Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 18
Lar


Notas iniciais do capítulo

Esse cap. é um dos meus queridinhos... Espero que vocês gostem. As coisas entre o Severo e a Serena finalmente começam a funcionar...



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Serena e Severo descansavam tranquilamente perto do fogo no último dia do feriado. No dia seguinte a garota tomaria o expresso de Hogwarts às onze horas da manhã, e temia que as coisas entre ela e o pai voltassem a ser como eram antes.

'-As suas coisas estão prontas, Serena?' – Severo indagou, fechando o livro e depositando-o em seu colo.

'-Sim, estão.' –ela respondeu, cabisbaixa, fitando o fogo.

'-Serena?' – ele perguntou, se inclinando para frente na poltrona – 'Aconteceu alguma coisa?' – Snape franziu a testa, preocupado.

'-É que esses dias aqui foram tão bons...' – ela suspirou, embaraçada – 'E eu tenho medo que as coisas fiquem ruins de novo quando voltarmos para a escola.' – a garota admitiu sem olhar para o pai.

'-Serena' – ele falou com calma – 'eu vou continuar sendo seu pai enquanto não estiver dando aulas, e você poderá aparecer em meus aposentos quando quiser, está me ouvindo?' – ele disse, sabendo que ela não iria aos seus aposentos; sua garota era orgulhosa demais, assim como ele próprio.

'-Sim' – ela respondeu, ainda sem fitá-lo.

'-Mas eu ainda serei seu cruel professor de Poções.' – ele deu um meio sorriso de deboche, e Serena sorriu também – 'Nesse sentido as coisas não podem mudar, está bem? Até por que todos desconfiariam que há algo de errado se pararmos de implicar um com o outro.'

A garota concordou com a cabeça somente.

'-É tão estranho, tudo isso.' – Serena disse de repente.

'-Isso o que, Serena?' – ele perguntou curioso.

'-Ter uma casa de verdade, um pai, um lugar para o qual voltar.' – ela disse, séria e remoeu-se com a culpa. Serena falava de uma forma tão sincera – 'E é tudo tão diferente do que eu costumava imaginar quando era pequena.' – ela devaneou como não fazia muito, e estreitou os olhos, relembrando.

'-E o que você imaginava?' – quis saber Severo.

'-Uma casa normal, com um jardim, e talvez uma bicicleta trouxa. E quando imaginava um pai era alguém de óculos, que sorria para mim, me amava e protegia.' – ela sorriu discretamente ao falar, lembrando as divagações de criança.

'-A casa talvez seja um pouco maior do que você imaginava, e nas férias de verão você verá o jardim.' – ele respondeu, divertido – 'Bem, eu não uso óculos.' – foi tudo o que ele respondeu, sorrindo para a filha.

Serena sorriu de volta, verdadeiramente feliz.

'-Eu fiquei contente em te ter em casa, Serena.' – ele disse, os olhos calmos repousando sobre a filha – 'Você não tem idéia de como isso foi importante para mim.'

A garota baixou os olhos, ligeiramente acanhada.

'-Você não precisa ficar sem graça, Serena.' – ele disse, se aproximando do sofá em que a garota estava sentada – 'Aqui em casa somos só nós dois.' – ele lembrou a filha com as palavras que Alexandra usara na última vez que eles haviam estado em casa juntos.

O coração de Serena encheu-se repentinamente ao ouvir as palavras de Severo, agora abaixado ao lado da garota.

Ela encarou-o fixamente e mordeu o lábio, para então abraçá-lo com lágrimas nos olhos. O abraço pegou-o de surpresa, e ele cambaleou quando o peso da garota caiu em seus braços. Passado o susto abraçou-a de volta, tão forte quanto o necessário para fazê-la sentir-se protegida.

Ouviu, então, Serena soluçando baixinho. Passou a mão em suas costas, tentando reconfortá-la e sem quebrar o abraço murmurou um 'shhh' no ouvido da menina.

'-Está tudo bem, Serena, tudo bem.' – ele falou, separando o abraço somente minutos depois, tirando os cabelos da filha dos olhos – 'Não chore, está certo? Odeio te ver chorar.' – completou ele, sem ao menos pensar no que dissera, percebendo somente naquele momento que odiava ver Serena chorar tanto quando odiava ver Alexia, ainda mais quando sentia-se impotente em ajudar.

Serena limpou as lágrimas e fitou o pai.

'-Você me perdoa?' – de repente ele perguntou.

Somente Severo sabia como aquela resposta era importante para ele, como a culpa o corroera durante tantos anos.

Ele pediu, olhando a filha nos olhos – 'Me perdoe por todo este tempo... Por ter te deixado naquele lugar horrível.' – era quase uma súplica, os dois agachados no chão da sala de estar, entre um dos sofás e a luxuosa mesa de centro.

Não era, definitivamente, o homem que ela achava que conhecia que estava a sua frente. Não era, de forma alguma, o carrancudo professor de Poções, amargurado pelo tempo e pelas lembranças. Não era o homem que fora rude com Alexia no começo de sua gravidez. Tampouco era o homem que todos os alunos de Hogwarts diziam conhecer bem. Ninguém conhecia, não essehomem.

O homem agachado de fronte para Serena era seu pai. Machucado demais pelas lembranças, o homem que culpava demais a si mesmo, e que não conseguira viver plenamente quinze anos de sua vida por saber que em algum lugar da Londres trouxa estava sua filha.

Pela primeira vez Serena vira o pai na face de Severo. Corrompido pela guerra, pelos anos como Comensal e pelos sentimentos não demonstrados.

Serena concordou com a cabeça após pensar um pouco, mordendo o lábio inferior. Talvez ela não perdoasse Severo Snape, mas perdoava seu pai. Não perdoaria o homem que gritara com ela em Hogwarts e que a fizera sofrer durante tanto tempo pensando não pertencer a lugar algum. Porém, perdoava completamente o homem que se arrependera, que a acolhera novamente em casa, que sentira sua falta durante tantos anos.

'-Sim.' – ela disse somente. Mais lágrimas escorrendo por seu rosto, fazendo Severo puxar a menina para seu peito e acalmá-la.

Quando começou a pensar na idéia de levar Serena para casa consigo, Snape nunca imaginara aquilo. Pensara nos confrontos, nas dificuldades, no mau humor e mau comportamento da garota, mas nunca naquilo.

Nunca pensara no quanto seria bom ser pai. Agora até acreditava nos idiotas que diziam que a paternidade mudava tudo; por que mudava. Serena assumira um plano em sua vida que ele nunca havia imaginado, em tudo o que pensava e planejava lá estava a garota, em primeiro lugar. As missões que tinha que cumprir agora haviam se tornado mais difíceis: era preciso manter-se vivo, a morte agora já não era mais uma terna benção, havia alguém para quem voltar.

Estar junto de Serena agora era o que mais almejava. Com ela ele tinha um pouco de Alexia, um pouco da melhor parte dele mesmo e um pouco de alegria.

E Severo também não podia imaginar o quanto agradeceria a filha mentalmente por aquele dia. O peso que carregara tanto tempo nos ombros ele deduzia ser culpa por não ter obedecido à Alexandra, e acreditara que devia desculpas a ela.

A esposa já o tinha perdoado. Mesmo assim o peso permanecia ali, intacto. Foi quando percebeu que essa bola na garganta surgia quando via o olhar distante da menina, por trás dos olhos azuis incrivelmente gelados, quando o passado vinha à tona no olhar de Serena.

Era dela que necessitava o perdão. A única inocente da história acabara sendo a mais prejudicada, e seu pensamento singular em Alexia não o deixara ver isso durante muito tempo.

Naquele dia, naquele primeiro de janeiro, Serena conseguira com uma simples palavra tirar das costas de Severo o que ele tentara durante longos anos. O perdoara finalmente, e conhecera o pai, por completo.

Subiram juntos, Serena e Severo, a longa e majestosa escadaria da Mansão Prince – agora não mais uma mansão solitária, e sim um lar. Serena conferiu as coisas em seu malão enquanto Severo trocou as vestes negras por pijamas e um robe de veludo verde musgo.

Serena já estava vestida em seu pijama de inverno quando Severo bateu na porta e ela lhe disse para entrar.

Severo adentrou e sentou-se na beirada da cama da filha, fitando o malão no chão, juntamente a mais alguns pertences. Serena, sentada na cama de pernas cruzadas, soltou um longo bocejo, para depois começar a se remexer até estar devidamente ajeitada entre as cobertas.

'-Tudo pronto?' – perguntou ele, fitando a menina – ' Precisa de mais alguma coisa?'

'-Não, não. Está tudo certo.'

'-Então está bem, amanhã venho cedo te acordar para estarmos na estação a tempo.'

'-Você também vai no Expresso Hogwarts?' – quis saber ela.

'-Não, Serena, vou lhe acompanhar até a estação e voltar para casa, e daqui vou via Floo até Hogwarts.' –ele explicou calmamente, lançando um olhar terno para a garota.

Serena concordou com a cabeça e se arrumou melhor entre cobertores.

'-Com frio?' – perguntou Snape com o mesmo olhar sem emoções costumeiro, mas havia preocupação ali, e desta vez a garota conseguiu notá-la.

'-Um pouco.' – ela deu de ombros.

O homem caminhou com passos decididos até a lareira e, com um gesto de varinha, o fogo surgiu, crepitante.

'-Melhor?' – perguntou ele, ajeitando-se novamente na beirada da cama da menina.

'-Muito.' – Serena respondeu, puxando feliz os cobertores para os ombros com uma expressão de satisfação digna de Alexia. Agora era impossível para Severo não notar a clara semelhança entre mãe e filha, e fora errôneo pensar que o comportamento de Serena era extremamente frio.

'-Então é melhor que você durma, porque acordamos cedo amanhã, não é mesmo?' – ele disse fitando a filha e ajeitando melhor os cobertores sem reparar no que estava fazendo, numa atitude paterna típica.

Serena sorriu seu sorrisinho torto e maroto.

'-Boa noite, Severo' – ela disse, espreguiçando-se no meio da fala, trazendo também um leve sorriso aos lábios finos do pai. Era tão diferente ver Serena numa atitude tão normal e descontraída.

'-Boa noite, Serena. Durma bem e descanse, porque é a última noite em casa e o dia vai ser longo amanhã.'

'-Eu sei.' – ela resmungou, se escondendo debaixo das cobertas, manhosa.

'-Durma então.' – ele disse, tirando a coberta do rosto da filha e também os cabelos que tinham ido parar na face da garota.

'-Ah' – ela deu um longo suspiro – 'Tá bem' – completou, contrariada.

'-Boa noite, filha.' – ele disse, sério, e Serena reconheceu novamente o sentimento contido por trás das palavras.

'-Boa noite.' – ela respondeu, sonolenta.

Severo deu uma última olhadela para a filha, que sorria de leve para ele, apagou as luzes e, com um clique, fechou a porta do quarto.

Era tão bom ter Serena em casa.

Serena rolou para um lado e outro da cama, não querendo voltar para a escola. Era a primeira vez que tinha um quarto só seu, e era um quarto magnífico. Sentiu a maciez dos lençóis brancos, tão diferentes daqueles que costumavam usar no orfanato.

Snape e ela finalmente tinham cedido e, como falara Alexia no estranho sonho da menina, eles se davam bem. Severo era mesmo muitíssimo inteligente e Serena surpreendera-se com as habilidades do pai em Poções; ela nunca imaginara que ele fosse assim tão bom. Ele lhe ensinara xadrez bruxo e tinham conversado sobre livros, o homem recomendando a ela alguns tomos, dando-lhe uma introdução sobre eles. Serena descobrira que ser um Mestre de Poções era deveras raro, Snape lhe falara que qualquer um que estude Poções pode dar aulas, mas um qualquer não se torna Mestre, ele tinha dedicado muitos anos de estudo ao preparo de Poções.

Serena admitia que ficara horrorizada e decepcionada quando descobrira que seu pai era o odiado professor de Poções. Tantos homens no mundo e Merlin lhe dera justo aquele! A garota, naquele tempo, simplesmente não conseguia atribuir ao homem qualquer qualidade que fosse. Porém agora, convivendo com ele e conhecendo seu passado, o admirava, aquele tipo de admiração que só filhos podem ter pelos próprios pais.

Severo era calado e frio, externamente – agora ela sabia. Era inteligente, corajoso – apesar de ser tipicamente sonserino – ao lidar com Voldemort cara a cara sendo agente de Dumbledore, e o principal: Serena sabia que Severo amara Alexia, sua mãe, mais do que tudo. E Alexia, contrariando opiniões, o amara de volta.

A garota agora tinha uma casa, uma mãe – morta, mas que dera por ela sua vida, e um pai. Um recém-conhecido pai. Agora também Serena podia compreender o quanto aqueles anos também tinham sido difíceis para ele, que Severo a deixara naquele orfanato trouxa apenas por proteção, porque não podia imaginá-la correndo qualquer risco nas mãos de Voldemort.

Serena piscara levemente os olhos quando ouvira uma voz masculina ao longe chamá-la. Abriu-os sonolentamente e viu o pai, agachado ao seu lado, tentando acordá-la.

'-Serena?' – chamou Snape, chacoalhando de leve os ombros da menina – 'Vamos, acorde.'

Serena fitou o pai, abrindo os grandes olhos azuis lentamente.

'-O café já está na mesa, e não queremos que você se atrase, não é?' – ele perguntou, puxando as cobertas da filha – 'Vamos, Serena, estou te esperando lá em baixo, está bem?' – perguntou, sorrindo de lado com a expressão de incredulidade no rosto da menina. Ela não acreditava que já era chegada a hora de levantar-se.

Andando feito zumbi, a garota dirigiu-se ao banheiro,ao passo que o pai seguiu para o andar térreo.

Serena desceu a escada séria, ainda sonolenta, e o pai admirou sua beleza. Vestia jeans, tênis e um suéter novo, com uma pesada capa de viagem por cima, enquanto o elfo Kile levava o malão da menina escada abaixo, após terem tomado o desjejum.

'-Não esqueceu nada?' – perguntou Snape enquanto pegava o malão das mãos grandes e esverdeadas do elfo, na soleira da porta.

'-Não, eu conferi e está tudo aqui' – ela respondeu,apertando mais a capa contra o corpo; ali, em Hampshire, o vento cortante parecia nunca cessar.

'-Vamos, então.' – Severo concluiu, segurando firmemente o malão e puxando a menina para seu encontro, de forma a aparatarem.

'-Adeus, Kile' – Serena acenou graciosamente para o servo, já segura pelo pai.

'-Adeus, Senhorita Snape, adeus!' – o pequeno elfo gritou, fazendo uma reverencia exagerada, e com um estalo os dois desapareceram no ar, Serena sorrindo com a atitude do elfo.

Aparataram em um beco sujo no centro de Londres, e de lá tomaram um taxi até King's Cross. Lá seguiram até a vazia plataforma 7 para se despedirem.

'-Bem, nos vemos na escola, Serena.' – ele sorriu torto, exatamente como a filha fazia.

'-Até mais, então, Snape.' – ela disse, abrindo o mesmo sorrisinho de lado.

'-Foi realmente bom te ter em casa finalmente; você nem imagina o quanto.'

'-Foi bom estar em casa.' – ela respondeu somente.

Snape entregou o malão a ela, e abraçaram-se.

'-Cuide-se, Serena' – ele murmurou, afagando as costas da menina –'E pelo amor de Merlin não entre na Floresta Proibida de novo.'

'-Achei que nós já tínhamos resolvido esse assunto; você sabe, a noite do Baile.' – ela arqueou uma sobrancelha, desafiadora.

'-Nós apenas teremos resolvido isso se você não entrar lá novamente' – ele também arqueou a sobrancelha, sério.

'-Está bem, pai, está bem.' – ela disse, o abraçando novamente – 'Não é porque você é meu pai agora que tem que fazer isso sabe, essas coisas de pai.' – ela deu um sorriso leve.

'-Eu sempre fui seu pai, Serena' – ele replicou, abraçando a menina de volta – 'Eu estarei lá quando o trem partir, você poderá me ver.'

'-Mas e os outros? Se alguém te vê lá você está ferrado.' – comentou Serena, intrigada.

'-Ninguém vai me ver, acredite.' – ele sorriu, ouvindo um apito ao longe.

'-Acho que o trem já vai sair, nos vemos em Hogwarts!' – ela gritou, correndo com o malão e acenando para o pai.

'-Tenha cuidado!' – ele gritou, mas Serena já tinha atravessado a parede entre as plataformas 9 e 10, então também ele o fez.

Serena corria quando o Expresso de Hogwarts estava prestes a partir, já soltando fumaça. Os alunos já estavam todos dentro do trem, acenando para pais sorridentes e chorosos. De repente, a garota viu uma cabeça loira conhecida acenando para a mãe, quando notou a prima.

'-Serena?' – ela gritou, colocando quase todo o corpo para fora da janela do trem vermelho – 'O que você está esperando? Venha!'

E Serena obedeceu, adentrando o veículo segundos antes de sua partida, correndo até o vagão em que se encontrava Elizabeth.

Eliza estava sozinha, porém havia mais um malão no bagageiro.

'-Serena, que saudades!' – Eliza pulou sobre a amiga, dando-lhe um abraço de urso, e Serena fez cara feia.

'-Está bem, está bem, Eliza, agora deixe-me respirar.' – a outra garota a soltou, já conhecida do humor da amiga – 'Como vai, Loira? Passou bem o feriado?' – perguntou, arremessando seu malão preto para o bagageiro.

'-Sim, certamente. Mamãe te mandou lembranças.'

'-Você está sozinha?' – perguntou intrigada, apontando para o malão vizinho ao de Eliza.

'-Blaise está aqui, mas foi procurar por Malfoy.'

Nessa mesma hora, antes que a morena pudesse responder qualquer coisa, Blaise abriu de supetão a porta do vagão.

'-E aí, Snape?' – disse, acenando com a cabeça – 'Draco está com Crabbe e Goyle, e Pansy estava atrás dele;' – informou à loira – 'acho que ele já tem distração suficiente para a viagem.' – o moreno deu uma risada debochada, piscando um dos olhos azul escuros para Eliza.

Zabini e Elizabeth sentavam lado a lado, e conversavam baixinho. Serena se acomodou sozinha na poltrona de fronte para o casal, recostada à janela. Ali, no meio da multidão de pais e parentes emocionados, viu seu pai vestido de negro como o habitual. Severo tinha o semblante sério e displicente, as mãos cruzadas atrás das costas, tudo como o usual.

Mas havia mudado alguma coisa, talvez fosse no olhar, ou talvez apenas Serena enxergasse isso, mas havia ali outro homem, que teve sua vida toda mudada em apenas alguns meses por sua filha adolescente. Havia ali o olhar de um pai.

Serena adormeceu sorrindo, encostada à janela, relaxada. Seria uma longa viagem de volta para Hogwarts.

Os quintanistas, assim como os alunos do demais anos, já estavam acomodados à mesa, devidamente vestidos com o uniforme da escola, esperando pelo discurso do Diretor para o início do banquete.

Tão logo quanto Dumbledore falou e os professores foram aplaudidos, Minerva McGonagall deu um recado aos alunos de sua casa, referente ao Quadribol, e o jantar foi servido.

Serena comeu fartamente, sentada de fronte para Eliza e Blaise, que se sentavam lado a lado, e vizinha de Felicia Conrad, uma das garotas com quem dividia o dormitório.

Elizabeth, limpando a boca com o guardanapo após comer um pedaço de torta de morango olhou para Serena com curiosidade.

'-Como foi o feriado, Serena?' – perguntou a loira, os olhinhos verdes brilhando – 'Você dormiu a viagem toda e não me contou nada!'

Serena olhou abismada para a amiga e engasgou com sua torta de limão. Tinha esquecido completamente que teria de inventar algo convincente para ela.

'-Oh, foi assim tão ruim no orfanato?' – perguntou novamente, aquiescendo com o olhar que recebera da prima.

Foi a vez de Blaise Zabine engasgar. Ele logo se recuperou e fitou Serena, incrédulo. Não podia acreditar que Eliza não soubesse da verdade.

'-Foi normal. Nós não fazemos absolutamente nada lá; foram apenas duas semanas longe de Hogwarts.' – ela deu de ombros, se recompondo e recolocando o olhar gelado. Uma vez alguém lhe dissera que era preciso agir com indiferença para ser convincente.

'-Ah, Serena! Nas férias você passará um tempo em minha casa, está bem? Falarei com mamãe desde já para que ela consiga uma autorização do orfanato.'

Serena apenas concordou, esboçando um sorriso para Eliza, cujos olhos demonstravam imensa bondade.

'-E o seu feriado, Loira? Como foi?'

'-Foi ótimo. Mamãe, vovó e eu fizemos muitas compras e comemoramos o natal como sempre. Elas adoraram Blaise.'

'-Sua mãe e sua avó conheceram o Zabini aí?' – ela questionou, desacreditada, apontando com o copo que segurava para o rapaz.

'-Ele passou por lá no natal e acabou ficando para o almoço. Foi uma pena que não pudemos nos ver no ano novo.'

Serena estivera tão concentrada em seus problemas com Severo e com Alexia, com seu passado e com Draco Malfoy que nem tomara ciência das proporções que o relacionamento de Eliza e Blaise tinha tomado. Ela não podia acreditar que o garoto já tinha até mesmo conhecido a família dela.

Abismada, a garota tomou o último gole de seu suco de abóbora, embasbacada. Olhou de relance para a mesa dos professores e viu um par de olhos negros olhando para sua direção.

As mesas foram esvaziando, e Eliza, Serena e Blaise estavam de pé no meio da multidão que rumava para os respectivos dormitórios.

'-Pode ir indo, querido.' – Serena ouviu a prima dizer à Blaise – 'Preciso passar urgentemente na biblioteca deixar uns livros que esqueci de devolver antes do feriado. Madame Pince vai simplesmente me matar.' – eles deram um beijo rápido e a garota seguiu para a biblioteca.

Serena caminhava despreocupadamente em meio à multidão que descia para as masmorras quando foi nada gentilmente puxada para fora da aglomeração de pessoas por um afobado Blaise Zabini.

'-Eliza não sabe?' – perguntou ele, encostando a garota na parede.

'-Sobre?' – Serena fingiu não saber do que se tratava.

'-Sobre você ser filha do Sn...' – ele foi interrompido.

'-Shhhhh!' – a garota gritou, segurando a boca do moreno e conferindo se ninguém havia ouvido – 'Não, não sabe. Ela pensa que ainda moro no orfanato.' – explicou-se baixinho.

'-Por quê? Achei que ela fosse sua melhor amiga...' – ele passou a mão nos cabelos, pensativo – 'E eu sei que ela vai ficar furiosa quando descobrir.'

'-Você nem imagina o quão furiosa ela vai ficar, Zabini.' – Serena suspirou, recostada à parede – 'Eu falei isso para a mãe dela, mas ninguém me deixou contar. E já são pessoas demais que sabem sobre isso.'

'-A mãe dela também sabe? Ela vai ficar mesmo furiosa quando descobrir, Snape. É melhor você contar de uma vez.'

'-Eu não posso. Não é um segredo exatamente meu, e meu pai me mataria.' – deu um longo suspiro novamente, tentando raciocinar – 'Você tem que me prometer que não vai dizer, Zabini.'

'-Se até a mãe dela pode saber, por que ela não poderia?' – ele indagou, desconfiado.

'-Porque a mãe dela sabe do resto da história, e todo o resto é difícil demais para eu tentar te explicar.'

Blaise deu de ombros, derrotado.

'-Me prometa, Zabini.'

'-Tá bem, eu não vou contar a ela, Snape. Mas não assumo culpa alguma porque ela vai ficar muito decepcionada quando souber.'

Serena mordeu o lábio inferior com força.

'-Eu sei, e ela vai ficar mais brava ainda se souber por outra pessoa.' – e Serena saiu novamente rumo a multidão.

'-Ei, Snape!' – Blaise gritou, indo novamente ao encontro dela.

Serena virou-se, surpresa.

'-As aulas de vôo ainda estão de pé?'

'-Se você ainda estiver disposto a ser meu instrutor, estão.' – ela respondeu, sorrindo torto.

'-Assim que o tempo melhorar, me encontre no campo de quadribol. Vamos ver o que você consegue fazer.' – ele debochou amistosamente, abrindo um sorriso – 'Ah, e é bom que você arranje uma vassoura.'

'-Não se preocupe. Tenho uma.' – ela respondeu, arqueando a sobrancelha e correndo para a multidão.

'-Como uma garota que não sabe voar tem uma vassoura?' – ele indagou, mais para ele mesmo do que para Serena, que já havia desaparecido.


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Notas finais do capítulo

Curtiram? Me contem TUDO nas reviews ;)

Beijo, L.