Sangue, sobrevivência e Supernatural escrita por Lorena B


Capítulo 8
Capítulo 08 - Me deparo com uma fêmea.


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, aqui estamos nós. Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314588/chapter/8

Também sem falar nada, apenas assenti com a cabeça, tensa. Ele assentiu de volta, curvando-se para fazer uma rápida reverência e nesse exato momento, quando olhei para ele, não era mais o garoto, mas sim o lobo que estava lá. Quando olhei em volta, a maioria das pessoas que estavam lá já haviam assumido sua forma lupina e todos olhavam para mim, menos Chrono. Assim que Acaiah se levantou da reverência, ele uivou, sendo acompanhado por todos os outros lobos. Seria uma cena bastante fofa e significativa, se meus tímpanos não tivessem quase explodido no momento. Parando para observar o momento, eu não conseguia visualizar nenhum ser do sexo feminino no meio de todas as pessoas que estavam ali e isso me fez perguntar se eu era realmente a única mulher ali. Inclusive, isso me fez lembrar da Raven e consequentemente, do Ian... Onde será que eles estão? Será que apenas desistiram ou...?

Antes que pudesse completar meus pensamentos, a fogueira foi apagada como se nunca tivesse havido fogo ali e os lobos começaram a se dispersar enquanto Chrono vinha para o meu lado com um sorriso no rosto e Acaiah sentava ao meu lado. Ao chegar mais perto, ele pegou ambas as minhas mãos com um sorriso alegre no rosto, como uma criança que acabou de receber o presente que esperou por muito tempo. Tudo bem, eu não sou a deusa do conhecimento portanto não tinha a mínima ideia do que tinha acabado de acontecer. Digo, certo, eu era a salvação deles e ainda assim não sabia em que sentido eu seria útil. Eu não passo de uma adolescente qualquer viciada em Supernatural que secretamente queria que aquelas criaturas existissem, apenas para que o Sam, Dean e Castiel fossem reais. Apenas uma garota normal, com uma vida normal até alguns dias atrás. Nem nos meus melhores sonhos (ou talvez nos piores pesadelos) eu pensaria que algo do tipo fosse acontecer, sabe? Perdida em meus pensamentos, quase não notei quando Chrono se aproximou do meu rosto com uma expressão preocupada.

- Ei, você ainda está aí? Pareceu um pouco...distante, de repente. – Dei o melhor sorriso que pude no momento e assenti com a cabeça. Como se entendesse o que eu queria, Chrono me guiou até uma das casas. Só percebi que era meu quarto quando ele abriu a porta e me acompanhou até dentro. Por fora, acho que todas essas casas são iguais, então demorará muito tempo para me acostumar com elas – se é que eu precisarei me acostumar. A minha visão de futuro da minha vida não era exatamente morar numa espécie de oca no meio da floresta amazônica, se eu posso comentar. Ao entrar no meu “quarto”, Chrono virou-se para mim com uma expressão séria. Ainda não conseguia nem imaginar o que diabos passava pela cabeça dele, mas no momento minha prioridade era dormir. Sei que tinha acabado de acordar haviam alguns minutos, mas aquela cerimônia ou seja lá o que fosse tinha quase me matado de cansaço. Sem questioná-lo, fui direto para a cama e deitei. Antes de adormecer completamente, pude ouvir Chrono afagar meus cabelos e sussurrar algo no meu ouvido que eu não sei o que foi.

**********************

Acordei com um som de pássaros ao longe. Digamos que, quando passo de seis horas dormindo, no resto do tempo meu sono fica extremamente leve. Assim que abri os olhos, me deparei com um teto branco abobadado. Todos os dias em que acordo, sinto uma pontinha de esperança de a primeira coisa que eu ver seja o pôster do Cass que eu tenho na minha parede. Infelizmente, não havia nenhum pôster por ali. Levantei sem sentir nenhuma dor, o que já foi um bom modo de começar o dia. Andei até o guarda-roupas e peguei um short jeans e uma blusa de alça fina na cor preta, além de um conjunto de calcinha e sutiã preto com bolinhas brancas fofo demais para ser escolhido por um daqueles homens ali, mas decidi guardar a opinião para mim. Fui ao banheiro que, não sei como, havia dentro do quarto e tomei um banho que demorou um bom tempo. Quando saí e vesti minhas roupas, me senti completamente renovada. Nada mais para fazer dentro dali, saí para ver como estavam as coisas já que o silêncio reinava.

Assim que pus o pé para fora do quarto, um ar fresco invadiu os meus pulmões, o que me ajudou ainda mais a relaxar. Aquele era, definitivamente, um bom dia. Ao longe, perto da casa que ficava no centro de todas as outras, estava Acaiah e um outro garoto que eu não conhecia, mais uma garota. Não, espere, uma garota? Estou realmente vendo isso? Naquele exato momento, me senti uma galinha perto de um cisne. Ela era simplesmente incrível – talvez até mais bonita do que a Raven. Seus cabelos perfeitamente cacheados eram completamente negros e em contraste havia uma mecha loira neles. Sua pele era levemente morena, o que lhe dava um ar saudável, completamente diferente da minha pele pálida e sem vida. De resto, não consegui perceber mais detalhes devido a distância entre nós. Comecei a caminhar na direção deles no intuito de conversar um pouco com o Acaiah, na esperança de que ele me explicasse um pouco do que ocorrera na noite passada e exatamente o que eu tinha que fazer dali em diante. Antes que eu os alcançasse, o garoto desconhecido virou-se para mim esboçando um sorriso. Seus cabelos também eram negros, mas ao contrário da garota, ele não tinha nenhuma mecha. Seus olhos pretos brilhavam com a luz do sol e quase que transbordavam de alegria. Os traços de seu rosto eram finos a não ser pelo seu maxilar levemente “avantajado”, que lhe dava um ar de maturidade e “Dr. Sexy”. Sei que não deveria comparar as pessoas com personagens aleatórios de Supernatural, mas que mal há se eles nunca saberão disso? Além disso, o garoto desconhecido era levemente moreno, porém mais claro do que a garota.

Ele começou a vir em minha direção antes que eu chegasse até eles, atraindo o olhar da garota para mim. Quase congelei quando seus olhos acinzentados assim como os de Ian encontraram os meus. Ela apenas continuou com uma expressão indiferente, alternando o olhar entre mim e o garoto até levar sua atenção a Acaiah, que segundos antes também nos observava. Assim que o garoto me alcançou, ele segurou um dos meus braços e deslizou até chegar em minha mão, guiando-me até uma das casas e fazendo-me entrar nela. Se duvidar, sua mão também era mais macia do que a minha, apesar de ser consideravelmente grande. Ao fechar a porta atrás de si, ele começou a me encarar com uma expressão mais séria.

- Desculpe-me Melany, mas não acho que seja uma boa hora para você conversar com ela. – Ele começou a dizer, como se me conhecesse. Apesar de sua aparência ser frágil, sua voz era confiante e me passava segurança. Ainda assim, não havia entendido o porquê dele me tratar assim, como se fosse meu amigo. Como permaneci calada, ele continuou a me observar e eventualmente mordeu o lábio inferior com certo nervosismo. Eu realmente não estava entendendo nada. – Aquela é Vivian, nossa fêmea alfa. Ela ainda não se acostumou com a ideia de que você é a escolhida para nos salvar. – Ele concluiu, entrelaçando os próprios dedos. De repente, ele se aproximou de mim num pulo rápido, me abraçando e encaixando perfeitamente o seu queixo na curva entre meu pescoço e meu ombro. Continuei ali, parada e surpresa demais para fazer qualquer coisa. Assim como quando Chrono me tocava, senti uma pequena eletricidade percorrer o meu corpo. De algum modo, eu me sentia segura ao estar ali com ele, mesmo sem conhecê-lo. Era uma sensação estranha, como se eu já tivesse visto ele em algum lugar.

Como se nada tivesse acontecido, ele se afastou novamente e saiu dali, me deixando sozinha no local. Não sou a pessoa mais lerda do mundo, mas aquilo realmente estava sendo difícil de processar. Alguns minutos depois, saí dali e agora apenas Acaiah e a garota estavam conversando. “Conversando” é modo de falar, já que apenas Vivian falava e Acaiah escutava, às vezes assentindo levemente com a cabeça. Confesso que ignorei o aviso do garoto desconhecido e me aproximei dos dois com cautela, apesar de ser quase impossível me disfarçar naquele local. Ao chegar perto dos dois, Acaiah apontou o focinho para mim e a garota me olhou dos pés à cabeça, entortando levemente a boca.

- Olá, Melany. – Ela falou, dando um sorriso sarcástico logo depois, cruzando os braços em frente ao corpo. Ela usava um vestido branco com flores na bainha e quase que se assemelhava a um anjo naquelas condições.

- Ah... Bem... Olá, Vivian. É Vivian, certo? – Ela estendeu a mão para mim, assentindo com a cabeça. Apertei sua mão levemente, com medo de machucá-la ou algo do tipo e em compensação ela apertou minha mão mais forte, dando um outro sorriso e logo depois puxando a mão de volta. Não creio que ela tenha gostado de mim.

- Você viu o Nathan, não foi? Onde ele se meteu? – Nomes, nomes e mais nomes. Quando as pessoas vão parar de se apresentar a mim? Vivian não esperou uma resposta de mim por mais de 10 segundos, e quando estava se preparando para andar provavelmente a procura do tal Nathan, o garoto de cabelos negros de antes apareceu ao nosso lado. – Ah, Nathan, aonde você se meteu? – Ela o puxou gentilmente pela camisa e o mesmo obedeceu, ficando ao lado dela. – Antes que você ache estranho, Mel, eu sou a fêmea alfa deste grupo e este é o atual lobo alfa, Nathan. – Certo, então eles são um casal. Até que se combinam, mais ou menos. Como que para firmar a ideia na minha mente, ela o puxou mais uma vez e lhe deu um rápido selinho na minha frente. Desnecessário? Com certeza. “Absoluta certeza que não há com o que se preocupar, pois não pretendo roubar seu macho”, foi o que eu quis dizer, mas acho que se eu realmente falasse isso não demoraria mais de 10 segundos para que eu estivesse morta, dependendo eles de mim ou não. Então, me limitei a dar um sorrisinho sem graça. Apesar de ela estar uma bagunça, ainda aprecio minha vida, obrigada.

- Tudo bem, Vivian. – Lancei um olhar rápido para Nathan, que o desviou no mesmo instante, como se estivesse se sentindo culpado por algo. – Prazer em conhecê-lo, Nathan. – Disse mesmo assim, dando um outro sorriso rápido. Feito isso, virei as costas para o casal e comecei a andar para qualquer lugar que não fosse ali, na frente deles dois. Sentia um leve aperto no meu coração, mas não entendia o porquê dele. Talvez porque havia um casal supostamente bem sucedido no meio de todo aquele caos enquanto eu não havia dado nem meu primeiro beijo digno ainda? Porque digamos que eu não considero ser beijada por um estranho depois de uma perseguição um “beijo dos sonhos”. De qualquer modo, continuei andando até chegar na primeira casa que vi e adentrei na mesma. Por sorte, não havia ninguém lá dentro. Ou pelo menos era o que eu achava, já que o local era extremamente escuro. Sem pensar direito, tateei a parede a procurar de algum interruptor. Genial, eu sei. Pois aí vem a surpresa: aos poucos, devido a luz do sol que entrava pela porta, foi ficando claro. O local foi se iluminando lentamente, mas de modo desuniforme. Alguns pontinhos aqui e outros ali começaram a brilhar, como se fossem vagalumes. Alguns minutos depois, toda a sala estava iluminada devido a esses pontinhos – que depois reparei que formavam uma espécie de constelação no teto. Fora isso, não havia mais nada no local, o que eu achei extremamente estranho. Não que eu não ache que estar numa vila de metamorfos estranho, mas enfim.

Andei lentamente até o meio do quarto, com medo de que algo acontecesse àquele cenário tão lindo e aparentemente mágico. Não sei direito por quanto tempo fiquei ali, admirando aquelas constelações no teto que, de vez em quando, se mexiam como se fossem imagens ao vivo do universo. Apenas acordei deste belo transe quando ouvi a porta se fechar atrás de mim, me dando um susto.

- Alguém está aí? Me desculpe por ter entrado do nada, eu só... – Não completei minha frase, mas apenas pude reparar numa silhueta na frente da porta devido à pouca iluminação. A silhueta se aproximava lentamente, como naqueles filmes de terror que, cada vez que a pessoa pisca, o ser está mais perto. Um arrepio assustador percorreu pela minha espinha, e o pânico começava a tomar conta de mim. – Quem é? – Tentei fazer com que minha voz não falhasse, mas não obtivesse sucesso. Pareci mais com um gatinho assustado do que uma pessoa confiante. A silhueta ainda se aproximava, sem emitir nenhum som. A cada passo que ela dava, eu recuava um, até não sobrar mais espaço atrás de mim e eu encostar na parede. – Eu realmente sinto muito... – Sussurrei, fechando os olhos com força, esperando seja lá o que eu fosse sentir naquele momento.

- Melany? – Me surpreendi ao ouvir a voz de Chrono bem perto de mim. Suspirei aliviada e abri os olhos. Não sei se foi a falta de luz, mas por um segundo, ele parecia diferente. Seus olhos pareciam mais escuros do que o habitual e foram clareando lentamente. Era como se, anteriormente, eles estivessem completamente negros e fossem voltando ao castanho original dele. Ele se aproximou mais, até que eu pudesse visualizar todo o seu rosto, quase que tocando o meu nariz no dele. – O que está fazendo aqui?

- Nada, eu apenas entrei e... – Olhei em volta, e as estrelas pareciam brilhar cada vez mais, me dando uma melhor visão dele. Seu cabelo também estava um pouco mais escuro e foi clareando até tomar aquela cor de folhas secas que eu adoro, me lembrando o outono da minha cidade. Era como se ele estivesse se transformando, ou pelo menos voltando ao normal. Até ali, eu poderia culpar a má iluminação do local, mas quando, em um segundo, sua cicatriz não estava mais lá e no outro ela já havia se formado magicamente em seu local, pude perceber que ele estava realmente se transformando. Se transformando de volta... Como eu pude ser tão burra? Ele é um metamorfo, ele se transforma em outras pessoas. Como eu pude... Como eu pude confiar nele? Ele se afastou mais um pouco, agora que a iluminação estava melhor.

- Quem é você? – Perguntei, sentindo minhas mãos começarem a tremer e meus olhos começarem a se encher de lágrimas. Como eu pude não perceber isso? Ele franziu levemente a sobrancelha, logo depois relaxando e dando um sorriso sem graça.

- Sou eu, Mel, o Chrono. Você está bem? – Ele retrucou, se aproximando um pouco mais e tentando encostar no meu braço. Sem nem mesmo hesitar, puxei-o de volta, o que o deixou com uma expressão surpresa. – Mel, está tudo bem? – Não pude aguentar. Comecei a chorar ali mesmo, na frente do Chrono ou seja lá quem ele fosse. Quando ele tentou se aproximar novamente, dei-lhe um tapa cujo som ecoou por toda a sala.

- Não encoste em mim, Chrono... Ou será que devo dizer “Nathan”? – Sem esperar uma resposta,  me desviei dele e saí do quarto, voltando rapidamente para o meu e fechando a porta com toda a força que tinha no momento. Me encostei na mesma, deslizando até sentar no chão. Por que diabos eu estava chorando? O que era todo aquela revolta dentro de mim, toda aquela dor? Por que... Por que eu me sentia tão mal? Parecia que alguém estava apertando meu coração e de repente estava ficando difícil de respirar. Concentrei-me nos meus pulmões, forçando-os a inspirar e expirar calmamente e com o tempo consegui regularizar minha respiração.  Por sorte, ninguém batera na porta o resto do dia. Prossegui ali, encostada na porta e sentada no chão por não sei quanto tempo. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia dormir e nem conseguia parar de chorar. Era inevitável devido a dor que eu sentia naquele momento. E eu nem mesmo sabia o porquê daquilo tudo. Talvez eu estivesse...apaixonada? É isso mesmo, em meio a todo aquele caos eu estava apaixonada por um metamorfo? Só pode estar de brincadeira. Quando eu finalmente ri, meu coração doeu mais do que nunca. Abaixei a cabeça e abracei minhas pernas, encostando minha testa entre meus joelhos. Eu estava apaixonada por alguém que eu nem sabia mais quem era. Aquele dia, definitivamente, não era um bom dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então é isso. Se sentem arrassados? Eu também. Mesmo assim, ainda considero Chrono como um dos meus personagens favoritos. E o que vocês acham? Estão com saudades do Ian? ♥
Haha, já já ele tá de volta. Espero que tenham gostado e estou aberta a reviews desde sempre.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sangue, sobrevivência e Supernatural" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.