A noite foi bem longa. Depois de um pouco mais de comemorações, segui para o chalé 3. Estava morrendo de sono.

Percy veio andando em nossa direção.

– Bom... Somos irmãos. - disse ele.

– Isso é bem estranho! - eu disse.

– Logo se acostuma!

Continuei andando em direção ao meu chalé. Quando virei para ver se havia me esquecido de dar boa noite para alguém, quando vejo a cena mais traumatizante de toda a minha vida: Sophie e Nicholas estavam envolvidos em um beijão. Daqueles longos, sabe?

Pude sentir uma lágrima escorrer pelo meu rosto. A raiva estava me consumindo. Estava torcendo para que aqueles titãs me dissessem logo para onde teria que levar Nicholas. Eu me sentiria muito feliz vendo a morte dele.

Apenas Dave estava no chalé. Me deitei no primeiro beliche que vi e comecei a chorar. Sempre tive uma sorte desde criança: o meu choro era silencioso, se a pessoa não me visse chorando, não saberia.

Mas aí vem os soluços. Então as pessoas percebiam.

– Você gosta dele não é? - perguntou Dave.

– O que? Não! Claro que não!

– Pode falar! - ele insistiu - Eu vi Sophie beijando ele!

– Então só porque eu vi eles se beijando quer dizer que eu goste dele? Fala sério! E agora eu tenho muitos motivos para chorar não acha?

Se eu tivesse contado pra ele a pressão que os titãs estavam colocando em mim, ele teia entendido. mas eu não podia contar a ninguém sobre o assunto.

– Cece, até eu que sou lerdo estou percebendo que você gosta dele! Você que esta sendo lerda o suficiente para não perceber que até os lerdos estão conseguindo perceber!

– Hã? - eu perguntei com uma mistura de risos, choro e soluços.

– Você entendeu! Ou é lerda o suficiente para não entender? - Dave disse rindo.

– Chega desse assunto de coisas lerdas e vá dormir! Boa noite!

– Boa noite, senhorita ama-o-Nicholas-mas-não-assume!

Estava morrendo de sono, mas não conseguia dormir. Quando consegui, infelizmente eu não sonhei com os titãs. Mas foi bem pior:

Eu sonhava com a cena que vi ontem, bocas se beijando. E as bocas sussurravam em minha mente: você gosta dele! Assuma! E eu gritava, negando.

Acordei com Dave e Percy me sacudindo.

– Cara, você estava gritando igual a uma condenada! - Dave disse.

– É comum semideuses terem sonhos assim. - Percy disse - O que sonhou?

Eu olhei pra Dave e graças a Poseidon ele entendeu que eu sonhei com a cena de ontem. Ele segurou o riso, e eu disse;

– Nada. Minha família.

Tomei meu primeiro café da manhã no Acampamento Meio-Sangue, na mesa de Poseidon. A minha cara devia estar péssima, porque adolescentes de outros chalés apontavam pra mim e sussurravam. Eu apenas ignorava.

Enquanto seguia para a arena de esgrima, infelizmente tive que passar Sophie e Nicholas, que estavam sentados no lago conversando. Ouvi parte da conversa deles:

– O que aconteceu com Cecilia? - Nicholas perguntou. Mas que droga, eu odeio que me chamem de Cecilia!

– Sei lá, amorzinho! Ela deve estar com saudade de casa, só isso!

Que tipo de ser humano na face da Terra, com apenas um dia de namoro, quer dizer, um dia não, com apenas um beijo de namoro já chama o outro de amorzinho? Me poupe por favor!

Continuei andando. Ouvi galopes atrás de mim. Me virei e dei de cara com Quíron segurando uma caixa.

– Oi Cece! - ele disse - Bom... Seu pai antes de ir para seu palácio me pediu para que entregasse isto a você.

– Por que não me entregou ontem?

– Ele queria que entregasse hoje.

Abri a caixa. Dentro, havia um cordão de couro preto. O pingente era de madeira, redondo. Na frente havia um cavalo em posição de galope, que parecia de ornze, e atrás, uma ferradura, do mesmo material.

Antes que pudesse perguntar, Quíron disse:

– É uma faca. Quando precisar dela é só pensar que ela vai estar na sua mão. Faça um teste.

Pensei na minha faca, e logo a vi em minha mão. Ela era perfeita pra mim: simples e com o peso ideal.

– É fantástico!

– Use-a bem! - ele disse e saiu galopando. Pensei na minha faca como cordão e ele/ela apareceu em meu pescoço.

Chegou na minha vez na esgrima, e pela minha sorte, "lutaria" contra Nicholas. Toda a minha raiva de ontem voltou e comecei a golpeá-lo.

Ele conseguia desviar de alguns movimentos, mas não era páreo pra mim. Cortei seu queixo, seu braço e suas costas. Derrubei ele no chão e a vitória foi minha. Só para completar o meu dia, eu disse:

– Quem é o próximo?

Ninguém se manifestou. Sophie ajudou Nicholas a se levantar e o levou para a enfermaria. Cena patética.

No almoço, o assunto era: como eu derrotei Nicholas e o que era aquele cordão.

Quando terminei o almoço, era o meu tempo livre, então eu tentaria aprender meus poderes no lago.

Sophie veio em minha direção e disse:

– Nossa! Quanto tempo a gente não se fala! - ela disse com aquele sorrisinho de quem tem muito para conversar.

– Desculpe, mas a minha zona de conversa não é galinheiro para ter galinha. - eu disse e saí andando.

E com essa frase meu dia ficou mais completo ainda. Quem em um dia de acampamento já está namorando, é galinha não é?