Levantei os olhos, e pensei “Poxa, eu deveria estar aqui?”. Enxerguei um punhado de horas gastas sobre rodas, alguns olhos reclamando e sem descanso, muita preguiça dominando um corpo, os gritos explodindo a paciência, a secreta inveja causando o desgosto, todos cercando os mesmos anos que lutam para contar o que viram.

            E então olhei para baixo, vi minhas mãos. Lembrei-me do que elas querem contar. Elas querem estar com suas obras, indiferentemente se elas já existem ou haverão de existir. A vida que levam é uma incansável busca por seus interesses. Se eu pudesse ouvir minhas mãos, sei que reclamariam, diriam “Nos levante daqui e vamos ser produtivas juntas!”.

            O sinal soa, junto dele chega um anjo na cabeça de todos cantando “Amém” de um modo bem glorioso, mas nada empolgante. Eu vou até Ele, simplesmente por que posso, o que vou fazer não sei, comer, andar, conversar, sentar, beijar ou abraçar – pouco importa!

            Ter Ele por perto, muito perto, me mantêm longe desse mundo, me eleva pra outra dimensão. Um planeta feito por dois, meio a meio, traz uma necessidade de dividir meu sentimento pela metade.

            Isso não dura muito, Ele logo se vai, me recusa, me afasta, me obriga a voltar pra onde eu agora pertenço. Em meio a assuntos como personagens malucos, estratégias de batalha, discussões sobre beleza corporal, reclamações de sono, jogos desconhecidos e músicas nunca ouvidas. Eu me perco! Onde fica o interesse pelas nossas queridas bandas, filmes, livros, garotos, coca-cola, pôsteres, jogos e pets???

            Estão enterrados, em um baú ou caderno prateado qualquer! Se é que ainda existem, duvido que alguém também queira que existissem...

            O que passou durante todo esse tempo foi um capítulo enorme! Pelo menos desse lado do livro, um zilhão de mudanças acontecendo, e enquanto elas chegam, a certeza vem junto.

            E a descoberta também! Ta legal, a exploração das descobertas. Ainda não tenho certeza do que seja o amor, porém sei quais são as três “coisas” que realmente amo nesse planeta. Mas temo amá-las só por tê-las. E o que acontecerá quando eu finalmente tiver algo diferente, da mesma intensa maneira que eu tenho esses três? Irei eu deixar um e me agarrar a outro? Irei me agarrar a todos? Ou quem sabe a nenhum?

            Mas quando viro o livro, o ponho de cabeça para baixo, e começo a folhear as páginas de onde eu parei a ler, outro sentimento chega.

             As letras estão borradas, só consigo ler no máximo uma frase a cada 10 páginas. Tudo o que essas frases me dizem é “Veja, você talvez estaria mais feliz desse lado”.

            Então me dou conta de quantas outras frases existem e eu não faço nem ideia de que palavras deveriam estar aí.

            E enquanto isso, não tenho do que reclamar, conheço todas as palavras do meu lado e elas esbanjam aventuras e novas tentativas. Minhas coisas favoritas esbanjadas em capítulos incompletos!

            Talvez a próxima novidade, tenha que ser VOCÊ.