Acordei assustada e olhei em volta, estava tudo muito calmo, a de luz que passava pelo vão da janela denunciava que passava das 10h00min. Olhei pra cama das garotas e vi que Jully ainda dormia um sono profundo, mas sua irmã não se encontrava mais ali. Levantei a fim de me arrumar, afinal não tinha a mínima pretensão de passar a tarde inteira dormindo. As imagens da noite anterior ainda vagavam por minha mente. Olhei no espelho e vi que um sorriso bobo brotava em minha face...

Onde eu iria imaginar que em apenas uma noite eu poderia me ver totalmente apaixonada? E ainda por cima por um vampiro. Balancei a cabeça a fim de clarear minha mente. Penteei meus cabelos, escovei meus dentes, encontrei uma roupa confortável e passei uma maquiagem a fim de disfarçar as pequenas olheiras que se instalaram em minha face.

Olhei mais uma vez para o espelho e a imagem que vi me alegrou. Sai do quarto de mansinho afim de não acordar a pequena Jully. Os corredores estavam pouco movimentados, com certeza hoje seria um dia muito calmo. Fui em direção ao quarto das outras garotas mas me detive no meio do corredor, passei os olhos pela janela que da de encontro com o gramado do campos e vi Janny sentada lá embaixo. Ela parecia distante e ate um pouco deprimida. Resolvi descer e conversar com ela.

Cheguei de mansinho ao lado dela, seus olhos estavam fechados, pigarreei a fim de fazê-la notar minha presença, ela levantou rapidamente assustada, mas relaxou assim que me viu.

-Ah, é você Ally...

Me sentei na grama e ela se sentou novamente a meu lado. Respirei fundo antes de falar.

-Você está se sentindo bem?

Ela olhou nos meus olhos e pude ver um pouco de angustia e acredito que ate um pouco de medo.

-Eu não sei...

-Você sabe que pode contar sempre comigo não é? Eu não vou forçar você a me contar, mas quero que saiba que...

Antes que eu terminasse minha frase Janny já estava me abraçando e chorando, não sei dizer por quanto tempo ficamos assim ate que ela resolveu falar.

-Ai Ally, minha vida acabou, eu to com medo...

-Você quer conversar?

Ela me olhou meio sem graça, como se quisesse me contar algo mas tivesse pesando todos os pros e contra... Aquilo me assustou, Janny era sempre tão alegre, prestativa, comunicativa, vê-la acuada e com medo era algo novo pra mim.

-Confia em mim...

Ela balançou a cabeça em forma afirmativa e eu esperei pacientemente enquanto ela decidia qual o próximo passo a tomar.Em fim ela respondeu.

-É que eu perdi minha virgindade ontem...

Meus olhos se arregalaram em surpresa a suas palavras, eu não esperava isso dela, ela sempre foi tão centrada, tão decidida... Respirei tentando manter minha linha de raciocínio, ela estava realmente apavorada.

Eu a abracei forte, ela chorava e soluçava, seu corpo tremia violentamente contra o meu. Eu queria afastar aquele medo dela mas não fazia a mínima ideia de como.

Falei tentando manter meu medo longe de meus lábios.

-O que exatamente aconteceu?

-Como você sabe eu tava saindo com o Frank há uns meses atrás né?

Confirmei com a cabeça me lembrando do sujeito, eu nunca fui com a fuça do palhaço, mas simplesmente resolvi não me meter e deixá-la escolher seus partidos. Ao que eu me lembrava, Janny resolveu terminar tudo com ele há três semanas, por isso resolvi interromper sua narração.

-Mas vocês não terminarão?

-Sim, só que ontem assim que chegamos à festa eu encontrei com ele e... Você sabe, eu cai na tentação, na verdade não sei direito porque deixei acontecer, eu não entendo...

Sua voz era suave e concentrada, como se estivesse tentando resolver um problema gigantesco de matemática.

-Vocês se cuidaram?

Ela apenas sacudiu a cabeça pra baixo e para cima

-Bem, menos mal... Mas o que te fez mudar de ideia? Eu pensei que você tivesse dito que não gostava dele de verdade...

Ela abaixou a cabeça corando um pouco, ela voltou a falar e sua voz era apenas um sussurro, como se ela falasse mais pra si mesma do que pra mim;

-Eu não sei o que aconteceu; nos havíamos acabado de chegar à festa, você foi pra um lado, minha irmã pra outro, a Meg e a Ruby também sumiram e eu fiquei parada num canto sozinha, de repente ele apareceu com dois copos sorrindo pra mim e me ofereceu e eu aceitei. Começamos a beber e ele me chamou pra conversar em outro lugar... Eu o segui e quando dei por mim já estávamos em um dos pequenos quartos que fica nos fundos do galpão, ele me acariciava e por algum motivo eu não consegui dizer não.

Ela parou sem fôlego e levantou os olhos pra mim o que vi abalou todas as estruturas de meu corpo. Seus olhos refletiam medo, vergonha, constrangimento, duvida. Abri a boca pra falar alguma coisa mas minha voz se perdeu em minha garganta. Desisti, peguei Janny em meus braços e a aninhei ali, parecia tão frágil, eu sentia necessidade de cuidar dela, de protegê-la, ficamos assim por vários minutos até que minha voz voltou e consegui dizer algumas coisas.

-Ele te forçou? Te machucou? 

-Não. Pelo menos não colocou nenhuma faca no meu pescoço ou uma arma em minha cabeça...

Um sorriso torto apareceu em seus lábios assim que ela se lembrou dos filmes que costumávamos assistir, onde os bandidos sempre arrumavam um jeito de tentar obrigar a mocinha a fazer algo.

-Você se arrepende?

Ela se desvencilhou dos meus braços e olhou dentro de meus olhos.

-Um pouco.

Aquilo era de mais pra mim eu não conseguia entender.

-Mas porque Janny? O que mudou sua opinião?

-Eu não sei, é estranho. Eu sei que o que fiz é errado, e que se eu fosse pega estaria expulsa do colégio, mas na hora nada disso me veio à mente. Eu me sentia entorpecida inebriada ate.

-Voce tava bêbada.

Aquilo não foi uma pergunta...

-Eu acho que não, só bebi um copo, e não tava tão forte assim... Ally, o que eu faço? Como vou contar pra Ju?

-O importante é que voce se cuidou, pelo menos não corre o risco de aparecer grávida ou pior, com alguma doença...

Estremeci só de pensar nas possibilidades.

-Quanto a Ju, bem, vocês sempre foram muito amigas e ela vai entender.

Ela assentiu e me senti aliviada, ela parecia mais calma, acho que só precisava conversar com alguém...

Voltamos para o quarto e Jully já estava acordada, assim Janny olhou pra mim como se perguntasse “ei, você acha que agora é a hora certa de conversar com ela?”, concordei com um aceno e disse pras duas:

-Eu vou dar uma volta, encontro vocês mais tarde.

Jully me olhou interrogativamente.

-O que tá acontecendo?

-Sua irmã vai explicar. Beijos pra duas.

Sai e fechei a porta atrás de mim. Caminhei sem rumo, o fluxo de pessoas andando pelo campus havia aumentando gradativamente dês da hora que acordei.

Me dirigi para cozinha a fim de achar algo pra comer, eu estava com muita fome.

Olhei para meu relógio, 12h25min, as cozinheiras deviam estar terminando de servir as cubas.

Assim que cheguei às portas duplas me arrependi, o pátio estava lotado, a turma perecia estar com muita fome... Rapazes e moças dividiam um só espaço.

Sem duvida minha fome podia esperar. Dei meia volta e lembrei-me que a diretoria havia reabastecido as maquinas de refrigerante e acrescentado uma de salgadinhos. Fui direto pra la.

Retirei duas moedas de meu bolso e inseri nas maquinas, em poucos segundos eu já estava me saciando com uma bela latinha de soda e um Doritos.

O sol la fora brilhava intensamente então desci os elevadores e fui me sentar em um dos bancos perto das arvores.

Eu estava distraída e por isso não percebi que alguém se aproximava de mim até   eu uma mão fria tocar levemente meu braço. Dei um salto e me virei de frente para meu silencioso visitante.