Digimon Beta - E as Cartas Acessórias escrita por Murilo Pitombo
Verônica estava encurralada. Havia dito a Flávia que havia passado a tarde do domingo estudando quando, na verdade, estava no Mundo Digital com os demais amigos. E agora, a garota a questiona dizendo que sua mãe havia lhe dito que ela estava com João.
— E então? Por que esse suspense? – Sorri.
— Que suspense, Flávia? – Contorna Verônica. – Que horas que você passou lá em casa?
— Duas e meia. Passei lá pra gente dá uma volta, ou até pegar uma praia e nada! Te liguei e seu celular dava caixa.
— Eu passei na casa do João, acabei almoçando lá com ele e meu celular descarregou.
— Ah bom! Agora dizer que estudou a tarde toda é demais.
— Foi praticamente a tarde toda amiga. Larga de ser chata.
— Está de segredinho, né, sua ingrata! Taradinha.
— Que segredo, Flávia? Ta maluca? A única tarada aqui é você!
— Eu to brincando, Véu. Relaxa. Olha os meninos ali. Vamos conversar com eles.
Verônica e Flávia se aproximam do trio.
— Eu estava querendo fazer a um bom tempo, mas sempre adiava. – Pontua Rafael.
— Swing? – Questiona Flávia assim que se aproxima.
A garota magra de cabelos volumosos beija João, que gargalhava com a pergunta feita pela garota loira.
— Acha mesmo que nunca fiz isso? – Retruca Rafael olhando nos olhos da garota.
— Olha o clima! – Adverte Carlos, sorrindo.
— Pelo menos, nunca comigo!
— Vamos mudar de assunto antes que essa conversa se torne uma baixaria. – Propõe Verônica.
— Agora falando sério. O que é que você sempre adiava?
— Intercâmbio! – Responde.
— Que máximo! – Comemora Verônica. – Vai quando?
— No meu caso é mais definitivo. Eu to de mudança para a Austrália. Sérgio foi resolver alguma coisa da empresa e recebeu o convite da transferência. O salário foi fator decisivo pra ele aceitar a oferta.
— Nossa... Logo agora que estávamos nos dando bem. – Pontua Verônica com pesar.
— Pois é! – Concorda o garoto de braços musculosos. - Fiquei sabendo dessa novidade ontem, quando voltei do Mundo Digital.
Rafael acaba esquecendo que Flávia estava por perto.
— Mundo Digital? – Questiona a garota confusa. - O que é isso?
Os domadores se olham constrangidos.
— Mundo Digital? – Inicia Rafael. - É um...
— Um jogo de PC em que você luta contra monstros. – Diz Carlos de forma atropelada numa tentativa de encerrar os questionamentos.
— Esse jogo é novo pra mim. Nunca ouvi falar.
— E vocês irão quando? – Pergunta Verônica mudando de assunto.
— Ainda essa semana. Minha mãe ta resolvendo essas paradas de passaporte, passagens...
— E por que não fica?
— Porque eu estava querendo fazer intercâmbio a um bom tempo e sempre adiava.
— Se você ficar eu te quebro. – Pontua o garoto de barba arrancando sorrisos dos demais.
— Não fique assim, Guilmon! Garanto que Antônio vai te trazer notícias de Blaze!
Um besouro mecânico de carapaça azul, com um chifre sobre a cabeça, dois pares de braços e um lenço laranja atado ao pescoço estava as margens de um riacho acompanhado de outros dois digimons.
— Pastreli também prometeu. – Pontua o dragão roxo com pequenos braços e asas, além de uma robusta calda e um triângulo vermelho desenhado na testa.
— Cansei de ouvir isso todo dia. – Esbraveja o tiranossauro vermelho com grandes garras, olhos amarelos e sinais negros espalhados pelo corpo. - Seus domadores são egoístas!
— Veja lá como fala do Bruno Pastreli. – Pontua Dorumon, o digimon dragão. - Ele ajudou teu domador com os primeiros-socorros.
— Eu e Antônio carregamos Blaze para cima e para baixo no Mundo Digital.
— Eles só fizeram isso porque todos estavam por perto!
— Hei Guilmon... – Pontua o besouro azul, Kokabuterimon. - A gente se dispõe a fazem companhia pra você e é assim que você agradece? Você é muito turrão, encrenqueiro. Blaze não soube te domar!
— Ei, pessoal! - Interfere Dorumon. - Nada de brigas!
— A gente quer ajudar e ele fica inventando problemas.
— Cala a boca! Bola de Fogo.
A esfera incandescente que sai da boca do tiranossauro vermelho avança na direção do Kokabuterimon que consegue se desviar por poucos centímetros. Instantes depois o pequeno besouro de cor azul nota que o lenço em volta do seu pescoço está pegando fogo e tenta apagar a chama, tirando-o do seu pescoço e jogando-o no chão, pisando diversas vezes sobre a chama.
— Apaga! Apaga! Apaga!
Finalmente o digimon mecânico consegue apagar o fogo do seu lenço e torna a vesti-lo.
— Eu também tenho meus truques, Guilmon. Quer ver?
Dorumon interfere na briga dos dois digimons, pondo-se no meio.
— Agora chega, está bem?
Um pequeno digimon branco, que voa com suas orelhas abertas como leques de extremidades roxas e um triângulo vermelho desenhado na testa, surge voando e pousa próximo dos digimons.
— O que está acontecendo, culú?
— Mestre Culumon, você voltou! – Manifesta-se Kokabuterimon.
— Voltei. Consegui me libertar dos digivices dos Domadores Beta.
— Eles estão por aqui?
— Não mudem de assunto, culú! – Impõe-se o deus-digimon - Vocês estavam brigando?
— Estávamos apenas conversando.
— Guilmon. Eu estava te procurando.
— O que você quer? - Pergunta o digimon de maneira ríspida.
— Eu conversei com João e o mandei ir atrás do Blaze no Mundo Real, culú. O digivice do seu domador está com ele.
O pequeno tiranossauro, que tem o mesmo tamanho que Dorumon e Kokabuterimon, fica radiante com a notícia.
— Ele está bem?
— Não sei dizer. Como ele estava sem o digivice não podia vir para cá antes. Mas, a essa altura, eles já devem ter encontrado seu domador, culú. Em breve ele virá te ver.
Um rapaz, alto, magro, cabelos negros e curtos conversava com a mãe do Levi, uma senhora negra de cabelo atado em um coque e óculos quadrados, em busca de notícias do garoto.
Muito tempo havia se passado e todos estavam intrigados com tal acontecimento. Alguns já haviam perdido as esperanças e outros lutavam com os restos que sobravam.
Ao sair da frente da casa do garoto, o rapaz se esbarra no Davi, que morava a poucos metros da casa do domador desaparecido, derrubando seus livros e papéis no chão.
— Me desculpa. – Diz o rapaz recolhendo os papéis. – To com a cabeça no mundo da lua.
— Relaxa... Você não é o único por aqui! – Diz o garoto ruivo.
Após recolherem todos os livros e papéis, o rapaz observa Davi antes de falar.
— Você é amigo de Levi, não é?
— Suponho que também seja.
— Estudamos juntos há oito anos. Acabei morando em outro estado durante por alguns anos e o reencontrei dois meses antes dele desaparecer.
— Há uns três anos me mudei para esse bairro e o conheci. A princípio não tínhamos amizade. Me chamo Davi.
O garoto ruivo estende e mão para o rapaz, que o cumprimenta.
— Murilo. Tudo bom?
— Tudo sim.
— Depois a gente se fala com mais calma. To muito atrasado. Até logo!
Com o retorno de Culumon, os digimons domados sempre o procuravam para conversar sobre a terrível batalha que tiveram contra os ditadores ou até mesmo sobre seus domadores.
O deus-digimon cochilava sobre o galho de uma árvore até a mesma é intensamente sacodida, acordando-o. Ao olhar para baixo, o pequenino digimon branca nota que o tiranossauro vermelho de olhos amarelos e poderosas garras nas patas dianteiras seguia disferindo insistentes cabeçadas no tronco da árvore.
— Hei, você! – Grita Guilmon olhando para o alto. - Acorda!
— O que é que você quer, culú?
O deus-digimon voa e pousa ao lado do digimon.
— Cadê Blaze? – Prossegue o tiranossauro vermelho do nível Novato. - Você me disse que João foi atrás dele, e até agora nada!
— Tenha calma, culú, logo seu domador virá te ver.
— Eu to cheio das mentiras de vocês! – Esbraveja o digimon.
— Eu não to mentindo!
— Ta sim! Por que ele não apareceu ainda?
— GUILMON!!!
O grito atrai a atenção do digimon que rapidamente se volta na sua direção.
Um garoto alto, encorpado, de pele branca e olhos verdes, acenava distante alguns metros para o digimon vermelho com sinais negros pelo corpo.
Sem hesitar, Guilmon corre na direção do seu domador, que se ajoelha de braços abertos esperando-o chegar. O digimon salta sobre seu domador, derrubando-o no chão e lambendo seu rosto.
— Guilmon. Que saudades de você!
— Que bom que você está vivo, Blaze.
— Serão necessárias várias quedas como aquela para destruir seu domador! Agora sai de cima de mim porque você é bem pesadinho.
Culumon se aproxima voando enquanto domador e digimon ficavam de pé.
Ao notar a aproximação do deus-digimon, Blaze se recorda das palavras ditas pelo Alex. “Culumon estava contigo e não te salvou. Ele é o deus-digimon. Poderia muito bem ter evoluído seu digimon para poder te salvar.”
— Blaze! Que bom que está bem, culú!
O garoto ignora a presença do digimon branco, que pousa a sua frente.
— Eu mandei que João fosse a sua procura lhe devolver seu digivice. – Prossegue. - Guilmon estava ansioso para te reencontrar!
— Guilmon, – propõe o garoto - vamos dar uma volta? Temos muita coisa para conversar.
Um garoto magro de cabelos loiros e olhos verdes estava sentado sobre o ombro de um enorme tiranossauro de couro laranja com riscas azuis e uma forte carapaça marrom sobre a cabeça com três chifres pontudos.
Domador e digimon caminhavam por uma larga trilha que cortava uma floresta repleta de gigantescos cogumelos artificiais e coloridos.
— Greymon, - diz o garoto sobre o ombro do digimon - a gente já ta andando a um bom tempo. Vamos descansar um pouco.
O digimon nada diz e coloca o garoto no chão.
Greymon brilha intensamente e reduz de tamanho, voltando a ser o pequeno tiranossauro de cor amarela.
— Hei! Victor! Agumon!
Um garoto alto, magro e desengonçado se aproximava correndo. Ao seu lado seguia uma digimon vegetal que possuía um botão de flor revestindo sua cabeça e pétalas vermelhas ao redor de pescoço. No lugar de mãos, a digimon possuía flores.
— Olha, Victor. – Manifesta-se o pequeno tiranossauro. – É Guilherme e Floramon.
— E ai, Victor! Como que você está? – diz Guilherme cumprimentando-o.
Os digimons se cumprimentam com um forte abraço.
— Eu to bem cara. – Prossegue o garoto menor. - E você?
— Melhor impossível! Tem mantido contato com o pessoal?
— Raramente eu apareço por aqui. To meio sem tempo.
— Não tem conversado nem com Matheus, Albert e Alex? Vocês viviam grudados...
— Pouquíssimas vezes nos falamos. Já encontrei Alex por aqui algumas vezes. Albert ainda está traumatizado com o que aconteceu a Lopmon. Disse que não quer vir aqui. E Mateus, nunca mais consegui falar com ele.
— Às vezes converso com Bruninho, Luiz Filipe e Will pelo digivice. Com os Betas também. João me disse que não está conseguindo falar com Blaze. Ele precisa devolver o digivice.
— Alex me disse que sabe onde Blaze está! - Diz Victor. - Mas ele disse que se João quiser, que o procure!
Blaze senta-se em uma enorme pedra, próximo a uma cachoeira, acompanhado do Guilmon. Um ambiente tranquilo, que despertava até nos mais revoltosos corações a sensação de paz.
— Blaze... – Diz Guilmon. - Eu prometo nunca mais discutir contigo. Vou acatar suas decisões sem questionar.
O domador estava aéreo em seus pensamentos e não ouve o que o seu digimon lhe fala.
Após alguns segundos...
— Guilmon... O que você acha de João?
— João? Domador de Betamon.
— Você conhece outro?
— Mentiroso! Não só ele como Antônio, Pastreli e Guilherme. Eles ficavam me dizendo que trariam notícias suas e nunca trouxeram.
— Quem me levou pro Mundo Real quando eu estava inconsciente?
— Antônio, Pastreli, Verônica e João.
O garoto novamente fica em silêncio, preocupando o pequeno tiranossauro vermelho.
— O que foi? você ta bem?
— Estou! Guilmon, você tem que me prometer que sempre estará do meu lado. Não confio em ninguém. Em nenhum dos outros humanos.
— Por quê?
— Alex andou me falando umas coisas e me parece que ele tem razão.
— Tipo o que? – Questiona o digimon.
— Ele me disse que João é egocêntrico e que Culumon poderia ter evitado que eu caísse e me acidentasse. Disse também que ele, Culumon, ressuscitou Betamon e não fez absolutamente nada para salvar Antylamon e muito menos para salvar Levi e Renamon.
— Isso é verdade Blaze. Culumon não salvou Antylamon e nem Renamon, mas salvou o Betamon. Achei isso uma injustiça.
Kokabuterimon surge voando, sem perceber a presença de Blaze e Guilmon, e pousa às margens do rio para beber água.
Guilmon e Blaze o observam.
— Inseto mentiroso! – Pontua o digimon transtornado de raiva.
— Quem é ele?
— O digimon do Antônio. Ele me deve uma.
— Andaram brigando?
— Sim... – Diz Guilmon olhando-o com os olhos em brasa. - Blaze, posso ir?
— Guilmon eu não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas confio em você meu amigo.
O digimon não pensa duas vezes antes de avançar na direção do digimon inseto mecânico de cor azul e olhos verdes graúdos, dando-lhe uma cabeçada. Com a investida, Kokabuterimon rola no ar sobre o rio parando logo em seguida de frente para o Guilmon.
— O que você quer?
— Acertar nossas pendências.
— Eu não quero brigar contigo!
— Mas eu quero. Bola de Fogo.
Kokabuterimon desvia da técnica do pequeno dinossauro e levantando voo. O digimon besouro tenta fugir das contínuas investidas do Guilmon mas acaba atingido por uma das bolas de fogo e cai ferido.
Guilmon, então, avança na direção do digimon do Antônio e, antes que ele pudesse alçar voo novamente, pisa em sua pata, imobilizando-o.
— Me solta Guilmon! – Diz o digimon se debatendo.
Guilmon disfere uma sequência de socos e arranhões no Kokabuterimon.
Sem dar a mínima importância ao que acontecia entre os dois digimons, o garoto branco de olhos verdes deita sobre a pedra de olhos fechados e coloca os fones do seu MP5 no ouvido, com música no volume mais alto.
— Bola de Fogo.
O ataque explode quando atinge Kokabuterimon.
— Levanta Kokabuterimon.
O besouro mecânico de cor azul se esforça ao máximo para se levantar só que acaba desmaiando.
— Fracote! – Diz Guilmon se afastando do digimon e retornando para próximo do seu domador, quando é surpreendido pelos gritos da Floramon que acaba de chegar ao local.
— O que você fez com ele?
A digimon vegetal do Guilherme corre até o Kokabuterimon.
— Você é outra que merece apanhar junto com o seu domador.
— Por quê? Você enlouqueceu? Não diz nada que faz sentido!
— Se Guilherme tivesse advertido Blaze de que já estava do lado de fora do castelo, nada disso teria acontecido.
— O que aconteceu ao seu domador foi uma fatalidade! – Explica-se a digimon
— Bola de Fogo!
Floramon salta para o lado e desvia da técnica, que atinge a água de rio.
— Para com isso Guilmon! Você ta de cabeça quente! Vamos conversar.
— Isso é só o começo!
Continua...
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