Nowhere Girl escrita por PrincessGrey


Capítulo 1
Nowhere Girl




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Triste? Não. Feliz? Muito menos. Estavam todos diante de um buraco numa parede. Uma sacola plástica de supermercado jogada no chão, voando por aí. Ou um rastro de algo que afundava cada vez mais em um precipício que não tinha final. Deu uma risada. Se olhou no espelho. Irrequieta. Ansiosa, por alguma coisa que nem ela mesma sabia. Os cabelos sujos, a maquiagem sempre escorrendo do rosto, era sempre tão vulgar. A roupa curta, os coturnos gastos, o hálito de vodka e cigarro dos homens que havia conhecido naquela noite ainda estava na sua língua. Mas lá estava ela. Bilhares de seres humanos e ela era um deles. Difícil de acreditar, andava nas ruas nas madrugadas de sábado, aquela floresta de mendigos com suas feridas abertas e prostitutas desdentadas, prédios cinzas e decadentes, carros barulhentos. Mas ela insistia. Queria viver, mas viver de um jeito que a fazia morrer todas as manhãs, questionando quem era que estava dentro de seu próprio corpo. Queria amor, mas não tinha amor, não tinha ódio. Tinha sido tão ferida desde que deixara o útero de sua mãe que não sentia mais nada, porém se tornara a mais sensível das criaturas. Tinha uma graciosidade doente, como um lindo animal vomitando em meio a uma poça de sangue. Uma coisa horrível, mas que você não pode tirar os olhos. Uma coisa que você jamais vai esquecer. Os olhos sempre tristes, curiosos, temerosos, os dedos irrequietos. Tinha sentido um pouco do gosto dos prazeres da vida, e seu coração havia se viciado neles, procurando uma felicidade inexistente. Nessa busca, ganhava cada vez mais cicatrizes dentro de si, suspiros e expectativas. Era sempre usada, descartável, porque tinha sede de se perder e se encontrar. Tinha sede de amar e ser amada, mas seu único fruto era a auto-destruição. Dezoito anos, e os olhos mais tristes que você já havia visto. Estava zangada com si mesma, queria se machucar, perfurar-se até gritar de dor. Estava zangada com o mundo, queria ela poder destruí-lo assim como se amassa uma lata de refrigerante. Mas apenas se perdia, cada vez mais floresta adentro, no meio de suas divagações sem sentido. Mas quem se importava? Nem ela mesmo. Era apenas uma vida, sua vida. Podia fazer o que quiser, no fundo, era apenas de sua conta o que fazia ou o que sentia. Estava sozinha, morreria sozinha, e talvez fosse uma princesa, presa numa torre que ela mesma criara, esperando que alguém a salvasse. Mas ninguém jamais havia aparecido.


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