Após a batalha com Sensuí, Yusuke, Kurama e Hiei partiram para Mekai, o mundo das trevas. Kuwabara ainda não havia assimilado a idéia, achava Yusuke um louco por tê-lo feito.

                _ Urameshi, seu idiota, você não precisava ter ido _ resmungava Kuwabara enquanto caminhava para a escola.

                Já fazia muito tempo que ele não ia à escola, e sabia que teria muito trabalho pela frente. Faltava pouco mais de um mês para o fim do ano letivo, e ele havia faltado mais do que ido durante o ano, talvez já estivesse até reprovado por faltas. Mas independente de qualquer coisa, seria bom rever alguns colegas de classe e espantar o tédio que se instalou em sua vida desde que seus amigos deixaram o mundo dos homens.

                Ainda no caminho entre sua casa e a escola, Kuwabara ouviu um som que parecia de uma briga. Ele correu seguindo o barulho, e viu em um beco sem saída dois grupos de adolescentes brigando. Ao chegar mais perto, percebeu que um dos grupos eram os membros de sua antiga gangue. E não era bem uma briga, estava mais pra um massacre: seus amigos caídos no chão e sendo espancados com correntes e barras de ferro. Ao ver essa cena, Kuwabara ficou irado, e com apenas uma das mãos nocauteou os inimigos. Depois de ter enfrentado youkais poderosíssimos, derrubar um bando de baderneiros era como matar mosquitos.

                _Kuwabara, que bom que você voltou _ exclamaram em coro.

                _E como você está forte, andou treinando?

                _Sim meus amigos, treinei até meus ossos praticamente racharem. Enfrentei inimigos que vocês nem podem imaginar. Quase morri, mas estou de volta mais forte e melhor do que nunca!

                Okubo começou a chorar.

                _Por que você está chorando?

                _Sa...sabe, muita coisa mudou desde que você parou de vir à escola. Uma gangue de garotos de outra escola dominou a cidade, e sempre nos batem. Eles são muitos e não lutam com honra, atacam em bando e armados com bastões, correntes e até facas.

                _É verdade. Mas não chore, agora Kuwabara voltou para nos salvar, não é verdade? Do jeito que você ficou forte, poderá acabar com eles, certo?

                _Errado _ respondeu Kuwabara.

                _O QUÊ? VAI NOS DEIXAR? _ disseram todos, muito chocados.

                _Vocês não devem ficar brigando por aí. Falem com o diretor da escola, ou mesmo com a polícia.

                _Já tentamos. Mas o diretor da nossa escola nos odeia, e quando fomos na polícia, o investigador entrou em contato com o diretor, que falou que nós éramos delinquentes e que tudo não passava de mentira nossa. Além do mais, nessa gangue tem alunos de várias escolas diferentes.

                _Entendi. Eu não sou mais de briga, nem vou atrás de ninguém, mas podem ter certeza de que enquanto vocês estiverem comigo, ninguém vai por um dedo em vocês _ Kuwabara fez essa declaração com o uma pose heroica.

                _Muito obrigado._ responderam felizes.

                Seguiram todos caminhando em direção à escola. Eles falando sobre suas pequenas brigas, e Kuwabara, quando perguntado, apenas falou que fez um treinamento intensivo em um dojô. Entraram na escola já em cima da hora, fizeram a tradicional formação em fila e foram para a sala. Mas ele mal sentou em sua cadeira quando foi anunciado no auto falante da sala :

                _Kazuma Kuwabara, comparecer à diretoria.

                Ele não entendeu ter sido chamado à diretoria tão cedo, não teve tempo de aprontar nada. Pediu licença ao professor, e ao ser autorizado, foi até a diretoria

_Senhor diretor, por que me chamou até aqui?

                _Kuwabara, eu achava que você já havia desistido de estudar, mas o vejo aqui hoje. O que o trouxe aqui? Veio arrumar mais confusão?

                _Não senhor. Vim pelo desejo de ser um bom aluno e concluir o curso fundamental.

                _Então já vou adiantar: você está reprovado. Acabei de consultar a sua ficha e vi que você tem mais de cinquenta por cento de faltas nesse ano, quando o máximo permitido é quinze por cento.

                _Não é possível diretor, eu posso estudar, fazer trabalhos, ir bem nas provas...

                _Não adianta. Lei é lei.

                Quando o diretor termina essa frase, entrou uma mulher de uns vinte e cinco anos, cabelos longos azuis, seios grandes e usando óculos. Ela disse:

                _Com todo respeito senhor, esse aluno pode fazer o Exame de Admissão ao Ensino Médio, independente de sua frequência.

                _Senhorita Matsumiya, não adianta ele prestar o exame se não for aprovado no fundamental _ replicou o diretor.

                _Mas nossa lei educacional prevê que um aluno que acerte oitenta por cento do exame será automaticamente aprovado na terceira série do fundamental, mesmo que não possua a mínima frequência _ respondeu Matsumiya.

                _Não quero ser indelicado, mas esse garoto é um problema para nossa escola, e além disso, você é apenas uma professora substituta_ disse o diretor.

                _Sei disso. Mas o senhor mesmo disse que lei é lei, e a lei permite ao rapaz a chance de se formar._ respondeu ela.

                O diretor deu uma risada sarcástica e finalizou:

                _ Você ouviu a professora, Kuwabara, você terá a chance de se formar desde que acerte oitenta por cento do exame. Mas vou avisar: a nota mais alta que um aluno de nossa escola já consegui foi setenta e cinco por cento, e foi tirada por um aluno exemplar. Você não vai conseguir, se eu fosse você, me suicidava antes da prova pra livrar sua família da vergonha.

                Kuwabara, que até então estava ouvindo calado, respondeu ao diretor:

                _Argg, eu não vou desistir. E vou conseguir a nota no exame, nem que seja a última coisa que eu faça.

                _Já que você diz. Está dispensado, volte para sua classe.

                Kuwabara e Matsumiya saíram da diretoria. Antes de voltar para a sala de aula, ele foi até ela:

                _Muito obrigado professora. Me defendeu mesmo sem me conhecer. Eu sou Kazuma Kuwabara, já fui um aluno problemático mas estou disposto a mudar.

                _Meu nome é Yumi Matsumiya, sou a professora substituta de inglês. E se quer mesmo me agradecer, faça uma coisa: consiga a nota necessária no exame.

                _É claro que vou, nem que eu tenha que estudar vinte e quatro horas por dia.

                _Então apresse-se, a prova é daqui a um mês _ finalizou Yumi.

                Cada um seguiu o seu caminho. Kuwabara estava determinado a conseguir se formar, mas não sabia nem por onde começar. Então teve a ideia de procurar a estudante mais CDF que ele conhecia: Keiko. Ela não era da mesma turma dele, embora fosse da mesma série. Ele esperou até a hora do almoço para procura-la. Foi por toda a escola e não a encontrava, mas quando perguntou a uma de suas colegas de classe, ela disse que há algum tempo que a Keiko passava o horário do almoço sozinha no terraço da escola. Kuwabara correu até lá, e a viu em pé, olhando para o nada. Kuwabara com sua discrição de costume gritou:

                _KEIKOO, ENFIM TE ACHEI.

                Ela se assustou, mas olhou para ele e sorriu:

                _Olá Kuwabara, muito bom ver um rosto amigo.

                _Ué menina, você sempre teve tantas amigas, o que houve?

                _Elas são legais, mas com tudo o que aconteceu esse ano, comecei a sentir falta de amizades mais sólidas. Tem visto a Botan, a Yukina, ou a mestra GenKai?

                _Todos seguiram seus rumos. Lógico que minha irmã eu vejo todo dia. Mas mudando de assunto, você vai fazer o exame?

                _É claro, por quê?

                _Porque ter minhas faltas perdoadas eu preciso tirar oitenta na prova. Por favor, você é a pessoa mais inteligente que eu conheço, pode me ajudar?

                _Nossa, oitenta é muita coisa. Mas não é impossível. Faz o seguinte? Vá na minha casa todo dia depois da escola, podemos estudar juntos.

                _Brigadão mesmo Keiko, você é dez.

                Kuwabara apertou desajeitadamente a mão da Keiko e desceu as escadas tão rápido quanto subiu. Keiko ficou olhando e rindo. Talvez estudar com Kuwabara aliviasse a falta que sentia do Yusuke.