Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 21
Penumbra e primavera


Notas iniciais do capítulo

Como vocês podem perceber, eu estou tentando ao máximo ser fiel à historia do Enigma do Príncipe. Mudo algumas coisinhas sempre que necessário, mas a essência da história é a mesma. Desconsiderem os detalhes, ok?



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Draco Malfoy saíra conturbado da sala do Diretor de Hogwarts. Ele soubera sobre tudo, o tempo todo. Dumbledore sabia da missão que o rapaz teria de cumprir, e admitiu estar realmente preocupado com ele.

Aquele tipo de preocupação era diferente para Draco; não era a preocupação em mimar, a qual os Malfoys tinham, também não era a preocupação grosseira como a do padrinho. Era simples e lhe explicava muita coisa; Dumbledore preocupava-se com a vida de Draco pós-escola e pós-guerra, em como tudo aquilo lhe afetaria.

E ele tinha a solução.

Draco quase beijou-o na boca tamanha a felicidade quando soube; e a solução não era nada impossível ou inaplicável no contexto da guerra, ao contrário: era extremamente plausível. Garantia-lhe Serena e liberdade depois da guerra, de quebra ainda mantinha as aparências.

Mas, como Serena alertara, era o início de uma nova vida. Ele teria que se dedicar totalmente aos dois lados, dar um jeito de não prejudicar a Ordem da Fênix e conseguir informações, e, além de tudo, manter total e completa discrição.

Estava ele disposto a tudo isso por uma garota?

Mas Draco sabia que não era só uma garota, era toda sua vida depois e outra: a oportunidade de viver a vida que escolheu, escapar das garras do pai. Foi o que o fez dizer aquilo à Dumbledore; e seria eternamente grato àquele velho bondoso.

'-Já lhe dei as informações, explicações e opções' – começou o diretor – 'E mostrei minha confiança em você ao lhe fazer esta proposta. Agora quero saber, Draco. Você está disposto?'

'-Sim, e lhe garanto que não vou falhar' – ele prometeu, determinado – 'Serena me falou sobre não ter que ser mais um Comensal, não por completo. O senhor não sabe o quanto está me ajudando, professor Dumbledore..' – ele disse em meio ao desespero da emoção, aliviado.

'-Sei, meu jovem, eu sei o quanto estou livrando. Esse destino que você esteve próximo de trilhar não é cabível a ninguém. Cruel demais.'

~"~

Serena compareceu ao gabinete do Diretor naquela tarde nublada do final de janeiro. Disse a senha, e bateu à porta. Foi mandada entrar e sentar.

'-Boa tarde, professor Dumbledore.' – cumprimentou, discreta e sem emoções.

'-Olá, Serena. Como vai? Biscoitos?' – ele ofereceu,apontando uma bandeja na mesa. Serena recusou com um gesto.

'-Presumo que o assunto seja...' – ele começou.

'-Draco.' – a garota o interrompeu.

'-Sim, certamente o que pressupus. Diga, querida, o que há?'

'-Quero saber se Draco aceitou. Preciso saber, Diretor. Eu não quis perguntar a ele, mas também não nos falamos desde o dia em que ele esteve aqui.' – ela pediu, aflita, porém o rosto continuando sem expressar nada.

'-Sim, sim... Entendo os motivos. O mais engraçado é que há muitos anos sua mãe precisou saber exatamente a mesma coisa.'

'-Não vou me casar com Draco, Diretor. Francamente, temos só dezesseis anos.' – ela disse, emburrada ao não receber a resposta.

'-Sua mãe também não imaginava que casaria com seu pai no futuro, na época que isso aconteceu. E, nos anos que se seguiram, não casou; mas o destino tem uma maneira engraçada de mudar as coisas e mesmo assim continuarem as mesmas.' – ele sorriu com bondade – 'O senhor Malfoy aceitou, Serena. E ficou extremamente honrado e satisfeito; ele mudou muito, se me permite dizer. Sempre foi um rapazinho mimado, e agora fico feliz que esteja se tornando um homem bom e decidido, ao contrário do pai dele.'

Serena ficou felicíssima e aliviada.

'-Obrigada, professor, obrigada.' – ela exclamou,não contendo a felicidade.

'-Ele merece seu coração, minha jovem.' – ele disse, de repente – 'Porque o dele, já percebi, é seu.'

Serena mais uma vez deixou o escritório do diretor com aquela questão em mente. Draco retribuía, foi o que Dumbledore dissera. E aquilo a deixara mais confusa.

~"~

Draco e Serena continuavam se encontrando sempre; às vezes às escuras em algum canto de Hogwarts, quando o desejo falava mais alto, e as vezes simplesmente esperavam anoitecem e iam para alguma sala vazia, de vez em quando ocupavam o Salão Comunal da Sonserina, quando já todos tinham se recolhido.

Estavam cada vez mais próximos, eram amantes, amigos e companheiros nas novas tarefas de Draco. Serena sempre estava lá, ajudando-o.

No final de fevereiro, o casal consertava um dos armários sumidouros na Sala Precisa – onde agora trabalhavam foragidos. Potter sempre estava no caminho, o que dificultava a coisas, monitorando-os e enchendo a cabeça de Snape e de Weasley e Granger sobre Malfoy.

Draco tinha encontrado o primeiro armário durante as férias, na loja Borgin&Burke's, e Serena encontrara o segundo.

A Sonserina vencera um jogo de quadribol e estavam todos no Salão Comunal e nos corredores, comemorando. Serena aproveitou para ver o que tinha por lá e encontrou esse armário. Logo que contou a Draco ele ficou exultante e começaram a trabalhar para consertá-lo.

O plano tinha de ser perfeito: os Comensais da Morte, para desgosto de Serena, tinham de ser colocados para dentro do castelo na noite em que Dumbledore morreria, e o novo casal estava trabalhando nisso.

~"~

Em março, o tempo começou a melhorar com a chegada da primavera. O sol estava quase sempre lá e as flores nasciam novamente. Tudo estava ótimo.

A tão esperada aula de vôo fora marcada com Blaise na noite anterior, e o combinado era de se encontrarem no campo de quadribol no sábado pela manhã. Draco e Elizabeth os acompanharam, Blaise e a loira de mãos dadas, como o casal feliz que eram e Serena e o rapaz a uma boa distancia, apenas conversando cordialmente.

Blaise e Serena entraram no vestiário – Draco tinha ordenado ao amigo que desse todo o equipamento para Serena. O loiro, dando uma desculpa para Elizabeth, juntou-se à eles no vestiário para conferir se a roupa da garota estava certa.

O moreno já deixava o local, com a caixa de bolas debaixo do braço, quando Draco puxou Serena para um beijo.

'-Boa sorte' – ele desejou – 'E bom vôo. Não deixe esse cabeça-oca do Zabini se achando. Detone ele.' – ele sorriu fino para ela e voltou às arquibancadas com Eliza.

Serena estava com a firebolt nos ombros e deu graças à Merlin por Elizabeth não entender nada de vassouras, afinal o que lhe fora falado é que Zabini tinha uma vassoura velha e emprestaria à menina.

Blaise quis ensinar Serena pacientemente e, enquanto ele lhe explicava exatamente como ela deveria impulsionar, a garota já estava nos ares. O rapaz, então, montou sua vassoura e partiu atrás de Serena, que voava rapidamente.

O moreno tentou pará-la e ensiná-la como manter altitude, mas descobriu com desgosto que não era necessário. Serena voava incrivelmente bem para uma filha do Snape, o morcegão das masmorras.

Zabini passou a ensinar-lhe quadribol, então. Quando o pomo de ouro escapou, sem querer, das mãos atrapalhadas do garoto, Serena não ouviu mais nada. Partiu com velocidade em busca da pequena bolinha dourada e encontrou-a com muita rapidez.

'-Maldição!' – exclamou Blaise, dando voltas em torno de si mesmo sobre a vassoura procurando o pomo.

Antes disso, já havia se formado uma multidão sonserina nas arquibancadas, que contava com Pansy Parkinson, Theodore Nott, Vicent Crabbe e Gregory Goyle, além de estudantes dos outros anos da Casa.

Serena mergulhou e pegou o pomo agilmente, então a comoção foi geral. Quando Draco dissera 'detonar', não imaginava nada nem perto disso. A garota devolveu o pomo à Blaise, que estava aturdido, olhando para ela feito um babaca sobre a vassoura.

'-Ei, Zabini, sei que sou bonita, mas não precisa babar.' – ela brincou, tentando tirar o amigo daquele estado de hipnose – 'Blaise, acorda.' – ela tentou, e nada.

Viu a quantidade de gente que estava reunida no campo de quadribol e o semblante embasbacado de Blaise e se irritou. Desceu agilmente até a terra e desmontou a vassoura com facilidade, jogando-a no ombro e deixando o campo, brava.

Draco disse à Eliza que iria atrás dela, e para que ela esperasse Blaise descer.

'-O que aconteceu, Serena?' – ele perguntou, alcançando-a somente na Sala Comunal – vazia, devido ao sol de sábado.

'-O que eu fiz de errado?' – ela perguntou, o semblante franzino – 'Que droga, Malfoy! Blaise estava tão embasbacado que nem me respondeu! Todo mundo ficou olhando, fale logo, Malfoy: o que eu fiz?' – Serena mandou, irritada.

'-Você não fez nada de errado Serena. Ao contrário, o que você fez a faria ser contratada para o Holyhead Harpias sem nem mesmo um teste oficial.' – ele disse, admirado – 'Espero que Snape não tenha visto isso' – ele admitiu, de repente – 'senão ele vai escalá-la para o time da Sonserina.'

'-Eu não quero jogar quadribol aqui' – ela disse – ', voar é divertido e engraçado, mas eu nunca jogaria 'pra valer.'

'-Ainda bem que você não entrou ano passado' –ele disse, enciumado – 'Ia conseguir tirar minha vaga de apanhador que o Potter não conseguiu.'

'-Que tal esquecer o quadribol?' – ela sugeriu, indo guardar a vassoura – 'Gente demais me olhando por hoje. O que você acha da Sala Precisa?'

Eles nunca comentavam sobre o trabalho de forma direta, eram sempre questões indiretas como essas que sugeriam o trabalho.

'-Gosto da sala precisa.' – ele disse, dando um espaço entre as duas sentenças – 'Mas merecemos descanso. Sugiro torná-la lugar em que possamos ficar juntos.' – Serena topou e sorriu torto, maliciosamente.

~"~

19 de março foi comemorado com folia pelos sonserinos. Eliza decidiu que merecia uma grande festa de dezesseis anos e a organizou clandestinamente na Sala Precisa – idéia de Serena. Com pista de dança e bar, a sala se tornou a discoteca ideal.

Eliza estava deslumbrante em um vestido curto, justo e brilhante, fazendo-a parecer uma celebridade trouxa. Serena optara por uma calça jeans justa e estilizada, saltos altos e uma blusa preta solta e com um leve brilho.

Blaise Zabini não desgrudara de Eliza nem por um segundo. Dissera a Draco que ela estava bonita demais para ser deixada solta com um bando de garotos sedentos. O loiro rira, mas saíra procurar por Serena depois de pegar duas bebidas no bar, aflito pela fala do amigo.

Serena dançava no meio de alguns colegas do ano e alguns mais velhos, mexendo o belo corpo no ritmo da música agitada. Muitos olhares eram direcionados à ela – olhares até demais. Inclusive de Potter, e Draco não conseguia entender o porquê de a loira tê-lo convidado.

Harry aproximara-se da garota na hora errada, no exato momento em que Draco oferecera uma das bebidas a ela, ganhando um sorrisinho torto.

'-Cai fora, Potter' – Draco urrou quando ele ameaçou falar com Serena – 'Vá procurar seus amiguinhos e adoradores. Aqui não tem lugar para você.'

'-Entendi tudo.' – o moreno disse de repente, olhando analiticamente para o casal – 'Malfoy gosta de você, Snape.' – ele disse – ' Mas tome cuidado: ele costuma ser um idiota.'

'-Olhe aqui, seu cicatriz insolente' – ele pediu, puxando Potter pela manga –'Eu e a Snape somos apenas amigos, mas seu interesse nela não te deixa ver isso não é mesmo, Potter ciumento?' – ele cuspiu as palavras com raiva.

'-Serena, veja, ele gosta de você!' – Harry disse, aturdido, desta vez para a garota – 'Estou falando sério, gente da laia dele é perigosa.'

'-Potter, vá. Não há nada entre Malfoy e eu.' – ela cortou, tomando um gole de sua bebida e indicando com a cabeça para ele sair dali.

'-Eu sei que ele parece bom, todo pomposo, Serena, mas não é! Você chegou este ano, não sabe dos boatos... Os pais dele são Comens...'

'-Chega, Potter. Eu sei bem com quem converso, não preciso ter você como babá.'

'-Mas, Serena...'

'-Saia de perto de nós antes que eu chame Eliza e peça para Crabbe e Goyle te tirarem daqui.' – ela disse, baixo e ameaçador, fazendo o moreno distanciar-se deles.

'-Potter idiota!' – Draco urrou, puxando Serena para um canto mais afastado, um lugar vazio e distante da multidão que dançava.

'-Pronto. Já nos livramos dele, Loiro.' – ela disse, sentando-se no colo do garoto.

'-Eu só vou estar feliz quando me livrar dele de verdade! Se nesta guerra eu tiver uma chance...'

'-Ei, Draco! Lembre-se que esta é uma guerra para proteger Harry.' – o tom dela ficou sério de repente – 'Só ele pode derrotar Voldemort.'

'-Eu sei, eu sei... Mas, se não fosse por isso...' – ele completou, com raiva contida.

Serena saiu sozinha da Sala Precisa, pé ante pé, ela caminhou pelo corredor. Quando fez a menção de virar para seguir outro corredor, uma figura de preto a encontrou. Ela suspirou. Nenhum outro professor fazia patrulhas? Tinha que ser sempre ele?

Ele não falou nada, o que significava que ela estava encrencada.

'-Perambulando sozinha a esta hora, Serena?' – ele perguntou retoricamente, após um bom tempo de silencio.

'-Hoje é aniversario da Eliza.' – ela suspirou, mas sabia que a alegação não amoleceria o coração do pai, e que estaria ainda mas encrencada

'-Eu sei.' – ele disse, seriamente, começando a caminhar e indicando à menina para segui-lo.

'-Ela estava dando uma festa para comemorar.' – Snape ponderou, mas não disse nada – 'Você não vai me dar detenção? Me levar para o diretor?' – ela perguntou, desconfiada.

Ele somente deu de ombros, guiando Serena por um lance de escadas.

'-Você sabe a data de aniversário de todos os alunos?' – ela indagou, curiosa.

'-Eu estava no castelo quando Elizabeth nasceu. Elena, pelo que soube, preferiu ter a menina aqui e todos nós, professores, fomos informados.' – ele explicou, sem um pingo de deboche ou irritação na voz – 'Além de que a Srta. Duncan é sobrinha de sua mãe.'

'-Você queria ter conhecido a família de Alexia?' – Serena perguntou repentinamente.

Severo pensou um pouco - 'Se isso significasse ter tido um relacionamento normal com sua mãe, então sim.'

Serena concordou e desceram mais alguns andares. Chegando ao andar térreo, ao invés de seguir o costumeiro caminho para as masmorras, Snape seguiu em frente, passando pelo Salão Principal até o hall de entrada. O professor murmurou um encantamento que destrancou as portas. Serena estacou.

'-Não é proibido ir aos jardins ou qualquer lugar de Hogwarts após o toque de recolher?' – a garota perguntou, incrédula.

'-Não existem só desvantagens em ser filha do Diretor da Sonserina.' – ele surpreendeu Serena mais uma vez dando de ombros e dando passagem à ela.

Era uma serena e quase quente noite de primavera. O céu estava repleto de estrelas, mas sem uma única nuvem, e uma brisa soprava leve – típica da estação.

'-Por que você me trouxe aqui?' – Serena indagou, confusa, mas seguindo o professor noite afora.

'-Uma visita noturna aos jardins sempre faz bem. Você anda muito ocupada pelo o que percebo.'

Serena deu de ombros.

'-Você realmente não vai ralhar comigo por eu estar voltando de uma festa muito depois do toque de recolher?'

'-Não vejo por que.' – Snape disse,simplesmente – 'Digamos que hoje você teve a sorte de encontrar seu pai nos corredores.' – ele esboçou um sorriso.

'-Você está bem, Snape?' – ela perguntou, incrédula.

'-Por que a pergunta?'

'-Você está muito... Estranho esta noite.' – a garota respondeu, admirando a lua refletida nas águas do lago da Lula Gigante enquanto esta se movia.

Severo suspirou. '-Eu estou preocupado com você ultimamente, Serena.'

A garota nada disse, apenas fitou seus pés descalços; carregava as sandálias nas mãos. Sabia porque ele estava preocupado.

'-Você está se envolvendo demais com a missão de Draco.'

'-Eu só quero que isso acabe logo, pai' – ela admitiu e ele pousou uma mão confortadora no ombro da menina –'E Malfoy precisa de ajuda; ele nunca conseguirá ser um espião sozinho, não tendo os pais Comensais da Morte.' – foi a vez de Serena suspirar.

'-Draco precisa de ajuda com isso, e eu não posso ajudá-lo; ele não pode saber que eu sou um espião, Serena. Mas não quero que você se desgaste com isso. É tarefa de Draco. Foi disso que eu lhe livrei quando lhe deixei na Londres trouxa.' – Severo riu depois, de deboche – 'Se Voldemort sequer imaginasse que você existe e o quanto você sabe, esta guerra estaria perdida.'

Serena sorriu de leve.

'-Você não tem medo?' – Serena de repente perguntou, parando de andar e fitando o semblante sério do pai.

Snape foi pego de surpresa, e os olhinhos azuis dela brilhavam esperando uma resposta.

'-Eu não costumava ter.' – ele admitiu – 'Quando não se tem nada a perder, também não tem-se nada a temer.'

Serena continuou quieta, esperando-o continuar.

'-É fácil ter sangue-frio e aceitar planos já formulados, como os de Dumbledore. Mas a guerra está próxima, e numa guerra não existem planos; nunca se sabe o que vai acontecer. E temo não sair vivo.'

'-Mas como?' – ela indagou, afoita – 'Dumbledore não tinha um plano 'pra você como espião? Você não pode simplesmente morrer depois de tudo!'- Serena disse, com os olhos marejados e ofegando - 'Você não pode me deixar sozinha de novo!' – uma lágrima escorreu e Serena fungou. Ela admitia estar um pouco alcoolizada. Um pouco, apenas.

'-Serena, é o risco de toda guerra. E o risco é ainda maior para alguém como eu. Agora eu temo porque há alguém para quem voltar.' – ele disse calmo, aninhando a filha no peito.

A garota respirou fundo e se acalmou, por fim.

'-Você vai ter que aguentar.' – ele disse para ela.

'-Eu já agüentei o suficiente.' – ela disse, baixinho.

'-Eu sei, Serena.' – ele concordou, impotente, apenas mexendo nos cabelos negros da menina.

Qualquer um que visse Snape ali, com sua filha, não acreditaria.

'-Você demorou...' – uma voz arrastada disse em seu ouvido, à meia luz do ermo Salão Comunal da Sonserina.

'-Malfoy!' – ela exclamou, pulando de susto e virando-se de frente para ele, dando-lhe um tapinha no peito.

'-Veja só, consegui assustar a dama de gelo de Hogwarts!' – ele disse, rindo divertido com uma das mãos no bolso. O visual ainda era desleixado, mas à La Draco Malfoy, diferentemente de antes do feriado de Natal. O rapaz mesmo apercebera-se disso, admitia tudo isso àquela garota irritada e petulante à sua frente.

Serena lançou-lhe um olhar mortal, mas ele riu, divertido, e puxou-a para um abraço forçado; acabaram os dois por cair em um divã verde musgo.

'-Malfoy, sai de cima de mim!' – Serena disse, tentando em vão tirar as pernas do loiro de cima das suas.

'-Vai ter que ser mais boazinha...' – ele pediu, com malícia.

'-Vai se f...'

'-Ei, olhe a boca, esquentadinha. E Malfoy? Desde quando?' – ele perguntou, prendendo-a debaixo de si,mas desta vez virado para ela, olhando-a nos olhos.

'-Desde que você me assustou e não quer sair de cima de mim, Malfoy!' – ela enfatizou o sobrenome do menino.

Draco sorriu fino, com malícia. Ele puxou-a então para um beijo que tirou o fôlego da menina, acariciando seus cabelos, e depois descendo os beijos para o pescoço.

'-Tem certeza que quer que eu saia?' – ele perguntou no ouvido dela, entre um beijo e outro.

'-Talvez não.' – ela ponderou e disse, cerrando levemente os olhos e dando de ombros, desta vez ela puxando o garoto para um beijo fervoroso, conseguindo ficar por cima do rapaz.

Contornou os lábios da garota antes de beijá-los. Acariciava agora sua costa por dentro da blusa de festa que ela ainda vestia, enquanto Serena segurava firme nas madeixas platinadas do rapaz.

Draco ia aprofundando o beijo cada vez mais, estes cada vez mais sôfregos, deslizando a mão ágil pela parte frontal da blusa de Serena, tocando de leve o sutiã.

'-Draco.' – Serena afastou-se do rapaz, fazendo-o tirar involuntariamente a mão de seu sutiã – 'Draco.' – ela chamou-o mais uma vez.

Ele somente encarou-a, não entendendo o que estava errado.

'-Eu não sou Pansy Parkinson, você está entendendo?' – ela inquiriu pausadamente, encarando-o também.

'-Nós já estamos juntos há algum tempo, Serena...' – ele deu de ombros, sem expressão.

'-Não sei como funcionou com Parkinson e as outras garotas, Malfoy, mas comigo as coisas não vão acontecer desse jeito. Sinto muito, não sou uma vadia como elas.'

'-Isso não é sinônimo de vadiagem, Serena.' – ele retorquiu, sério – 'É apenas uma coisa que os casais fazem.'

'-Tenho plena noção Malfoy, mas este não é o lugar, muito menos o momento. Eu não tenho cabeça para isso agora, e você também não deveria ter. Passe bem.' – Serena recolheu as sandálias e fazia o caminho para o dormitório.

Draco a puxou de volta. Foda-se, Draco pensou e foi atrás dela, como sempre. Foda-se se ela me faz sentir um idiota, foda-se se ela é a garota mais irritante da Sonserina inteira. Puxou Serena pelo braço, e ela não esperava, como sempre, apesar de aquilo acontecer bastante. Foda-se.

'-Serena, podemos só sentar e conversar?' – ele pediu, suspirando – 'Me desculpe' – Draco bufou e puxou a garota pela mão até o sofá – 'E será que a senhorita poderia conversar de vez em quando? Só pra variar?'

Serena voltou ao divã contrariada,mas atentando à verdade das palavras do loiro. Foda-se tudo, foda-se porque talvez, só talvez eu goste dela, Draco concluiu em seus pensamentos, e ele retiraria o 'talvez' assim que olhou para ela novamente. Os olhos azuis turquesa fitando os pés, o nariz arrebitado para baixo, a feição preocupada.

'-Venha aqui.' – o rapaz sentou-se e puxou Serena contra seu peito, entre suas pernas. A garota não disse nada, apenas fitou o nada, apoiando a cabeça nos braços de Draco – 'Onde você estava hoje, depois da festa? Você realmente demorou um bocado.'

'-Com meu pai.' – Serena respondeu, fitando a lareira apagada – 'Ele me encontrou nos corredores e me levou dar uma volta nos jardins.'

'-Vocês brigaram de novo?' – Draco inquiriu, franzindo a testa – 'Você parece preocupada.'

'-Não, não dessa vez.' – ela deu um leve sorrisinho de deboche – 'Só estou preocupada com tudo que vai acontecer daqui 'pra frente.'

Draco deu um longo suspiro e bagunçou os cabelos do lado direito da cabeça, pensando. Depois, simplesmente acariciou o braço de Serena, despropositado.

'-Nessas horas tenho mais raiva ainda do meu pai.' – Draco resmungou – 'É tudo culpa dele! Por que você ainda está comigo, hein, Serena? Você está fazendo agora tudo o que meu padrinho achou que tinha te livrado!' – Serena sentiu o peito do rapaz arfar de raiva depois das afirmações.

'-Eu também tinha raiva do meu pai, Draco. E de vez em quando ainda tenho. Mas lhe garanto: não compensa. Não podemos mudar tudo de errado que eles já fizeram.' – o garoto assentiu, bagunçando novamente os cabelos – 'E, se eu estou aqui, é por que eu estou disposta a isso. Meu objetivo maior é Voldemort, Draco, e vou estar sempre do lado de quem está contra ele, meu pai gostando ou não.' – ela completou, séria – 'E você precisa de mim, obviamente, sua doninha albina!' – Serena sorriu de leve com a brincadeira, virando-se para os olhares se encontrarem.

Draco sorriu fino para ela, nunca discordando, e ajudou-a a se ajeitar novamente.

No final do mês, o feriado da Páscoa chegara. Draco estava uma pilha de nervos, e Serena o acompanhava, já que os progressos no Armário Sumidouro não tinham sido muitos e o rapaz se tornaria um Comensal em questão de dias. A cerimônia já havia sido adiada de meados de janeiro para o próximo feriado, assim não levantaria suspeitas.

'-Eu vou te mandar uma coruja sempre que puder.' – Draco disse antes de partir com o grupo que rumava à estação do povoado.

Serena concordou e acenou, mas não disse nada. Era esperar para ver.

Blaise e Eliza também foram – no primeiro grupo que saíra – passariam o feriado com os pais do moreno na mansão na Cornualha, aproveitando o sol primaveril próximos do mar.

Snape seguiu com a filha para dentro do castelo, levando-a até as masmorras e indicando para que ela o acompanhasse até o laboratório – cômodo que a garota não conhecia. Surpreendeu-se com o lugar – a iluminação provinha de lugares estranhos e em cores estranhas, muitos frascos e ingredientes estavam arrumados cuidadosamente em prateleiras sem fim e haviam duas bancadas grandes cobrindo o espaço restante.

Serena notou a pilha de redações organizada em uma escrivaninha escura em um canto próximo da porta. Leu o primeiro nome: Elizabeth Ann Duncan. Eram as redações de sua turma. Ficou curiosa, mas não tocou.

'-Em que eu posso ajudar?' – Serena perguntou, vendo o pai atarefado em meio aos ingredientes.

'-Tenho duas Poções para preparar para Madame Pomfrey, mas prefiro fazer eu mesmo. Preciso rever corrigir as redações de ontem e rever o estoque de chifre de arpéu.' – ele arriscou um sorriso fino para a filha, deixando-a perceber que acatara sua idéia.

'-Posso corrigir as redações?' – ela perguntou, esperançosa, mas, pela carranca do pai, tinha certeza de que ele não deixaria.

'-Não as da sua turma.' – ele sorriu torto, novamente, indicando-lhe a pilha – 'E corrija como eu o faria.'

Serena assentiu, sorridente, e partiu para a escrivaninha, escolhendo o frasco de tinta vermelha costumeiro do pai e uma pena nova.

Quando terminado, Serena suspirou e disse baixo, sem perceber – 'Cabeças-ocas.'

Snape ergueu o olhar da Poção para a filha, escutara o comentário despropositado da menina. Serena deu de ombros, um pouco acanhada.

'-Terminei. É melhor que você reveja depois.' – ela disse, levantando-se e indo ao encontro do pai.

'-Depois do "cabeças-ocas", confio que você tenha corrigido como eu corrigiria, Srta. Snape.' – ele respondeu, achando graça.

'-É a primeira vez que ouço um "Srta. Snape"' – Serena argumentou, com seu sorrisinho torto desafiador – 'Depois do que eu disse me tornei oficialmente uma Snape?' – ela arqueou uma sobrancelha.

'-Você não nega de onde veio, menina' – ele sorriu espelhando a filha, manuseando cuidadosamente uma pipeta com líquido amarelado – 'E não. Você sempre foi claramente uma Snape, mas garanto que não merece esse sobrenome.' – o professor completou, sério.

'-Porque não?' – a garota inquiriu, os olhos perdendo a vivacidade e o brilho, e ganhando o tom frio de azul como há tempos o pai não via.

'-Meu pai era um bastardo. Você não merece o sobrenome dele.' – ele disse apenas.

'-E você, professor Snape?' – ela desafiou.

'-Eu mereço esse sobrenome, Serena. Já cometi atrocidades as quais você nem imaginaria.'

'-E o senhor tem a certeza de que não mereço?' – ela arqueou novamente a sobrancelha.

'-Descobri recentemente que você tem mais da sua mãe do que eu jamais imaginei.'

Serena sorriu de leve, aliviando a tensão.

'-Fique feliz em não merecer esse sobrenome, Serena. Não é nada que ninguém almeje.'

Ela concordou, quieta, apenas admirando o trabalho preciso do pai com os instrumentos de laboratório.

Draco não mandou nenhuma carta nos dias que se seguiram, e Serena nunca admitira que ficara esperando. Ela voara bastante durante o feriado no campo de quadribol, já que não haviam muitas pessoas no castelo.

Potter, pela infelicidade de Serena, também ficara no castelo. Viera até ela várias vezes tentando saber sobre Malfoy. Perguntava o que o loiro fazia na Sala Precisa e como poderia entrar lá. Serena fingiu não saber de nada, mas temia por Draco. Harry desconfiava demais.

Quando Blaise e Elizabeth voltaram, Draco não estava junto. O casal mencionou a estranheza de não ver o amigo no trem e nem agora, já devidamente acomodados em Hogwarts. Ele não voltara nem mandara cartas.

Serena saiu bem mais cedo do Salão Principal no jantar daquela noite. Estava nervosa com aquela situação porque Draco sabia demais. Apesar do Voto Perpétuo, haviam muitas maneiras de se contar sobre o parentesco entre ela e Snape, e sobre Dumbledore ter espiões, e agora informações sobre a Ordem da Fênix.

Chorou de raiva de si mesma por ter-se deixado enganar. Subiu degraus aleatórios e acabou no corredor do segundo andar. Andou até o banheiro feminino – onde não entrava há algum tempo desde o último encontro com o fantasma da Murta Que Geme.

Entrou silenciosamente no banheiro, desejando que o fantasma tivesse ido assombrar outro local. Assim que ela aproximou-se das pias, Murta saiu de sua cabine.

'-Snaaaaaaape.' – disse com raiva, mas com a mesma voz chorosa – 'achei que tivéssemos combinado que você não apareceria por aqui.'

'-Não enche, Murta.' – Serena pediu, avaliando sua situação no espelho, e limpando a última lágrima com a manga da capa do uniforme.

'-O que houve? A princesa de gelo de Hogwarts está triste?' – Murta debochou – 'Eu deveria chamar todo mundo aqui para te ver, chorando no meu banheiro.'

'-Este banheiro não é seu.'

'-Faz cinqüenta anos que moro aqui, sua Snape enxerida.'

'-O que não o faz seu.' – Serena deu de ombros, não olhando para ela uma única vez.

'-Olhe para mim' – Murta disse, desesperadamente perto da garota, enfiando o indicador espectral na frente do nariz de Serena – ' Não se meta nos meus negócios, Snape. E talvez eu até te tolere aqui de vez em quando.' – ela falou com a voz fininha – 'Agora, diga-me? O que se passa? Você não está se metendo com ele de novo, está?' – perguntou, enciumada.

'-Não, Murta, não!' – ela disse, irritada.

'-Você me disse que ele gostava de você!' – Murta se exaltou, flutuando para perto da garota novamente.

'-Eu menti. Estava com raiva.'

'-Então por que ele te levou ao baile? Eu teria aceitado de bom grado.' – Murta disse, sonhadora.

'-Não sei, Murta! Talvez para fazer ciúmes na Weasley fêmea, você deveria estar tendo esta discussão com ela, não comigo!'

'-Uhhh' – Murta disse, sentando-se no separador da cabine – 'O que fez Serena Snape chorar e vir conversar com uma fantasma irritante no segundo andar? Bem longe das masmorras sonserinas.'

'-Nada, Murta, já disse.'

'-O que eu ouço é que a Snape é durona. Não uma bobona que chora feito criança.' – Murta provocou.

'-Anote bem este dia no seu calendário, porque é a primeira e última vez que desabafo com um fantasma.'

Murta se ajeitou melhor lá no alto, sobre a divisória, e colocou ambas as mãos sob o queixo, curiosa.

O retorno de Draco Malfoy foi discreto, chegou via Floo duas semanas depois do término do feriado junto à Lucius Malfoy, seu pai, e não parecia confortável na presença dele.

O mais velho foi falar com o Diretor enquanto Draco foi para o dormitório; Lá, encontrou seus pertences já arrumados sobre a cama verde escura e Blaise jogado na cama do lado.

'-Draquinho?' – Blaise brincou, mas estava surpreso – 'Está adiantado para o retorno das férias de verão.'

Draco ignorou e colocou o malão debaixo da cama, deitando-se depois.

'-Ei, Draco, é brincadeira. O que houve, cara?' – perguntou novamente, desta vez realmente preocupado.

O loiro não disse nada, apenas arregaçou a manga esquerda e mostrou o antebraço para o amigo.

Blaise arrgealou os olhos, assustado, perante a Marca Negra.

'-Eu tinha esperança de que não acontecesse de verdade. De que meu pai me poupasse.' – ele disse, desanimado, cobrindo novamente o braço, os olhos vermelhos como se pudesse chorar apenas de olhar para a tatuagem.

Zabini só então reparou nas marcas profundas de olheiras sobre os olhos do rapaz, em como estava magro e esquálido, mais pálido do que nunca.

'-Mas e Dumbledore? Você não é agora um es...'

'-Isso' – ele apontou o braço – 'independe de ser espião ou não. Dumbledore disse que teria de ser convincente.'

'-Convincente desse jeito?' – Blaise debochou – 'Sempre achei que o velho fosse mais bondoso.'

'-Você não tem noção do que é não ser bondoso, Zabini. E descobri recentemente que meu pai não poderia ser menos bondoso.' – Draco adicionou, sem forças.

'-Tão terrível assim?' – o moreno perguntou, com uma curiosidade inocente, quase infantil.

'-Mais terrível do que qualquer coisa que você tenha imaginado na vida.'

Blaise arregalou os olhos e pulou para a cama ao lado, onde Draco estava sentado.

'-Preciso falar com Serena. Disse a ela que mandaria uma coruja, mas não consegui. Espero que ela ainda não esteja irritada.'

'-Draco apaixonado pelo dragão de Hogwarts... Quem diria?' – Blaise brincou, descontraindo.

'-Cale a boca, Blaise. Não estou apaixonado por ela, claro que não. E você e a Duncan? Quem diria? O pegador de Hogwarts amarrado com Elizabeth Duncan?' – ele também debochou, mas as palavras eram sem vida.

'-Não fui eu quem me tornei espião por uma menina.' – o moreno arqueou a sobrancelha, provocando.

'-É bom que tudo isso valha a pena.'

'-Vai valer de algum jeito, cara' – Blaise deu tapinhas no ombro do amigo – 'Nem que não seja com a Snape. Mulheres não valem tudo isso.' – ele comentou, fazendo uma careta depois – 'Blah, elas valem' – disse baixinho.

Draco sorriu fino, sem forças, e endereçou um pequeno pedaço de pergaminho à Serena. Tinham muito para conversar, e marcara na Sala Precisa.

Serena Snape caminhava desconfiadamente pelos corredores até o sétimo andar. A garota estava apreensiva, já que não fazia esse caminho há mais de três semanas e tinha medo de encontrar algum professor fazendo a ronda habitual.

Sua varinha estava em mãos, iluminando de leve o caminho.

Chegando onde ela sabia ser a exata localização da Sala Precisa, a garota olhou atentamente para os lados, garantindo não estar sendo seguida, e pensou no lugar habitual: a sala repleta de objetos perdidos onde se situava o Armário Sumidouro.

Nada. Pensou por um momento. Havia outro espaço que se abria para eles quando precisavam desesperadamente conversarem sem ser escutados ou ficarem sozinhos por um tempo.

A porta apareceu. Draco devia estar desesperado.

Serena ainda estava deveras brava com ele, e ainda desconfiava, mas atendera ao pedido sem pestanejar. A curiosidade para saber o que resultara do feriado da iniciação do menino era grande, afinal.

Ela empurrou delicadamente a porta, temendo o que iria encontrar, como se o garoto atrás daquela porta fosse uma cópia monstruosa do Draco Malfoy que partira.

O que encontrara realmente fora um loiro apático, a pele macilenta e as olheiras profundas se sobressaltando. O rapaz estava encolhido contra uma poltrona baixa e extremamente acolchoada num dos cantos da sala.

Não via nenhum vestígio do que imaginara: um garoto voraz, sedento de poder e com ideais novamente parecidos com os de Lucius Malfoy. Porém, dentro da realidade dos fatos, ele estava acabado. Cansado e sem brilho.

Quando avistou os cabelos negros da menina, correu para ela. Como uma criança pequena, abraçou-a, procurando o carinho materno que lhe fora negado durante aquele feriado.

Serena ficou sem chão, mas abraçou-o de volta, confortando-o.

'-Graças a Merlin.' – ele murmurou, com o semblante perdido como Serena jamais vira.

'-Draco?' – ela perguntou, perplexa perante o estado do rapaz – 'O que houve?'

Draco não respondeu de imediato. Ele não era agora nem um terço do sonserino prepotente dos últimos seis anos em Hogwarts. Seus olhos estavam vermelhos como se tivesse chorado ultimamente e a expressão vazia.

Ele puxou-a pela mão para um sofá grande no centro da sala, e Serena seguiu, ainda surpresa.

'-Draco, o que está acontecendo?' – perguntou, temerosa.

'-Só fique aqui comigo.' – ele respondeu, com o olhar ainda vago, aninhando-se nos braços da garota.

Serena estranhou, mas posicionou a cabeça do rapaz em seu colo. Por algum tempo ficaram somente naquela posição, sem se mexer ou conversar, mas a garota estava intrigada em quão incomodada ela estava com a estranheza de Draco.

Estava preocupada. Passou então a acariciar os fios platinados do garoto, tentando transmitir com as mãos o sentimento que ela não saberia expressar em palavras.

Depois de um tempo, Draco sentou-se e abraçou Serena novamente, mas desta vez o abraço era masculino e protetor, diferentemente do abraço infantil e desesperado de outrora.

'-O que houve?' – ela perguntou mais uma vez, se desvencilhando dos braços do loiro – 'Você me disse que ia me mandar uma coruja sempre que pudesse. E eu acreditei.'

Quando Serena falou, o tom de voz era frio e hostil, combinando com o turquesa gelado de seus olhos encarando o garoto sem nenhuma compaixão.

'-Eu não pude, Serena! Não pude!'

'-Você ficou um mês no luxo da Mansão Malfoy e não pôde dispensar cinco minutos para escrever?' – ela inquiriu – 'Tudo bem.' – ela balançou a cabeça, parecendo falar mais consigo mesma do que com o rapaz – 'Eu estou sendo uma tola; não vou ficar discutindo sobre cartas como uma garotinha. Vim aqui para saber quando recomeçamos com o Armário. E só. É o único assunto que me interessa.' – disse, calma e cortante.

'-Eu fiquei aprisionado nas masmorras da Mansão por um mês, Serena!' – ele bradou, desesperado – 'Pedi para minha mãe enviar uma coruja para você, mas meu pai a trancafiou no quarto. Eu fui torturado por um mísero mês, Serena.' – ele continuou, a voz calma, mas a expressão exasperada – 'Eu contava os dias para voltar para cá, porque sabia você estaria aqui, e que poderia contar com você. Eu fui um tolo. Tolo por ter pensado que você me ouviria, entenderia e ficaria comigo.' – ele levantou, colocando ambas as mãos na cabeça, atormentado.

'-Você realmente se tornou um Comensal?' – Serena perguntou baixinho, mordendo o lábio inferior.

Draco suspirou e dobrou a manga esquerda da camisa. Mostrou a Marca Negra sem ânimo nenhum para a garota, fitando os pés enquanto esticava o braço.

Serena reprimiu um gritinho com as mãos. Tudo o que temera estava ali, tatuado em negro.

'-Eu entendo' – começou Draco, ao ver a reação da menina – ', sei que você odeia Comensais e que tem motivos para isso. Entendo se você não quiser mais ficar comigo depois disso.' – ele apontou a marca com o indicador – 'Mas eu gosto muito de você Serena. Tornei-me espião da Ordem da Fênix porque assim teria liberdade e teria você. De qualquer forma, descobri que é isso mesmo que quero. Mesmo que você termine comigo hoje, eu continuarei do lado de Dumbledore.' – ele discursou, colocando distraidamente uma mão no bolso das calças pretas, aguardando a reação de Serena.

A garota mordeu tão forte o lábio que um filete de sangue ameaçou escorrer. Tudo estava tão confuso, mas ela sabia que este dia chegaria. Sabia que Draco se tornaria um Comensal logo e o que isso implicava, mas ela também gostava dele, apesar de não admitir.

Serena, fitando os pés, suspirou, tomando sua decisão. Em disparada, foi até Draco e o abraçou.

'-Eu achei que você não voltaria.' – declarou num murmúrio de vergonha.

Draco a abraçou forte de volta e beijou o topo de sua cabeça, aliviado.

'-Meu pai não queria que eu voltasse.' – ele disse – 'Pelo menos não até junho, quando colocaremos o plano em ação. Convenci-o dizendo que tinha negócios a terminar por aqui.' – ele deu um sorriso fino.

Serena nada falou, apenas ficou ali, abraçada à ele.

'-Temos que dar um jeito de terminar logo aquele armário... Não temos muito tempo, e ele continua a não funcionar.' – ela afirmou, depois de um bom tempo.

Draco concordou somente, pensando no que seria deles dois até o final daquela maldita guerra.

Maio chegou logo, e naquele dia Serena e Draco andavam juntos no corredor do sétimo andar, rumo à Sala Precisa. Blaise e Eliza se despediram dos amigos e foram passar o resto da tarde nos jardins ensolarados, como o feliz casal que eram.

Draco estava tendo mais sorte com o Armário Sumidouro do que nunca antes; finalmente descobrira qual era o problema e trabalhava para resolvê-lo. Serena acompanhava de perto. Naquele dia passariam pela Sala Precisa apenas para conferir se Potter ainda estava tentando entrar.

Constataram que sim e debocharam do moreno escondidos em uma alcova lateral. Juntos, voltaram ao Salão Comunal – o qual ficava vazio nestes dias de primavera, quando os alunos saíam todos em busca de ar fresco. Chegando lá, uma coruja piou, descendo elegantemente até Draco antes mesmo que este pudesse se sentar.

O garoto leu e releu, mas nada disse à Serena.

'-Merda.' – ele vociferou e saiu em disparada após a segunda leitura do pergaminho, deixando uma Serena confusa para trás.

'-Ei, Draco!' – ela gritou, seguindo-o – 'Volte aqui! O que raios está acontecendo?' – ela perguntou, brava, tentando alcançá-lo. Ele, porém só aumentava o ritmo dos passos, ignorando-a.

'-Volte para o dormitório, Serena.' – ele disse, sem se virar.

'-Quem você pensa que é para me dar ordens? Olhe para mim! Draco!' – ela chamou, mas ele não acatou.

Subiram um lance de escadas, Draco correndo já muito à frente de Serena. Mais um lance, segundo andar.

Serena perdera o garoto de visão, porém sabia que ele estava naquele andar; não o vira subir mais lance algum. Banheiro da Murta, é claro, pensou ela. A garota, então, empurrou a porta com cuidado e viu que Murta olhava Draco de longe, receosa.

Reparou na figura loira, o rosto vermelho marcado de lágrimas silenciosas, agarrando os lados da pia. Serena aproximou-se.

'-Saia daqui.' – ele pediu olhando para cima, agora mais gentilmente.

'-Eu não vou sair.' – Serena disse, sentando-se no chão de pernas cruzadas e olhando para ele – 'E você vai me contar o que está havendo.'

'-Meu pai me mandou uma estúpida carta perguntando como vão as coisas.' – ele começou e deu um longo suspiro – 'Ele já tem planos futuros, Serena! Para que eu trabalhe para Vold... Você-Sabe-Quem.'

Ele pausou a fala, mirando a pia enquanto era mirado pela garota.

'-Eu não vou agüentar, Serena, simplesmente não vou. E Lord das Trevas me mandou um recadinho íntimo: se eu não fizer isso logo, ele me matará. Você sabe como estão as coisas, Serena... Eu preciso de tempo!E é o que eu menos tenho agora.' – ele suspirou.

'-Peça para Snape te levar à Hogsmeade!' – Serena disse, procurando Murta-Que-Geme com os olhos e pensando se dizia coisas demais, mas não achou a fantasma – 'Ele sabe o que você tem que fazer e a chave, como você disse, é trabalhar nos dois armários juntos.'

'-Eu não sei, Serena, eu não sei... Não sei mais nada. Meu pai está exigindo cada vez mais. Não posso dar tudo isso. E ainda tem Dumbledore... Eu não vou conseguir fazer as duas coisas ao mesmo tempo!'

Lágrimas avermelharam novamente a face pálida.

'-Draco, você não pode desistir agora...' – ela murmurou, surpresa com o estado do rapaz.

Murta os interrompeu, dando seus gritinhos chorosos.

'-Tem alguém se aproximando... Cuidado com o que falam!' – ela cantarolou, entrando em sua cabine .

'-Draco, eu posso te ajudar!' – Serena exclamou, afobada

'-Ninguém pode me ajudar...' – Draco disse tremendo – 'Não posso faze isso... Eu não posso... Não quero trabalhar mais... a menos que eu o faça logo... ele disse que me matará...'

Malfoy mantinha a cabeça baixa, e Serena viu Potter se aproximando no reflexo do espelho antes do loiro. Subitamente adentrou a cabine de Murta e sentou no vaso.

'-Murta!' – ela disse baixinho – 'Murta! Preciso que vá lá e disfarce bem.'

'-Por que eu faria isso, Srta. Snape?' – Murta debochou.

'-Quantas vezes na sua mísera existência você verá Serena Snape te implorando alguma coisa?' – Serena disse, fazendo sinal para que ela fosse.

Murta saiu e colocou uma das mãos espectrais sobre as costas de Draco.

Serena viu pelo vão da porta que o rapaz levantou a cabeça e encontrou o olhar de Potter no espelho. Draco puxara a varinha, e agora Harry fazia o mesmo. A garota desesperou-se, mas não podia apartar a briga; não poderia, na verdade, estar ali, com Draco Malfoy.

O ângulo da briga mudou, mas Serena ouvia coisas espatifando no banheiro, irritada com a cegueira de cena.

'Não! Não. Parem com isso!' – Serena ouviu Murta-Que-Geme guinchar, sua voz aguda ecoando – 'Parem! PAREM!'

Um estrondo alto preencheu o ambiente e Serena tremia, detestava não saber o que estava repente a voz de Malfoy soou clara, cortando o ar:

'-Cruci...'

'-SECTUMSEMPRA!' – Potter o interrompeu, gritando.

Silencio. Silencio demais. Serena tentou espiar, mas não conseguia ver nada.

'Não.' – disse o moreno – 'Não, eu não queria.'

Malfoy começou a gritar e se debater no chão sobre uma poça de água.

'ASSASSINATO! ASSASSINATO NO BANHEIRO! ASSASSINATO!' – Murta gritou, alarmada.

Serena entrou em choque. Tapou a boca com a mão e ali ficou, sem saber o que tinha acontecido exatamente, mas mesmo assim ouvira as palavras de Murta. Assassinato. Havia alguém morto. Pelos gritos, era Draco.

Uma lágrima escorreu silenciosa, mas solitária. O choque não passou e Serena não conseguia se movimentar, falar ou chorar. Estava paralisada.

Ouvira apenas um barulho de porta sendo aberta, e escutou a voz de Snape. Graças a Merlin Snape estava lá! Por que não levavam Draco direto para a enfermaria? O sermão de Potter podia esperar. Será que as chances do loiro eram nulas?

'-E você, Potter, espere no meu escritório.' – recomendou Snape, arrastando Draco.

Serena contou o tempo em que Potter estaria suficientemente longe e disparou para a Ala Hospitalar, mal agradecendo Murta-Que-Geme. Correu até que os alcançou na porta do recinto.

'-O que houve? O que Potter fez com ele? Ele está vivo?' – Serena perguntou, preocupada.

'-Você não vai se livrar de mim tão cedo.' – Draco disse, a fraqueza transparecendo na voz, virando o rosto para ela.

Haviam cortes profundos em seu rosto e sua roupa estava empada de sangue.

'-Potter idiota! McGonagall deveria tê-lo expulsado logo no primeiro ano! Só pode ser o sangue trouxa que corre em suas veias!' – ele vociferou, reprimindo um grito de dor, tentando estancar o sangue no peito.

'-Draco, acalme-se' – orientou Snape com uma carranca.

Madame Pomfrey correu para eles, chocada com o estado do rapaz.

'-Oh, Merlin! O que fizeram com você, garoto?!'

'-Já tomei as primeiras providencias, Papoula. Executei o contrafeitiço, agora se você tiver ditamino...'

'-Qual era o feitiço, professor?' – perguntou ela.

'-Um que eu juro nunca ter ouvido em toda a minha vida!' – disse Draco – 'Ai, sua velha maldita!' – queixou-se enquanto ela aplicava o líquido.

'-Controle-se' – Snape repreendeu.

'-O feitiço chama-se Sectumsempra.' – ele comentou.

'-Temo que também eu nunca ouvi nem menção à este feitiço... Onde Potter poderia tê-lo encontrado?'

'-O feitiço é de minha autoria, o que não compreendo é como Potter o encontrou.'

'-Por que você criou um feitiço desses, pai?' – Serena se manifestou pela primeira vez na sala, sentada em um catre vazio.

Snape quebrou. Como responderia àquilo?

Madame Pomfrey ficou emocionada ao vê-la tratar Severo como pai, tão diferente das últimas vezes que vira os dois juntos.

'-Eu já lhe disse que não sou uma boa pessoa, Serena.'- ele disse, sisudo – 'Agora preciso ir. Potter está esperando pela detenção do século.'

Serena acompanhou o pai até a porta.

'-Você também não é uma má pessoa, Snape.'

'-Você não conhece meu passado, Serena.'

'-Se minha mãe ficou com você com todas essas restrições e dificuldades, você deve valer a pena.' – ela sorriu fino e torto.

Snape ponderou, não concordando com a filha, acenou e saiu rumo às masmorras com a capa esvoaçando atrás de si.


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Notas finais do capítulo

As coisas estão começando a ficar mais emocionantes! Acompanhem! (e me contem o que acharam, please :D )

Beijo, L.