–Nii-san? Posso entrar?

– Claro, está aberta.

Nii-san permaneceu sentado apenas observando o pouco movimento do lado de fora do hospital que fora indicado por Mephisto.

 Todos sabiam que o tempo que restava a Rin era pouco, seus poderes demoníacos o consumiam a cada dia, com cada vez com mais frequência. Já não perdia a consciência como antes, agora apenas tinha convulsões e sentia dores, seu corpo já não estava mais aguentando, e apesar de passar de forte quase todas as vezes que alguém precisa de sua ajuda, agora apenas sorri tristemente após os “ataques”. Uma hora eu penso que terei que acordar e não vê-lo mais ao meu lado.

 É impossível que meu coração não sinta dor.

- Hoje eu finalmente serei liberado do hospital! Nós vamos poder ir pra casa, isso não é ótimo? - dizia alegremente.

– Isso é maravilhoso! Vou arrumar suas coisas para podermos sair logo daqui, e vá trocar de roupa, essa de hospital não lhe cai bem. - Me obedeceu de imediato, colocou seu uniforme de sempre e depois saímos para assinar os papéis, chegando em casa um tempo depois.

– Ahhhh como é bom estar em casa, aquele hospital já estava me cansando, sabe que eu odeio ficar parado não é? - dizia entediado.

– Eu sei, mas você precisa de repouso, não se esqueça que o médico mandou você fazer o possível para conter seus poderes. Por favor, faça o que ele mandou nii-san, eu... não quero ver você sofrendo mais... - Pude ver sua expressão alegre se tornar levemente triste. Rin não gostava de fazer com que os outros se preocupem por ele, por isso a situação atual o incomodava fortemente.

– Está certo Yukio, vou ficar quietinho como um cãozinho que quer carinho, por isso me mime bastante ok? - disse fazendo carinha de criança e logo seguindo para a cozinha.

- Ok, então vamos comer! E hoje você cozinha certo? Já que eu não posso me mexer de mais.

– Você sabe que cozinhar não é meu forte, mas vou tentar.

E realmente não era. Depois de algumas horas na cozinha o máximo que eu consegui fazer foi um ovo mexido, e que ainda assim estava meio queimado. Mas Rin pareceu não se importar, engolia a comida sem ao menos parar pra respirar, tão típico de si. Comemos, tomamos um banho e fomos pra cama.

Nii-san me abraçava forte a ponto de me deixar sem ar. Seu cheiro se misturava com o meu fazendo com que um aroma doce e irresistível se espalhasse pelo quarto.

–Yukio?

–Hum?

–Diga que me ama.

– Você sabe que sim. Por que está perguntando isso agora?

– Por nada, apenas diga que me ama, por favor... - pedia com um sorriso suave em seus lábios.

– Eu te amo Rin. Mais do que tudo, mais do que qualquer pessoa, mais do que a mim mesmo, eu amo você. - após isso nii-san foi chegando cada vez mais perto, até que nossos lábios finalmente se encontraram, fazendo com que pequenos choques percorressem meu corpo. Nossas línguas brincavam suavemente uma com a outra, fazendo terno aquele momento que tanto esperávamos, nossos sentimentos se misturavam em um misto de amor e saudade... Nos separamos do beijo juntando nossas mãos de forma carinhosa.

– Nii-san?

– Hm?

– Você não está pensando em nada estranho não é? - perguntei desconfiado após aquele beijo tão melancólico.

– Claro que não, eu só queria confirmar que você me ama, seu quatro-olhos desconfiado. - disse se fingindo de triste.

– Então tudo bem. Vamos dormir agora nii-san, hoje foi um dia cansativo certo? Boa noite meu amado Rin. Sonhe comigo.

–Boa noite Yukio. Eu também amo você, para sempre.

Rin's POV.

Após o beijo Yukio adormeceu quase que imediatamente.

Aquele realmente fora um beijo de despedida. Não fiquei surpreso que tivesse desconfiado. Diferente de mim, Yukio é esperto e nota as coisas rapidamente. Doeu em mim ter que mentir daquela forma. Mas hoje é a nossa ultima noite juntos, e eu precisava fazer isso feliz.

Um pouco antes de Yukio chegar ao hospital eu tive uma conversa com Mephisto.

Flashback on.

Algumas horas atrás:

– Rin sou eu, Mephisto, vou entrar.

– Já entrou mesmo. –Uma expressão triste permanecia intacta em seu rosto. Acho que não trazia boas noticias...

– Rin... eu preciso te falar uma coisa, mas não é uma boa noticia, desculpe. - meu coração já sabia o que esperar, mas ainda assim, mesmo sendo um demônio, rezei para que eu estivesse errado.

– Rin, você... tem apenas mais 12 horas de vida. Quando você dormir hoje à noite, já não poderá mais acordar. Desculpe por te falar desse jeito, mas achei melhor falar com você antes de Yukio. – direto e sincero.

Aquilo não foi uma surpresa pra mim. Mesmo não acreditando, eu já sabia que uma hora isso iria acontecer, mas quando ouvi o nome de Yukio, meu coração disparou. Sabia o pacto que isso causaria nele e eu não aguentaria vê-lo triste e chorando, Yukio sempre fora minha fraqueza e minha força. Mas nesse momento eu não poderia me apoiar nele.

– Por favor Mephisto, é o meu ultimo pedido, não fale nada para Yukio. Eu não quero vê-lo sofrendo por isso, mantenha segredo apenas entre nós dois, por favor, é a única coisa que eu te peço. - ele apenas suspirou, e acenou um sim com a cabeça.

– Mas você sabe que vai ser um choque para ele vê-lo sem vida ao acordar não é?

– Eu sei, mas prefiro que seja assim, quero que nossa última noite juntos seja apenas felicidade, por favor, não fale nada a ele.

– Está certo. Eu preciso ir. Sei que é tarde para dizer isso, mas eu realmente gosto muito de você, e me entristece te perder... Adeus, meu pequeno e encrenqueiro irmão. - disse com um sorriso triste em seu rosto, indo embora logo depois.

Eu realmente queria me despedir de todo mundo, vou sentir falta de todos, todos os amigos que conquistei desde que entrei para a escola de exorcistas, meus únicos e preciosos amigos, e agora eu terei que deixar todos eles... Realmente quero me despedir, mas não posso fazer Yukio sofrer, por isso me perdoe pessoal. Eu amo vocês do fundo do meu coração. Adeus.

Fim do flashback.

Yukio dormia como uma criança e sonhava comigo. Sabia disso porque murmurava meu nome enquanto sorria, me apertando mais forte.

 Se eu pudesse mudar as coisas e se eu tivesse escolha jamais sairia de perto dessa pessoa que tanto amo, mas o destino, tão cruel, quis assim. E eu não pude lutar contra ele.

Acariciei seus curtos cabelos e beijei cada canto de seu rosto, memorizando aquele traço tão amado por mim, por fim terminei com um selinho em seus lábios.

– Yukio, meu amor, me perdoe por não poder ficar perto de você, me perdoe por não cumprir a promessa se sempre te proteger, me perdoe pelas coisas ruins e mesquinhas que já fiz a você, me perdoe pelos problemas que causei, me perdoe pelo velho, me perdoe por não te falar que essa é nossa ultima noite juntos... e me perdoe por não poder te amar mais... - sussurrei enquanto sentia o liquido quente e salgado contornando meu rosto.

– Eu te amo Yukio, te amo demais... Adeus, meu primeiro e último amor.

E então, pouco a pouco fui sentindo a vida sendo drenada de dentrodo meu corpo.

/Rin's POV

A luz do sol adentrava fraca pela pequena abertura da janela que não fora fechada, iluminando o pequeno cômodo partilhado por nós dois. Senti um alivio enorme tomar conta de mim ao perceber que Rin ainda estava ali, ao meu lado, mas esse vago sentimento logo se foi, sendo substituído por um terror enorme percorrendo minhas veias e inundando minha cabeça dolorosamente.

Ao olhar para seu corpo abraçado ao meu pude perceber que nii-san já não estava mais entre nós. Suas mãos estavam frias, eu não conseguia mais ouvir o pulsar do seu coração, e em seus lábios antes tão rosados, mas agora brancos como neve, um sorriso doce repousava eternamente.

As lembranças dos momentos que passamos juntos rodavam como um filme em minha cabeça. Todos os sorrisos, todas as tristezas, todas as brincadeiras, todos os beijos, todos os toques... Tudo.

As lágrimas agora desciam pelo meu rosto e caiam exageradas por suas pálidas bochechas, mostrando o quão vulnerável e sem vida você se encontrava.

Minha mente estava em branco, apenas o beijo e as palavras ditas na noite anterior ecoavam em minha cabeça, então aquilo realmente fora um beijo de despedida não é? Em um lugar bem escondido em meu coração eu já sabia disso, mas preferi acreditar em suas palavras e apenas esquecer dessa hipótese tão inaceitável para mim. Porém agora você esta aqui, em meus braços, sem vida, me deixando sozinho nesse mundo tão sem graça sem você.

– Nii-san... Eu te amo, sempre vou te amar, então, por favor... de onde quer que esteja, não deixe de me amar, eu prometo que um dia poderemos ficar juntos novamente, então me espere até lá certo? Durma bem, meu pequeno demônio.

E então, um vento soprou frio adentrando pela janela aberta, junto com ele uma voz que dizia "Eu vou esperar" ecoou em meus ouvidos, me fazendo sorrir ao saber que um dia poderei estar ao seu lado de novo.

FIM.