Aquela dor de cabeça infernal já se tornou parte de mim. O calor daquela cozinha já se tornou parte de mim. Fico cozinhando o dia todo para servir um prédio inteiro de advogados, executivos e outras profissões que exigem um terno. O trabalho tem aumentado, e você sabe por quê? Porque esses cretinos têm medo de sair no horário de almoço, ou qualquer outra hora com medo de morrerem ou sei lá o que. Penso em todo momento em me demitir, voltar para casa e ficar com minha filha, mas se eu fizer isso terei apenas duas opções: Iremos passar fome, ou iremos fugir. Mas fugir para onde? Sair de Metropolis já não é mais possível. Se eu sair desse apartamento, não terei aonde ir. Tenho que cuidar de minha filha. Sua mãe é uma grande vadia, nós transamos, ela engravidou. Eu a amava, mas ela era só uma perca de tempo. Ela era uma garçonete quando engravidou de Sofia, depois disso fugiu com o dono do barzinho de onde trabalhava. Sofia não devia ter nem dois meses quando ela se foi. Talvez isso tenha sido bom, eu acho.
 Eu estou cortando alguma coisa verde que eu nem presto mais atenção, não é uma coisa que eu julgue importante. Não com essa guerra ai fora.
 - Como anda a Sofia? – Perguntou a Alexia, minha colega de trabalho.
 Alexia ama a Sofia, e Sofia a ama. Ela é figura materna que Sofia precisa. Ela costuma dormir lá em casa com frequência, como amiga, pois sua casa fica na parte mais violenta da cidade, e dependendo da hora, passear por aquelas ruas pode significar um belo de um aviso na testa escrito “Me assalte, pegue meu dinheiro, depois me mate, por favor!”.
 - Está meio triste. Ela é inteligente o suficiente para saber por que não está mais indo para a escola. Ela sente falta de seus amiguinhos. – Eu disse decepcionado.
 Eu soube que alguns professores foram capturados pelo Brainiac, mas a diretora da escola insiste em dizer que eles se demitiram para sair dessa cidade, mesmo todos nós sabendo que é mentira.
 - Coitada. Eu vou lá hoje à noite, tudo bem? – Ela disse. Eu não consegui conter o sorriso de orelha a orelha. Sempre que ela passava a noite em casa, eu me sentia feliz.
 - Claro! Aliás, já esta muito tarde para você andar sozinha. Pode ir se trocar, eu termino de guardar essa comida. – Respondi entusiasmado. Só estávamos nós dois. A maioria já havia ido embora mais cedo.  Nós sempre ficávamos, com certeza era por causa da companhia um do outro. As vezes acho que ela fica mais tarde de propósito, pois sabe que não consigo deixar ela sozinha e a trago para minha casa. Eu gosto disso.
 Depois do trabalho, caminhando pela rua, nós conseguimos ver de longe explosões de batalhas dos super-humanos contra os Brainiac’s (Nome popular para os robôs de Brainiac).  Nós conseguimos ver também fragmentos de Exobytes espalhados por todo canto. Deve ter feito uns 10 meses desde que tudo começou. Vocês não devem ter entendido muito bem o que é essa parada toda... Nem eu sei direito, mas vou tentar explicar. Lex Luthor, o grande vilão, descobriu que Brainiac planejava atacar a terra, e avisou para a Liga da Justiça. Mas Brainiac chegou, junto com sua nave mãe e seu exército. Ele criou os Exobytes, nano-robôs que quando ativados em uma máquina, multam o humano a quem lhe foi aplicado, e dando para si superpoderes. Brainiac pretendia usar esses super-humanos para dominar o mundo, mas o Super Homem descobriu que as pessoas mesmo depois de transformadas, não são necessariamente maléficas, isso vem depois da mutação.
 Nós, pessoas comuns, não sabemos muito, mas sabemos também que, primeiro os Exobytes são ativados e a pessoa ganha seus poderes, e depois é feito um tipo de lobotomia para que não troque de lado durante a batalha. Claro que se não fosse os Exobytes a lobotomia não seria possível, mas mesmo assim tem chances dela não dar totalmente certo. Dizem que o Super Homem tenta ajudar as pessoas depois que se transformam, para ajudar no combate. Resumindo, se você for pego pelos Brainiac’s, você se tornará ou um super-vilão ou um super-herói.
 Estávamos perto de casa quando uma figura se aproxima correndo de nós. Era um homem que seus olhos brilhavam vermelho. Ele rangeu os dentes e se apressou em dizer:
 - Passem tudo o quê vocês tem! – E sem paciência, gritou: - AGORA! – Serrou os punhos, que começaram a emitir um brilho estranho. E no momento que suas mãos começaram a pegar fogo, um jato de gelo atingiu sua cara, derrubando-o. Um homem vestido como um clássico Super Herói dos quadrinhos chegou voando e pairou acima do homem caído no chão.
 - Render-se ou lutar? – Perguntou com um tom de superioridade.
 Os olhos do homem começaram a entrar em chamas, e ao estender suas duas mãos para o homem voador, saiu um jato de fogo que o jogou no chão. Sem perder tempo, começou a usar seus poderes e eles começaram a duelar. O herói fez sair do chão gelo em volta do vilão, e em seguida começou a dar vários golpes em sua cabeça, mas ele fez um tipo de explosão que quebrou o gelo.
 Eu e Alexia corremos dali, deixando os dois para trás. Não ousamos olhar para trás. Alguns minutos depois, bem perto de casa, aquele super-herói de gelo nos alcançou.
 - Hey, eu deu uma surra nele. Vocês tem sorte por estar dando uma voltinha por perto. As coisas não iriam acabar muito bem... – Disse ele, na nossa frente, flutuando a 10 centímetros do chão.
 Eu não queria falar nada, claro que eu estava aliviado por ter saído inteiro, mas minha filha já estava logo ali.
 - Agradeço, mas estou com pressa. Espero que nos proteja sempre que precisamos... – Já chega. Puxei Alexia pro lado e fomos até a minha moradia. Ganhando altura, ele gritou:
  - Estamos aqui para isso, camarada! -  E finalmente já havia ido embora.
Eu estava na porta de casa, finalmente. Era uma casinha mais ou menos, que dava pro gasto. Procurei minhas chaves no bolso e as peguei. Assim que eu abrir a porta, irei dar um abraço na Sofia. Esse evento que acabou de acontecer me assustou, tenho que admitir.
 Eu estava com a chave na mão, e quando fui colocar ela na fechadura, a porta se abriu. Não estava trancada, nem encostada. Eu corri para dentro, e vi manchas de fogo por toda parte, chamei pela Sofia, mas ela não estava mais lá.