Zunidos preenchiam minha cabeça, meu corpo parecia mole como se tivesse passado dias acordada, o que na verdade não era tão diferente da realidade. Assim que Tirésias desapareceu fui envolvida pela escuridão.

Quando abri os olhos senti como se estivesse acordando de um longo sono. Infelizmente esse não havia sido bom. A primeira coisa que percebi foi que estava deitada em um chão de Mármore. Eu podia sentir o frio do chão trespassar minha pele e uma áurea de poder me envolvendo. De repente começo a ouvir vozes.

– Penny, me escute, acorde ok? Droga, por que o charme não está funcionando?- Diz uma voz conhecida.

Meu pulso inexplicavelmente se acelerou ao ouvir aquela voz. Senti meu corpo começar a responder lentamente.

- Juro Tales, se acontecer alguma coisa com ela... Vou picar você inteirinho.

-Eu já disse, eu não deixaria nada acontecer a ela seu tonto- disse Tales zangado.

– Que bom! Fico feliz que você a tenha trazido sã e salva. O fato de ela ter andado meio mundo inferior sozinha para falar com um adivinho de mais de três mil anos é uma amostra adorável do quão protetor você pode ser.

Tenho que sorrir internamente.

–Aprendendo sarcasmo General?- pergunto levantando um pouco a cabeça, o que faz meu corpo todo estremecer.

–Penny - Grita Alex- Eu pensei... Deuses, você nos deu um susto e tanto.

–Eu estou bem- digo, tentando fazer eles se acalmarem. Pisco para focar a visão e vejo Alex me olhando. Seus olhos estão brilhando intensamente e obrigo meu coração a bater normalmente- Mas o que aconteceu? Eu estava falando com Tirésias e...

Sinto a temperatura cair ao lembrar de Tirésias. Acho que comecei a tremer porque Alex pega o casaco que ele estava usando e coloca em cima de mim.

– Bom, o que sabemos é que você foi trazida por uma fúria para cá. Ela chegou com você desmaiada, ela disse que não havia conseguido te acordar. A Fúria simplesmente te deixou aqui deitada. Seu colar estava brilhando mais forte do que nunca. Foi... assustador.

–Sim, quase tivemos um ataque do coração- diz Tales- Você estava gelada e completamente imóvel. Graças aos deuses sou neto de Plutão e sabia que você não estava morta.

Eu sorri para ele.

–Ótimo! Mas como foi que você voltou para cá? Conseguiu alguma noticia de Harriet?

Os olhos de Tales ficaram tristes.

–Não. Provavelmente ela deve estar perdida com as outras almas. Sinto muito Penny... eu...

–Não é sua culpa. Você fez aquilo para o bem da missão.

Ele me dá um sorriso triste de volta. Alex nos olha de um jeito estranho.

–Hum, acho que temos decidir o que fazemos agora- diz Tales parecendo desconfortável.

–Temos que enfrentar Crio. Essa é a última Tarefa- digo- Acho que só depois de completarmos essas tarefas iremos conseguir resgatar Thalia e Nico do tártaro.

– Penny tem razão. E dessa vez tenho que ir com vocês- diz Alex.

Sinto tanto alivio por ele ter decidido ir com a gente que digo rápido demais.

–Claro que sim!

Os dois me olham

–Quero dizer, ele é o filho do cara que matou o titã da última vez. Acho que é meio obvio...- ah deixem para lá- digo corando- Vocês tem muitas coisas para me contarem.

Os dois trocam olhares preocupados.

–Você é o neto do dono da casa. Sinta-se a vontade para começar.

Tales rola os olhos para Alex.

– A verdade é que não foi fácil voltar para cá. Como você sabe, fui procurar por Harriet. Infelizmente não encontrei nenhum sinal dela. Acabei sendo atacado no caminho por alguns monstros não leais ao meu avô.

–Como assim não leais ao seu avô?

–Isso que está me deixando preocupado. Plutão sempre foi cuidadoso demais. Se essas coisas invadiram o reino dele, isso não é bom sinal.

–Não mesmo. Aquelas fúrias...

Os olhos de Tales pareciam estar mais negros do que de costume quando ele responde.

–Não eram as tenentes do meu avô. Elas não seguiam suas ordens.

–Que fúrias?- Pergunta Alex nos olhando confuso.

–Ah eu esqueci de te contar- diz Tales- Fomos atacados por fúrias quando recolhemos a água do Estige.

–Ah você esqueceu de me contar- Perguntou Alex fuzilando Tales com os olhos

– Eu não tive tempo... cheguei aqui e depois vi Penny...

–Ah esqueçam isso. Como você chegou aqui Tales? Pelo que sei, estávamos longe- digo recebendo um olhar acusatório de Alex.

Tales ficou um pouco vermelho. Alex tinha um sorriso travesso.

–É Tales, como você chegou aqui? Estamos todos curiosíssimos para saber.

Tales se é possível ficou mais vermelho do que um tomate.

– Eu... me transformei em um cão infernal.

–Ah , bom isso explica...ESPERA. O que você disse?

–Eu me transformei Em um cão infernal. Meu pai podia fazer isso. Quando fui atacado percebi que podia fazer isso também- diz ele meio envergonhado.

–Cara isso é demais!- Digo impressionada- Claro, eu teria apreciado se você tivesse descoberto essa habilidade durante nossas missões, mas, mesmo assim, isso é muito, muito legal.

Alex me olha como se estivesse me vendo pela primeira vez, achei que ele fosse retrucar, mas ele lança um rápido olhar para Tales e dá um sorriso encorajador.

–Foi o que eu disse a ele. Claro, não que eu não tenha morrido de rir com Perséfone te enxotando como se fosse um filhote de chiuaua. Você precisava ver.

– Não tem graça Alex- diz Tales ficando cada vez mais vermelho.

–Ok, ok. Isso é muito legal. Então você conseguiu chegar aqui são e salvo, fico feliz. Mas e você Alex? Perséfone e Hades deram muito trabalho?

De repente como se tivesse vendo um filme, visualizo Perséfone dando em cima de Alex. Ignoro a raiva que esse pensamento me provoca e o encaro da forma mais vazia que consigo. Alex suspira.

–Bom, foi como ficar com duas crianças no parquinho. Sério... eles são impossíveis. Ficar aqui enquanto vocês estavam lá fora na missão foi torturante.

– Mas e você, conseguiu falar com Tirésias?

Eu começo a contar tudo a eles. A parte da Sibila, o Luke, Bianca. Tales fica feliz ao saber que a tia vai nos ajudar a resgatar Nico. Quando chego na parte de Tirésias minha garganta fecha. Me lembro de suas estranhas mensagens. Conto o que ele pediu que dissesse a Perséfone, mas a mensagem que ele me deixou é dolorosa demais. Simplesmente não consigo compartilha-la.

–Então, você acha que realmente pode haver uma guerra entre Gregos e Romanos?- Posso dizer pelo tom de voz que Tales está realmente assustado.

–Isso seria horrível- disse Alex- meus pais...

Sinto meu coração se contraindo.

–Eles seriam os primeiros atingidos. E os mestiços também. Temos que evitar-Falo. E então me lembro da visão do pomo no meu pulso. Minha mão involuntariamente vai para o local onde a tatuagem estava na visão.

–Penny- diz Alex- Tem algo mais que você precise nos contar?

–Não- digo rapidamente. As vezes eu odiava o jeito com que Alex podia ver claramente o que eu sentia- Quer dizer, eu tenho um presente de Sibila para você. Pego o escudo que está dentro da minha mochila. Ela está jogada no chão, perto de onde eu estava deitada.

–Aqui- digo entregando o bracelete para ele. Alex o coloca no pulso examinando. O bracelete é prateado, com figuras que lembram as legiões romanas e também a figura do Partenon no centro. Um escudo Greco-romano, assim como Alex. Há uma inscrição: unitas est Victoria.

– A união faz a vitoria-digo impressionada- Esse escudo é perfeito para você. Quero dizer, como mestiço e tal...

– Alektos. Invencivel. Esse é o nome desse escudo. Ele foi de Alexandre- diz Alex perplexo.

– Ele é de Alexandre agora- digo sem entender. Mas então a ficha cai- Espera, você está dizendo...

–Ele mesmo. Alexandre, o Grande.

–Santo Poseidon- digo impressionada. Alex segurou o escudo mais perto. Eu não vi mais Alex, mas sim um verdadeiro soldado romano, pronto para lutar. Ele estava simplesmente... lindo.

–Espero que faça bom uso desse presente neto de Júpiter- diz uma voz atrás de mim. Assim que me viro congelo. Estou encarando o Deus dos mortos.

– Hum, oi vô – diz Tales desconfortável.

– Olá Tales- diz Hades friamente- Bem, espero que tenham aproveitado o reencontro. Temos muito que conversar. Principalmente eu e você Penélope.

A voz de Hades embora esteja bem controlada faz cada pelo da minha nuca se eriçar. Aposto Contracorrente que estou muito, muito encrencada.