha ressaca está curada. Você vem também?

[Camus]: Hoje não... Eu já treinei. (Deboche) Se você não tivesse ido até depois de Bagdá na bebedeira, teria me acompanhado. Acabei escolhendo o Saga para treinar... Falando nisso, creio que Kanon está no Campo. Veja se consegue treinar com ele!

Milo deu um discreto sorriso com o canto da boca, deu de ombros e levantou, claramente aborrecido. Desde que se conheceram, nunca deixavam de treinar juntos. Treinavam tanto que Milo era bom entendedor das técnicas de Camus, e a recíproca era verdadeira: o conhecimento era mútuo e tão vasto que, se um dia quisessem, Camus poderia desferir a Agulha Escarlate e Milo poderia arriscar-se com a Execução Aurora de forma tranquila.

O aquariano ficou observando o pôr-do-sol com certa melancolia. Era estranho para ele aquele sentimento; normalmente, assistir ao fenômeno do claro-e-escuro da Vila Rodório o fazia ficar em paz consigo mesmo, mas hoje era diferente.

Ele sentia um vazio em seu peito, uma inexplicável sensação ruim que o consumia, fazendo seu coração se apertar, o estômago revirar e a garganta encher-se de nós.

[Camus]: (Cantando)

Lonxe da terriña...

Lonxe do meu lar...

Que morriña tenho...

Que angústias...me dan...

Non che nego a bonitura...

Ceiño desta terriña

Ceiño da terra allea

Ai quen che me dera na miña...

O sol já estava praticamente desaparecido; o céu já mostrava os sinais da noite. E lágrimas sofridas saíam dos olhos do aquariano, que mantinha firme o canto.

Ai meu alala...

Cando te oirei?...

Chousas e searas

Cando vos verei?

Son a froses dises campos...

Frorentes e bonitiñas,

Ai quen aló che me dera

Entre pallas e entre ortigas...

Lonxe da terriña

Que angústias me dan

Os que vais pra ella

Con vos me levais

Os que vais pra ella

Con vos me levais

Os que vais pra ella...

Con vos me...levais...

Ele acenou para o sorveteiro, saiu do estabelecimento e caminhou para a Casa de Aquário com uma extrema melancolia. Seu Cosmo gerava um vento gelado que refrescava o Santuário e o enchia de melancolia simultaneamente.

Um a um, cada Cavaleiro foi ate a janela de seus aposentos olhar o espetáculo que se desenhava no vento. Os flocos de neve e gelo pareciam formar imagens à medida em que dançavam no ar, produzindo um triste espetáculo.

Contavam, esses flocos, uma triste história. A história de um garotinho cuja infância fora negada. Camus não olhara para o céu, mas mantinha-se cantando a canção que Amélia lhe ensinara, e o fazia bem baixinho, para não acordar a ninguém.

Cabisbaixo, parecia arrastar as pernas, andando de forma penosa e tristonha. Estava tão absorto em seus tristes pensamentos que sequer notara Mu lhe chamando a atenção.

[Mu]: Camus! Você está bem?

[Camus]: Hã? Sim...Sim! Sim, eu estou bem. Desculpe-me por isso. (Suspira, ergue a cabeça e melhora a postura) Permissão para passar pela casa de Áries.

[Mu]: Negada.

[Camus, surpreso]: O quê? Ah, Mu, não faça isso. Não estou com humor para brincar!

[Mu, sorriso irônico]: Você nunca está, meu amigo. Verdade seja dita, jamais te vi brincar, sorrir, dançar... Como na festa. Você nunca me pareceu tão feliz.

[Camus]: (Pausa, surpreso) É mesmo... (Sorriso discreto) Que bom... (Volta a melancolia) Acho que são dias que acontecem muito de vez em quando para mim... Muito mesmo.

[Mu]: Você está muito, muito triste... (Olha para o céu e vê a dança de flocos de gelo e neve, já no fim) Tenho certeza que esse evento de hoje tem a ver com seu estado de espírito. Gostaria de conversar a respeito?

[Camus]: Non... Perdoe-me, Mu, mas não tenho esse costume. Espero que me entenda.

[Mu]: Bom, se nem você parece se entender o que se passa e, seu coração... Que dirá eu. Ainda acho que você deveria passar a noite aqui, na Casa de Áries, e depois regressar à sau Casa. Bom, faça como preferir...

[Camus]: (Sorriso triste) Merci... Contudo, terei que recusar o convite... (Um discreta e fina lágrima sai de seu olho esquerdo) Permissão para passar pela Casa de Áries?

[Mu, contrariado]: Concedida...

Camus faz um sinal de agradecimento com a cabeça e segue seu caminho. A voz de Amélia ecoava em sua cabeça. A música que ela cantara era tão linda, e triste ao mesmo tempo. Memórias vieram em sua mente. Memórias tristes, como maior parte de sua vida o era.

...Os que vais pra ella

Con vos me levais...

Os que vais pra ella

Con vos me... levais...

***

– Casa de Câncer -

[MdM]: Sinceramente, Mia, não estou lhe entendendo! Desistir?! (Uma lágrima sai de seu rosto)

[Amélia]: Mestre, vamos ser francos um com o outro, como sempre fomos! Você há muito sabe... (Engasga, chorando) Sabe que não tenho Cosmo, e que jamais irei despertá-lo! (Chora) Já tentamos de tudo, Mascarita! (Ela o abraça e chora)

[MdM]: Não desista... (Triste) Um dia de cada vez, Mia... Um dia de cada vez...

O canceriano olha para a entrada de sua Casa e vê Camus parado, com um olhar melancólico.

[Camus]: Permissão para... Passar?

[MdM]: (Triste) Concedida. Vá, gelinho... Saia daqui.

Ver Amélia nos braços de seu mestre, chorando copiosamente, doeu muito para Camus, que sentia como se seu coração estivesse sendo esmagado. Uma lágrima estava em seu olho e, para evitar algum comentário, saiu correndo da Casa de Câncer, rumo a sua própria. Queria que aquilo parasse. Queria que a dor cessasse. E queria que a música cantada por Amélia soasse menos triste e pessimista...

Continua...


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